segunda-feira, 31 de maio de 2010

SENTENÇAS



Alberto da Cunha Melo


Amor só é bom no começo
E não devia nunca
deixar de começar,
ser pura tentativa
e lingerie molhada
sob a mesa, no escuro
de tolerantes bares,
ser sempre essa mão
sem jeito, na hora,
de tocar a outra mão,
de chegar escondendo
humilhações do dia,
e nunca humilhar
quem dança sobre o muro,
a olhar com inveja
esse amor do presente,
sem saber que esse amor,
que é feito de começos,
não tem fim nem futuro.

Do livro: Clau (poemas)
www.trilhasliterarias.com

O ALEMÃO NEGRO

Roberto Menezes*


Jornal Nacional, 28 de abril. Uma notícia curta de Brasília: um homem de cabelos grisalhos, porte altivo, economista, que guardava em casa armas de todos os tipos. E a narração do locutor dizia que José Cândido do Amaral Filho confessou o assassinato a tiros de dois mendigos em Brasília, no dia 19 de janeiro, na mesma praça onde há 12 anos um índio pataxó foi queimado por cinco universitários. O criminoso disse que se sentia incomodado pela presença dos dois mendigos perto do seu prédio. Foi lá e atirou na cabeça dos dois. Notícia curta e grossa, sem nenhum comentário. O JN continua, mas com uma notícia otimista sobre a economia.
20 de novembro de 1995. Muito calor, céu nublado e desde nove horas da manhã, festa em Brasília. E era segunda-feira. Eu estava lá, com um só câmera e a esperteza da jornalista Edna Cristina, documentando a Marcha Zumbi dos Palmares Contra o Racismo, Pela Cidadania e a Vida. Uma homenagem aos 300 anos da morte de Zumbi, o líder da resistência à escravidão. Mais de 30 mil pessoas caminhando do Largo do Circular até a Esplanada do Planalto. Cabelos afros, maracatus, capoeiras, gente de candomblé, e toda a força e beleza da raça negra. Era uma coisa que só se via nos grandes comícios populares ou no carnaval da Bahia e do Recife. Carros de som, fantasias, alegria geral.

As condições precárias de filmagem impediam que o câmera sempre estivesse junto de mim. Mandei o câmera Renato Diehl fazer closes e gerais da Marcha e de meia em meia hora ele colaria comigo pra filmar uns planos especiais. No dia anterior, já tínhamos entrevistado lideranças negras, filmado num Salão de Beleza afro e feito algumas cenas no Teatro Nacional com um ator negro.

No meio da loucura, que é filmar uma passeata gigante com uma só câmera por falta de grana, topo com Edésio Alemão. Branco sarará, roupas puídas, sapatos abertos. Mendigo típico de Brasília era um dos mais animados da festa negra. Vez por outra recebia um empurrão dos seguranças negros para não se misturar com a massa organizada. Lá estava o Lula, que ainda não era presidente, de braços dados com Vicentinho e Edson Cardoso, o organizador do movimento. Num dos empurrões, Edésio Alemão veio bater junto de mim e me disse o nome. Cachaça já na cabeça, mas uma surpreendente lucidez nos pensamentos.

Perguntei de onde ele era, disse que de Sergipe. Viu o pai sair "pra ir colher borracha na Amazônia", o paraíso prometido pelo Presidente Getúlio Vargas. Borracha para os pneus dos aviões norte-americanos. Foi à última vez que Edésio Alemão viu o pai. Ele e a mãe ficavam esperando, e nada. A notícia que chegou é que ele pegou hepatite e febre amarela. Morreu no meio da mata. Seca em Sergipe, falta de terra pra plantar, a mãe caminhando com ele, os dois sozinhos, tanto sertão pela frente. Ela morreu quando ele tinha 11 anos. Edésio Alemão Ficou só no mundo.

Gritei pra ele interrompendo a dolorosa narrativa: "Cessa tudo que a antiga musa canta, pois um poder mais alto se alevanta!" Ele me olhou espantado e eu apontei para a Camila Pitanga que ia falar do alto do carro. O nosso câmera encostou e fizemos um belo enquadramento da Camila, linda como sempre, gritando para a multidão:" eu acredito que todos vocês aqui estão sentindo o que eu sinto: o orgulho de ser... negra! Eu tenho orgulho disso! Sou uma negra!”.
A multidão enlouqueceu. Ritmos do Norte se misturavam com o axé baiano e o maracatu pernambucano. Os gritos se tornaram mais forte: "Hoje é dia de negro/ queremos escolas, queremos emprego", "Palmares, Zumbi/ Assim eu resisti!”.

O nosso câmera saiu correndo para filmar um bando de crianças dançando.Puxei Edésio Alemão pra um canto . O nome dele era por causa dos olhos azuis e do cabelo sarará, alourado. Edésio foi adotado por um travesti, de quem mais tarde se tornaria amante. Depois não quis mais e saiu procurando o que fazer no Brasil. Não encontrou. Veio parar em Brasília, já envelhecido. Não sabia dizer a idade. Talvez uns 68 a 70 anos, calculei. Perguntei por que ele estava ali, insistindo em participar. A resposta anotei e guardo comigo. Como lembrança do filme que ia fazer com, ele, e nunca fiz.

-"Isso aqui é o Brasil mudando. O senhor não sabe o que eu, meu pai e minha mãe a gente passou na vida. A gente sabe o que é ser brasileiro. Por isso fico contente de ver gente negra e pobre como eu, um branco enganado pelo Brasil, protestando com a alegria de quem sabe que vai vencer.”.

Pensei no cangaceiro Corisco de Glauber Rocha: “Mais forte são os poderes do povo!" Pensei no pensamento do velho Graça, o grande Graciliano Ramos, que diz em "Vivente das Alagoas”: "talvez nos sobre ainda, por baixo do verniz da educação, aquela energia de Lampião. Apesar da fome e da verminose".

Minha proposta para Edésio Alemão: logo depois de montar o filme da Marcha Negra, fazer um filme com ele. Perguntei onde ele "se escondia". Respondeu: "não me escondo, me mostro. Sou uma ferida que não pode se esconder. Durmo na rua e Brasília tem que me ver, querendo ou não".
Anotei.

A festa negra só terminou quase dez da noite na Esplanada. Eu, Edna e Renato, a equipe brancaleone, estávamos exaustos. Uma lua cheia bonita iluminou Brasília. E de repente formou um halo na cabeça de uma figura que apareceu de repente. Ele mesmo, o Edésio Alemão. Cambaleando de bêbado. cantarolava engrolado a música de Gilberto Gil: :"branco se você soubesse /o valor que negro tem/ tu tomava banho de piche/ ficava negro também ".

Virei pro Renato: filma!Filma!Renato me disse: não tem mais fita e nem temos luz. E Edésio continuou a sua louvação ao Brasil em que ele finalmente acreditava : "somos crioulos doidos/somos bem legal/temos cabelo duro/somos bléque-pau" e agitava os dedos como se mandando uma mensagem de surra.

Passei cinco dias montando o filme, mais um sonorizando e mais um esperando para mostrar ao cliente, o Movimento Negro Unificado. As lideranças negras chegaram com caderninhos para anotar possíveis cortes. Ficaram emocionados e as páginas do caderno sem nenhuma anotação. Na saída da ilha de edição, um deles falou: tira a fala do Lula. Os outros concordaram. Perguntei por que e a resposta foi evasiva: pra ficar um pouquinho menor. Eu disse: "me engana que eu gosto". Eles riram.
E o futuro Presidente do Brasil, que tinha dado uma fala muito boa de braços dados com as lideranças negras, caiu fora do vídeo.

Uma semana depois da Marcha Negra e lá estou eu procurando Edésio Alemão. Rodoviária, Conjunto Nacional, Praça dos Três Poderes. Perguntei: ninguém lembrava ninguém sabia. Voltei à noite. Em que quadra ele teria ido dormir? Passei em frente ao busto de Zumbi. O herói de Palmares nada me disse. Mas o vigia do prédio em frente, sim. Chamou-me e perguntou se eu estava procurando o Alemão. Ele tinha me visto conversando com ele durante a Marcha e estava perto da equipe quando à noite mandei Renato filmar. O mulato Luciano, que trabalhava à noite, curtiu a festa popular o dia inteiro. E viu tudo na Marcha Negra.

Viu também a morte brutal de Edésio Alemão. Eu quis saber de detalhes. Ele disse que se escondeu de medo e viu toda a covardia. Dois brancos, "filhinhos de papai", segundo ele, chegaram num carrão. Um deles ficou olhando o movimento da rua vazia, às duas da madrugada. Edésio Alemão dormia aos pés do busto de Zumbi. O outro branquinho veio e deu um tiro na cabeça do mendigo, que estrebuchou. Saiu correndo e o que estava de vigia foi também pra perto de Edésio e deu outro tiro na cabeça, e outro nas costas. Correram para o carro, onde um motorista esperava. Arrancaram em alta velocidade.

O vigia disse que passou muito tempo tremendo, até criar coragem de ir para o orelhão e avisar pra polícia, sem se identificar. Meia hora depois, chegaram os policiais e recolheram o corpo. Eu disse que não tinha visto em jornal nenhum, embora no trabalho pesado de edição eu mal passava a vista nos jornais. Luciano, o vigia, disse que nem na rádio deu. A polícia se foi com o corpo. Ficou por isso mesmo: é coisa comum em Brasília, disse o vigia. "Foi num foi morre um pobre desses na rua. Não faz falta, né? É menos um na miséria".
Palavras literais de Antonio das Mortes no filme "Deus e o Diabo na Terra do Sol". Menos um pra viver nessa miséria.

