sábado, 22 de dezembro de 2012

POEMA DE NATAL

Vinicius de Moraes


Para isso fomos feitos:
para lembrar e ser lembrados
para chorar e fazer chorar
para enterrar os nossos mortos-
por isso temos braços longos para os adeuses
mãos para colher o que foi dado
dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
uma tarde sempre a esquecer
uma estrela a se apagar na treva
um caminho entre dois túmulos-
Por isso precisamos velar
falar baixo, pisar leve, ver
a noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
uma canção sobre um berço
um verso, talvez de amor
uma prece por quem se vai-
mas que essa hora não esqueça
e por ela os nossos corações
se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
para a esperança no milagre
para a participação da poesia
para ver a face da morte -
De repente, nunca mais esperaremos...
hoje a noite é jovem; da morte, apenas
nascemos imensamente.

O BAILE DO MENINO DEUS

Começa neste domingo, dia 23 e vai até o dia 25, terça-feira, a curta temporada do imperdível espetáculo "O BAILE DO MENINO DEUS", no Marco Zero, Recife antigo.
O texto é de Ronaldo Correia de Brito e Assis Lima, coim a trilha sonora assinada por Antúlio Madureira. O espetáculo tem música ao vivo, com a participação de ua Orquestra composta por 14 músicos e solos musicais a cargo de Silvério Pessoa e Virgínia Cavalcanti. Um coral adulto, com 13 membros, junta-se ao Coro Infantil composto por 12 afinadas vozes, completando este belo espetáculo de Natal.
O espetáculo é grátis e começa às 20 horas.

VIAGEM POR VOCÊ

Antonino Oliveira Júnior*



Olhar seu corpo
Não é somente ver seu corpo;
Olhar seu corpo
É ver detalhes, beleza,
Marcas do sol e do desejo,
É viajar por ele
Tocá-lo sem por as mãos,
Acariciar com a mente,
Sentir o cheiro
Passear com os lábios
E sonhar um prazer
Infinitamente intenso.


*Antonino Oliveira Júnior é da Academia cabense de Letras

sábado, 15 de dezembro de 2012

HOMENAGEM A GONZAGÃO REVELA ANDREZA VIEIRA

A Secretaria Municipal de Cultura do Cabo de Santo Agostinho reuniu Sanfoneiros e forrozeiros da cidade, em noite de homenagem ao Centenário de Luiz Gonzaga. O evento aconteceu no Largo da Estação e revelou uma jovem cantora, que conseguiu se destacar dentre as dezenas de nomes que ali se apresentaram. Com uma voz madura, com a segurança de uma veterana, a jovem ANDREZA VIEIRA encantou a quem compareceu ao evento de Gozagão, alternando boa interpretação e excelente presença de palco. Uma jovem estrela, daqui mesmo, da Cohab, sobre quem ainda vamos ouvir muitos comentários. É só esperar e dar tempo ao tempo.

ENCONTRO DE BLOGS LITERÁRIOS DO NORDESTE

De 22 a 24 de maio do próximo ano, Maceió será sede do 2º ENCONTRO DE BLOGS LITERÁRIOS DO NORDESTE. O evento conta com apoio da Universidade Federal de Alagoas e Governo do Estado de Pernambuco, através da FUNDARPE. Segundo a coordenação, mais de 20 Blogueiros já confirmaram a presença, a exemplo do Blog de Antonino e Domingo com Poesia, ambos de membros da Academia Cabense de Letras.

A PONTE DOS VENTOS

O CANTO DO CORPO E AS RAÍZES DA VOZ - Oficina no Recife

O 19º janeiro de Grandes Espetáculos terá, em 2013, imperdível Oficina com atriz do Odin Teatret, da Dinamarca (IBEN NAGEL RASMUSSEN) em parceria com a pesquisadora TATIANA CARDOSO (RS). Serão 16 horas de Oficina em conjunto, quando compartilharão com os participantes suas técnicas pessoais de treinamento de ator, como em uma viagem através de exercícios feitos com o Grupo A PONTE DOS VENTOS.

As Oficinas acontecerão no Teatro Luiz Mendonça, no Parque Dona Lindu, de 14 a 17 de janeiro de 2013, das 09:30 às 13:30 horas e os interessados deverão acessar o site www.janeirodegrandesespetaculos.com e preencher Ficha de Inscrição. Haverá um processo seletivo para participação e o investimento na Oficina será de R$ 200,00 para participantes e R$ 100,00 para Observadores, com o pagamento devendo se feito até o dia 08 de janeiro, no SATED/PE -Fone: 3424 3133

O CHORO DO AMOR




Antonino Oliveira Júnior*


É doloroso e cruel;
É como sentir o prego perfurando tua carne,
Teus nervos, tua história...
O Teu olhar sereno
Sossega nossas lágrimas
E apascenta nossos corações...

Volto no tempo
Que me leva à manjedoura
Para ver-Te em prantos
No colo da mãe serena...

O choro do amor ecoava,
O choro que trouxe luz
Apontou caminhos  para a humanidade
E encheu de esperanças
Um mundo preso aos pregos
E ao choro do nosso sofrimento,
Esquecendo , sem razão,
O Teu choro de amor.


