terça-feira, 29 de junho de 2010

UMA ELEIÇÃO MEMORÁVEL


Douglas Menezes*

Corria o ano de 1972. Anos de chumbo aqueles daquela década. Tortura, mortes e medo, muito medo. Ser oposição ao regime militar era tarefa para fortes, para as pessoas que possuíam, acima de tudo, uma consciência democrática e capacidade de doação acima de suas conveniências pessoais. Aquelas que são úteis e imprescindíveis porque lutam a vida inteira. São os que sacrificaram a própria vida para que hoje respiremos os ares democráticos da ainda incipiente democracia brasileira.

Pois bem. Naquele ano, haveria eleição para prefeito. Forma que a ditadura encontrou para dar um feitio democrático ao regime de exceção, já que não havia pleito nem para governador, presidente ou governante das capitais. E a cidade do Cabo de Santo Agostinho era uma das mais visadas pela sua importância econômica e, sobretudo, por sua politização e pelo fato representar um dos centros da resistência democrática. Uma cidade em que o governo não admitia sair derrotado.

Já naquela época, o instituto da sublegenda funcionava a todo vapor. Instrumento criado para dificultar o avanço da oposição ao regime, consistia na soma de votos de um partido que poderia eleger um candidato mesmo sendo ele o menos votado. Com isso, o governo lançou, na eleição do Cabo, dois candidatos: José Feliciano de Barros e Vicente Mendes Filho, pela Arena, partido governista; enquanto a oposição ia de Lúcio Monteiro e José Ribeiro de Jesus.

Sem dinheiro, usando um fusca velho e um banquinho para fazer discurso, Lúcio Monteiro conseguiu empolgar o povo, desbravando o caminho para a renovação política do Cabo, além de um aspecto importante: o apelo à conscientização política, abrindo espaço para que o poder econômico influísse menos na eleição. Uma campanha memorável. Lúcio teve mais de cinco mil votos, ganhou do segundo colocado com uma diferença de quase mil e quinhentos votos mas perdeu, porque a soma dos dois candidatos da Arena suplantou sua votação. No entanto, a lição ficou. Uma década depois, um político de esquerda ganhava as eleições no Cabo: Elias Gomes iniciava uma nova era na política cabense.

Os cabenses um pouco mais velhos não podem esquecer esse fato histórico. Após o resultado das urnas, Lúcio foi carregado pelas ruas da cidade, nos braços do povo, que gritava seu nome. Há derrotas que de tão emblemáticas parecem vitórias, pelo seu sentido épico, por representarem a possibilidade real de mudança e a chegada de um futuro melhor para as pessoas. Isto aconteceu e eu vi.
Cabo, 28 de junho de 2010.

*Douglas Menezes é membro da Academia Cabense de Letras.

2º FESTIVAL DE TEATRO DE IGARASSU




Já estão abertas, até dia 23 de julho, as inscrições para o 2º FESTIG (Festival de Teatro de Igarassu), que será promovido de 03 a 12 de setembro naquele município, pelo Grupo Teatral Ariano Suassuna, sob a coordenação de Albanita Almeida e André Ramos, com incentivo do Funcultura/Governo do Estado de Pernambuco e apoio da Artepe (Associação de Realizadores de Teatro de Pernambuco). A ficha de inscrição e regulamento de participação, tanto para os espetáculos para adultos ou para crianças, incluindo montagens de rua ou com bonecos, estão disponíveis no endereço eletrônico www.artepe2004.blogspot.com. O evento vai prestar homenagem ao produtor cultural Pedro Portugal, realizador do Festival Estudantil de Teatro e Dança no Recife. Maiores informações: grupoteatralarianosuassuna@yahoo.com.br ou grupoteatralarianosuassuna@hotmail.com / 8765 6633 / 9155 8317.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

SEXTAS DE LETRAS




Inicialmente marcado para começar no dia 2 de julho, o Projeto SEXTAS DE LETRAS, reunião aberta da Academia Cabense de Letras, foi adiado para 6 de agosto, a primeira sexta-feira do mês.

Os acadêmicos decidiram pelo adiamente por conta do recesso escolar, uma vez que o projeto deseja alcançar, prioritariamente, a juventude, mais concentrada nas escolas.

A primeira reunião aberta terá como palestrante o professor Nelino Azevedo, Presidente da ACL, que falará sobre "A PEDAGOGIA HUMANÍSTICA DE PAULO FREIRE", sucedendo-se debate entre os acadêmicos. O evento acontecerá na Câmara de Vereadores do Cabo, a partir das 19 horas.

EM JULHO, OS PRIMEIROS NACs



Os Núcleos de Ação Cultural nascem da discussão com a comunidade.
O Secretário de Cultura, Ivan Lima, comanda a implantação dos NACs

Jaboatão dos Guararapes recebe, a partir de julho, as primeiras unidades dos NÚCLEOS DE AÇÃO CULTURAL (NACs), que representam a implantação de uma política cultural para o município. O Projeto é desenvolvido pela Secretaria de Cultura e Eventos e tem seus alicerces na discussão com as comunidades dos divesos bairros, com o objetivo de traçar um norte para a cultura local, a partir da demanda detectada junto à população.

Tudo começa com um trabalho de pesquisa junto à comunidade, que responde questionários que são aplicados pelos Agentes Culturais. A partir do resultado das pesquisas, são planejadas as ações para cada bairro. Dentre as questões dos formulários das pesquisas, três são fundamentais: O que havia de manifestação cultural nesta comunidade e já não existem? Que manifetações culturais existem hoje na comunidade? Que atividades culturais você gostaria que acontecessem na sua comunidade?

A partir daí, os Núcleos de Ação Cultural passam a existir. É a Gestão Participativa na cultura. Nada é jogado de cima para baixo, na comunidade. O processo teve início em outubro do ano passado e agora começa a dar os primeiros frutos, em Cajueiro Seco e Comporta, e, brevemente, em Jaboatão Centro e Cavaleiro.

A implantação dos NACs é uma realização da Secretaria de Cultura e Eventos, sob a coordenação da Gerência de Cultura. O Secretário municipal de Cultura, Ivan Lima, não tem medido esforços para que o Projeto seja viabilizado, alcançndo o objetivo de ter um NAC em cada bairro, formando um cinturão cultural em Jaboatão dos Guararapes. Os NACs de Cajueiro, Comporta, Jaboatão centro e Cavaleiro são considerados pilotos, passando pelo processo de avaliação a partir do fucionamento.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

CONSUARTE EM FESTIVAL CEARENSE




A Cidade do Cabo de Santo Agostinho será representada pela ConsuArte Ltda. no VII FECTA (Festival de Esquetes da Cia. Teatral Acontece) em Fortaleza - Ceará. A ConsuArte é uma Empresa Cabense de Produção Cultural, que atualmente presta serviço atuando em áreas integradas: Segurança, Qualidade, Saúde, Meio Ambiente e Responsabilidade Social, sempre utilizando a Arte como principal ferramenta para alcance de resultados especialmente o Teatro Empresa. Conheça um pouco mais acessando o site: www.consuarte.com

No ano de 2010 o FECTA, torna-se um festival Nacional e nesta edição terá trinta e duas esquetes. O período do festival será de: 23/07/2010 à 30/07/2010.
A ConsuArte participa com duas esquetes: Os Seminaristas – Texto - Flávio Alves, Direção - Lugg Alves, e no elenco – Gilson Paz e Lugg Alves. E a outra esquete selecionada foi Lição de Segurança – Texto de Flávio Alves, Direção – Lugg Alves, e no elenco – Flávio Alves, Flávio Silva e Lugg Alves.
A equipe técnica consta com o apoio de Ednilson Oliveira do Grupo da Gente – GRUDAGE.