Olhei a lua minguando sobre a cidade indiferente. Edésio Alemão escapou da morte por subnutrição e das outras doenças tropicais. Veio morrer assassinado aos pés de Zumbi. Não viu o Brasil mudar. Nem nunca ia ver, mesmo se não morresse naquela madrugada.

14 anos depois, nada mais existe do branco que queria ser negro. Mas outros Edésios, brancos, negros, índios, mulatos, continuam morrendo. Assassinados em plena rua. Sem voltar dos sonhos que separavam um dia do outro, sempre igual. E Brasília apodrece. Há muito tempo. Lentamente, sob o sol dos trópicos, essa miss patrimônio cultural da humanidade está morrendo de câncer generalizado. O câncer do preconceito, da corrupção, da mentira e dos conchavos políticos. Tudo isso regado com bons uísques, finos vinhos, e o sangue dos mais pobres.

Este artigo dedico à memória da jornalista Edna Cristina Santos, que idealizou e realizou junto comigo o vídeo sobre a Marcha Negra. Minha grande amiga achou de morrer em Porto Alegre no dia do meu aniversário, há quatro anos atrás. De uma gripe que virou pneumonia.

*Roberto Menezes é Jornalista

NEOLOGISMO



Natanael de Lima Júnior

NEOLOGISMO


O poeta inventa palavras

e traduz sentimentos mais profundos

do cotidiano das horas.


Desenxerga o mais íntimo brilho da nudez

e mira à vista

desnudando em tez.


O poeta inventa sons

e produz ritmo

da disritmia do tempo.


O poeta desintegra verbos,

sujeitos e predicados.


O poeta inventa a vida.


*Natanael de Lima Júnior é membro da Academia Cabense de Letras

sexta-feira, 28 de maio de 2010

CARLOS PENA FILHO




Chopp
Carlos Pena Filho

Na avenida Guararapes,
o Recife vai marchando.
O bairro de Santo Antonio,
tanto se foi transformando
que, agora, às cinco da tarde,
mais se assemelha a um festim,
nas mesas do Bar Savoy,
o refrão tem sido assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.
Ah, mas se a gente pudesse
fazer o que tem vontade:
espiar o banho de uma,
a outra amar pela metade
e daquela que é mais linda
quebrar a rija vaidade.
Mas como a gente não pode
fazer o que tem vontade,
o jeito é mudar a vida
num diabólico festim.
Por isso no Bar Savoy,
o refrão é sempre assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados


SONETO DO DESMANTELO AZUL

Carlos Pena Filho

Então pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas.
Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.
E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.
E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.


A SOLIDÃO E SUA PORTA

(a Francisco Brennand)

Quando mais nada resistir que valha
a pena de viver e a dor de amar
e quando nada mais interessar,
(nem o torpor do sono que se espalha).
Quando, pelo desuso da navalha
a barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha
a arquitetar na sombra a despedida
do mundo que te foi contraditório,
lembra-te que afinal te resta a vida
com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída:
entrar no acaso e amar o transitório.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

FORÇA ESTRANHA



É hoje,na Livraria Saraiva, o lançamento do Livro "FORÇA ESTRANHA", de Nelson Motta. O evento acontece às 19 horas e a produção cultural é de Mônica Silveira. Vale a pena conferir.

MÃE


Gilson Peres*

Olhando para você
não sei se és
verde, branca ou azul,
finalmente, qual é a sua cor;

Olhando para você descobri
que apesar dos perigos
e mistérios,
viver vale a pena.

Olhando para você descobri
que devemos ser fortes,
nunca trazer dentro de nós
rancor de nada;
o que é ruim
devemos sempre
colocar para fora.

Olhando para você descobri
que devemos ser fortes;
só assim,
nada nos vencerá.

Olhando para você descobri
é uma onde
e que nesta onda
não devemos nos afogar.

*Gilson Peres é árbitro de futebol e Office-boy do Jornal Tribuna Popular.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Um Rito de Mães, Rosas e Sangue



Foto: Tuca Siqueira

Livre licença poética a partir das três tragédias rurais escritas pelo dramaturgo e poeta espanhol Federico García Lorca – “Bodas de Sangue”, “Yerma” e “A Casa de Bernarda Alba”. O resultado é um espetáculo ritualístico, a partir da figura da Mãe, personagem aglutinador das forças que regem a natureza. Dividida em três quadros, a encenação versa sobre uma mãe que desabafa após o infortúnio da morte do filho; outra mãe que, com mãos de ferro, condena suas filhas a um luto eterno, até que alguma delas se case; e, por fim, a mulher que busca incessante a maternidade. Dramaturgia e encenação: Claudio Lira. Elenco: Ana Maria Ramos, Auricéia Fraga, Andrêzza Alves, Daniela Travassos, Luciana Canti, Sandra Rino, Lêda Oliveira, Lano de Lins e Zé Barbosa. A montagem conquistou o Prêmio Myriam Muniz, da Funarte, e o Fomento às Artes Cênicas, da Prefeitura do Recife.

Em cartaz às quintas e sextas-feiras, até 02 de julho, às 20h, no Teatro Hermilo Borba Filho (tel. 3355 3321), no Recife (mesma avenida da Prefeitura, no Bairro do Recife). Ingresso: R$ 10 e R$ 5 (estudantes, professores com carteira e maiores de 60 anos). Informações: cflira@gmail.com

HINO DA LOJA MAÇÔNICA ALVORADA DA PAZ Nº 10


Letra: Antonino Oliveira Júnior

Somos todos felizes operários
Que trabalham na Oficina da vida,
Dedicando-se ao labuto dessa lida
Recebendo o amor como salários.

Nas agruras que eu sofro na procela,
Encontro a paz que o teu nome revela
E com o peito inflamado firme eu sigo
Com a força da acácia onde me abrigo

No horizonte és o alvorecer
De um dia diferente na cidade
Sob os raios de um novo amanhecer
Iluminada pelo sol da liberdade,
pelo sol da liberdade...


O esquadro e o compasso são o norte,
Igualdade junta-se à fraternidade,
Na busca incessante da liberdade,
E de uma sociedade justa e forte.

O Grande Arquiteto irradia
Uma fonte perene de energia
Transformando-nos em bálsamos de amor
Solidários ao irmão que sente dor

No horizonte és o alvorecer
De um dia diferente na cidade
Sob os raios de um novo amanhecer
Iluminada pelo sol da liberdade,
Pelo sol da liberdade...


Nossa história é a história do Brasil
De Pinzón a esse povo varonil,
Conspirando a liberdade em Pernambuco
Embalando os sonhos nobres de Nabuco.

No horizonte és o alvorecer
De um dia diferente na cidade
Sob os raios de um novo amanhecer
Iluminada pelo sol da liberdade,
Pelo sol da liberdade...

segunda-feira, 24 de maio de 2010

MEMÓRIA DE UM JOVEM COMUNISTA


Roberto Menezes


Eu era bancário na cidade do Cabo de Santo Agostinho, a 30 quilômetros do Recife, onde nasci, cresci e estudei o ginasial. Tinha 19 anos e já dois anos de militância no Partido Comunista Brasileiro – o PCB .

Naquela noite de 30 de março de 1964, vieram dois companheiros do Recife, que sempre participavam das reuniões da célula cabense. Um deles, o mais radical, tinha o codinome de Américo, e anos depois deixou o Partidão e entrou na luta armada. O outro atendia pelo codinome de Nelson. Nunca soube que caminhos ele seguiu.
Decidimos não fazer reunião nem no Sindicato Rural, nem na casa de ninguém. A situação do país era grave e não se tinha uma visão exata da correlação de forças. Precisávamos discutir qual seria a nossa ação nos próximos dias. E a reunião teria que ser num lugar afastado e mais seguro.

Escolhemos a velha estrada que ligava a cidade à Destilaria Central Presidente Vargas.Na época, uma estrada de barro batido, cercada de mato, paralela à BR-101. Saímos andando, noite de lua clareando o caminho, e decidimos fazer a reunião debaixo de uma velha jaqueira. Uma árvore que tinha fama de mal assombrada e que ficava exatamente no meio da estrada,entre Cabo e Destilaria. Ali seria o lugar seguro porque todo mundo evitava passar pela jaqueira à noite.

Saímos da cidade e fomos andando até lá. Eu, Américo, Nelson, e mais três comunistas :o jovem Murilo Lages; o velho vendedor de jornal e antigo militante Manoel Amaro, que já tinha sido preso e torturado várias vezes pela polícia; e Luís de França, camponês de uns 50 anos, infiltrado pelo PCB nas Ligas Camponesas de Francisco Julião.

Na jaqueira, os companheiros do Recife explicaram a situação, que os militares estavam se rebelando contra o Presidente Jango e que o então Comandante do IV Exército, general Justino Alves Bastos, estava vindo de reuniões em Brasília e no Rio.

