sábado, 22 de dezembro de 2012

POEMA DE NATAL

Vinicius de Moraes


Para isso fomos feitos:
para lembrar e ser lembrados
para chorar e fazer chorar
para enterrar os nossos mortos-
por isso temos braços longos para os adeuses
mãos para colher o que foi dado
dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
uma tarde sempre a esquecer
uma estrela a se apagar na treva
um caminho entre dois túmulos-
Por isso precisamos velar
falar baixo, pisar leve, ver
a noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
uma canção sobre um berço
um verso, talvez de amor
uma prece por quem se vai-
mas que essa hora não esqueça
e por ela os nossos corações
se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
para a esperança no milagre
para a participação da poesia
para ver a face da morte -
De repente, nunca mais esperaremos...
hoje a noite é jovem; da morte, apenas
nascemos imensamente.

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