FUTEBOL E CIDADANIA



Douglas Menezes*

É muito gostoso esse clima de Copa do Mundo que paira sobre o país. Interessante, à hora de cada jogo do Brasil, as ruas, lentamente, ficando desertas, silêncio de milhares de cidades fantasmas, como se todo mundo abandonasse o país e fosse para outro planeta .Dizia o grande Nelson Rodrigues: “a seleção é a Pátria de chuteiras”. Realmente a Nação se mobiliza quando o assunto é o escrete em confronto com o mundo. Mais além ,o sonho de milhares de meninos pobres, quase sem futuro, parece se aproximar da realidade. Os jogos na televisão têm o valor de catarse.
Nossas crianças sonham em fazer as mesmas jogadas e completarem para o gol. Cada um desses meninos é Kaká, Luís Fabiano, Robinho, Júlio César, ou até o inimigo comum e argentino Messi. Mas, sabemos, poucos irão atingir um pedaço dessa glória. Muitos que se tornam jogadores profissionais, não passarão de mais um contingente que vai ganhar até três salários mínimos, a grande maioria dos salários de jogadores profissionais do país. Outros morrerão sem nem ao menos sentirem no bolso, o gosto de uma remuneração como jogador. Infelizmente essa a grande maioria, aumentando a fileira de frustrados pretensos jogadores.

Este é apenas um lado dessa reflexão sobre o futebol e a Copa. Ao passo que é bonito ver o povo se motivando, colorindo as ruas, enchendo de alegria essa nação ainda tão sofrida e cheia de fossos sociais, vibrando, acelerando o peito, quase às vezes enfartando e sentindo orgulho em ser brasileiro, por outro lado, é forçoso dizer da alienação causada pelo futebol e pela despolitização da população brasileira.

Que bom seria se toda essa movimentação e conhecimento de causa, tivesse um outro direcionamento. Não fosse apenas um eco da fantasia que o futebol proporciona. Que a gente entendesse não só de bola, mas, sobretudo de cidadania. Que a gente banisse de vez os corruptos da cena política. Que tivéssemos o sonho de não vermos nunca mais pessoas passando necessidade, e que a Educação Pública não fosse objeto apenas de tema às vésperas da eleição, sendo depois, posta em prática de modo hipócrita e mentiroso. Que reagíssemos com indignação ao vermos irmãos morrerem nas filas dos hospitais públicos, sempre abarrotados e tendo a desculpa de que nunca há dinheiro pra saúde, quando há para show e divertimentos duvidosos, num circo que não deveria interessar a ninguém. Aí estaríamos ganhando a verdadeira Copa da Cidadania. A copa que não dá alegria apenas por um mês, mas por décadas a fio e que nos tornaria um país feito de irmãos, sem a violência fraticida, que até hoje nos enfraquece e nos faz menor perante a humanidade.

*Douglas Menezes é professor e membro da Academia Cabense de Letras

A REVOLUÇÃO TIRA O ENCANTO DO MUNDO



Roberto Menezes*

Explico porque escrevi lá em cima que a Revolução tira o encanto do mundo. Na obra-prima de filosofia, economia, e prática revolucionária, "O Capital",Karl Marx mostrou que o modo de produção capitalista faz que com vejamos tudo de modo invertido. Daí ele parte pra fazer o que fez com Hegel : extirpa, tira com, cirurgia de mestre, o abscesso do idealismo. Resta a realidade : o capital é uma máquina insaciável de explorar trabalhadores, de transformar gente em bagaço de cana como nos engenhos e usinas. Com um agravante: no capitalismo o trabalhador paga pra trabalhar e pensa que está recebendo. Sempre. Não adianta isso de sociedade cibernética,pos-industrial, sociedade líquida ou trabalho imaterial. É tudo mistificação ideológica. Na base de tudo, a mais-valia, o trabalho excedente que não é pago. O salário é para o trabalhador se alimentar com a família,comprar roupas, pagar o teto onde mora, e fazer o seu “lazer”: cachacinha no pendura, futebol enquanto que o preço do ingresso não sobe, e de vez em quando uma trepadinha .Quando a mulher, também trabalhadora, está com disposição de encarar um quarto turno.Como isso vem acontecendo também com a classe média,confirma-se que os pequenos-burgeses estão,rapidamente, virando proletários. Outra conclusão de Marx. E não adianta dar como exemplos a vida cultural e/ou gastronômica,ou mesmo as baladas e motéis do Rio,São Paulo,Brasília ou Floripa. . Sabemos que a mais-valia agora chega também (e como!) pelo cartão de crédito e pelo cheque especial.Assim como pelo consumo a crédito do proletariado. * Um velho cantor de rock que comandou a Revolução Russa de 1917 gritou do palco: ”sem teoria revolucionária não existe ação revolucionária”. E é isso que me preocupa no Movimento Bolivariano. Sabemos que a mídia faz a cabeça do brasileiro, “anti-comunista”desde que estava no ventre da mãe ( com exceção dos comunistas e demais correntes revolucionárias). Sabemos que Chavez é antipatizado por essa maioria tão estúpida,embrutecida e burra , que se traveste de silenciosa mas de vez em quando vomita sua absoluta falta de politização, quando a Tv Globo lhe dá os 30 segundos de glória de uma vida medíocre. Sabemos também que Evos Morales é mal visto, é “o cara que queria sacanear o Brasil, trair Lula e encampar a Petrobrás”. A manada silenciosa é contra tudo que foge da rotina, e chama os inconformados e militantes de “turma do derruba”. Então o Movimento Bolivariano PRECISA MESMO de uma articulação teórica. Não para que os companheiros , que querem realizar o belo projeto da Nuestra América, fiquem se masturbando em considerações acadêmicas. Nada disso. Mas a teoria justa, certa,consciente, é necessária para uma prática justa, certa,consciente. Não esqueçam o velho cantor de rock soviético. Ele é tão atual quanto os belos romances de Karl Marx. * Uma intelectual da área acadêmica, com quem eu precisava fazer contato para o roteiro do meu filme , passou pela minha página do Orkut no dia em que eu falava da beleza das guerrilheiras da Farc, e da atração sensual que elas me passaram naquele vídeo. A intelectual, também uma mulher bonita,deve ter achado que sou um machista obsceno pra escrever um texto daquele na semana dos 100 anos do Dia Internacional da Mulher. É que eu digo o que sinto e nisso vou misturando política e sexualidade,cinema e filosofia. Pena que ela não tenha lido a mensagem que mandei via email para todas as amigas do Orkut e mais de 100 mulheres do meu cadastro de emails.Nada de parabéns, agradinhos e deslumbramentos. Foi uma seca análise marxista do que significava o Dia Internacional da Mulher, que completava um século. Mandei pra todas,intelectuais ou não .Leitoras de Che ou espectadoras de novela das 8. Mas deixei o recado. Nada de luta entre gêneros, e sim luta de classes. A bela acadêmica deve ter ficado assustada com meu texto do Perfil. Entrei na página dela no Orkut e encontrei o lugar do perfil ocupado por um texto em alemão. Desta vez, o susto foi meu. E ficamos assustados um com o outro. Até hoje.

domingo, 2 de maio de 2010

*Roberto Menezes é Jornalista

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O MUNDO ESTÁ MAIS POBRE - MORREU JOSÉ SARAMAGO




Morreu, aos 87 anos, o poeta e escritor portugês JOSÉ SARAMAGO, Prêmio Nobel de Literatura. Há algum tempo com a saúde fragilizada, o poeta Saramago deixa para o mundo um herança com os mais belos tesouros da literatura. Somos gratos por estar neste mundo na mesma época em que ele. Sobre a sua partida, apenas afirmamos: "O mundo fica mais pobre".