Acreditava-se que os mineiros e paulistas iam tentar derrubar o presidente João Goulart, mas o general Justino talvez defendesse a legalidade. O camponês Luís de França informou que o Sindicato estava cheio de caixas de bala, mas nenhum fuzil nem revólver. Os companheiros do Recife ficaram de ver isso e marcamos a próxima reunião para as duas da tarde do dia seguinte. Agora precisavam voltar para o Recife, pegando o último ônibus do Cabo para a capital.

De repente, uma voz rouca e possante, interrompeu a reunião, cantando : "Noite alta/céu risonho/ minha amada em doces sonhos" . Uma sombra saiu detrás da jaqueira e Américo, o mais radical, gritou :
-É uma alma!

Correu comunista pra tudo que é lado.

Era apenas um velho, talvez um mendigo ou até mesmo um camponês, que estava curtindo a bebedeira sentado no pé da jaqueira, do lado contrário ao lugar onde estávamos.

Acabamos de correr uns poucos metros e vimos o velho com seus trapos e um saco nas costas. Ficamos ofegantes e silenciosos, olhando pra ele. O velho nos acenou, dando um "cháu", como se diria hoje. E continuou andando na direção da Destilaria,enquanto nós voltávamos para a cidade. Ainda silenciosos.
A voz do mendigo ainda cortava o silêncio da estrada, com sua cantiga relembrando, quem sabe, uma mulher , antiga paixão que o deixou naquele estado decadente. Ou por causa de sua miséria não teve chance de participar dos sonhos da amada,como dizia a música.
Olhei pra trás e ainda vi a velha figura com seus trapos, cambaleando, num zigue-zague que não afetava seu vozeirão. Nesse instante, uma nuvem cobriu a lua e o velho bêbado sumiu na escuridão que tomou conta da estrada.

No outro dia, a escuridão mostrou que veio pra ficar. Não houve a nossa reunião. Ninguém veio do Recife, ninguém no Cabo sabia o que fazer. Tanques na rua, o bravo Gregório Bezerra arrastado na rua por uma corda como se fosse um bicho, Arraes prisioneiro no próprio Palácio do Campo das Princesas, Brizola pregando a resistência pela rádio da legalidade, prisões. O Presidente Jango deposto. Começava o golpe militar de 31 de março de 1964.

A noite continuou alta, como na canção do bêbado, mas o céu não era risonho. Era medonho. E a estrada por onde caminhávamos, mais escura ainda.

"Os acontecimentos daqueles dias / ainda estão claros na memória: / fechado no escuro do quarto, / querendo fugir do mundo que me chegava pelo rádio, / eu, pouco mais que um menino, / chorava, como se fosse morte, / a viagem-fuga do Presidente Jango. / Os anos passados, a maturidade / e a visão diária da injustiça e do ódio, / da opressão, da mentira e do medo / me levam agora, adulto, / em nome da verdade e da História, / a reafirmar o menino: / as lágrimas derramadas em 64 / continuam justas." ( Poema de Fernando Brant )

Um abraço para todos que me leram. E a minha saudade, com muita ternura, dos companheiros daquela reunião da jaqueira. Onde comunistas correram com medo de alma e a nuvem, cobrindo a lua, decretou uma noite quase interminável no Brasil.


POEMA A CÉU ABERTO



POEMA A CÉU ABERTO
Natanael Lima Jr


As noites passam ávidas.
Por vezes,
levianas, desregradas.

Algumas revelam
sombrias angústias
algemadas por paixões dissolventes.
Noutras se revelam
pálidas, inocentes, tímidas.

Por vezes as desejo
inúteis, insanas,
dominadoras, cruéis...

... e quando a noite cessa,
o poema se revela
a céu aberto.

*Natanael Lima Jr. é membro da Academia Cabense de Letras

SEJAMOS POSTOS DE VACINAÇÃO



A VACINA
Antonino Oliveira Júnior

O país vive um momento histórico, com a aprovação, por unanimidade, do Projeto FICHA LIMPA, que proíbe a candidatura de políticos condenados por roubo, corrupção ou outro crime contra a sociedade. Não resta dúvida de que estamos vendo algo marcante, ainda que tenhamos que nos deparar com o “jeitinho” que a Câmara dos Deputados tentou dar, agindo de forma que o processo andasse lentamente, ao ponto de não deixar poder valer para a eleição deste ano. Aprovado no Senado, segue para o Presidente Lula sancionar (ou não). E nós sabemos no que vai dar tudo isso, quando estiver em prática. E eles, os que estão em Brasília, no Congresso Nacional, também o sabem. E todos sabem que isso vai respingar nas Assembléias Legislativas, nos Governos de Estados, nas Prefeituras e Câmaras de Vereadores, ainda que saibamos que não concordemos com aquele pensamento de que “todos os políticos são iguais”. Existem, claro, os que são decentes, os que têm compromisso com o povo, eleitores seus ou não. Precisamos, ainda, destacar a atuação de entidades como a OAB, a CNBB, etc., que se dedicaram no recolhimento de assinaturas que exercem pressão sobre o Congresso Nacional, mandando para lá quase dois milhões de assinaturas de brasileiros que exigem a moralização da política no país, o fim da impunidade para os que têm mandato, a retirada dos reconhecidamente desonestos e que só enojam a todos os que não concordam com essa prática deplorável de roubar o bem público.

O “Ficha Limpa” pode ser um remédio para curar o mal que esses políticos fazem ao país, porém, entendemos e todos sabem, que vacinar é prevenir, é evitar que a doença chegue. As Igrejas, de todos os credos, a OAB, o Rotary, a Maçonaria, os Grêmios estudantis, os Sindicatos, etc., poderão ser transformados em Postos de Vacinação contra maus políticos, orientando e esclarecendo a população quanto ao perigo de se eleger candidatos viciados na compra de votos. Independente do “Ficha Limpa”, façamos a nossa parte, mostrando que aquele que compra votos, seja de forma direta ou através dos conhecidos “cabos eleitorais”, estarão, inevitavelmente, usando o mandato para retirar de volta o que gastaram na campanha. É a lei do mercado.

No momento em que o país homenageia Joaquim Nabuco, aproveitemos os meses que antecedem as eleições, para discutir com a população um de seus mais importantes pensamentos: “Acabar a escravidão não nos basta; é preciso destruir a obra da escravidão”. É chegada a hora de lutarmos pela libertação do povo, arrancando-o das mãos poderosas e nefastas do que chegam ao Poder Político para saquear o patrimônio que a população construiu e mantém com o suor de seu trabalho e o pagamento de seus impostos.

É tempo de vacinar a todos, a partir dos 16 anos.

*Antonino Oliveira Júnior é membro da Igreja Batista da Cohab e da Academia Cabense de Letras.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

ACADEMIA CABENSE DE LETRAS




A ACADEMIA CABENSE DE LETRAS estará reunida neste sábado, 22 de maio, às 9 horas, na Loja Maçônica Alvorada da Paz, à Rua Joaquim Nabuco, Cabo de Santo Agostinho. O Presidente Nelino Azevedo espera o comparecimento de todos os acadêmicos e anuncia uma extensa pauta para a reunião.

LANÇAMENTO DE "OS ESCRAVOS"




O Programa GIRO LITERÁRIO, coordenado pelo Núcleo de Cultura e Cidadania da Secretaria de Educação de Jaboatão dos Guararapes, realizado nas quintas-feiras, nas escolas da rede municipal de ensino, contou, nesta quinta-feira (20/05), com a participação do escritor Antonino Oliveira Júnior, que falou aos alunos do 3º ano da Escola Luiz Gonzaga Maranhão sobre Joaquim Nabuco, além de fazer um relançamento de sua mais recente publicação "OS ESCRAVOS - Um poema para ser encenado".

O GIRO LITERÁRIO já visitou mais de cinquenta escolas de Jaboatão dos Guararapes, sempre estimulando o gosto pela leitura, além de levar os autores pernambucanos para um importante trabalho de interação com os estudantes. Além de Antonino, já passaram pelas salas de aulas os cordelistas Cobra Cordelista, Gerson Santos, Luiz Esperantivo, e o poeta Jairo LIma, dentre outros.

Antonino Oliveira Júnior é membro da Academia Cabense de Letras.



O PODER DA LEITURA



SENTI A POESIA DA VIDA. CONHECI O MUNDO SEM VIAJAR.
Douglas Menezes*

Tinha só doze anos, mas deslumbrei-me ao folhear as páginas de Menino de Engenho. O livro do paraibano José Lins fêz-me sentir o cheiro doce dos canaviais de minha cidade. Mais ainda, redescobri uma paisagem que conhecia, nas casas grandes, nos engenhos e banguês e até na pequena cidade parecida com o Cabo. Era o poder mágico da leitura, o poder de voar quilômetros, sem sair do lugar. O livro invadindo, para não mais sair, todo o meu ser. O menino tímido e raquítico, com marcas de feridas na perna, identificou-se com o garoto Carlos, personagem principal do romance.

Não parei de viajar nunca mais. Na Biblioteca acanhada da rua da Matriz, com a paciente bibliotecária professora Gercina, um mundo foi aberto àquela criança. Não parei mais de conhecer e descobrir a poesia da vida através dos livros. E que aventuras. Que lugares longíquos. Visitei a Catedral de Notredame, sem nunca ter ido à FRança. A Geografia da Terra, com povos e climas diferentes, enchia-me de encantamento, como gota de orvalho, como moça pensando à janela, esperando o amor a chegar. Na leitura, o menino moldava a sensibilidade. Hoje criança não lê. Não conhece livro.

