sábado, 31 de dezembro de 2011

UM MOMENTO PARA SEMPRE



Foto: José Ferreira / Acervo: Casa da Memória do Cabo


Em 1976, a equipe do Jornal BOmTempo estava a caminho de Serrita, onde aconteceria a Missa do Vaqueiro. Numa localidade à beira da estrada do sertão, paramos para descansar um pouco e matar a sede, quando demos de cara com o Mestre LUIZ GONZAGA, que seguia, também, para Serrita. Foram apenas cerca de 15 minutos de uma conversa inesquecível e que fica para a eternidade. Uma honra sem tamanho publicar a foto no momento em que o Brasil se prepara para festejar o centenário do maior nome da cultura popular do país. Na foto, estão: LUIZ GONZAGA, Antonino Oliveira Júnior, Douglas Menezes e Rilso Neres.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O FIM DO MUNDO



Antonino Oliveira Júnior



Uma previsão Maia, que virou filme e notícia no mundo inteiro, fala que o mundo acaba em 2012 e, mais ainda, no dia 21 de dezembro. Seria muito bom que o mundo acabasse já agora. Mas esse mundo distorcido que a gente é obrigado a conviver com ele, com inversões de valores, com “autoridades” que não se respeitam e nem respeitam seu povo, que, por serem corruptos, vivem a assediar os pobres de dinheiro e de espírito para corromperem e se manterem, assim, em seus cargos, cada vez mais, suntuosos. Que acabe o mundo da intolerância, do preconceito, das injustiças (todas) e da violência de todas as espécies. Que acabe, sim, esse mundo do primeiro “eu” e sempre “eu”, que acabe o mundo que dita a “vantagem pessoal em tudo”. Que acabe esse mundo do desamor. Mas, que acabe ainda agora, em 2011, para que 2012 seja sim, o nascimento de um mundo novo, onde nós lembremos sempre que não estamos sozinhos, que a felicidade não é e não pode ser um patrimônio da individualidade, mas, uma condição humana, um benefício coletivo. Que não nos baste a nossa mesa farta, que as mãos não estendam mais para pedir, mas, para o cumprimento, que possamos ir às urnas votar felizes e esperançosos, jamais abusado por ser “obrigado” por lei. Que nasça o mundo que nos permita acreditar e confiar nos Poderes Constituídos, que nos permita mais tolerância, mais fraternidade, mais gestos de amor e uma prática de vida que nos aproxime do sonho maior, de viver um mundo de paz.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

SUAPE



Antonino Oliveira Júnior
(1970)

Num horizonte profundo
um sentimento mesquinho
sufocando beleza,
abafando sentimentos
sob mão de aço,
mente de ferro
e coração de gelo.

E os peixes se afogam
nas lágrimas do pescador.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O REI E O PALHAÇO



Antonio Nóbrega, o maior brincante de Pernambuco.




Sua coroa é de ouro,
O meu chapéu é de palha.
A sua cota é de malha,
O meu gibão é de couro.

Sua justiça é no foro,
Minha lei é o consenso.
O seu reinado é imenso,
Minha casa é meu país.

Você é preso ao que diz,
Eu digo tudo o que penso.
Você vem com a arma erguida,
Eu vou abaixando a guarda.

Você vem vestindo a farda,
Eu de roupa colorida.
Você disputa corrida,
Eu corro pra relaxar.

Sua marcha é militar,
A minha é de carnaval.
Seu traje é de general,
Eu visto pena e cocar.

Você liga a motosserra,
Eu planto flor no cerrado.
Você só anda calçado,
Eu piso com o pé na terra.

Você quer vencer a guerra,
Eu quero ganhar a paz.
Você busca sempre mais,
Eu só quero o que é meu.

Você se acha europeu,
Eu sou dos canaviais.
Você vem com a força bruta,
Eu vou com a ginga mansa.

Você vem erguendo a lança,
E eu erguendo a batuta.
Você me traz a cicuta,
Eu lhe dou chá de limão.

Você diz que é capitão,
Eu só sou um mensageiro.
Você é um brigadeiro,
Eu sou só um folgazão.

domingo, 25 de dezembro de 2011

O CHORO DO AMOR




Antonino Oliveira Júnior


É doloroso e cruel;
É como sentir o prego perfurando tua carne,
Teus nervos, tua história...
O Teu olhar sereno
Sossega nossas lágrimas
E apascenta nossos corações...

Volto no tempo
Que me leva à manjedoura
Para ver-Te em prantos
No colo da mãe serena...