ARTE DE AMAR

José Saramago

Metidos nesta pele que nos refuta,
Dois somos, o mesmo que inimigos.
Grande coisa, afinal, é o suor
(Assim já o diziam os antigos):
Sem ele, a vida não seria luta,
Nem o amor amor.

José Saramago, in "Os Poemas Possíveis"


"Os ricos governam e os pobres vivem como podem" (Saramago)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

ENTRE A PORTA E A ESQUINA



Foto: Wedson Gomes

Nesta sexta-feira, dia 18 de junho, a Trupe Cara & Coragem (que já montou outros trabalhos como o premiado "Quando o Sol Vem à Janela" - drama sobre a perda gradativa da memória - e "O Rei do Lixo" - musical infanto-juvenil sobre a reciclagem do lixo, ambos com texto e direção de Luiz de Lima Navarro), da cidade do Cabo de Santo Agostinho, estreia, às 20h, no Teatro Municipal Barreto Júnior daquele município, no centro da cidade, em única apresentação, o espetáculo “Entre a Porta e a Esquina”, com texto e direção de Luiz de Lima Navarro. No elenco: Evânia Copino e Alcy Saavedra. A peça expõe de forma crua a relação de mãe e filho numa situação limítrofe da vida. Ingressos: R$ 5 (preço único promocional). Informações: 8874 2140 (Luiz de Lima Navarro).

Na XV MOCASPE – Mostra Cabense de Sketes e Poesias Encenadas - realizada em março deste ano, no próprio Teatro Municipal Barreto Júnior do Cabo de Santo Agostinho, este espetáculo, numa versão reduzida para 15 minutos, recebeu as seguintes premiações: melhor espetáculo, melhor direção, melhor texto, melhor iluminação e melhor cenário (Luiz de Lima Navarro), melhor atriz (Evânia Copino) e melhor ator (Alcy Saavedra).
Segundo Luiz Navarro, "Entre a Porta e a Esquina expõe de forma crua a relação de Mãe e Filho que em situação limítrofe da vida, buscam esclarecer decisões tomadas e fechar feridas abertas por condições inerentes ao ser humano".

nesta sexta-feira - Teatro Barreto Júnior - Cabo de Santo Agostinho

quarta-feira, 16 de junho de 2010

SÃO JOÃO COM CHEIRO DE POVO




Começa nesta sexta-feira, às 18 horas, em Muribeca, a programação oficial do São João de Jaboatão dos Guararapes. O Governo Municipal, através da Secretaria de Cultura, preparou um vasto programa tendo por base as manifestações populares que fizeram dos festejos juninos uma das marcas da cultura popular nordestina.

Desfile de carroças ornamentadas, Bacmarteiros, cortejo de Quadrilhas Matutas, Pau-de-Sebo, procissão profana com a bandeira do Santo, forró pé-de-serra, muito forró. Daí em diante, a festa toma conta do município.

DIREITOS AUTORAIS & ECONOMIA CRIATIVA



Antonio Campos*

O século 21 é marcado por uma transição para a era da economia do conhecimento. A riqueza revolucionária da 3ª Onda, defendida por Alvin Toffer, é cada vez mais baseada no conhecimento e está muito associada à tecnologia. O Brasil pode ser o melhor dos Brics, através do fortalecimento da economia criativa. Transformar inventividade em competitividade. A tendência é aumentar a riqueza gerada pela economia baseada no desenvolvimento das indústrias culturais e de criatividade. A revisão da legislação que envolve o direito autoral é um importante instrumento para o desenvolvimento dessa economia criativa no País.
Em 1998, quando a Lei dos Direitos Autorais foi promulgada, o Brasil vivia um cenário completamente diferente do que temos agora. As novas formas de mídias sociais, sites de compartilhamento de arquivos e todas as novidades tecnológicas fizeram dos dias de hoje diferentes dos que vimos há cerca de dez anos. Ferramentas como a internet, pen drives, mp3, iPods, leitores digitais, CDs e DVDs modificam as maneiras mais tradicionais de disseminar conteúdos e produções artísticas.

Nesse descompasso entre a atual lei autoral brasileira e a nova realidade do mundo digital, é que esta é considerada a quarta pior lei do mundo pela ONG Consumers International IP Watch List. Ela limita excessivamente o acesso do consumidor para o uso privado e não comercial, conhecido nos Estados Unidos como uso justo. Na lei atual, não há permissão, por exemplo, para cópias de livros didáticos cujas edições já se esgotaram.

Atento a essa nova realidade, o Ministério da Cultura discute, desde 2005, a possibilidade de revisar a Lei de nº 9.610/98 que regulamenta o direito autoral, devendo o anteprojeto de reforma entrar em breve em consulta pública no site do MinC.

A busca por mais estabilidade entre o direito do autor e os direitos do cidadão comum para acessar a educação, cultura, informação e conhecimento; o aperfeiçoamento do trato legal entre o autor e editoras/gravadoras e a regulação/fiscalização eficaz do direito autoral são apontadas pelo diretor de Direitos Intelectuais do MinC, Marcos Souza, como as principais razões para a reforma.

O desequilíbrio nos contratos entre gravadoras e compositores, que privilegia demasiadamente a livre negociação contratual merece mais atenção. É necessária uma regulação e supervisão mais eficazes das sociedades de gestão coletiva a fim de criar critérios mais justos e transparentes na distribuição de direitos autorais.

É fato que a lei dos direitos autorais precisa se moldar às novas tendências e formato do mundo globalizado. Afinal, essas mudanças não têm volta. A grande questão do processo de mudança na legislação é garantir um maior debate com os compositores, escritores e produtores culturais para um arcabouço jurídico que proteja os direitos do autor, mas que crie mecanismos que permitam uma maior democratização do acesso ao conhecimento do cidadão comum e o desenvolvimento da economia criativa.

*Antonio Campos é Escritor e Advogado.

