segunda-feira, 12 de agosto de 2013

THÉO SILVA: INFÂNCIA E DESENCANTO

    
Douglas Menezes*

      O que há de comum entre Théo Silva, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Raul Pompeia e Manuel bandeira, só para citar esses? A visão, muitas vezes, amarga da infância, o desencanto expresso em forma de reminiscências.  A mostra maior de que a primeira idade nunca foi um momento cor de rosa que alguns insistem em pintar. A melancolia de um período que marca com a dor e os traumas que virão depois, que acompanharão o adulto para sempre.
     Mas essa visão traumática e realista atesta a grandeza desses escritores. É a vida observada como consequência da soma de experiências que começam cedo. A tristeza de ver seus passos tolhidos precocemente, os sonhos tornando-se realidade frustrante.
      Então, adulto já, a voz da desilusão com a existência: “Vamos saber sentir a dor que nos maltrata / A dor que mata lentamente o riso / de todo orgulho banal de viver/ Porque  tudo na vida é falível / E tudo passa nesse mundo de ilusão e sofrer”.
     Como Théo Silva se aproxima de Manuel bandeira no seu poema “Meu Natal de Ontem e Meu Natal de Hoje”, na linguagem simples, na expressão narrativa do texto, na tristeza nítida, sem ornamentos romantizados e trazendo a angústia sincera de mostrar já um mundo despoetizado da infância, onde os meninos pobres apenas sonhavam, sem ter: “Mas infelizmente eu fui criado na rede encardida da necessidade / Nunca tive mais que um tostão no bolso em dia de festa / Nunca ouvi falar num presente de natal / A única coisa que me contentava na vida / Era ter,  todo ano  na festa de São Sebastião, uma roupinha nova de marujo,  mal  feita”.
       Théo Silva viveu no Cabo, nasceu no Cabo, terra dos canaviais, do cheiro de cana, do doce que era amargo para os meninos pobres, a maioria.  E o adulto atestou isso. Num de seus poemas a lembrança que nos traz da criança num momento de peraltice. Na igreja abriu a caixinha de hóstia e comeu cinco, fato que o marcou profundamente já como adulto. A primeira idade estigmatizando  o homem feito.  A hóstia, no poema Superstição, não trouxe a bênção sagrada,  mas a certeza de que as dores ao longo da vida é reflexo dos primeiros momentos infantis: “ Quem sabe se não foi aquilo / E parece mesmo verdade / Porque a felicidade / Vive correndo de mim”.
         A obra de Théo Silva possui a marca trágica de um caminho que a Literatura dos grandes escritores procura expressar. Obra potente marcada por uma desilusão, um desencanto que parece ser algo individual, mas, na verdade, demonstra universalidade. Essa busca incessante de felicidade que o homem carrega no seu interior em qualquer lugar do planeta e que, não raras vezes, se transforma num processo de sofrimento e decadência até o final da vida: “O destino jogou-me na rua da vida / E a vida amparou-me nos braços / A ilusão se fez a minha amante trágica /  E eu morri para tudo quanto foi amor”.
      É importante também citar, dentro da poesia de Théo Silva, a musicalidade, a sonoridade Neosimbolista, o ritmo a serviço de uma visão solitária sobre a humanidade, a onomatopeia que lembra uma cantiga infantil, porém com o sopro da amargura adulta: “Blim blão...blim blão /  Quem é que não tem na vida o sino da solidão / O badalar dentro d’alma / Quando morre uma ilusão? / Blim blão, blim blão”.
       Por fim, insistamos no  aspecto que achamos norteador da obra do poeta Théo Silva: a infância como combustível para uma poesia cercada pelo pessimismo, solidão e um destino fatalista que parece ser o de final trágico da humanidade: “Quem não conhece a história /  Dessa velha que pediu, / Quando caiu na fogueira / ‘Bota água meu netinho’ / Mas a criança se esconde/ ( Se ia morrer na grelha!? / Pois assim é meu destino / Peço  água,  ele responde / Igual àquele menino: ‘ Azeite,  senhora velha’  “.
         Douglas Menezes, ano da graça de 2013, 6 de agosto
       
      
     

          

O Mesmo Pai...o mesmo Filho...o mesmo Amor;


O Movimento Cristãos sem Fronteiras promove, dia 23 de agosto de 2013, na Câmara de Vereadores do Cabo, um Encontro de Cristãos de vários segmentos. O Tema do Encontro é AMAMO-NOS PORQUE JESUS NOS AMA e terá como palestrantes: FREI TITO FIGUEIROA (católico), FREDERICO MENEZES (Espírita) e PASTOR ERIVALDO ALVES (Evangélico). O evento acontece a partir das 19 horas.