*Antonino Oliveira Júnior é da Academia Cabense de Letras

INVENTÁRIO






                                        
                                                    DOUGLAS MENEZES*

   Ninguém lembrará de você daqui a pouco. No picadeiro não vai importar sua emoção. Anos a fio, chorou e fez chorar. Sorriu quando a dor era mais forte, naquela linha tênue entre a coragem e a fraqueza. Emocionou-se pelos outros, deixou de sentir sua própria emoção. E assim vai,  e assim foi. Fez da vida um parágrafo único: sem graça, no mais das vezes. E no desespero da sobrevivência menor, ouviu a amizade insincera: sinto muito, não posso ajudar, tenho minhas limitações. Pediu perdão por não ter sido forte. Consolou-se dizendo que o mundo era assim. Ninguém lembrará de você, pois hoje a nuvem do esquecimento levará de vez até a mais abissal das recordações. Vento sem som, carregando a memória por milhões de noites e dias. Atemporal a existência. Comer, dormir, fazer mais gente, perpetuando a rotina de sempre . Ai Drummond, vida besta esta, como tu disseste. Só você estará como veio ao mundo, e o poeta não esqueceu: “Pela última vida, poucos amigos hão de te procurar”. Santana também constatou: “Quem nos levará à derradeira morada, se todos que conhecemos estão indo embora para aquele sono sem retorno?” Pois, Santana, não haverá alça, nem caixão. Belo será a nossa transformação em poeira cósmica, como diz Ferreira, apenas a matéria orgânica voltará para onde veio. Vibrou com o futebol, fez campanha, se expôs, caminhou muito, discutiu, e assim mesmo ninguém lembrou de você. Não um agradecimento, que é demais para eles, mas a lembrança de que você existiu há uns meses. Esquecido será, pelos bens que não teve, pelo receio  de ousar mais e sair da mesmice, mesmo com risco. E a quem veio ao mundo pelo seu sémen, apenas a vontade de que tudo benevolente seja, numa vida de fardo menor que a sua. Ninguém  lembrará  de você daqui a pouco, embora ainda brotem as flores nos dezembros, e as namoradas permaneçam com o cheiro de jasmim no riso fácil de quem conta estrelas. Como lembrar de você daqui a pouco se já agora, na madrugada do silêncio, a luz do esquecimento presente se faz. Memória dilacerada, voz que não se ouve. Você e o medo medonho da amnésia do tempo, aqui, amanhecendo, na certeza de que daqui  a pouco, com o sol e esse verão tão moreno quanto quente, ninguém lembrará de você.

*DOUGLAS MENEZES é da Academia Cabense de Letras e Professor de Língua Portuguesa e Literatura.

sábado, 8 de dezembro de 2012

OLIVIER E LILI


OLIVIER E LILI: UMA HISTÓRIA DE AMOR EM 900 FRASES volta a cartaz no próximo dia 13, quinta-feira, às 20 horas, no Teatro Capiba, no SESC de Casa Amarela, em Recife, dentro da Mostra Capiba de Teatro. Os ingressos custam: R$ 10,00 e R$ 5,00. Preços realmente populares para um bom espetáculo.