VOU-ME EMBORA PRO PASSADO



Jessier Quirino

Vou-me embora pro passado
Lá sou amigo do rei
Lá tem coisas "daqui, ó!"
Roy Rogers, Buc Jones
Rock Lane, Dóris Day
Vou-me embora pro passado.
Vou-me embora pro passado
Porque lá, é outro astral
Lá tem carros Vemaguet
Jeep Willes, Maverick
Tem Gordine, tem Buick
Tem Candango e tem Rural.
Lá dançarei Twist
Hully-Gully, Iê-iê-iê
Lá é uma brasa mora!
Só você vendo pra crê
Assistirei Rim Tim Tim
Ou mesmo Jinne é um Gênio
Vestirei calças de Nycron
Faroeste ou Durabem
Tecidos sanforizados
Tergal, Percal e Banlon
Verei lances de anágua
Combinação, califon
Escutarei Al Di Lá
Dominiqui Niqui Niqui
Me fartarei de Grapette
Na farra dos piqueniques
Vou-me embora pro passado.
No passado tem Jerônimo
Aquele Herói do Sertão
Tem Coronel Ludugero
Com Otrope em discussão
Tem passeio de Lambreta
De Vespa, de Berlineta
Marinete e Lotação.
Quando toca Pata Pata
Cantam a versão musical
"Tá Com a Pulga na Cueca"
E dançam a música sapeca
Ô Papa Hum Mau Mau
Tem a turma prafrentex
Cantando Banho de Lua
Tem bundeira e piniqueira
Dando sopa pela rua
Vou-me embora pro passado.
Vou-me embora pro passado
Que o passado é bom demais!
Lá tem meninas "quebrando"
Ao cruzar com um rapaz
Elas cheiram a Pó de Arroz
Da Cachemere Bouquet
Coty ou Royal Briar
Colocam Rouge e Laquê
English Lavanda Atkinsons
Ou Helena Rubinstein
Saem de saia plissada
Ou de vestido Tubinho
Com jeitinho encabulado
Flertando bem de fininho.
E lá no cinema Rex
Se vê broto a namorar
De mão dada com o guri
Com vestido de organdi
Com gola de tafetá.
Os homens lá do passado
Só andam tudo tinindo
De linho Diagonal
Camisas Lunfor, a tal
Sapato Clark de cromo
Ou Passo-Doble esportivo
Ou Fox do bico fino
De camisas Volta ao Mundo
Caneta Shafers no bolso
Ou Parker 51
Só cheirando a Áqua Velva
A sabonete Gessy
Ou Lifebouy, Eucalol
E junto com o espelhinho
Pente Pantera ou Flamengo
E uma trunfinha no quengo
Cintilante como o sol.
Vou-me embora pro passado
Lá tem tudo que há de bom!
Os mais velhos inda usam
Sapatos branco e marrom
E chapéu de aba larga
Ramenzone ou Cury Luxo
Ouvindo Besame Mucho
Solfejando a meio tom.
No passado é outra história!
Outra civilização...
Tem Alvarenga e Ranchinho
Tem Jararaca e Ratinho
Aprontando a gozação
Tem assustado à Vermuth
Ao som de Valdir Calmon
Tem Long-Play da Mocambo
Mas Rosenblit é o bom
Tem Albertinho Limonta
Tem também Mamãe Dolores
Marcelino Pão e Vinho
Tem Bat Masterson, tem Lesse
Túnel do Tempo, tem Zorro
Não se vê tantos horrores.
Lá no passado tem corso
Lança perfume Rodouro
Geladeira Kelvinator
Tem rádio com olho mágico
ABC a voz de ouro
Se ouve Carlos Galhardo
Em Audições Musicais
Piano ao cair da tarde
Cancioneiro de Sucesso
Tem também Repórter Esso
Com notícias atuais.
Tem petisqueiro e bufê
Junto à mesa de jantar
Tem bisqüit e bibelô
Tem louça de toda cor
Bule de ágata, alguidar
Se brinca de cabra cega
De drama, de garrafão
Camoniboi, balinheira
De rolimã na ladeira
De rasteira e de pinhão.
Lá, também tem radiola
De madeira e baquelita
Lá se faz caligrafia
Pra modelar a escrita
Se estuda a tabuada
De Teobaldo Miranda
Ou na Cartilha do Povo
Lendo Vovô Viu o Ovo
E a palmatória é quem manda.
Tem na revista O Cruzeiro
A beleza feminina
Tem misse botando banca
Com seu maiô de elanca
O famoso Catalina
Tem cigarros Yolanda
Continental e Astória
Tem o Conga Sete Vidas
Tem brilhantina Glostora
Escovas Tek, Frisante
Relógio Eterna Matic
Com 24 rubis
Pontual a toda hora.
Se ouve página sonora
Na voz de Ângela Maria
"— Será que sou feia?
— Não é não senhor!
— Então eu sou linda?
— Você é um amor!..."
Quando não querem a paquera
Mulheres falam: "Passando,
Que é pra não enganchar!"
"Achou ruim dê um jeitim!"
"Pise na flor e amasse!"
E AI e POFE! e quizila
Mas o homem não cochila
Passa o pano com o olhar
Se ela toma Postafen
Que é pra bunda aumentar
Ele empina o polegar
Faz sinal de "tudo X"
E sai dizendo "Ô Maré!
Todo boy, mancando o pé
Insistindo em conquistar.
No passado tem remédio
Pra quando se precisar
Lá tem Doutor de família
Que tem prazer de curar
Lá tem Água Rubinat
Mel Poejo e Asmapan
Bromil e Capivarol
Arnica, Phimatosan
Regulador Xavier
Tem Saúde da Mulher
Tem Aguardente Alemã
Tem também Capiloton
Pentid e Terebentina
Xarope de Limão Brabo
Pílulas de Vida do Dr. Ross
Tem também aqui pra nós
Uma tal Robusterina
A saúde feminina.
Vou-me embora pro passado
Pra não viver sufocado
Pra não morrer poluído
Pra não morar enjaulado
Lá não se vê violência
Nem droga nem tanto mau
Não se vê tanto barulho
Nem asfalto nem entulho
No passado é outro astral
Se eu tiver qualquer saudade
Escreverei pro presente
E quando eu estiver cansado
Da jornada, do batente
Terei uma cama Patente
Daquelas do selo azul
Num quarto calmo e seguro
Onde ali descansarei
Lá sou amigo do rei
Lá, tem muito mais futuro
Vou-me embora pro passado

IMPORTANTE

terça-feira, 15 de junho de 2010

E BETÂNIA ESCOLHEU O MELHOR



Antonino Oliveira Júnior*

Era uma vida de agonia. Nem sei se o pobre do Zé Carlos podia chamar aquilo de casamento, de vida em família. Eram só os três: ele, Valéria e a pequenina Betânia, uma pureza de menina gerada nos raros momentos de harmonia entre eles. O dia de força e de muito suor desprendidos no trabalho deveria ser compensado por uma boa acolhida no retorno ao lar. Mas que compensação que nada! Em casa a vida se torna um inferno, de tanta reclamação de Valéria.

-Falta as coisas dentro de casa e você ainda chega com fedor de bebida!!!

Por mais que ele tente argumentar, as coisas pioram. Sábado passado largou de meio-dia e saiu prá tomar uma com os colegas e em vez dos 250 reais da quinzena, só chegou com duzentos. Entrou no racha, né? Tinha que ser, porque todo mundo da turma é pobre feito ele. E tome reclamação, tome esculhambação...e quando ele queria argumentar, vinha forte da boca de Valéria: PALHAÇO! Você não passa de um palhaço...

A raiva subiu à cabeça, mas a decepção era ainda maior. Só restou pegar a mãozinha macia de Betânia e sair com ela a passear. Chegou no meio da rua e ainda deu tempo de ouvir, mais uma vez, o sonoro “PALHAÇO”, repetido inúmeras vezes, ante os olhos assustados da pequena Betânia, sua filha amada.

