DOUGLAS MENEZES*
Eles chegam às
ruas como se conhecessem e não se conhecem. Gritam palavras de ordem que não
partem de nenhum comandante. Se perguntados quem é o líder, a resposta pode ser
invariável: é o “face”. Em outras palavras, inaugura-se no Brasil um modo
diferente de se mobilizar, de se fazer política de massa. A bofetada
arremessada contra \os políticos e seus partidos nesses dias tensos de
manifestações, expressa uma mudança até pouco tempo inimaginável no país, um
modo avançado de se juntar povo nas ruas, baseado totalmente na tecnologia, na
civilização digital, e um aviso de que “nada do que foi será do jeito que já
foi um dia”. A história está sendo reescrita ou seja, digitada pela nova
geração.
E a ausência de um conteúdo ideológicos nos protestos, antes de ser um
componente alienante, serve para marcar espaço, para dizer que as velhas
práticas políticas, com seus conceitos arcaicos e dissociados do momento atual,
deve ser substituído por algo novo, que não sabemos, na verdade, o que é. Há,
nisso tudo, um elemento sensitivo, à flor da pele, não sendo cerebral, é
captado de modo espontâneo, baseado nas carências do dia a dia, que mexem,
principalmente, com a sobrevivência de cada indivíduo: Educação, Saúde,
Transporte, Inflação, Impostos e Corrupção dos políticos.
Por outro lado,
observamos um aspecto cuja evidência ficou constatada nas manifestações: a
classe política mostrou-se totalmente despreparada para entender e aplicar as
novas tecnologias em suas ações. As velhas práticas seculares de anestesiar o
povo, principalmente com o assistencialismo, o sempre deixar para amanhã o que
é urgente, a distância entre a sociedade e seus gabinetes, o sentimento de
impunidade, a esperteza, a endêmica incompetência, tudo isso parecia intocável
para os políticos, mas a gota d’água chegou através dos gastos astronômicos com
a copa do mundo, a ser realizada no próximo ano. Na verdade, o argumento da
copa foi o acordar de um vulcão que há muito já soltava suas lavas.
A juventude
digital, então, não perdoou. Se os excessos acontecem, a legitimidade do que
ocorre nas ruas é incontestável. Que se cuidem as velhas direita e esquerda.
Elas ainda cultivam
ultrapassados
líderes ditatoriais, que tratam seus países como feudos e impedem suas
populações de terem acesso aos avanços tecnológicos e às transformações pelas
quais passa o planeta. A Sociedade desorganizada está protestando, já alguns
tímidos resultados aparecem. O que virá daqui para frente, não sabemos.
Sentimos, no entanto, os ventos da mudança soprando. A continuidade das velhas
práticas cansou a todos. A geração “ face book” deixa o recado claro: “ Nada do
que foi será do jeito que já foi um dia” .
Douglas Menezes,
27 de junho de 2013.
*Douglas é da Academia Cabense de Letras.