NA SALA DE AULA, MESTRE GRACILIANO E A INTERTEXTUALIDADE

Douglas Menezes*



   Não é fácil, hoje, estimular no estudante de nível médio o interesse pelo texto literário. Às vezes, num momento de pessimismo exagerado, achamos ser esta geração um amontoado de seres perdidos, invertendo os verdadeiros valores humanos. Um punhado de gente vazia, superficial, incapaz de analisar, por mais simples que seja, um tema, um conteúdo qualquer. Geração sem cabeça,  ao sabor da instantaneidade e de ações inconsequentes. Espantosa visão apocalíptica, esta. Nesse pesadelo, como encaixar, ao menos, uma tentativa, no meio dessa massa alheia, de realização de um trabalho literário? Pensamos nós, nos instantes de negativismo insolúvel. Mundo sem saída. Resposta inexistente para a equação.
     Junte-se a isto, salas abarrotadas, salários aviltantes. Omissão dos pais, preocupados, tão-somente, com o dia asfixiante na luta pela sobrevivência.
     Depois, apimentando a receita do bolo catastrófico da Educação no Brasil, a tecnologia e os meios de comunicação contribuindo com informações “mastigadas”, esperando apenas a ingestão, sem maiores questionamentos, pois pensar, dói.
    No entanto, o raciocínio depressivo, felizmente, vai-se dissipando e, embora não haja luz, nem sequer túnel, há aquilo que não devemos esquecer nunca: a crença em que, de uma forma ou de outra, podemos contribuir para que “as coisas” melhorem um dia. Até porque, aqui e ali, a manhã começa a chegar, tênue amanhecer pedagógico. Na certeza de fazermos dos inimigos, aliados, ferramentas de apoio. Não sermos tão retrógrados,  que não possamos avançar; nem tão avançados que esqueçamos a tradição, também necessária na luta pelas ações transformadoras.
    Passado o ranço da desesperança, vislumbramos a possibilidade de incutir no jovem estudante, a Literatura como objeto de seu interesse.
    Se é tarefa quase hercúlea, deve, ao mesmo tempo, ser função do professor de Português  não deixar o ensino da Língua  tornar-se, na verdade, alvo da alienação crescente junto ao educando mais novo. Fundamental reagir, politizar de forma democrática, mas levando em consideração, a experiência a ser passada, o professor um leme, um guia que escuta, crendo entrar no caminho que julga correto. Influenciar aquele que necessita aprender e apreender de modo positivo a discernir e aprofundar conhecimentos.
    Aparece, então, a primeira pergunta: é possível criar no aluno um interesse maior pela Intertextualidade, já que esse conteúdo  tornou-se  fundamental na compreensão  do  texto literário?
    A Intertextualidade já existe em alguns compêndios ( que palavra! ) da Língua Portuguesa do antigo segundo grau, um pouco sistematizada, porém, ainda assim, incipiente. É como se houvesse um certo receio em mexer com o mito da originalidade autoral. Remeter um texto a um outro, matriz, na visão conservadora, pode macular as obras de alguns “monstros sagrados”.  E o Ensino Médio é bastante recalcitrante nesse ponto: não gosta muito de bulir em feridas recém-abertas.
     No entanto, deve-se, pelo contrário, mostrar como a Intertextualidade é apaixonante, comprovando que o diálogo entre textos não torna nenhum autor menos criativo ou plagiador, demonstrando ser a Literatura um conjunto de contribuições, de acréscimos àqueles troncos iniciais, aquilo diferente e comuns a todos os textos, na visão de que não há escritos adâmicos. Essa prática deixaria menos enfadonha a análise dos estilos literários, presa à rigidez de datas e características nem sempre verdadeiras dentro do pragmatismo do texto artístico. Há modernismo em obras do passado; bem como passado em outras modernas. A verdade é que a Intertextualidade traz maior dinamismo ao fazer literário. Retira todo o engessamento da velha teoria dos estilos de época, que devem ser estudados sempre em um vai-e-vem: passado, presente e perspectiva para o futuro.
       Nessa linha, poderíamos motivar o Ensino Médio. Afastá-lo dessa concepção estática que ainda, salvo exceções, em relação à prática pedagógica da Literatura. Assim, a sonolenta concepção secular de não achar ligações entre as diversas épocas, daria lugar à criativa interação entre períodos e autores, valorizando-se, sobremodo, o diálogo entre textos. Sendo esse estudo bem conduzido, não deixaria margens à visão simplória de que tudo se imita, passando o adolescente a enxergar essa “imitação” como uma reescritura criativa de temas já produzidos, residindo aí, a criatividade maior. Seria o primeiro passo: eliminar qualquer visão preconceituosa em relação  à Intertextualidade na sala de aula.
         O aluno, nesse primeiro momento, deve entender a Intertextualidade como um exercício analógico, já que, provavelmente, possui ele uma experiência desse tipo durante sua vida antes da escola. Com efeito, para um principiante, atividades indicando semelhanças no diálogo entre os textos,  seriam um bom começo, pois analisar teoria pelas diferenças comporta um aprofundamento não encontrado nos adolescentes.
          Essencial é ativar a curiosidade do estudante, fazendo-o trabalhar uma variada quantidade de textos e de autores diferentes, ocasionando a inclusão do diálogo textual no dia a dia da sala de aula, mostrando ser algo positivo o relacionamento intertextual para a compreensão da escrita literária.
          A partir daí, podemos trabalhar, com os alunos do Ensino Médio, os textos de Graciliano Ramos. Sendo bom lembrar, ser esse trabalho precedido de um conhecimento prévio sobre a Intertextualidade. Assim, para o docente, não deve parecer estranho o uso do termo, pois ele fará, constantemente, um exercício de diálogo.
          Depois, os livros São Bernardo e Angústia, logo no início do ano, devem ser indicados como paradidáticos. Os alunos, assim, teriam tempo necessário de, pelo menos em um semestre, manusear as obras, havendo também, a necessidade do conhecimento biográfico do autor e alguma coisa sobre seu estilo, estabelecendo uma visão, ainda que superficial, de toda a obra do mestre alagoano. O professor é fundamental nessa tarefa, à medida que deve ser um elemento motivador na prática da leitura. A ideia geral sobre a obra de Graciliano, repito, é fundamental. Por exemplo, ao falarmos da linguagem enxuta dos dois livros em pauta, não criaremos estranheza aos alunos, veriam isto com naturalidade, como marca do artista.
            Além disso, o professor pode chamar a atenção para um aspecto comum nos dois romances de Graciliano Ramos, Angústia e São Bernardo, e que, com certeza, por ser um sentimento típico do ser humano, tornará mais fácil a análise intertextual dos textos. Trata-se da presença do ciúme nos dois livros,  que de resto sempre foi tema encontrado na Literatura Universal. Os dois personagens principais, Paulo Honório em São Bernardo, e Luís da Silva em Angústia, a seu modo, expressam um ciúme paranoico, que gera duas tragédias pessoais: a morte da esposa Madalena em São Bernardo, que se suicida diante da pressão do marido; e a perda da noiva Marina para o comerciante Julião Tavares, levando Luís da Silva a assassinar o rival. Todo esse processo de desconstrução dos dois personagens é seguido de uma desagregação psicológica degenerativa, sem volta e facilmente compreendida por quem faz a leitura das duas obras.
            E aí, um outro romance, de dimensão grandiosa dentro da Literatura Brasileira, pode servir como mais um elemento comparativo para o estudante de nível Médio: Dom Casmurro, de Machado de Assis, a sua maneira, traz o ciúme, a desconfiança, como um dos temas centrais, havendo, nesse momento, a possibilidade, de uma análise formal entre os três livros: a mesma escrita enxuta é encontrada nas obras maiores dos dois escritores. Linguagem carregada de essencialidade. Temáticas semelhantes, abordagens diferentes, em Machado e em Graciliano, parecidos os dois, e, ao mesmo tempo, díspares, pois cada um com sua personalidade própria de escritor.
            O passo seguinte e definitivo, é fazer um estudo da Intertextualidade, mostrando o dialogismo dentro da obra de um mesmo autor. Dois escritores poderiam servir de modelo nesse exercício: José Lins do Rego, na prosa, e Manuel Bandeira, na poesia. Ambos ricos em relação à Intertextualidade.
             Afora isso, lembremos de outras expressões artísticas sobre a obra de Graciliano Ramos. Vidas Secas, São Bernardo e Memórias do Cárcere são livros adaptados para o cinema que, pela qualidade, acrescentam, e muito, algo mais sobre a produção do gênio alagoano. O teatro é outra expressão artística que poderia ser utilizada pelos alunos em um estudo na forma de monólogo, principalmente com relação a Angústia e São Bernardo.  
          Por fim, recordar a contemporaneidade do Mestre Graça. Sua atualidade, mostra, sobretudo, o autor que ultrapassou o seu tempo. Como o mago Machado de Assis,  demonstrou que os dramas humanos vão além de um período histórico, inserem-se naquela visão de que grandezas e mesquinharias acompanharão o homem, independendo da época e que sempre valerá a pena estudar um artista como Graciliano, que produziu um trabalho  de humanismo ímpar e que dificilmente será apagado, por ser regional, brasileiro, mas, principalmente, universal.