Era quase quatro da tarde e eles saíram sem rumo, até encontrarem o pequeno circo na beira da estrada. Era o chamado “pano-de-Roda”, como é conhecido aquele circo que não tem cobertura. Ingresso barato, Zé Carlos e Betânia logo tomaram assento na perigosa arquibancada, também conhecida como “poleiro”.

O Cospe-fogo, o equilibrista, o homem que atirava facas na mulher encostada na tábua, a dançarina de barriga pendurada e a saia bem curta, aparecendo a calcinha (um desastre). Mas tinha o Fedegoso, um palhaço de fazer rir até defunto. Porque circo mambembe é assim mesmo, pode nada prestar, mas o palhaço é sempre muito bom. Foram quase duas horas de muita risada e muita gritaria da platéia, na maioria das vezes, vaiando. E Betânia se acabando de sorrir, sentada em seu colo, vez em quando apertando a sua barriga num abraço. Saiu até um saco de pipoca e um pirulito para ela, era o que dava para ele comprar.

Na volta prá casa, Betânia em seus braços, dormindo, ele cansado, pensando em quantas vezes ainda escutaria Valéria chamar-lhe de palhaço. Mais de dois quilômetros com o peso duplicado de sua pequena Betânia, criaturinha de apenas cinco anos de idade. Uma vez em casa, não deu outra:

-Fosse prá onde com a menina, que passou da hora da bichinhaa tomar café? Tu só pensa em tu, né, palhaço?

Quase não dava prá segurar, mas, ficou calado e foi no quarto, colocar a sua Betânia na cama. E o fez com zelo, carinho e ternura. Ao dar as costas para sair do pequeno quarto, ouviu a doce voz de Betânia a chamá-lo:

-Painho, eu gostei muito do circo. Mas o que eu mais gostei mesmo foi do palhaço...

Voltou-se, beijou-lhe a testa e deu um leve sorriso para ela, acompanhado de um “boa noite”. Lá fora, nem ligou mais para os gritos de Valéria a chamá-lo de palhaço.

Afinal, Betânia já tinha feito sua escolha...


*Antonino Oliveira Júnior é membro da Academia Cabense de Letras.

ILUSÕES DO AMANHÃ



Esse poema foi escrito por um aluno da APAE, chamado, pela sociedade,
de excepcional. Excepcional é a sua sensibilidade! Ele tem 28 anos,
com idade mental de 15.
PRÍNCIPE POETA (Alexandre Lemos - APAE)

'Por que eu vivo procurando um motivo de viver,
Se a vida às vezes parece de mim esquecer?
Procuro em todas, mas todas não são você.
Eu quero apenas viver, se não for para mim que seja pra você.
Mas às vezes você parece me ignorar, sem nem ao menos me olhar,
Me machucando pra valer.
Atrás dos meus sonhos eu vou correr.
Eu vou me achar, pra mais tarde em você me perder.
Se a vida dá presente pra cada um,
o meu, cadê?
Será que esse mundo tem jeito?
Esse mundo cheio de preconceito.
Quando estou só, preso na minha solidão,
Juntando pedaços de mim que caíam ao chão,
Juro que às vezes nem ao menos sei, quem sou.
Talvez eu seja um tolo,
Que acredita num sonho.
Na procura de te esquecer,
Eu fiz brotar a flor.
Para carregar junto ao peito,
E crer que esse mundo ainda tem jeito.
E como príncipe sonhador...
Sou um tolo que acredita, ainda, no amor..'

segunda-feira, 14 de junho de 2010

SONHO MEU



Roberto Menezes

Pretenso poema de um fígado em pânico
Roberto Menezes – 23.04.2010, seis da manhã.


Eu vivo num tempo de guerra
Eu vivo num tempo de merda
Dizem que a História acabou
E só ficou a História do Olho
Que Georges Bataille contou
O olho que não é o do BigBrother
E sim o olho por onde sai a merda
Recebe tempo de merda
Todo desprezo que se encerra
No meu peito senil
Vai dizer aquela ingrata
Que não tenho mais amor a oferecer
A amargura do ódio
Fez a paixão fenecer
Beira-Mar, ê ê,Beira-Mar
Caboclo espírito enfezado
Vendo a morte chamada de vida
Dá o grito de guerra
E encerra:
“Tá tudo dominado!”
Uma mãe acalenta um filho
sem cabeça
Chovem ossadas mil
São os filhos do Brasil
Morte inútil, abestalhada
Saindo à força deste mundo
Enquanto o povão toma no fundo
Enquanto grita a plenos pulmões
“Campeões do Mundo”!
Esmagam-se culhões
Trovejam canhões
E as bucetas das meninas sem lares
Viram depósito de esperma constante
Para quem tem dólares
E mora distante
Pra que prantear o Che,
Procurar desaparecidos,
Pra encontrar o que , o quê?
O esqueleto dos sonhos perdidos?
Somos putos e putas
Prostituídos nessa terra canalha
Onde a canção se espalha
Chamando de amada terra
Esse país bundão de Sarney,Renan & Cia.
Que não valem o que o gato enterra
Pra frente Brasil
Vai mais pra frente um pouquinho
Olha pro céu, meu amor
Vê como ele tá lindo
Você olhando pra ele
Não vê que está caindo
Sem nenhum abalo, nenhum sismo
No lugar que sempre nos esperou
O maior de todos os abismos
Politicamente correto
Negro não é mais negro
Cego não é mais cego
Nego não é mais nego
Sim não é mais sim
Não me entrego é m'entrego
Morte agora é vida
E até Branca de Neve
Terá que dar sete trepadas constrangidas
Com sete criaturas
Verticalmente reprimidas
Anão? Mais não!
É aí que mora o perigo
Na frase feita colonizada
Como “discutir a relação”
Até que dois corpos tombem
De ódio e de exaustão
Exerço aqui o direito
De quem tem quase 100 anos
De quem lutou, amou e sofreu
No PCB, Dissidências, PQP
Pra só encontrar o que era mesmo pra encontrar
o óbvio e os óbitos ululantes
pelos cinco mil alto-falantes
Dessa terra descoberta por Cabral
Beira-Mar, ê,ê, Beira-Mar
Fim de Papo
Pro ar

MEU POEMA NÃO FAZ SILÊNCIO



Natanael Lima Jr


Meu poema jamais faz silêncio

e a ninguém cabe calá-lo

trago-o como herança que me mantém aceso

como esta voz que traduz a dor dos injustiçados.



Meu poema jamais faz silêncio

e a ninguém cabe calá-lo

trago-o como navalha que corta e dilacera

o curso provinciano das horas.



Meu poema não faz silêncio

porque é feito de palavra vigorosa

e despojado de qualquer retórica rançosa

e leviana.