Depois do obrigatório banho das quatro, o recolhimento, o devaneio. A alegria de encontrar Robinson Crusué e sua ilha, de participar da Viagens de Gulliver, da caçada à baleia Moby Dick. Lia oa autores da província, meu mundo palpável, dali de perto. Devorava, também, os clássicos, fazia-me universal. Ler, ler sempre. Saber de uma existência existente, longe de meu pequeno universo. Conhecer um mundo, sem conhecê-lo, na solidão mais solidária que possa existir. Planetas que não se avistam. Costumes de povos que não conheceria jamais. A vontade de viajar noutro corpo. A mulher descoberta, o desejo de não mais fazer sozinho. Tudo isso os livros me trouxeram.

Menino agora não lê mais. O computador substitui a fantasia de passar, lentamente, as páginas das edições, muitas vezes amareladas sob a ação do tempo.

A internet põe o mundo a nossos pés. Mas não nos faz sonhar. Os meninos não sonham mais, apenas passam de crianças a adultos, muitas vezes embrutecidos por uma visão demasiada concreta. Pais reclamam, professores protestam. A leitura deixou de ser algo prazeroso, é, tão somente, uma tarefa escolar a mais.

Nas estantes, o mofo, as traças denunciam. Agora, nos livros fechados, os personagens, prisioneiros da inércia e do mundo mecanizado, deixam, eterna e finalmente, de dar vida à vida.

(Para Mário Deodato, um saudoso do bom passado.)

*Douglas Mnezes é membro da Academia Cabense de Letras

quinta-feira, 20 de maio de 2010

O POETA EM JABOATÃO


Alberto da Cunha Melo

OUTROS canaviais, entre dois rios
cercaram o poeta de treze anos
após sobrevoar os céus vazios
de um verão de Vivaldis e sopranos.

Era Jaboatão, em verdes cios,
a ansiar numa voz a dos profanos
e a dos beatos, com seus calafrios,
a carne intumescida sob os panos.

Toda essa voz chegou, voz de menino,
mas a falar por todas as cidades,
onde a Fé briga feio com o Destino;

veste palavras: céus, saudades...
leves para o suor de sol a pino,
e boas, para todas as idades.

OS ESCRAVOS



Antonino Oliveira Júnior, autor do texto OS ESCRAVOS


Numa iniciativa do Núcleo de Cultura e Cidadania da Secretaria de Educação de Jaboatão dos Guararapes, Antonino Oliveira Júnior estará hoje (20/05) às 14 horas, na Escola Luiz Gonzaga Maranhão, em Jaboatão-Centro, lançando seu mais recente trabalho "OS ESCRAVOS -Um poema para ser encenado", dentro do Gíro Literário, que acontece na rede municipal de ensino daquele município.
Na oportunidade, Antonino Oliveira Júnior falará sobre Joaquim Nabuco, tendo como base o texto do abolicionista: "Não adianta a abolição se não destruirmos a obra da escravidão".

quarta-feira, 19 de maio de 2010

VOTO DE APLAUSO À CASA DA MEMÓRIA



Casa Grande do Engenho Boa Vista (hoje em ruínas)*

No dia do Museu, 18 de maio, a Câmara de Vereadores aprovou, por iniciativa do Vereador Ricardinho, um Voto de Aplausos para o Centro Cultural Casa da Memória, curador e organizador do acervo da Casa da Memória do Cabo de Santo Agostinho, que, apesar da importância do acervo, ainda não foi viabilizada. Segundo Antonino Oliveira Júnior, idealizador do projeto, "A Casa da Memória nada tem a ver com os museus tradicionais, mas, é um organismo vivo, que resgata a história mais antiga e começa a escrever a história contemporânea do município. Infelizmente, o ranço político vem impedindo que ela chegue às mãos do povo cabense".

BATE-PAPO POÉTICO



Frederico Menezes e Tereza Soares*

Pelas ruas da cidade
Tereza Soares
(Dedicada ao meu velho-novo eterno amigo Fred Menezes)

Pelas ruas da cidade...eu encontro com uma pequena luz...luzinha infinita e cor...bonita e feliz de se ver...pelas ruas da cidade...eu encontro com um iluminador...um oculto amigo que me segreda coisas que eu já sei de cor...

Pelas ruas da cidade...eu vejo aquele semeador...há quem olhe e não veja...há quem veja e não sinta...há quem nem saiba sua dor...mas aquele ser para mim quase finda minha sagrada angústia...despertando o novo e o velho propósito...de ver o mundo melhor...



Frederico Menezes responde
:
(Pra você, amiga Tereza. Beijos molhados de luz, do seu irmão Fred)


Fui abraçado pelo vasto sorriso do futuro. Um lindo brilho da transcendência.

Ele me falou, em sua linguagem de estrelas, sobre o mundo que sonhamos.

Tinha olhos este sonho e cintilava como se daqui não fosse...


Tinha voz esta cintilação, que nascia do seu coração em festa

Tinha leveza esperança esta festa, que parece não se encaixar neste mundo...

Esta leveza estava vestida de mulher e vi que ela era tecida de névoa, sonhando pelas singelas ruas da minha cidade.

* Frederico Menezes e Tereza Soares são membros da Academia Cabense de Letras.

terça-feira, 18 de maio de 2010

QUANDO LIBERDADE?


Vera Rocha

Vendido qual cereal, para quem?
Interroga alguém.
Este é meu, não abro mão
E começa a via crucis.

Trabalho duro,
Direitos nenhum...
Chicotes nas costas a malhar
Cresce a revolta e a angústia.

E um dia a rebeldia chega
A fuga é a solução.
Noite escura tal qual pele e alma
Tolhido pelo capataz, liberdade sumia

Ali estendido, corpo retalhado pelo chicote
Vi com os olhos d`alma
Que agora era liberta
Da matéria grosseira em que vivia.

Voltaria pela misericórdia Divina
A palmilhar esta esfera.
Agora, pele branca e Senhor,
Mas outra vez escravo. Quem diria!

Não mais o chicote, não mais as correntes
Não mais a submissão, liberdade aparente,
Escravo hoje de si mesmo, de suas imperfeições
Escravo! Por que não?

Acaso não é o homem escravo:
Do poder, do vício, do dinheiro
Do egoísmo, da vaidade?
Quando liberdade?

*Vera Rocha é professora da Rede Municipal de Ensino e membro da Academia Cabense de Letras.

ANIVERSÁRIO DO SANTA IZABEL




As comemorações dos 160 anos do Teatro de Santa Izabel começam nesta terça-feira, com um espetáculo da atriz e cantora Bibi Ferreira, somente para convidados. O espetáculo será repetido amanhã, quarta-feira, aberto ao público, ao preço de R$ 20,00.

Serão dois espetáculos de muita emoção e várias comemorações, pois, além do aniversário do Teatro, a atriz e cantora, Bibi Ferreira, está fazendo setenta anos de carreira, num show em que será acompanhada pela Orquestra Sinfônica de Recife, que está compltando 80 anos de existência.

Com todos esses ingredientes vale a pena conferir de perto. Vale a pena lembrar que não é todo dia que se vê Bibi Ferreira, ao vivo, acompanhada pela brilhante Orquestra Sinfônica de Recife.

I FESTIVAL DE MÚSICA REGIONAL


O poeta popular, Cobra Cordelista, coordena o Festival.

Começa o I FESTIVAL DE MÚSICA REGIONAL DE JABOATÃO DOS GUARARAPES, realização da Prefeitura daquele município, através da Secretaria de Cultura e Eventos. Logo após criterioso processo de seleção, o Festival chega ao estágio mais esperado pelos compositores, intérpretes e públido, que são as apresentações abertas.

Serão 36 músicas inéditas, que concorrerão de hoje, 18, até o dia 21, sempre a partir das 19 horas, no Vlube Ferroviário, em Jaboatão Centro. O poeta popular, COBRA CORDELISTA, coordena o evento, que promete, dentre outras premiações, a gravação de um CD do I Festival de Músicas Regionais de Jaboatão dos Guararapes.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A MADRUGADA DO HERÓI



Roberto Menezes *

As mãos estavam inchadas. A boca inchada e ferida. Hematomas no rosto. O vendedor de jornal, Manoel Amaro, quase 60 anos, abriu a camisa e mostrou as costas em carne-viva. Foi isso o que aconteceu nos três dias em que andou sumido no Cabo, ainda considerada cidade do interior pelo tamanho e pela dificuldade de comunicação com o Recife.