DOUGLAS MENEZES É PROFESSOR DA REDE OFICIAL E PARTICULAR DE PERNAMBUCO,  FORMADO EM LETRAS E EM COMUNICAÇÃO SOCIAL. ESPECIALISTA EM LITERATURA BRASILEIRA E EM LEITURA, COMPREENSÃO E PRODUÇÃO TEXTUAL.
EMAIL: douglasmenezesnet@gmail.com
         

PROJETO "A ESCRITA DO CORPO" CHEGA AO FINAL

Grupo Quadro de Cena              foto: Aryella Lira


Neste domingo, às 19 horas, o auditório da Livraria Cultura, no Paço Alfândega, recebe a etapa final do `projeto A ESCRITA DO CORPO: DRAMATURGIA DO ATOR NO PROCESSO DE CRIAÇÃO, com os atores Marcella Malheiros, Thomás Aquino, Andreza Nóbrega e Milena Marques demonstrando cena-experimentos a partir do diálogo da música com a partitura corporal, sob a direção musical de André Filho.
O LIVRO DAS PERGUNTAS, de Pablo Neruda, será o mote para a construção dos experimentos, com discussão aberta ao público no final. O trabalho tem o incentivo do Funcultura e a entrada é grátis.

sábado, 1 de dezembro de 2012

SONETO DAS METAMORFOSES



Carlos Pena Filho


Carolina, a cansada, fez-se espera
e nunca se entregou ao mar antigo.
Não por temor ao mar, mas, ao perigo
de com ela incendiar-se a primavera.

Carolina, a cansada que então era
despiu, humildemente, as vestes pretas
e incendiou navios e corvetas
já cansada, por fim, de tanta espera.

E cinza fez-se. E teve o corpo implume
escandalosamente penetrado
de imprevistos azuis e claro lume.

Foi quando se lembrou de ser esquife:
abandonou seu corpo incendiado
e adormeceu nas brumas do Recife.

MEU CANTO DE GUERRA

Solano Trindade

Eu canto na guerra,
como cantei na paz,
pois o meu poemas
é Universal.
é o homem que sofre,
o homem que geme
é o lamento do povo oprimido,
da gente sem pão...
é o gemido
de todas as raças,
de todos os homens.
é o poema da multidão.

HI-RO-SHI-MA É O TEU NOME

*Roberto Menezes


A bomba explode distante
e me deixa cego agora
como o sol radiante
naquela noite lá fora.
Sol que me tirou o olhar
sol que mostra e zomba
sol que pra amar me chama
Hiroshima, mulher, menina.
Hiroshima. Só.
O sol, a bomba
e me tornei cego radioativo
perseguindo tua imagem
na loucura de uma viagem
que imagino, vivo e ativo:
sem saber se és Nevers
sem saber se és Hiroshima.
Cego sigo nessa dramática vertigem
de um pretenso e tenso cine-poema
que nunca passou, nem passará, no cinema.


(Para quem assistiu Hiroshima Mon Amour. E prá ela)

*Roberto Menezes é Jornalista.

domingo, 25 de novembro de 2012

CARLA

Miró *


Conheci Carla catando lata
seus olhos brilhavam
como alumínio ao sol
São Paulo ardia num calor
de quase quarenta graus
pisou na lata,
como pisam os policiais
nos internos da Febem
jogou no saco
com a precisão
que os internos jogam
monitores dos telhados
e rápido foi embora,
tal qual sequestro relâmpago
deixando a lembrança de um tempo
que não havia
 sequestros,
Febem,
nem tanta polícia
muito menos
catadores de lata...

os olhos de Carla
nem desse poema precisavam.

*Miró é um poeta de Muribeca

POEMA PARA MAIS UM DOMINGO

Frederico Menezes*


Agora já se esvai mais um domingo...a saudade do teu amor,
atravessando séculos e sonhos, como um domingo que amanhece,
teima em permanecer.
E permanece o manancial de ternura e a força do teu amor, que o tempo,
esse escravo do teu magnetismo, não consegue apagar.