Meu poema não faz silêncio

porque é feito de palavra que nomeia

a palavra que traduz

a palavra que semeia.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

CINE TEATRO APOLO



Teatro Cinema Apolo : “mais novo” com 96 anos


JUAREIZ CORREYA /
Ex-presidente da Fundação Hermilo
(juareizcorreya@hotmail.com)

O Governo Eduardo Campos reabriu, ontem, dia 9 de junho - 131º. aniversário de emancipação do Município dos Palmares -, o Teatro Cinema Apolo, sede da Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, patrimônio estadual pernambucano tombado pela FUNDARPE na última década do século passado. Restaurado e reformado, neste ano do seu 96.o aniversário de fundação (datada de 6/dezembro/1914), o Teatro Cinema Apolo volta à atividade, no município dos Palmares, para servir novamente ao desenvolvimento cultural dos palmarenses e dos cidadãos da região Mata Sul de Pernambuco. É o seu destino, espaço cultural irradiador da vida artística local desde a segunda década do século passado e que, após um breve período de inatividade, ameaçado de fechar e de se transformar em um banco, igreja evangélica ou loja de eletrodomésticos, foi salvo, em 1983, para a perenidade da sua história, pela ação empreendedora do então prefeito Luiz Portela de Carvalho, ao adquirir o edifício para a Prefeitura dos Palmares com o objetivo de transformá-lo em sede da Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, criada em seu governo.

Hoje, faltando 4 anos para completar um século, o Teatro Cinema Apolo está “novinho em folha”, para alegria e orgulho dos palmarenses e das comunidades da região. A sua reforma e melhoria é uma obra garantida pela competência técnica da FUNDARPE, patrocinada pelo PROMATA – Programa de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável da Zona da Mata de Pernambuco / Secretaria Especial de Articulação Regional / Governo de Pernambuco, em convênio com o Banco Mundial. Os investimentos - na ordem de R$ 1. 900.000, 00 - foram devidamente aprovados “de acordo com a louvável iniciativa da Comissão Temática de Cultura do PIM – Programa de Investimento Municipal, do PROMATA - Palmares, em 2003. Aprovado o projeto nesse tempo, só o atual Governo Eduardo Campos é que viabilizou o empreendimento”, como já tivemos oportunidade de registrar em artigos publicados no Diário de Pernambuco (“O Apolo, Hermilo, Arraes e Eduardo”, de 31/julho/2008, e “O Governo de Pernambuco e a Fundação Hermilo”, de 11/junho/2009).

Vale a pena ressaltar, por uma questão de respeitosa justiça, a decisiva participação de educadores, poetas, músicos, artistas plásticos e cênicos, e artesãos palmarenses que integraram a Comissão Temática de Cultura do PIM, do PROMATA - Palmares, lutando pela reforma e melhoria do Teatro Cinema Apolo (fechado por causa do desabamento de parte da sua coberta, em 2001), em sua histórica ação no ano de 2003 : José Rodrigues de Lima, Silvana Maria do Nascimento, Ginaldo Napoleão de Barros, Zé Ripe, Miriam Santos de Lima, Edna Santos de Lima, Gleide Vasconcelos Silva, Maria José Balbino, Deny César, Sandro Ricardo Agrelli e este articulista, então presidente da Fundação Hermilo.

Agora reaberto em festa mais do que justificada dos governos municipal e estadual, o Teatro Cinema Apolo, com certeza, voltará à cena cultural de Palmares e de Pernambuco com as suas atividades naturais de teatro e de cinema, em seu palco aberto também para a dança e para a música, e promovendo, em seu privilegiado auditório, palestras, debates e encontros culturais que reflitam o seu importante papel de teatro mais antigo do Interior do Estado e de sede da Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, a primeira fundação cultural criada no Interior de Pernambuco. Uma instituição municipal que, por suas ações abrangentes, já representa a cultura de toda a região Mata Sul pernambucana.

*Juareiz Correya é poet
a

quarta-feira, 9 de junho de 2010

LANÇAMENTO DE LIVRO




Acontece hoje o lançamento do Livro "ANTOLOGIA POÉTICA" , de Geraldino Brasil, no Centro Cultural Correios, das 19 às 21 horas. O local do evento fica na rua Marquês de Olinda, 262, Recife antigo. Vale a pena conferir.

terça-feira, 8 de junho de 2010

A CULTURA ALIMENTAR JUDAICA EM PERNAMBUCO




Acontece nesta terça-feira, 8 de junho, das 18 às 20 horas, o lançamento do Livro "A CULTURA ALIMENTAR JUDAICA EM PERNAMBUCO", de Beatriz Schvartz, Daniel Breda e Tânia Kaufman. O evento acontece na Sinagoga Kaal Zur Israel, na rua do Bom Jesus, no Recife antigo.

A Obra trata do mundo da gastronomia no judaismo e suas particularidades religiosas e culturais em Pernambuco, nos séculos XVI, XVII e XXI.

EU QUERIA QUE FOSSE UM SAMBA - KKKKKKKK



(Uma brincadeira de sábado à noite)
*Antonino Oliveira Júnior

Mal a noite desperta,
Você logo me acerta
e reinventa a ordem
do tempo para os que dormem...

Como esquecer a morena
Tão boa de fazer pena
Prá quem sonha com seus beijos
E leva a vida em desejos?

Dei bobeira e cochilei
Depois de sentir prazer,
Não vi o dia nascer,
Passei a mão no vazio
Não tinha corpo na cama
E de resto só a mancha
Daquilo que registrou
A noite de tanto amor...

Sentado pus-me a pensar
Naquele corpo marrom,
Naquela pele macia
Da mulata que deixou
Em mim uma lapa de dor,
Que não tem choro que acabe
E fechou meu coração
Prá não ter nova paixão
E nem querer outro amor.

*Antonino Oliveira Júnior é membro da Academia Cabense de Letras e da Igreja Batista da Cohab.

NACOS DE UNIVERSO



Natanael Lima Júnior*

Um sonho
e uma realidade:
nacos de universo,
constelações
aos ombros,
infinito.

Um sonho,
um campo, uma rocha,
pés que sangram,
andrajos de gente,
sombra amorfa.

Um sonho,
uma canção, um poema,
pedaços de existência,
imortalidade à venda
por dívida.

Todo o meu universo
é palavra,
nenhum astro me preside
e sou eterno.

Meu sonho
é não parar de sonhar
e me exaurir de viver.

*Natanael Lima Júnior é membro da Academia Cabense de Letras

segunda-feira, 7 de junho de 2010

NEM UMA BALA PERDIDA


NEM UMA BALA PERDIDA
Roberto Menezes


Noite de domingo passado, 30 de agosto. Ele chegou à TV Bandeirantes em São Paulo num jipe tipo militar. O jipe estava cheio de adesivos: "EnDIREITA BRASIL", "GENERAL HELENO ESTAMOS COM O SENHOR", "ARMAS NÃO MATAM PESSOAS.PESSOAS MATAM PESSOAS".
O "Canal Livre", da Band, entrevistou ao vivo, com muita competência e profissionalismo, uma das mais execráveis figuras da história brasileira: o Cabo Anselmo.

Cabelos brancos e finos, fala mansa e ar de vítima, Cabo Anselmo não se abalou nem quando falou da mulher grávida, a bela e valente Soledad: assassinada, enquanto seus protetores o levavam para o aeroporto. Adeus, Recife. O sangue nas mãos se lava com os lenços perfumados dos banheiros de avião. Lá embaixo, jovens mortos com 14 tiros na cabeça cada um (um número cabalístico?). E Soledad entre eles, com o filho que nasceria dentro de dois meses. O filho de Cabo Anselmo.