Olhei as minhas mãos, já menos inchada das pancadas da palmatória da escola. Calça curta olhei os joelhos, ainda, avermelhados por ficar ajoelhado em cima de caroços de milho na frente de todos os alunos. Cecília, colega de turma, 12 anos como eu, foi a causa do castigo. Enquanto a professora explicava a lição no quadro, eu fingia amarrar os laços do sapato, e com um espelho quadrado procurava ver como Cecília era debaixo da saia. Ela me olhava pelo canto do olho como se fosse com desprezo. Mas procurava a melhor posição para que o espelho refletisse. Provocação feminina. Cumplicidade. Vi as coxas roliças e brancas e até a calcinha cor de rosa. Estava absorto no momento de contemplação da maravilha oculta.
De repente, um fisgão forte na orelha me levantou. A professora viu meu movimento estranho, veio caladinha pelo outro lado da sala e deu o flagrante. Fui arrastado até à frente da classe inteira. Três pancadas de palmatória em cada mão. Dona Matilde, a professora, já mantinha um monte de caroço de milho para castigar qualquer um. Fiquei ajoelhado nos caroços, dor no joelho e nas mãos. Um choro silencioso tomou conta de mim. Senti as lágrimas rolando no rosto. Vergonha e humilhação. Alguns risos que logo silenciaram. O medo tomou conta da sala. Levantei a cabeça para olhar Cecília, para ver o quanto de desprezo ela sentia por mim. Encontrei dois belos olhos castanhos, angustiados, e lágrimas de um choro emudecido como o meu. Baixei a cabeça de novo. Dona Matilde disse que eu estava suspenso três dias. E que meus pais iam ser comunicados. Castigo na escola. Surra de minha mãe em casa. E mais: eu ficaria sozinho no fundo do quintal até o anoitecer. Nenhum dos irmãos poderia descer pra brincar comigo. Era o que eu queria. No fundo do quintal, encostei-me na bananeira que tinha furado com um canivete. Minhas lembranças de Cecília se aquietavam ali, naquele buraco na bananeira. Pensava nos olhos dela, nas coxas, na calcinha vista de relance. O balanço lento do meu corpo e o buraco apertado da bananeira me trazia Cecília, sem castigo nem punição.

Quatro dias antes do episódio da escola, do castigo e da surra. Agosto de 1956, dois anos depois do suicídio de Getúlio Vargas. O Cabo não tinha ainda a energia de Paulo Afonso. Era um motor a diesel, que começava a trabalhar às seis horas da tarde e parava a meia-noite.

Passava das duas da manhã e eu, insone já desta época, lia em pé na cama, sob a luz de um candeeiro de querosene. O livro era "O Guarani", de José de Alencar. Devorava, entusiasmado, a trama que envolvia o índio Pery e a branca Ceci. Com uma narrativa, que deixava a gente em suspense entre um capítulo e outro. O quarto onde eu dormia era um só para mais sete irmãos (minha única irmã ainda não tinha nascido).
De repente, batidas na porta de casa. Ouço meu pai e minha mãe falando, meu pai abre a porta, eu saio também pra ver. A voz do lado de fora era conhecida: "Tune (como chamavam meu pai, Antonino) é Manoel Amaro." Meu pai abriu a porta, minha mãe na porta do quarto, apreensiva como sempre, e eu já perto de meu pai. Manoel Amaro apresentou um mulato, alto e de chapéu, coberto com um capote. Manoel Amaro foi direto: "É um companheiro que a gente não conhece. Ele matou Wandenkolk Wanderley de noite. Conseguiu chegar aqui. Precisa de ajuda pra fugir pra Alagoas. Daqui a pouco, a polícia inteira vai estar atrás dele". Wandenkolk Wanderley era um dos mais temidos policiais de Pernambuco. Famoso pela crueldade e pela perseguição incessante e violência extremada contra os comunistas, como delegado e Secretário de Segurança Pública. O homem de chapéu e capote diz que "tinha acabado com a ruindade dele" cumprindo ordens do Partido Comunista.

Agora, já tinha um grupo pequeno em frente à minha casa. Tinham vindo com Manoel Amaro e o desconhecido. Foi de tiro ou de faca? Alguém perguntou. O herói daquela madrugada vendeu seu peixe: "Tiro na testa não erro". Aplausos baixinhos para não acordar a vizinhança.

Eu disse que também ia com o grupo. Minha mãe disse não. Manoel Amaro pediu porque eu ia ser o tesoureiro do dinheiro arrecadado. Meu pai deu a palavra final: Roberto vai. Saímos na rua escura, com um vento frio gostoso e um céu estrelado que acho que nem se vê mais na atual cidade do Cabo de Santo Agostinho.

Manoel Amaro me passou uma sacola de lona, onde ele trazia os jornais. Explicou-me que eu abriria a boca da sacola e o pessoal colocaria dinheiro. Já tinha algumas notas de cruzeiro dentro. Meu pai colocou mais. Manoel Amaro me passou a sacola, com o mesmo gesto solene como me passou o primeiro livro comunista que li: "O Mundo da Paz", que Jorge Amado escreveu sobre a sua viagem à Rússia, dedicado "ao pai Stálin".
Segurei a sacola, com o sentimento de respeito igual quando escutava Manoel Amaro ler pra mim as notícias do jornal comunista Frente Operária.

O ex-operário, semi-analfabeto, me levava aos poucos a conhecer um mundo dividido em classes sociais que nunca poderiam se unir. Os ricos estavam sempre roubando os pobres. E os pobres sempre se revoltando até à vitória final do comunismo. Onde não haveria nem ricos nem pobres. Todo mundo seria igual.

Saímos batendo nas casas das pessoas conhecidas. Gente humilde, classe média baixa, todos sobrevivendo com dinheiro curto. Mas todos colaboraram. Fomos à loja do comerciante Heitor Paiva, que tinha projetos de se candidatar a prefeito. O pistoleiro ficou do lado de fora, oculto no breu da escuridão. Ele nos recebeu no andar superior da loja, onde morava com a família. Dois possantes candeeiros que pareciam lanternas e que lamentei não ter em minha casa para ler na madrugada.
Naquela noite do "homem que matou Wandenkolk", cumpri à risca a minha função de "tesoureiro arrecadador" do Partido Comunista. Abri logo a sacola diante do comerciante Heitor. Ele foi lá dentro, voltou com um pacote de dinheiro e jogou dentro. Lembrei-me do nome "burguês", o que explorava os empregados. Achei que era justo ele ter dado mais. Devia ser o dinheiro que roubava dos empregados, pensava eu já raciocinando como Manoel Amaro. O comerciante reclamou da minha presença. Ele não queria que ninguém soubesse. Não queria envolvimento. Meu pai o tranqüilizou e Manoel Amaro disse que eu já era um companheiro. Menino tímido (ou sonso?), senti que fiquei vermelho com o elogio. A cor certa para o momento. Ninguém notou.
Fizemos à coleta em mais algumas casas e o dinheiro foi entregue ao herói desconhecido, o homem de capote e chapéu. Ele disse que iria até à estrada onde um amigo o esperava num carro para seguir até Arapiraca. Todo mundo apertou a mão dele, parabenizou e desejou boa sorte. O herói da madrugada desceu o Beco da Macaíba para ganhar a pista rodoviária. Eu também me sentia herói. E via também como heróis meu pai e o grupo humilde que nos acompanhava. Madrugada inesquecível!

Manoel Amaro anunciou, enquanto a gente voltava pra casa, que no dia seguinte ia ver a cara do morto. E se possível cuspir nela. Meu pai e outros amigos o advertiram: ele era muito visado, fora preso várias vezes, Wandenkolk o conhecia pessoalmente. E ele comentou que queria ter o prazer de ver o temido delegado estirado, já pronto pra comer capim pela raiz.

Manoel Amaro passou três dias sumido como eu passei três dias suspenso. Mais uma coincidência me unia aos comunistas. Já sabíamos através do rádio que Wandenkolk estava bem vivo. O golpe de "matei Wandenkolk" funcionou bem no isolado Cabo. O herói da madrugada fugiu com a grana dos cabenses. Wandenkolk Wanderley morreu de verdade no dia 11 de julho de 2002. E de morte natural: insuficiência respiratória. Tinha 90 anos de idade.
Naquele começo de tarde, no terraço da minha casa, Manoel Amaro contou que resolvera passar na frente da Secretaria de Segurança Pública, na Rua da Aurora, só pra olhar as caras dos tiras. Topou com dois truculentos agentes que o conheciam de várias greves, passeatas e sessões de tortura. Mais atrás deles, vinha o próprio Wandenkolk Wanderley, vivo e bem disposto. Manoel Amaro foi logo abordado e detido, sem nenhuma acusação. Queriam só saber o que ele andava fazendo. O "morto" deixou recado para os policiais "cuidarem bem do comunista", e entrou num carro grande e preto. Não era o carro funerário como Manoel Amaro esperava.

E tome palmatória nas mãos até virarem bolo de carne. E tome palmatória na boca pra inchar e quebrar os dentes. E tome chicotada nas costas, abrindo feridas em carne-viva. E um balde de água com sal pra que doesse mais. Desta vez não houve o costumeiro banho de fezes e urina.
Todo mundo queria saber como Manoel Amaro se comportou na tortura. O velho jornaleiro, que se orgulhava de não mentir "porque comunista só mente pra não entregar os companheiros" contou que encarou os homens que batiam. Gritava de dor, mas não dizia nada. Cada pancada mais o ódio no olhar aumentava. Olho no olho deles. Depois ficou dormindo no chão da cela até que o soltaram, sem dar qualquer explicação.
Disse pra gente que quando as mãos ficassem boas, ele voltaria a vender jornal. Que ia ler Stalin e Lênin pra ganhar mais força. O pequeno grupo de vizinhos aplaudiu.

Eu, que retornava à escola depois dos três dias de suspensão, voltei correndo do degrau do portão de casa. Entrei no quarto de minha mãe e tirei da gaveta um espelho pequeno dela. Botei no bolso da camisa e fui pra escola de cabeça erguida. Ia ver as coxas de Cecília, e se fosse pego ia apanhar de palmatória e ajoelhar no milho. Mas desta vez de cabeça erguida, olhando, olho no olho, cada um dos colegas. Olhando nos olhos da professora. Olhando nos olhos de Cecília. Eu era um "companheiro", um comunista, ficaria de cabeça erguida na tortura.