Agora, já se esvai o domingo, nessa noite chuvosa a despertar
um perfume de nostalgia,
um anseio de amanhã, um cheiro de algo já vivido.
E permanece esse impulso indecifrável, esse quase desmaiar de tarde
nos olhos tocados pela espera doce.
Espera que o tempo, escravo do teu poder,
não consegue diluir.

Agora, já se esvai mais um domingo e me acena o outro dia
Com a possibilidade de servir e aspirar atender a tua vontade,
e, em teus braços, entregar coração e alma
na certeza de que tua paz perene
que o tempo, escravo do teu querer, não poderá, jamais, impedir.


*Frederico Menezes é da Academia Cabense de Letras.



PINDORAMA, CARAVELA E MALUNGO

Foto: Aryella Lira

O Grupo Quadro de Cena está com o espetáculo PINDORAMA, CARAVELA E MALUNGO em cartaz. A criação é coletiva e se propõe a falar sobre a terra brasileira, em uma peça para todas as idades. Com cinquenta minutos de duração, a montagem baseia-se no ato de contar e narrar evidenciando a memória e a palavra a partir de lendas e contos africanos, portugueses e indígenas que revelam esse Brasil.
Com caráter itinerante, a montagem poderá ser vista nos seguintes locais, sempre com entrada grátis:

29/11 - Museu Murillo La Greca - 11 horas

15/12 - Museu da Abolição - 14 horas.

As apresentações iniciaram nos dias 23 e 24/11

domingo, 18 de novembro de 2012

NASCE UMA ESTRELA

BÁRBARA é o nome da jovem que surpreendeu a todos no Clube da Associação Comercial de Gameleira, sábado. O Baile da Família corria solto, quando o cantor da Orquestra Nostalgia, que animava a festa, pediu a presença da jovem BÁRBARA no palco.

Integrante de família conhecida na cidade, BÁRBARA subiu ao palco e com seu jeito de menina, sem nunca ter ensaiado com a Orquestra, soltando seu vozeirão, encantando a todos com a interpretação de uma música de Alcione e uma outra de Bruno e Marrone.

A Orquestra e os visitantes ficaram surpresos e emocionados com a apresentação da jovem, que mostrou uma voz madura e um invejável segurança para cantar em público. Não será surpresa se, de repente, aquela voz segura se espalhar nos palcos de Pernambuco.

A PAZ QUE ME ACOLHE

Antonino Oliveira Júnior*



Deitei meu olhar
Na relva macia que é teu corpo
E ali deixei que repousassem meus sentimentos;
Teu silêncio,
A paz que acalenta e acolhe minh’alma.

Quem se abriga nas asas do amor,
Vence tempos, ventos e tempestades.


*Antonino Oliveira Júnior é da Academia Cabense de Letras

O DOIDO

Jairo Lima*

Clara noite alucinante
em que banha-se o luar.
Lá passa o doido uivante
com louco grito suplicante,
que mais parece se torturar.

Dizem que foi pela partida
de alguém que lhe negou,
Endoideceu. Triste vida.
Que dor aquela, tão sofrida,
que o amante tresloucou.

Desde que ele enlouqueceu
que fúnebre sina, que destino!
olhando o céu, nunca esqueceu,
chama a noiva que morreu
no mesmo roto figurino.

E noivando, seguindo a lua, vai
esperando um sinal, um acenar.
Do peito um suspiro opresso sai
ao encontro da lágrima que lhe cai
pois seu canto agora é chorar.

(Inspirado o poema A DOIDA, de Florbela Espanca)
*Jairo Lima é da Academia Cabense de Letras.

REUNIÃO DE BLOGS LITERÁRIOS

Maceió sediará a 2ª REUNIÃO DE BLOGS LITERÁRIOS DO NORDESTE, que acontece em maio de 2013. O evento, coordenado pelo poeta pernambucano Juareiz Correya, já conta com a confirmação de 21 Blogueiros inscritos.

O Blog tem se destacado no universo da mídia eletrônica e cresce a cada dia o número de Blogs voltados para a literatura. Da terrinha teremos a participação do BLOG DE ANTONINO, coordenado por Antonino Oliveira Júnior, e do BLOG DOMINGO COM POESIA, do poeta Natanael Lima Júnior.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A BANDA QUE PASSA

Douglas Menezes*



O menino observa, escuta o som que começa a ficar nítido. Tem os olhos acesos o menino, brilham, percebendo a chegada de um prazer esperado com ânsia. Agora, a música totalmente ouvida, bonita a melodia, mesmo sem a presença ainda visível de quem toca. Não vacila, o garoto, em expressar um sorriso ingênuo, sábio, porém. Aquele som ritmado, ele sabe, coeso, acompanhá-lo irá para sempre, vida afora, gerações vindouras. Sabe, também, o menino, que seus pais, seus avós, da mesma forma que ele, também se deslumbraram com a sua banda, com a banda da sua cidade. Carregará a marca daqui pra frente: símbolo cultural do lugar onde ele nasceu.

A sensibilidade à flor da pele, pois a banda passa. Bate palmas o garoto, em meio à multidão. Nada mais a enxergar, a não ser o som de sua orquestra predileta. A sua orquestra, segunda melhor do Brasil, como ele, lentamente crescendo, sacrifício dos artistas humildes, pobres, ricos, no entanto, de amor à sua terra, à sua música.

A banda que ganhou as ruas, que faz o menino correr entre as pernas dos adultos para alcança-la. Não quer perder momento algum do concerto ambulante. Também o povo acompanha. É a banda da cidade de Santo Agostinho, de nome pouco charmoso, mas que é graça, mas que produz um encantamento atravessando décadas. A Filarmônica distribui alegria pelas ruas do Cabo. E como disse o poeta, as dores são esquecidas, pelo menos no momento em que ela toca.