Janeiro de 1973. Demissão de toda a redação da sucursal Recife do Jornal do Brasil, inclusive o diretor Bernardo Ludermir. O interventor Amaury Mattos alegava interesses comerciais que a empresa JB queria ampliar em Pernambuco e nossas matérias negativas prejudicavam. Inclusive aborreciam os usineiros (porque davam voz aos trabalhadores do campo) e aos militares (porque mostravam o Nordeste que eles queriam ocultar). Eu era o Chefe de Redação, substituindo Nagib Jorge Neto, demitido um mês antes.

Na saída do jornal, para onde não voltaria mais, o motorista José Félix me entrega um bilhete de uma moça. Era a companheira Rildete, do PCB, marcando um encontro. Morena alta, esguia, entre 22 anos e 24 anos, nariz graciosamente arrebitado, olhar suave, fala doce, uma das autênticas militantes do verdadeiro movimento revolucionário: o que queria um Brasil socialista. Nunca soube seu verdadeiro nome. E ela me conhecia como Pedro.

Encontramos-nos na sala de espera do Cinema Glória, no bairro de São José. Um cinema de filmes pornôs onde homens lotavam a sala para transar com outros homens enquanto o sexo explícito corria solto na tela. Não sei se ainda hoje é assim. A sala de espera, com um sofá e duas poltronas, ficava vazia. O fuc-fuc era lá dentro.

Eu e Rildete pudemos conversar tranquilamente. Para quem nos visse, era um rapaz feio e magro como um poste, acertando preço com uma jovem e bela prostituta, das muitas que rondavam o cinema Glória.

Rildete fulminou de cara: "A gente não vai mais se ver. Ou talvez por muito tempo. Vou passar para guerrilha”. Retruquei que ela pensasse bem. O povo brasileiro tinha fraca consciência política, a ditadura estava jogando duro com os mitos do nacionalismo e tinha todo o apoio da mídia que o povo vê, ouve e lê. Era preciso organizar antes todas as camadas sociais e apostar na luta pela democracia. Tem que ser um amplo movimento, nunca a iluminação de grupos isolados.

Rildete disse que o irmão dela tinha morrido a três meses num choque com as forças de repressão. E ela estava convencida de que a morte dele negava o Brasil alienado para afirmar o Brasil dentro de uma pátria maior, latino-americana.

Agora, entre os gemidos eróticos que vinham de dentro do cinema, eu olhava Rildete e me vinha na cabeça à personagem da tragédia grega Antígona, de Sófocles. Para enterrar o irmão e mostrar a injustiça das leis, Antígona caminha para a morte. Para reviver o irmão e revelar a injustiça e a criminalidade dos poderosos, Rildete como Antígona, já estava "do outro lado".

Sem perder a suavidade, era só a força da escolha. E sem perder a doçura, a voz tinha o timbre da decisão. O olhar e a voz de Antígona quando desafia Creonte que a condenara. E que marcha altiva, para a sepultura, na peça de Sófocles.

Fevereiro, 1973. Dez dias antes que eu partisse para Salvador (que será tema de outro artigo que envolve muitos jornalistas pernambucanos), e de lá para a Argentina e o Chile de Allende, soube pelo companheiro Resende que Rildete estava morta. Duas balas, uma em cada olho, uma bala na testa, outra na nuca.

O olhar da Antígona pernambucana deve ter ofuscado seus assassinos.

Tudo isso me passava pela cabeça ao ver Cabo Anselmo elogiar o profissionalismo policial do coisa ruim Sérgio Fleury, confirmar que realmente guardava poemas que Fleury fazia entre uma e outra sessão de tortura.

Fleury tanto torturou Frei Tito que o frade exilado na França, se matou. Deixando escrito que não conseguia esquecer, dia e noite, o rosto do Mal em Si, o rosto de Fleury, protetor do Cabo Anselmo.

Cabo Anselmo disse na TV que não lhe restava opção. Fleury foi direto: ou colabora com a gente, ou morre, desaparece. Será que isso deu poema? Os tenebrosos poemas do Mal em Si?

E quantos sofreram e não delataram? Temos o exemplo da Dilma Rousseff, apontada nos relatórios da CIA, como a Joana D’Arc brasileira: 22 dias consecutivos de choques elétricos e outros tipos de tortura. E não confessou nada, nem delatou ninguém, segundo os relatórios dos próprios agentes dos Estados Unidos.

E o pior dedo-duro da história brasileira, ainda ficou amigo pessoal até hoje, do policial Carlinhos Metralha, um dos maiores participantes na repressão e assassino de militantes de esquerda.

Cabo Anselmo quer indenização e reaver sua identidade, seu RG. Ele negou qualquer compromisso com o jipe cheio de adesivo, mas admitiu que logo que recobrasse a "cidadania" poderia escolher o campo ideológico.
Escolher o que, traidor? Fique tranqüilo, Cabo Anselmo. Você vai reaver sua identidade, vai receber uma boa grana, vai poder andar na rua e fazer o proselitismo das idéias dos seus "grandes amigos", que são também as suas idéias.

Imaginem uma Dilma Rousseff ou uma Marina Silva no governo, batendo de frente com os grupos que sempre roubaram o Brasil e são os responsáveis pela miséria da maioria dos brasileiros.

Cabo Anselmo estará no Congresso como deputado, eleito com a força da grana dos amigos torturadores e assassinos? Ou vai continuar oculto, conspirando para derrubar Dilma ou Marina, acabar com as organizações populares, exterminar os comunistas, e ajudar os norte-americanos que querem implantar uma base militar no Recife, depois da Colômbia. Enfim, vai realizar o grande objetivo de enDIREITAR de vez o Brasil?

Vendo aquele símbolo da morte e da traição, me lembrei da Antígona guerrilheira, a querida companheira Rildete, que nos deixou tão cedo, da solidão de Soledad morrendo com o filho na barriga, o filho do "homem" que a delatou. E senti vergonha de estar vivo, de usar da lógica medrosa e do "bom senso" para tentar convencer uma companheira que resolvera fazer a travessia para um ideal maior.

No Brasil de hoje, as balas parecem querer sair sozinhas das armas. Milícias, traficantes, assaltantes, matadores de mendigos, casais que se matam, jovens que se matam, balas perdidas à procura de corpos desatentos. Nunca se matou tanto como no Brasil de hoje.
As armas fumegantes parecem atender à inquietação das balas.

Mas Cabo Anselmo continua vivo.


* Roberto Menezes é jornalista.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

PROJETO DA ACADEMIA DE LETRAS



Arte do Cartaz: Acadêmico Jairo Lima.

A Academia Cabense de Letras está chegando mais perto da população. A partir de 2 de julho acontece o Projeto Sexta de Letras, reuniões públicas na primeira sexta-feira de cada mês, com recitais, palestras e debates sobre autores e obras literárias. O projeto vai acontecer na Câmara de Vereadores do Cabo, às 19 horas, aberto ao público.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

O ARAUTO DE CRISTO


O ARAUTO DE CRISTO
Antonino Oliveira Júnior (Ao Pastor Erivaldo Alves)

O seu andar simples,
A sua vida despojada,
O seu abraço sincero,
O sorriso abrangente,
Expressam a humildade
De quem traz as boas novas,
A palavra que soa doce,
O acalanto que acolhe.
De sua vida descalça
Brotam gestos
Que nos falam de amor,
De um amor que enraíza
E dá seiva e força à sua árvore,
A árvore de seu rebanho.
Mas, dessa vida descalça
Brotam gestos outros
Que falam de amor,
De um amor que acolhe,
Que dá sombra e frutos
Aos que perecem sob o sol escaldante
Das injustiças, da sede e da fome
De água, de comida e de Deus.
De sua vida descalça
Brotam gestos
Que nos falam de amor
Do amor dos arautos
Das Boas-Novas,
De Jesus Cristo.