Stalin e Lênin iam consolar o meu professor de comunismo. E eu, se fosse espancado na escola e surrado em casa tinha também um consolo certo: o buraco apertado da bananeira, que transformei na tão desejada, quanto inacessível, buceta de Cecília.

*Roberto Menezes é Jornalista, natural do Cabo de Santo Agostinho.

TON SEVERO - poema de Tereza Soares



Tereza Soares

Dedicada ao poeta e amigo Ton Severo


TON SEVERO

Em tom severo e doce

ouço a voz da inquietança,

em sua música suave

se enriquecem meus sentidos,

retirando-me sombrias lembranças

de algozes meus antigos

perpetuando-me o afeto que antes recolhemos

em campos semeados de dor,

mas sempre regados com amor.



*Tereza Doares é membro da Academia Cabense de Letras

DE QUE COR SERÁ SENTIR?



Hélio de Assis

Afinal
De que cor será sentir?
Sera que o amor
tem uma cor?
Será vermelho o ódio?
Sera branca
A paz?
Sendo negra a morte
De que cor
Será a vida?
Sendo negra a fome
Qual a cor da fartura?
Sendo negra a realidade
Qual a cor da ilusão?
Sendo negra a cor que tinge
Presídios, hospícios
Qual a cor da opressão?

sexta-feira, 14 de maio de 2010

PALESTRA SOBRE JOAQUIM NABUCO




Mais uma vez a Academia Cabense de Letras chega até as escolas do Cabo de Santo Agostinho. Atendendo convite da direção da Escola José Rodrigues, endereçado à ACL, o acadêmico Antonino Oliveira Júnior estará hoje, dia 14 de maio, às 15 horas, proferindo palestra sobre Joaquim Nabuco, encerrando as comemorações, naquele educandário, do centenário de morte do abolicionista pernambucano.
Antonino Oliveira Júnior publicou, recentemente, um texto para teatro intitulado OS ESCRAVOS, que retrata a luta dos negros pela liberdade.

JUAREIZ CORREYA EM LANÇAMENTOS



O poeta Juareiz Correya faz lançamento de seu AMERICANTO AMAR AMÉRICA, nesta sexta-feira, 14 de maio, às 19 horas, na FAMASUL, em Palmares, seu território de origem. No momento em que comemora 40 anos de sua produção poética, ele fala do lançamento na cidade de Palmares: "é antes de tudo um compromisso sentimental e espiritual, pois devo a Palmares não só o meu nascimento; devo também o nascimento da minha poesia, cidade onde publiquei o meu primeiro poema, em janeiro de 1970, e, em 1975, o poema-título - Americanto Amar América - escrito em São Paulo no ano de 1972."

Juareiz Correya é um dos frutos da Geração 65, quer marcou e delineou um novo curso para a lieteratura em Pernambuco.

RELANÇAMENTO NO RECIFE

A convite do professor Antonio Gouveia, AMERICANTO AMAR AMÉRICA E OUTROS POEMAS DO SÉCULO 20 será relançado no Colégio e Faculdade Santa Maria, do Recife, quarta-feira, dia 26/maio, com palestra especial do autor. No segundo semestre, ocorrem lançamentos em Olinda, Cabo de Santo Agostinho, Vitória de Santo Antão, Ipojuca, Caruaru e Garanhuns. Serão realizados também lançamentos em Maceió, João Pessoa, Natal, Fortaleza, Salvador,São Paulo e Santo André, a cidade mais importante do Grande ABC paulista, onde o poeta viveu e foi colunista de arte do "Diário do Grande ABC", de 1971 a 1972.

IVAN MARINHO PARTICIPA DE COLETÂNEA NACIONAL



O poeta Ivan Marinho, membro da Academia Cabense de Letras, foi selecionado e vai participar de uma coletânea nacional de poetas, em publicação da Editora Scortecci. Ivan Marinho é professor da rede pública de ensino, Presidente da Sociedade dos Bacamarteiros do Cabo e coordena as atividades do Ponto de Cultura "Tiro da Paz", além de ser um acadêmico da ACL. O poem selecionado é FRAGMENTO DO ACASO

FRAGMENTO DO ACASO
Ivan Marinho

Sem gravidade flutuam
> Estilhaços de um espelho
> E cada parte reflete
> Um fragmento do acaso.
>
> Giram dando a impressão
> De serem um universo
> E são, de certo, mil vezes,
> A expressão original
>
> De uma parte perdida
> A se olhar eternamente
> Ali, imagem pra sempre,
> Como se fosse real.
>
> E menos se vê no mundo
>
> E no mundo só se vê.
> Entérica alegria
> Buscando a rima vazia
> De não ser, só parecer.
>
>
>
>

quinta-feira, 13 de maio de 2010

HELENA

Ton Severo

Dedicada a Tereza Helena Soares em 7/5/2010



De Tróia não és oriunda

Mas tens em si ímpeto-mulher

Como de letal guerreira

Que ao fio da espada despedaça

E com palavras sonoras acalanta



No verdume de teus olhos

Ressonam luzes tão belas



Tens no verso mais poder

Que mil soldados espartanos



Cantas meu ser com odes etéreas

Pois tu que de forma és agraciada

Possuis conteúdo ainda mais consistente



De Tróia não és a Helena do mito

Porém és mais que mito:

És sonho, poema e espada

Para ferir somente o mal

E ser a inspiração minha!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

UMA AÇÃO HUMANA



Antonino Oliveira Júnior*

É muito bom contar com o auxílio da tecnologia, em todos os campos da vida moderna. Não dá para se imaginar mais um mundo sem celular, IPode, Data show, Computador, Blog, Twitter, etc., ferramentas que auxiliam uma propagação mais rápida das produções do homem.

Uma, porém, podemos dizer que é uma ação essencialmente humana, que necessita de um olhar, de uma lembrança, de um bom papo para que passe a existir: a ação de ser escritor, de fazer poesias, de escrever crônicas, romances, de construir artigos, de transformar sentimentos em letras e palavras, ou, dar sentimentos às letras e palavras.

Entendo como equívoco, por exemplo, quando se planeja e se realiza um evento literário alicerçado exageradamente na tecnologia, dando a impressão, muitas vezes, que se deseja substituir o escritor pelos recursos da multimídia. E aí, vêem-se as palavras do escritor, do poeta, mas, não se sente a sua alma. Falta o toque final que o olhar cabisbaixo ou as mãos trêmulas do tímido conseguem dar à sua obra, ou, ainda, a vida que o autor consegue dar na leitura recitada de sua obra.

Há algumas ferramentas da tecnologia, por exemplo, que não me conseguiram agradar. Não quero parecer um conservador, porém, ainda que não consiga mais me ver escrevendo e produzindo fora do computador, confesso que não consegui ler mais do que dez páginas de um livro virtual. Baixar um livro na internet para ler sentado à frente da tela do computador é algo que não consegui assimilar. É enfadonho, é chato, é cansativo. Falta o toque da ação humana de ler um livro de papel, que você leva no ônibus, no trem, leva para a cama, para o terraço, para a rede e, até, como companhia no solitário momento do vaso sanitário. É o diferencial.

A tecnologia deve sim, estar a serviço do escritor, como ferramenta auxiliar, mas, obedecendo a limites que o escritor precisa impor. Ela precisa saber até onde pode ir, até onde o operário das palavras precisa dela. O norte da relação tecnologia versus escritor tem que ser dado pela ação humana.

Entendo, inclusive, que se faz um mal à juventude, quando se estimula aos jovens internautas “baixarem” livros virtuais. Nada substitui, para o autor, a sensação de ver a sua produção literária saindo da gráfica impressa, qual filho que sai da maternidade. Para os leitores, nada se iguala à magia de “carregar” vidas, cidades, sentimentos diversos em páginas construídas em inesquecíveis viagens. Escrever e ler são ações essencialmente humanas.

*Antonino Oliveira Júnior é membro da Academia Cabense de Letras.

DESARMEI AS DORES


DESARMEI AS DORES

Natanael Lima Jr*



Desarmei as dores

e as plantei no jardim da infância.

Ouvi seu chamado

contra a vida

e desviei seu curso

no silêncio do poema.


Desarmei as dores

como se brotasse do tempo,

anéis, pontes, girassóis

e vaga-lumes.


Desarmei as dores,

colorindo as nuvens

sob rios e alagados.


Desarmei as dores

e as amei como quem perdoa,

como algo eterno,

etéreo e inexistente.


Sei da noite,

da brisa, das estrelas

e da descoberta mais completa

do refluxo do mar.


Maio/2010
*Natanael Jr é membro da Academia Cabense de Letras

"DE TODO MEU" (Geraldo Maia)



Foto: Teresa Maia

No próximo sábado, dia 15 de maio, o cantor e compositor Geraldo Maia estreia "De Todo Meu", novo show acústico na Casa de Seu Jorge: Bistrô da Música (Av. Santos Dumont, 1066, Rosarinho. Tel. 3034 1066), acompanhado do violonista Vinícius Sarmento (da banda Seu Chico), com apresentação a partir das 22h. No repertório, canções latinas e barrocas, além de sambas intimistas. Reapresentação no sábado 22 de maio. O couvert custa R$ 10 (dez reais).