O choro do amor ecoava,
O choro que trouxe luz
Apontou caminhos para a humanidade
E encheu de esperanças
Um mundo preso aos pregos
E ao choro do nosso sofrimento,
Esquecendo , sem razão,
O Teu choro de amor.


*Antonino Oliveira Júnior é da Academia Cabense de Letras

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

E O CRISTO DO NATAL, ONDE ESTÁ?


Pastor Erivaldo Alves*


“Os magos, vindos do oriente, perguntaram: Onde está o Cristo”?

Ao longo dos anos, as pessoas inventaram muitas histórias a fim de esconderem Cristo e apresentarem um Natal discristificado (desculpem o neologismo).
 É um velhinho barbudo e branquecelo, chamado de Papai Noel;
 São presentes e mais presentes;
 São jantares regados a muitas e diversificadas guloseimas;
 São bastantes bebidas.
A mensagem do Natal é a mensagem de submissão, obediência. Disse Maria: “Cumpra-se em tua serva a tua vontade”. As palavras submissão e obediência são repugnadas pela sociedade pós-moderna.
A mensagem do Natal é a mensagem do justo, do correto, do certo. Diz o texto bíblico: “Sendo José, um homem justo, e não querendo expô-la à desonra pública, pretendia anular o casamento” (Lucas 1.19). Hoje o que impera é a lei de Gerson.
A mensagem do Natal é a mensagem da simplicidade. Maria, uma jovem simples, antes sem qualquer destaque, para ser a mãe de Jesus. José, seu marido, de igual modo não pertencia às elites da época. Era tão somente um carpinteiro. Jesus não teve um enxoval, nem sequer uma casa para vir ao mundo. A Bíblia diz que Maria “deu à luz a Jesus e o envolveu em panos e o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lucas 2,7). “Deus não vê como vê o homem, o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração” (I Samuel 16.7b). O que se vê hoje é a extravagância e o luxo e consequentemente, as pessoas se complicando cada vez mais com seus estilos de vidas arrogantes.
A mensagem do Natal é a mensagem da necessidade de se fazer ajustes para se aceitar a vontade de Deus. Maria teve que enfrentar obstáculos – a gravidez inexplicável traria sérias implicações éticas. O que se percebe nos dias atuais são as pessoas cada vez mais orgulhosas, prepotentes sem a humildade de quererem ajustar suas vidas à vontade do Senhor.
A mensagem do Natal deve ser a mensagem da hospitalidade – devemos dizer diferente do que disse aquele dono da estalagem (não há lugar), á época do nascimento do Salvador. Dizermos: “Ei Maria e José, voltem aqui! Há lugar para vocês no meu quarto”.
A lenda do quarto sábio - Segundo a lenda, o quarto sábio se perdeu pelo caminho e ele levaria pedras preciosas para Jesus, enquanto os outros três levaram ouro, incenso e mirra.
Enquanto procurava Jesus, deu um rubi para libertar uma criança que seria morta pelos soldados de Herodes.
 Viveu trinta anos numa comunidade de leprosos, onde cuidou de suas feridas e os ensinou a trabalhar.
 Já velho e doente, soube que Jesus estava em Jerusalém. Quando ali chegou encontrou o mestre sendo açoitado.
 Ele ainda tinha o tesouro maior para dar a Jesus – a pérola. Entretanto, logo entregou para os soldados e com ela compra a liberdade de uma jovem que estava sendo levada como escrava.
De longe, viu Jesus pregado na cruz. Momentos depois, o sábio está morrendo.
Em uma visão, para saciar sua sede, é Jesus mesmo quem está diante dele e lhe dá água.
Admirado, ele fala com Jesus, pede-lhe perdão por não ter mais bem nenhum para lhe oferecer. Jesus fala: “Já me deste os teus bens; quando fizeste a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizeste”.

O melhor presente de Natal
Dezembro chegou.
Árvores com bolas multicores aparecem,
Cartões são enviados,
Mensagens de paz proferidas.
Há uma decoração diferente;
nos lábios, a diferença de um sorriso.
Até a natureza parece se enfeitar,
Árvores têm folhas novas
a se adornar com seus frutos.
As vitrines estão decoradas
Expondo artigos de presente...
O natal está aí.
E o Cristo do Natal onde está?
Pastor Erivaldo Alves – IEBC (Cantata infantil) 18.12.2011)

*Pastor Erivaldo é da Academia Cabense de Letras.