CHEGA DE SAUDADE


DOUGLAS MENEZES

Tenho pra mim que o termo saudade será banido dos dicionários mais modernos. Os tempos de hoje não permitem a vivificação do passado. Os jovens se envergonham de lembrar o ontem. Ou algo que se distanciou no tempo. É como se a vida só contasse a partir do agora. Talvez até o vocábulo” hoje” seja eliminado, dando lugar ao "amanhã“ como forma de indicar o presente. Pois vivemos o momento em que perenidade e eterno passaram a ser adjetivos puramente descartáveis. O invento mais recente já se tornou obsoleto dias depois. Sim, dias depois. A era de informática não permite longevidade..

Se o tempo não pára, como diz o poeta (graças a Deus ainda existe poeta), lamentamos o fato de que as novas gerações se orgulhem da ausência de lembranças que irriguem o presente. Viver de novo. Achar que valeu a pena momentos idos e vividos, mesmo aqueles não muito agradáveis. Mesmo os dolorosos que traumatizam e nos fazem sofrer de novo, mas que dão experiência e calo emocional para o presente e futuro.E aí, não são apenas as frustrações que se impõem. Pois temos, com certeza, marcas cujo sentido faz com que a existência não seja em vão. Lembra bem o poeta Caetano Veloso: avancemos, sem esquecer a tradição.

O saudosismo, claro, não deve guiar os passos da humanidade. É ruim, também, aferrar-se ao pretérito, demonstrando inércia e atraso. A roda da vida continua a girar. Mas é bom pensar no que já foi. Alivia um pouco a dureza do cotidiano.

Rodando, então, em sentido contrário . O girar do tempo: o primeiro beijo, o rubor na face da timidez em excesso. A deslumbrada visão da mulher nua pela primeira vez, o toque , e o estremecimento de um pecado maior. A bola de couro: um presente de ouro. A rua das brincadeiras sem fim: barra bandeira, quatro cantos, mocinho e bandido. As peladas intermináveis no quintal. O medo da surra e das doenças do mundo. Dissecar cada coisa dessa é recriar um mundo. Triste do homem que não tem nada pra contar. Sua história só vale se ele tiver história.

Então, meio triste, com pena até dos nascidos hoje, que vêem a vida como tão-somente um momento. Meio triste, sinto saudade. Saudade de ter saudade.


*Douglas Menezes é membro da Academia Cabense de Letras



terça-feira, 1 de junho de 2010

SEXTAS DE LETRAS

Este é o Projeto que a Academia Cabense de Letras anuncia para o segundo semestre. Sempre na primeira sexta-feira do mês, a partir de julho, acontecerá uma reunião da Academia,aberta ao público, com palestras, debates e recitais.
A reunião será sempre na Câmara de Vereadores do Cabo de Santo Agostinho, a partir das 19 horas e em cada noite do projeto, um dos acadêmicos será responsável pelo desenvolvimento do tema da noite, com a partiicipação dos demais membros nas discussões e no recital que deverá acontecer no momento.

UMBERTO ECO: O FIM DOS LIVROS?




UMBERTO ECO: O FIM DOS LIVROS?

Antônio Campos

A obra Não contem com o fim dos livros, escrita pelo italiano Umberto Eco, foi lançada no Brasil em maio e faz uma análise da existência do livro na atualidade. A ideia da morte da literatura clássica e o pretenso fim dos livros são duas das maiores obsessões de Umberto Eco. Esses temas transformaram-se em livro a partir de uma parceria com o ensaísta francês Jean-Claude Carrière e organização do jornalista Jean-Philippe de Tonnac.

Escritor, filósofo, semiólogo, linguista e bibliófilo, Eco é um estudioso das falhas humanas. Fascinado pela má-fé e pela estupidez, o italiano acredita que o erro sempre aponta para algo que não devemos esquecer para ressaltar a verdade. Para ele existem apenas duas diretrizes no cenário literário: ou o livro permanecerá sendo o suporte da leitura, ou existirá alguma coisa similar, que não fará o mesmo perder seu valor original.

As variações em torno do livro enquanto objeto não modificam sua função, nem sua construção gramatical. O livro é como a colher, o martelo, a roda ou a tesoura. Uma vez inventados, não podem ser aprimorados. Não é possível que uma colher seja melhor que outra. Segundo Eco, quando imaginamos ter ingressado na civilização das imagens, surgiu o computador, que nos reintroduziu na galáxia de Gutenberg, na era alfabética. Com o advento das novas tecnologias, todos se viram predestinados a ler de uma maneira nova.

Na obra recém-lançada Carrière e Eco dizem estar mais preocupados com a extinção do presente do que com a suposta ameaça ao livro, pois acreditam que nós vivemos espremidos entre uma obsessão pelo futuro e um passado que nos alcança a toda velocidade.

Ao proferir uma palestra na atual Biblioteca de Alexandria, Umberto Eco já defendia, desde 2002, que a expansão da Internet não ameaça a existência dos livros. O escritor italiano falou sobre os três possíveis tipos de memória: orgânica, mineral e vegetal. A orgânica é feita de carne e sangue e é administrada pelo nosso cérebro. A Memória mineral era, há milênios representada por tijolos de argila e por obeliscos, onde as pessoas entalhavam seus textos. Porém esse segundo tipo é também a memória eletrônica dos computadores de hoje, cuja base é o silício. O terceiro e último tipo de memória é a vegetal, representada pelos primeiros papiros e posteriormente pelos livros feitos de papel.

O filósofo acredita que a Biblioteca foi, no passado, e será, no futuro, dedicada à conservação de livros e que, portanto, é e será um templo da memória vegetal. As bibliotecas, ao longo dos séculos, têm sido o meio mais importante de conservar o nosso saber coletivo. “Uma biblioteca é a melhor imitação possível, por meios humanos, de uma mente divina, onde o universo inteiro é visto e compreendido ao mesmo tempo”, afirmou o grande pensador italiano.

No referido livro, Carrière fez um importante questionamento em relação ao valor que o presente deveria ter para o cotidiano das pessoas. “Onde enfiaram o presente? O maravilhoso momento que estamos vivendo e que diversos conspiradores tentam nos roubar?”. Com o excesso de informação da web em um mundo acelerado e entulhado, impõe-se a necessidade de uma espécie de edição do presente e o livro impresso é um grande parceiro nessa construção.

Eco e Carrière afirmam que é falsa a premissa de que o livro está com os dias contados. Não podemos usar um computador sem saber ler e escrever. A escrita é “um prolongamento da mão e, nesse sentido, é quase biológica”, afirmou o escritor italiano. No prefácio, o jornalista Jean-Philippe de Tonnac diz que “a cultura é muito precisamente o que resta quando tudo foi esquecido” e que o livro é a memória desse grande resto que nos constitui. O debate de Carrière e Eco com a mediação de Jean-Philippe de Tonnac é uma importante obra sobre o livro e o mundo contemporâneo.

Antônio Campos é Escritor e Advogado