Segundo Geraldo Maia: "o repertório será um misto de 'clássicos', com algumas canções de discos meus. Por exemplo: O amor é velho, menina (Tom Zé), Manhã de Carnaval (Antônio Maria - Luiz Bonfá), ambas do CD "Astrolábio" (2001 - disco esgotado). Também entra Serenata Suburbana (Capiba) e Sôdade de Pernambuco (Manezinho Araújo), ambas do CD Samba de São João (2007) e que estiveram presentes no repertório que fizemos no programa Sr.Brasil, de Rolando Boldrim, gravado no SESC-Pompéia em setembro do ano passado. Vou cantar alguns tangos, boleros, guarânias e sambas. Na verdade o show é claramente dividido em duas partes: uma primeira mais "latina", "barroca", "lacrimejante", onde entram os tangos, boleros etc, e a segunda parte, mais "intimista" (nem tanto...), centrada, essencialmente, em sambas, cateretês, merengues, sambas-de-roda etc. É um show PRA SE OUVIR, aproveitando o (raro) mote da casa, de não servir bebidas durante a apresentação. Então o show foi pensado em função dessa característica ímpar". Com projeto aprovado no Funcultura, Geraldo Maia vai levar, em breve, o show "Lundum", título homônimo do seu mais recente disco, para circulação em algumas cidades do estado.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A BOFETADA DO ANO


O nosso Blog tem sido, desde o seu lançamebnto, um espaço estritamente cultural, mas, recebi um e-mail com uma mensagem que não revelava seu autor, o que lamento, pois gostaria de lhe fazer justiça e divulgar a autoria do texto, que publico abaixo:


"Brasileiro sempre teve mania de reclamar de seus governantes. Reclamava dos Administradores das Sesmarias e das Capitanias Hereditárias; dos Governadores Gerais e dos Imperadores.

Reclamava dos Presidentes da Velha República e da República Velha, dos militares, do Sarney, do Collor, do Itamar, do FHC, do Lula...
Não reclamaram do Tancredo porque morreu antes da posse!
Este ano vamos eleger novo Presidente, novo Governador, novos Deputados, novos Senadores...ou os mesmos!
Mas continuamos a reclamar. Sabe por quê?
Porque o problema não está nos Deputados, Senadores, Presidente, Governador, Prefeito, Vereadores...
O problema está naqueles que reclamam: você e eu; nós! O problema está no brasileiro.

Afinal, o que se pode esperar de um povo que sempre dá um jeitinho? um povo que valoriza o esperto e não o sábio? um povo que aplaude o vencedor do big brother, mas não sabe o nome de um escritor brasileiro? um povo que admira o pobre que fica rico da noite para o dia? que ri quando consegue puxar TV a Cabo do vizinho? Que sonega tudo o que pode e, quando não pode, sonega até o que não pode?
O que esperar de um povo que não sabe o que é pontualidade? que joga lixo na rua e reclama da sujeira?
O que esperar de um povo que não valoriza a leitura?
O que esperar de um povo que finge dormir quando o idoso sobe no ônibus? prioriza o carro ao pedestre?

O problema do Brasil não são os políticos; são os brasileiros!
Os políticos não se elegeram; fomos nós que votamos neles.
Político não faz concurso, ganha votos: o seu e o meu!

PENSE NISSO!"

domingo, 9 de maio de 2010

FELIZ DIA DAS MÃES


A MAIS FORTE
Antonino Oliveira Júnior


És forte,
quando te doas,
todos os dias,
por aquilo que acreditas;

És forte,
quando brigas, discutes
e recuas (quando é preciso);

És forte,
quando me abraças,
quando me ofereces o colo,
quando és toda sacrifício
(por mim e por todos);

És forte,
quando não deixas jamais
que a minha ingratidão
supere o teu amor;

És grandiosa,
és única,
és a mais forte,
porque Deus te deu um ventre
onde germina a vida
e o amor se torna corpo.

*Antonino Oliveira Júnior é membro da Academia Cabense de Letras.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

SALVADOR SANTO




Estávamos devendo essa para você que acompanham nosso blog o primeiro CD solo de Salvador Santo.

Falar qualquer coisa de Salvador para mim é muito fácil pelo artista e pessoa que é esse cara, difícil mesmo é falar dessa bolacha que vem com grandes participações de grandes artistas de Pernambuco. O trabalho de Salvador vem bem produzido e flerta bem com as batidas dos anos 80 e uma pegada firme no que há de mais avançado nos dias de hoje, como as batidas de “Na boa” e a letra de “Tudo todos os dias” ( O que toca no seu carro enquanto explode um carro-bomba ). Chamamos a atenção dos senhores a musica “Passado Distante” Essa bolacha foi bem aceita pelo pessoal da revista Rollingtones onde levou (Três estrelinhas e 1/2) como também Pelo publico que vive perguntado onde vai ser o próximo show.

Parte dos direitos artísticos deste disco está sendo doada por Salvador Santo para a CRECHE-ESCOLA BARTOLOMEU AROUCHA.
Rua: professor Olímpio Magalhães, 80 Jardim Atlântico – Olinda PE.

"SE UM RIO SEPARA, UMA PONTE UNE"


DOUGLAS MENEZES*

Há pessoas que passam a vida inteira construindo ou tentando construir pontes separadas por rios. Refazer caminhos, recriá-los é missão de muitos. São seres que não vêem sentido numa existência sem servir a uma boa causa. Quanto sangue generoso foi e é derramado por conta de uma opção em prol dos outros? Pessoas que professam a máxima: ”Quem não vive para servir, não serve para viver”. Como seria fácil, por exemplo, para um Chico Mendes viver uma vida de teórico, curtindo as benesses de ser protetor do meio-ambiente a distância. O que dizer, então, de Dom Hélder, autoridade eclesiástica de fama internacional mas que fez opção pelos pobres, abdicando do direito de cuidar das almas, como faz a igreja conservadora.

De fato, existem homens produzindo ações políticas sem exercerem cargos ou mandatos. Tendo, muitas vezes, colocado sua vida pessoal em segundo plano para se dedicarem a uma ação coletiva.

São os anjos que velam os mais fracos, Lutam contra todo tipo de injustiça e fazem contraponto aos maus políticos, sempre, na sua maioria, preocupados com o imenso corporativismo, envolvidos em escândalos, conchavos, vivendo, tão-somente, visando a seus próprios interesses. São eleitos para cuidar de si, viciando o povo, prendendo-o às amarras do assistencialismo podre. Afora isso, o enriquecimento ilícito, as fraudes de todos os matizes.

Há, entretanto, aqueles que fazem da vida uma imensa quantidade de versos poéticos, totalmente despidos de ambições pessoais. Jamais eleitos para um mandato, mas dignificando a existência humana. Citar apenas alguns nomes é ser injusto com outros. Como disse Bertold Bretch, os que lutam a vida inteira, sem descanso, esses são imprescindíveis. São os verdadeiros políticos. Fazem o que os políticos deveriam fazer.

Estas são reflexões inspiradas no editorial do Tribuna sobre os cem anos de nascimento de Dom Hélder Câmara. Uma simples homenagem aos homens que adotam ou adotaram o verso maior da música popular como filosofia: ”Se um muro separa, uma ponte une”. Gente que acredita no verbo unir como um remédio, como uma espécie de solução para um mundo melhor.

*Douglas Menezes é membro da Academia Cabense de Letras

quarta-feira, 5 de maio de 2010

DE REPENTE O TEMPO PAROU

DE REPENTE O TEMPO PAROU

Natanael lima jr


De repente o tempo parou
nas minhas mãos. O tempo
com seu passo desacelerou
o ritmo da vida
e paralizou a dor.


De repente o tempo parou
no meio da dor
com um grito estéril, estático,
sem forma
e sem mar.


De repente o tempo parou
e eu fui lançado a navegar
nas ondas do tempo,
entre verdades e mentiras,
entre inocentes e culpados.


De repente o tempo parou
nas minhas mãos. O tempo
que tudo principia
e tudo executa.


De repente o tempo modificou
as minhas mãos.

O LEGADO DE CAMUS



Estamos no ano do cinquentenário de morte do escritor franco-argelino Albert Camus (1913–1960). Talento reconhecido em todo o mundo, Camus é um dos mais representativos escritores do século 20. Nascido em uma família pobre na cidade de Mondovi, na Argélia, então colônia da França na África, teve uma vida sacrificada e dura. Perdeu o pai (francês) quando tinha menos de um ano de idade, vitimado em uma batalha da 1ª Guerra Mundial. Foi criado pela mãe (espanhola), que não sabia ler nem escrever, e uma avó extremamente austera, em meio a uma condição que contemplava apenas as necessidades essenciais de sobrevivência, num subúrbio da capital Argel. Graças à ajuda de um mestre (Jean Grenier) graduo-se em Licenciatura em Filosofia, mas quando estava prestes a começar a docência contraiu tuberculose.

A doença o acompanhou o resto de sua breve vida e a frequente ameaça de morte o marcou profundamente, refletindo de maneira significativa na sua visão de mundo e na literatura que proferiu. Camus faleceu aos 47 anos em um acidente de carro, no sul da França. Entre seus livros mais conhecidos estão: O Estrangeiro, escrito em 1942 e traduzido para mais de 40 línguas; A Peste, de 1947, e A Queda, de 1956. Particularmente, destaco ainda na obra do vencedor do prêmio Nobel da Literatura de 1957 O Homem Revoltado.