O menino e o povo num reino mágico, só contentamento a cidade respira com sua 15 de Novembro Cabense. É a banda que passa, é a banda que é graça. A poesia flui, enche de emoção o peito do pequenino garoto cabense.

Do livro Uma Declaração de Amor, em parceria com José Ferreira.1985.

*Douglas Menezes é da Academia Cabense de Letras

domingo, 11 de novembro de 2012

CULPA DE GODARD

Roberto Menezes*


Captar o teu olhar de cigana
na quase não - fila do cinema
para ver um filme de Godard
é fogo que virou poema
e me abrasou, e meu fez capitular.
E te seguir até à cadeira
onde você ficou a esperar
o desprezado filme de Godard.
Mas nem bem o filme começa
o ator na tela acaricia Brigite Bardot
e faz comovida jura de amor:
"te amo docemente
ternamente
tragicamente".
E teu choro de repente
pungente, obscuro
fez tremer as cadeiras
incendiou o escuro
e tua saída intempestiva
tuas lágrimas, teu segredo.
Nunca mais te vi
e no meu degredo
me tornei Bento e Escobar
devorados no ciúme e na ressaca
eles, culpa de Machado
eu, culpa de Godard.


(Ano passado em São Paulo. Durante lançamento da cópia remasterizada de O DESPREZO, do velho e sempre novo Jean- Luc Godard. Dedico à escritora Danielly Teles, que me entregou dois contos que escreveu, para que eu  filmasse o Curta "MENINA: DOIS EM UM)


AINDA BATEM EM NOSSOS CORAÇÕES


(A Paulo Cultura, poeta sempre.)
Antonino Oliveira Júnior

Fala,  poeta,
A tua voz que não morre;
Fala,  poeta,
Teu canto de amor à vida;
Fala, poeta,
Porque, ainda que te deixem longe,
Estarás  perto de nós,
Pois teus versos
Não respeitam o tempo,
Não respeitam a distância,
Ignoram a fronteira entre o corpo e a alma
E ainda batem em nossos corações.

A MINHA VIDA É UM BARCO ABANDONADO

Fernando Pessoa


A minha vida é um barco abandonado
infiel, no ermo porto, ao seu destino
por que não ergue ferro e segue o atino
de navegar, casado com o seu fado?
Ah! falta quem o lance ao mar, e alado
torne seu vulto em velas; peregrino
frescor de afastamento, no divino
amplexo da manhã, puro e salgado.
Morto corpo da ação sem vontade
que o viva, vulto estéril de viver,
boiando à tona inútil da saudade.
Os limos esverdeiam tua quilha
os ventos embala-te sem te mover,
e é para além do mar a ansiada ilha.

NÃO SÓ COMOVENTE E HUMANO


DOUGLAS MENEZES*

  Não só comovente e humano; nem apenas um drama familiar dentro de uma produção bem realizada, que leva ao riso e ao choro. Que nos faz  refletir e virar menino na sala escura. Mas uma obra que, sem ser genial, tem a importância de nos alertar para a necessidade de valorização de nossos aspectos culturais mais caros. O filme sobre Luiz Gonzaga e Gonzaguinha é daqueles que deveriam ser vistos por todos os brasileiros, principalmente por tratar da existência de dois ícones de nossa vida artística, assim classificados por absoluto mérito, pela inserção comunicativa com a realidade do Brasil, cada um a seu modo.
   Luiz Gonzaga de Pai para Filho, mesmo com alguns classificando-o  como filme “chapa branca” e com toda a carga negativa que essa expressão carrega, é uma obra que não se limita a uma biografia, tem pretensão de ser arte,  até ficção, pela dramaticidade dada aos conflitos, à vida conturbada,  mas rica porém, dos dois personagens. Quer ser arte e consegue. A começar pela linguagem simbólica,  especial, conotativa, o que o faz diferir de um simples documentário de duas vidas, levando-nos a um clima de um trama romanesca,  às vezes de tirar o fôlego, apesar de em alguns momentos se tornar monótono. Um enredo tipicamente de uma história de ficção, prendendo o espectador do começo ao fim, como se a gente não soubesse  o  que aconteceu durante a passagem por aqui, de Gonzaga e Gonzaguinha. É um presente ao público o ritmo do enredo, entrelaçado com fatos históricos e músicas que marcaram a carreira dos dois. Ressaltemos, inclusive,  a coragem do autor, em desvendar os  aspectos negativos da relação pai e filho. Mostrando, inclusive, ter sido Gonzaga um relapso, que não cuidou como devia da educação e da afetividade de Gonzaguinha, expondo-o ao mundo urbano violento e até a maus-tratos de sua segunda mulher, muito embora a reconciliação venha a preencher a expectativa do público,  retomando a condição de ídolos do país  dos dois grandes artistas. Essa coragem é outro mérito da obra: a de expor um ídolo nacional a sua condição humana, de virtudes e defeitos.
   Some-se a tudo isso, a dimensão dada à diversidade brasileira. O Brasil urbano e rural. A mentalidade de um homem de formação rude, e mesmo assim,  sensível, um conservador que ainda hoje encanta os modernos; e o outro, uma figura da cidade, com uma obra revolucionária, portentosa, muito diferente do pai, politicamente assumido como uma pessoa de esquerda e inimigo da ditadura militar, ficando bem claro  como eram díspares as personalidades de ambos.  E esse Brasil contraditório do sertão e do cais; das feiras interioranas, que ainda existem, e dos arranha-céus, já existentes em décadas passadas e do sufoco urbano na luta pela sobrevivência, é mostrado com um certo ar de saudosismo, mas querendo  expressar que somos um  e muitos ao mesmo tempo.
    Então, vale a pena curtir esse filme. Não sendo uma obra prima, nos leva, no  entanto, a  entender que as transformações mudam o mundo, mas que a tradição e a história formam os alicerces para a identidade humana e  cultural de um país.


