sábado, 28 de novembro de 2009

TRIBUTO AOS POETAS QUE SE FORAM

THEO SILVA

Começamos hoje um trabalho que consideramos importante, para o blog e para os nossos leitores. TRIBUTO AOS POETAS QUE SE FORAM busca resgatar a imagem e os trabalhos de antigos intelectuais da cidade do Cabo. Uma espécie de DNA dos escritores contemporâneos dessa terra que Pinzón pisou. Sentimos a necessidade de fazê-los sair do anonimato e ganharem as ruas de hoje, conhecidos e comentados, como todo e qualquer escritor desse planeta azul. E começamos com o mulato Theo Silva. Infelizmente, o espaço permite apenas que publiquemos alguns dos mais de cem poemas e crônicas que pesquisamos sobre Theo Silva. Um grande poeta, um grande escritor, um excelente músico, conhecido em sua cidade apenas porque é o nome de uma pequena praça, no centro da cidade.

Nascido Theodorico, na cidade do Cabo, lá pelo início do século XX (fala-se em 1912 ou 1913). Theo, ainda muito jovem, com seus 15 anos de idade, já tocava na Filarmônica XV de Novembro Cabense. Mulato, era um dos boêmios da cidade, nas décadas de 30 e 40 e encantava a todos em inesquecíveis serestas pelas ruas do Cabo e de Carpina, as duas cidades que dividiam seu coração, ora cantando nostálgicas canções ora derramando seu choro sentimental no som de um violino.

Além de músico, Theo Silva escreveu crônicas belíssimas sobre temas da cidade, porém, notabilizou-se pelos belos poemas líricos que espalhou pelas ladeiras do Cabo e no coração de seus amigos e admiradores. Foram centenas de poemas que falavam de amor, de paixão, de entrega, muitos deles com endereço certo: a pequena Alzira, eterna amada.

Quando criança, adorava brincar de trenzinho, juntando uma pequena lata, uma caixa de fósforos, um pedaço de pau. Era o trem que ele fabricava, como todo menino pobre, para brincar. Podia brincar de qualquer coisa, mas, adorava o trem, que fabricava no quintal de casa. Sua paixão por trem levou Theo a trabalhar na Great-Western, depois Rede Ferroviária. Foi trabalhar em cima de um trem, uma extensão de sua infância. Que felicidade! Trabalhar naquilo que mais gostava!!! Era o destino daquele menino mulato. Em uma das viagens a trabalho, Theo Silva faleceu em acidente de trem. Morreu no que tanto sonhou. São coisas que nem poeta sabe explicar. Que todos façam bom proveito e se deliciem.

OBS: Como não é fácil postar comentários, podem enviar seus comentários para os seguintes endereços: blogdeantonino@hotmail.com ou antoninojr@hotmail.com . Eles serão publicados no blog.



CONSELHO
Theo Silva
(1937)


Bem sei que é impossível
Entre nós dois uma aproximação.
No entanto, por que teus lhos
Conversam tanto com os meus?

Evita eu te querer! Mata essa ilusão!
Sofre como eu...

O que será de nós se a cidade conhecer
Essa força do destino a jogar entre nós dois?
O que será de ti! O que será de mim!
O que será, enfim, do nosso amor depois...

Censura!...Escândalo!...Maldade!
Tudo há de surgir escandalosamente
Como recompensa dessa felicidade.

Sofre, como eu, a ventura desse bem,
Jesus também amou a Maria Madalena,
Sofreu mais do que nós dois
E nunca disse a ninguém.

REVOLTADO
Theo Silva
(1941)


Olhando a vida, indiferente a tudo,
Eu vou viver d’agora por diante,
Como um cipreste solitário e mudo
À margem de um riacho soluçante.

Como um grito perdido, bem distante,
Perdido na amplidão do mundo afora,
Eu quero ser de tudo ignorante
E em nada mais acreditar agora.

Viver assim com toda indiferença.
Um pálido sorriso de descrença
Para quem me falar em piedade.

Pois se a vitória da vida é o desdém,
Esse punhal eu saberei também
Cravar no coração da humanidade.

FRUTA DO MATO
Theo Silva
(1943)


Foi a morena mais bonita que minha terra criou...

Eu não sei mesmo dizer assim,
Ao pé da letra,
Mas uma morena daquela só podia ter nascido
Na casa do Nosso Senhor!

-Foi a morena que eu vi não ter chiquê nem faceta.

É aquilo mesmo bonito
Que a gente gosta de ver...
E quanto mais a gente vê,
Mais vontade tem de ver...
É como fruta do mato, que a gente tem sem querer,
Aquela vontade danada
De pegar, partir e comer!


NEM TUDO QUE O POVO DIZ É CERTO
Theo Silva
(1939)


Andam dizendo por aí a fora
Tanta coisa de nós dois, tanta coisa sem valor,
Que os nossos olhos quando se encontram
No cinema, na rua e até na igreja,
Fazem promessas de amor...

Dizem até que o nosso madrigal
É feito na rima do meu verso,
No mais expressivo enlevo;
Que cada trova que publico no jornal
É um trecho de uma carta que te escrevo.

Mas não creia em nada disso, tudo é mentira,
Tudo é banal.
É a inveja que eles têm do nosso convívio bom,
Da nossa harmonia espiritual.

Perdoe tudo, deixe que todo mundo diga
Tudo de nós, tudo que quiser,
É da humanidade esse farol sem luz.

Pois não dizem por aí constantemente
Que Madalena foi amante de Jesus...


MINHA ETERNA OBSESSÃO
Theo Silva
(1943)


Eu gosto de ver você passar, de volta da matriz,
Pálida e linda...
Religiosamente concentrada ainda,
Na felicidade que pediu a Deus:
Trazendo um cheiro de incenso e rosas de Maria.
Como é bonita você sem artifícios,
Toda meiguice, toda virtude,
Como se fosse a mística Eucaristia...

Mas, à tarde,
Quando vejo você fora de toda santidade,
Toda perfume, toda mulher, toda orgulhosa,
Foge de mim essa falsa obsessão
E vibra na minh’alma
O grito sacrílego da profanação...

Porque seu vivo olhar é um incêndio indominado,
Desprendendo centelhas de desejos,
Das labaredas do amor que tem seu corpo,
Esse castelo de sonho e de pecado...

05/12 - Celina de Holanda
12/12 - Zeca Plech
19/12 - Gabriel Dourado
26/12 - Paulo Cultura / Seu Tune

2 comentários:

  1. E que palavras! Nunca saberia de Theo Silva, nem de sua poesia se não fosse você. Obrigada.

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  2. A iniciativa de resgatar personagens da nossa história é louvável e muito engrandece. Você está de parabéns, Antonino, em fazer um trabalho tão belo. Que cada internauta que passar por este blog se enriqueça com tão precioso material.

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