Em O Estrangeiro, Camus nos deu uma história tensa, dura, intensa. Como era próprio no autor, é marcante o sentimento existencialista do personagem principal, sua solidão, dúvidas e o quase surrealismo de seus conflitos. Ainda que o livro seja uma obra de ficção, o personagem é inerente ao escritor, com a clara proximidade entre seus pensamentos e valores em relação à sociedade em que vive. A Peste é uma alegoria da guerra e da ocupação nazista e, mais amplamente, da condição humana, através da descrição de uma cidade ameaçada pela epidemia. Em O Homem Revoltado a reflexão existencialista acaba por descobrir que só revoltando-se pode o homem dar sentido a um mundo dominado pela “completa ausência de sentido”. “O absurdo é a razão lúcida que constata os seus limites... Não espere o juízo final. Ele realiza-se todos os dias”, são frases que marcam bem o pensamento do escritor.

Albert Camus questionou, em sua obra, assuntos com os quais seguimos nos debatendo. O escritor não queria ser apontado como um filósofo, mas filosofou sim - e muito -, imprimindo admirável comprometimento com a busca de um caminho ético na existência humana. Camus procurou sempre o real sentido da vida e o grande valor do agir nos indivíduos. Expôs as inquietações fundamentais da condição humana e os delineamentos de um itinerário humanista conciliado à experiência cotidiana da dignidade.

Até mudar-se para a Paris, onde começou a fazer parte da resistência contra os nazistas e fundou o jornal clandestino “Le Combat”, Camus viveu na Argélia. Apesar das dificuldades econômicas impostas pelo colonialismo, sua terra natal lhe extasiava com suas belezas naturais, seu romantismo, e a poesia que brotava de sua gente mestiça. Apaixonado pelo céu, pelo mar e pela exuberância feminina, Camus se deleitava ao ver as mulheres a amassar os absintos. Em seus romances a Argélia resiste insistentemente como uma bela e sedutora paisagem de fundo.

Enquanto jovem, o escritor foi o goleiro da seleção universitária. Conta-se que um bom goleiro. Um dos fatos que mais o impressionou quando da sua visita ao Brasil, em 1949, foi o amor do brasileiro pelo futebol. Tanto que uma das primeiras atitudes que Albert Camus teve ao pisar no Brasil foi pedir para que o levassem para assistir a um jogo. E seu amor pelo futebol o acompanhou por toda a vida. “O que finalmente eu mais sei sobre a moral e as obrigações do homem, devo ao futebol”, costumava dizer Camus.

Recentemente, por conta do cinquentenário de morte do escritor, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, acabou por lançar uma grande polêmica no país ao propor a transferência dos restos mortais de Albert Camus para o Panthéon, monumento em Paris onde já se encontram os mausoléus de célebres personagens da literatura francesa, entre eles Voltaire, Rousseau, Victor Hugo e Emile Zola. Para os críticos, a proposta de Sarkozy é uma tentativa de apoiar-se politicamente do legado de Camus, que é uma figura mítica da esquerda francesa. Parece que a tentativa do presidente francês não sensibilizou os filhos do escritor, os gêmeos Jean e Catherine, que acaba de publicar o livro Camus, Mon Père (Camus, meu pai), ainda sem tradução para o português.

Meio século após sua morte, quando vivemos em um mundo marcado por irracionalidades, intolerâncias e fanatismos, lembrar e recomendar a leitura desse extraordinário escritor é fundamental para que possamos sempre buscar um melhor entendimento sobre a aventura existencial do ser humano. Sua obra nos deu uma admirável lição de autenticidade. Nunca esqueci uma frase de Albert Camus que li num monumento em Tipasa, quando estive na Argélia pela primeira vez: “Aqui, eu conheci a dor de viver e a glória de amar”.

Antonio Campos
Escritor e Advogado


© Jornal do Brasil, JB Ideias, 03 de maio de 2010

terça-feira, 4 de maio de 2010

A SAGA DE UMA CAMINHADA HERÓICA


A SAGA DE UMA CAMINHADA HERÓICA
Antonino Oliveira Júnior

Nasci no agreste,
Pequenino, frágil,
Mas corajoso.
Ainda um pequeno filete,
Recebi pisadas e ameaças diversas,
Mas segui adiante,
Tomando corpo,
Criando brilho próprio,
Encantando as cidades por onde passei.
Segui meu curso
Em busca de novos ares,
Na ânsia de chegar ao litoral,
De me entregar ao mar,
Como todo aquele que deixa o árido
Em busca do frescor tropical.
A caminhada da felicidade
Tornou-se dolorosa
E chorei,
Sofrendo as dores da tortura,
Da falta de ar, da vida se esvaindo,
Fugindo de mim.
O chegar à cidade tornou-se um sofrer,
Uma certeza que o mal estava a caminho:
Espumas tóxicas, dejetos humanos,
Lixo contaminado matando meus frutos...
Que dor horrível!
Os peixes, coitados, morrendo afogados...
Que dor horrível!
Pessoas morando pertinho de mim,
Suspensas em varas, distantes da vida...
Mas eu sigo a viagem,
Mulheres guerreiras, pedaço homem, pedaço mulher,
Lavando as roupas, cantando cantigas alegres
Em rostos felizes que escondem a tristeza
Da alma que teima viver diante da morte...
Aqui, acolá,
Crianças brincando em gritos e risos,
Inocência, pureza,
Sem ver a sujeira que eu carregava;
Levo doenças, sofrimento e até a morte.
A canoa vai,
A canoa vem...
O homem olha triste para mim
E não entende...
Sua vida está ali...
A minha agonia
É a fome dos seis,
Dos sessenta, dos seiscentos.
O peixe afogado,
O pescador sem sorriso,
As crianças com fome...
Que dor horrível!
A espuma amarela
A cor da doença,
Prenúncio de morte...
E eu sigo a viagem,
Quase não respiro
E tento (em vão) limpar-me com lágrimas...
O mangue!!!!
Tenho que ali chegar vivo,
Ajudar a nascer novas vidas
De peixes, crustáceos, de plantas...
Estou chegando,
Muito fraco, ofegante,
Mas chegando,
Levando espumas amarelas,
Esgotos humanos,
Restos de fábricas...
Reencontro mulheres guerreiras,
Pretas da pele e do mangue;
Mulher e mangue se abraçam...
Estou feliz...
Ainda que muito ferido e abatido,
Levei a vida
Ao mangue que resiste,
À mulher que teima em viver;
E vou um pouco mais além...
Que alegria!!!
Vejo o mar,
Sinto a brisa tropical,
Chego fraco, abatido,
Ajoelho-me diante do mar
Tão forte, tão imponente, tão envolvente...
Estou chegando mais perto
E volto a lembrança lá atrás...
As casas suspensas em varas,
O triste olhar do pescador,
A espuma amarela,
Os dejetos,
Os peixes afogados,
As mulheres guerreiras,
O mangue tinhoso...
Não há tempo para nada...
Estou sendo tragado...
Estou sendo engolido...
Cheguei ao final,
Estou maior,
Virei infinito...
Agora sou Mar...

segunda-feira, 3 de maio de 2010

FESTA DA LAVADEIRA CONTINUA RESISTINDO



O primeiro de maio manteve a tradição da Festa da Lavadeira, na Praia do Paiva, Cabo de Santo Agostinho. A festa da Lavadeira é, sem dúvida,a maior concentração de manifestações culturais reunidas em um só evento, em um só dia. É um verdadeiro banho de cultura popular.
Com as restrições de espaço físico e outras, pelos diretores do condomínio das mansões, naquela praia, não se sabe se em 2011 ela ainda acontecerá. Por enquanto, ela ainda resiste e este ano mostrou a sua força popular.

ACADEMIA DE LETRAS NA ZONA RURAL



Os escritores Nelino Azevedo e Douglas Menezes, representaram a Academia Cabense de Letras, quinta-feira passada, 29 de abril, na Escola da Usina Liberdade. Os dois acadêmicos ali estiveram, falando sobre a importância do Livro na formação do cidadão, a convite da direção daquela escola. Ambos voltaram muito satisfeitos com a receptividade dos alunos e professores, que participaram com diversas perguntas dirigidas aos acadêmicos.

No dia 14 de maio, a convite da direção da Escola José Rodrigues de Carvalho, será a vez do acadêmico Antonino Oliveira Júnior participar do encerramento de uma atividade promovida pelo educandário, com uma palestra sobre Joaquim Nabuco.

Já no recente Festival da Juventude, atendendo convite da Secretaria de Cultura do Cabo de Santo Agostinho, a Academia Cabense de Letras foi responsável pela escola das melhores poesias feitas por alunos das escolas municipais, tendo como tema Joaquim Nabuco e a Abolição.

SHOW GOSPEL EM RECIFE



É SABADO DIA 08 DE MAIO NO CLUBE PORTUGUES

VENHA LOUVAR E ADORAR AO SENHOR COM:
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VINEYARD BRASIL
PG
KHORUS


INGRESSOS A VENDA NAS LOJAS EVANGELICAS E NA GRAMOPHONE(SHOPPING RECIFE)

INFORMAÇÕES: www.mixgospel.com/cantarecife2010
blessingproducoes.blogspot.com
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