*Douglas Menezes é da Academia Cabense de Letras
  
  

sábado, 10 de novembro de 2012

A FACE OCULTA DE BELCHIOR


Douglas Menezes*

Escuto com prazer e sempre numa paixão renovada “De Primeira Grandeza”, poesia música do compositor cearense Belchior. Canção transformada em hino do amor de todas formas. Uma exaltação aos deuses que propagam a afetividade sem medida, inclusive aquela cuja sociedade hipócrita ainda põe como pecado e passível de recriminação pública.
  Música de melodia simples, sensível, mas de uma letra profunda, tem, no eu- lírico, a voz homossexual declarada logo no começo, como um aviso aos navegantes, ao mesmo tempo que expressa a condição de artista, daquele que vai ao palco para brilhar, difundir ilusões e talvez mostrar sua outra face, que a vida real não permite mostrar. Início de uma canção marcante, como de resto é toda obra do cantor brasileiro: “Quando estou sob as luzes / Não tenho medo de nada / E a face oculta da lua que é a minha/ Aparece iluminada/ Sou o que escondo sendo uma mulher / Igual a tua namorada...”
    A partir daí, no entanto, há toda uma valorização da condição masculina e feminina. A importância de todos os gêneros aflora de modo cristalino, mostrando que somos seres em igualdade de condições, independente de opção sexual, para viver a vida com intensidade e paixão.
    Primeiro, a força masculina, sua importância para a existência humana: “ A força masculina atrai e não é só ilusão”. Lembrando antes a presença feminina atraída pelo oposto: “Musa, deusa, mulher, cantora e bailarina”. Como fica evidente, então, a concepção democrática do eu-lírico! Como difere daqueles movimentos “libertadores” que criam abismos humanos, incentivando o rancor e a noção de que a liberdade deve ser cultuada apenas para o gênero que se supõe merecedor dela! O cearense dá a noção exata do valor humano como um todo, inclusive lembrando ao ouvinte essa visão, quando junta os dois lados humanos, homem e mulher: “ Anjo, herói, Prometeu, poeta e dançarino / A glória feminina existe e não se fez em vão”. Então, o homossexual do início, conclama a todos a serem iguais enquanto seres fazedores da humanidade. A primeira grandeza é justamente a busca da fraternidade e do direito ao prazer que as pessoas deveriam possuir.
   Por fim, a certeza de que só se vive bem a vida quando, no cerne dela, existe paixão. Tudo o que a humanidade construiu de bom e de ruim até hoje foi fruto de uma visão apaixonada: “ E se destina ao gozo a mais que se imagina / O louco que pensou a vida sem paixão”.


*Douglas Menezes é da Academia Cabense de Letras
 

FESTIVAL SESI DE BONECOS DO MUNDO

Recife é a capital mundial dos Bonecos. Até este domingo, dia 11 de Novembro acontece o FESTIVAL SESI DE BONECOS DO MUNDO, com apresentações de teatro de bonecos de diversos países. Os espetáculos acontecem no Teatro de Santa Izabel e no Parque Treze de Maio, levando aos locais públicos grandiosos, que saem das apresentações maravilhados com os trabalhos dos Grupos.

O Festival começou no dia 7 e termina neste domingo, dia 11 de Novembro.

MOSTRA "PARA TODOS"

Inaugurada com sucesso, neste dia 7, a Exposição com o Tema "PARA TODOS - O MOVIMENTO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL", no Aeroporto Internacional dos Guararapes. A solenidade de abertura contou com a presença do Secretário Nacional de Promoção dos Direitos das Pessoas com Deficiência e outras autoridades nacionais e estaduais.

A Exposição acontece no Aeroporto Internacional dos Guararapes até o dia 24 do mês em curso e a entrada é grátis.

NÓS E OS NÓS

Roberto Menezes*


Entre nós
nos negamos
como somos nós:
amantes antes
e sempre.
Nó se desata
embora o nó cego
da faca sente falta
e sobramos nós
pobres de nós
o nosso amar
amarga que nem jiló
tão longe tão perto
e é só um nó.

sábado, 3 de novembro de 2012

AMAR SE APRENDE AMANDO

Carlos Drummond de Andrade



O ser busca o outro ser, e ao conhecê-lo
acha a razão de ser, já dividido.
São dois em um: amor, sublime selo
que à vida imprime cor, graça e sentido.

"Amor" - eu disse - e floriu uma rosa
embalsamando a tarde melodiosa
no canto mais oculto do jardim,
mas seu perfume não chegou a mim.

1985.

A PRIMEIRA ACÁCIA

Antonino Oliveira Júnior*


Não é apenas um cacho de flores
é uma acácia...
também não é, apenas,
uma acácia...
é a nossa primeira,
fecundada, cuidada, esperada
e que nasce para fazer renascer
nos corações justos e perfeitos
o amor pela humanidade.