SENTIMENTOS POEMADOS


A Publikimagem prepara a coletânea de poemas produzidos por Antonino Oliveira Júnior em quatro décadas. O livro vai ter como título "Sentimentos Poemados" e será lançado ainda neste segundo semestre, reunindo cerca de 70 poemas do autor cabense.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

HIROSHIMA SEM AMOR


             

Douglas Menezes*
                                                                                          
  O cogumelo parece sair das entranhas da terra. Como um deus sentenciando a todos. A rosa que o poeta falou: sem cor, sem brilho, sem cheiro, fabricando um jardim disforme, florido de flamejantes flores do inferno. A floresta do mal enegrecida pela intolerância do império. A história sempre foi assim: o poder não tem sentimentos. Não precisa de justificativa, a existência é feita de paradoxos: há vida, porque há morte. Na ação, todos os inocentes são culpados.
    Hiroshima não foi diferente. Hiroshima não é diferente. Ficou o mundo sob o domínio do medo. Até hoje os nascidos agora refletem o pesadelo. O argumento é forte: destruir para renascer. Hiroshima não tem amor. Dói muito, no entanto. Nascemos todos depois, mas é como tivéssemos nascidos antes. Ficar fazendo parágrafos para relembrar uma data que poderia ter sumido no tempo. Afinal, foi mais um ato histórico comum.
     Porém os eventos de outrora deixam vestígios de destruição, mas são congelados no passado, mumificam-se com o passar dos séculos. Hiroshima é outra história: o passado vive no presente e no futuro. Ainda estão nascendo os frutos daquela árvore: cancerosos, acéfalos, anencéfalos, mal pensantes, raquíticos, cegos e surdos. Hiroshima Meu Amor, a paz que reencontra o medo, o trauma, a vivência que não apaga da memória o horror. Templo nenhum que console os que surgiram pranteando aquele momento, que insiste em viver. Há mais de seis décadas Hiroshima foi o recado dado ao mundo: há sempre um rei em todos os tempos, e essa história imutável carrega o barco da humanidade de uma esperança  que deve ser a última a morrer, sem sabermos quando.
       Que se tenha em mente a necessidade de reviver. O esquecimento pode incentivar a repetição, pois eles se multiplicam como a Hidra de Lerna, da mitologia para os dias de hoje. E o dilúvio que destruiu um tempo nas águas da ira de Deus, poderá retornar trazendo não a força da enxurrada líquida,  mas a luz incandescente e envenenada do cogumelo do mal. Hiroshima, Hiroshima ....
 7 de agosto de 2013
  *Douglas Menezes é da Academia Cabense de Letras.     



sábado, 3 de agosto de 2013

ACADEMIA CABENSE DE LETRAS RECEBE A UNIÃO BRASILEIRA DE ESCRITORES

               
           
Foto: ENCONTRO DA ACADEMIA CABENSE DE LETRAS E UNIÃO BRASILEIRA DE ESCRITORES, EM NAZARÉ.
ACL e UBE em Nazaré 


             A Academia Cabense de Letras recebeu neste sábado, a delegação da União Brasileira de Escriutores. O evento aconteceu na Pousada Caravela de Pinzón, em Gaibu, iniciando as atividades com um café da manhã, para logo depois se reunirem num dos auditórios da Pousada, quando aconteceu uma interessante rodada literária. às 11 horas foram todos para uma visita à parte histórica da Vila de Nazaré.

No retorno os dois grupos almoçaram no restaurante da Pousada.
O MUNICIPALISMO É A SAÍDA
                                                       DOUGLAS MENEZES
           
  A divulgação do Índice de desenvolvimento Humano dos Municípios Brasileiros deixa evidente, mais uma vez, a necessidade de se questionar o modelo federativo do Brasil. Aliás, não se sabe se realmente temos uma federação, tal a concentração de recursos nas mãos do governo federal. Na verdade, estamos mais próximos de um regime autocrata no  sentido político e econômico do que mesmo de um modelo típico americano, com estados com razoável independência em relação ao poder central. Lá, até o judiciário possui leis próprias dependendo da unidade federativa, por isso os estados são unidos em um poder maior, mas livres econômica e politicamente, tendo, portanto, vida própria.
    Aqui em “Pindorama”, no entanto, o esmagamento constante pelo qual passam estados e municípios, principalmente na esfera econômica, chega às raias da imoralidade tal o poder de barganha que o governo de Brasília possui em relação aos outros entes federativos, chegando a comprometer o conceito de democracia constitucional adotado no país: criam-se isenções fiscais para automóveis, eletrodomésticos, por exemplo, retirando-se substanciais recursos dos estados e municípios, estes últimos os que mais precisam  pois “vivem” perto da população,  escutam suas carências e, na maioria das vezes, não têm como resolver esses problemas devido à escassez financeira. Além do aspecto desumano, aparece a questão ética, pois o poder maior estabelece maioria no legislativo por conta da liberação ou não de recursos, dependendo desse apoio ou do humor do “chefe” de momento.

          Mudanças são necessárias. O caminho, porém, não é o de realizar marchas para Brasília de pires na mão , como fazem os prefeitos. Mas com um novo ordenamento financeiro do país, em um moderno pacto federativo, que tenha no seu bojo uma consolidada independência política e financeira dos federados, notadamente os municípios, onde o povo vive e necessita ver resolvidas suas necessidades básicas de educação, saúde, segurança, trabalho e Lazer.