*Antonino Oliveira Júnior é da Academia Cabense de Letras

VISÃO DO MAL

Cláudio Oliveira
(à minha irmã Jura, partícula do meu coração)

Jesus, quando veio ao mundo, sem vaidade
Unindo o bem ao amor e à perfeição
Recebeu em troca de sua bondade
A recompensa cruel de um não cristão.
Calmo, sereno e justo sem a maldade
Irmã do egoismo e da traição.

O Cristo-Rei entre a torpe humanidade
Leu nas faces do homem a traição;
Ignorantes somos aqui na Terra,
Voltados a todo mal que nela encerra,
Encobrindo com um sorriso a hipocrisia.
Indiferente e alheio eu passo a vida,
Recordando a minha infância querida,
A saudade do tempo que sorria.


Acróstico feito em 12/09/1935, no Cabo

FESTIVAL DO CIRCO 2012


Recife é a capital brasileira do Circo, em evento que teve início dia 01 e segue até este domingo, 04 de Novembro. O Festival, que conta com artistas circenses de diversos países, ocupa Teatros, Praças e Ruas da capital pernambucana, encantando ao público de todas as idades.

Duas boas opções gratuitas são as apresentações que acontecem na Praça do Diário (Centro da cidade) e no Parque dona Lindu (Boa Viagem) e o público terá oportunidade de ver excelentes artistas.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

SONETO PARA GRETA GARBO

Carlos Pena Filho



Entre silêncio e sombra se devora
e em longínquas lembranças se consome
tão longe que esqueceu o próprio nome
e talvez já não sabe por que chora
Perdido o encanto de esperar agora 
o antigo deslumbrar que já não cabe
transforma-se em silêncio por que sabe
que o silêncio se oculta e se evapora
Esquiva e só como convém a um dia
despregado do tempo, esconde a tua face
que já foi sol e agora é cinza fria
Mas vê nascer da sombra outra alegria 
como se o olhar magoado contemplasse
o mundo em que viveu, mas que não via.

TODOS MO CINEMA


Participando do 40º Congresso da ABAV e Feira de Turismo das Américas, no Rio de Janeiro, semana que passou, conheci de perto interessante Programa da Prefeitura do Rio, o CINEMA PARA TODOS. No Programa, os alunos e Professores das Escolas da Rede Municipal e funcionários da Prefeitura, recebem tickets que lhes dão o direito de assistirem filmes brasileiros em exibição na cidade, pagando apenas R$ 3,00, com a Prefeitura subsidiando o restante do valor dos ingressos às Salas exibidoras.

Muitas vezes as pessoas ficam perguntando o que é Políticas Públicas de Cultura. Está aí um dos exemplos: o dinheiro do povo volta para a população em forma de incentivo para que o povo goste de cinema, que goste do cinema brasileiro, que tenha uma diversão sadia e instrutiva e, ainda, complementa a renda dos produtores ao subsidiar os ingressos.

DE BREGA A CULT



Douglas Menezes*

Recentemente a Rede Globo incluiu na trilha sonora da novela Gabriela a música do cantor Fernando Mendes “Você não me Ensinou a te Esquecer”, canção que já fora trilha musical do filme Lisbela e o Prisioneiro, baseado na obra do grande escritor Osman Lins. Música classificada como brega romântico há trinta anos, desprezada pela intelectualidade brasileira que curte MPB de qualidade, foi sucesso à época na voz do seu autor Fernando Mendes. É interessante notar como o conceito do brasileiro médio muda de acordo não só com o passar do tempo, mas pela presença de quem “apadrinhou” o novo elemento cultural.

Pois bem, O “monstro Sagrado”, com inteira justiça, da música brasileira Caetano Veloso resolveu dar uma roupagem nova à música. Deu um tom mais dramático à canção, incluindo uma instrumentação de nível inquestionável. O resultado foi novo sucesso da música, com algo que impressiona: sua inclusão no repertório da MPB de bares e emissoras de rádio, junto a Djavan, Chico, Gal, Betânia, o  próprio Caetano, entre  outros, incluindo aí, o público jovem, com menos de trinta anos. Quer dizer, o que não possuía valor antes, passou a ser “nata” da música romântica brasileira de qualidade.  Mostrando que os mitos realmente são intocáveis, gerando verdades nunca questionáveis, pois já se disse demais versos como estes: “ Não vejo mais você faz tanto tempo/ Que saudade que sinto ; De olhar nos seus olhos sentir seu abraço/ É verdade eu não minto...”. No entanto, “Você não me Ensinou a te Esquecer”, retornou ao pódio do sucesso, inclusive por parte do público mais exigente, a ponto de a TV colocá-la na trilha de bom gosto da nova versão do romance de Jorge Amado, junto a obras consagradas de Djavan, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Moraes Moreira e Dorival Caymmi.

Aliás, Caetano Veloso é pródigo, ao longo de carreira, em despreconceitizar aquilo que é visto quase como tabu em nossa sociedade conservadora. Na música, fez isto, também, com Coração Materno, de Vicente Celestino e Sonhos, de Peninha, mostrando que, às vezes,  é tênue a fronteira entre o culto, de sentido elitizante, e o popular, naquilo que o povo assimila como sua cultura.

*Douglas Menezes é escritor, professor de Língua Portuguesa, pós-graduado em Literatura Brasileira e em Leitura, Compreensão e Produção Textual pela UFPE, membro da Academia Cabense de Letras.