UM NATAL FELIZ PARA TODOS




Desejamos aos nossos leitores e colaboradores um Natal Feliz, com muita luz e co muito amor. Sem o consumismo do papai noel, que todos possam festejar o aniversário de Jesus, que é, na verdade, o grande sentido do Natal. Que sejamos como o próprio Jesus, justo, fraterno, solidário e, acima de tudo, com imensa capacidade de amar. Amar de forma incondicional, lembrando que nossos gestos e ações são refletidas de volta para nós mesmos.

Que o Natal seja realmente motivo de felicidade para todos.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

IVAN MARINHO EM NAZARÉ



Ivan e um de seus quadros.


O artista plástico e poeta Ivan Marinho continua com Exposição na Igreja de Nazaré, no Cabo de Santo Agostinho. É uma oportunidade a mais para conhecer de perto os trabalhos de Ivan Marinho, um dos mais conceituados artistas no Estado de Pernambuco. A Exposição vai até o final de Janeiro.

Ivan Marinho , além de Artista Plástico, é Professor da rede pública, poeta e membro da Academia Cabense de Letras.

NÃO EXISTEM DOIS



Antonino Oliveira Júnior


Quando procuro teu cheiro
viajo no mar da insensatez...
toques suaves,
murmúrios,
minha pele recebe a tua,
respiração ofegante...
de quem?
quem respira?
a alma em festa...
que alma?
de quem?
reclamas que não me achas
e eu não mais te vejo...
onde estou?
onde estás?
existes? existo?
respiro o teu ar para viver,
bato dentro de ti para que vivas...

não nos achamos...

porque não somos mais dois.


*Antonino Oliveira Júnior é da Academia Cabense de Letras

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

À PROCURA DE UM AMIGO

Erivaldo Alves*


Amigo que me aceite com todos os meus defeitos

Amigo que saiba que muitas vezes eu me esforço muito para parecer melhor do que sou.

Amigo que aceite meu ser real

Amigo que me olhe como uma pessoa em recuperação

Amigo que saiba que o relacionamento se aprofunda quando eu sou real

Amigo que me aceite quando eu não estou fingindo

Amigo que me ajude a me tornar melhor do que eu sou normalmente

Amigo que não fique impressionado ao perceber que muito do que falo é preparado para mostrar como eu sou mais esperto, inteligente ou engraçado, muitas vezes à custa de outras pessoas.

Amigo que não se escandalize ao saber que não tenho certeza de que – se não fosse eu – eu gostaria de mim.

Amigo que saiba que quando eu estou com pessoas que me conhecem em profundidade e me aceitam plenamente, essa aceitação toca minha condição de decaído como o médico toca a ferida do corpo de um paciente.

Amigo que fique em silêncio ao meu lado quando eu estiver em desespero ou confusão.
Amigo que saiba toda verdade a meu respeito e mesmo assim me respeite.

Desconfio que esse amigo não me amaria se soubesse que eu sou “uma mercadoria com defeito”.

*Erivaldo Alves é Pastor da Igreja Batista da Cohab e membro da Academia Cabense de Letras.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

JANELA QUE DÁ PARA A PAIXÃO

Antonino Oliveira Júnior


Tão perto de mim estava você
olhei seus olhos, janela que dá para a paixão
respirei você e vivi
revivendo momentos...

avalanche de toques
e erupção de desejos...

Pela janela que dá para a paixão... os seus olhos.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

LUIZ NAVARRO - CIDADÃO CABENSE

Ator e teatrólogo Luiz Navarro.

Quarta-feira, 14 de dezembro, às 18:30 horas, acontece, na Câmara de Vereadores do Cabo, a entrega do Título de Cidadão Cabense a Luiz Navarro, ator e teatrólogo premiado em diversos festivais realizados em Pernambuco e fora do Estado.

Luiz Navarro, além de ator e teatrólogo, é membro da Academia Cabense de Letras. O título de Cidadão Cabense é concedido pela Câmara de Vereadores, que aprovou o Projeto do Vereador e Presidente da Câmara, Gessé Valério.

O NOVO CD DE LIMARCOS ESTÁ NA PRAÇA

VIVA A PAZ é o novo CD do cantor LIMARCOS. É um disco bem trabalhado e que conta com um bom e diversificado repertório, que inclui duas músicas do rei Roberto Carlos, "Meu querido, meu velho, meu amigo" e "Apocalipse" apresentadas com a marca da interpretação de Limarcos.

É um CD para ser curtido em casa com a família e amigos, escutando, dentre outras faixas muito boas, "Eu preciso de você", "Mãe, pedaço do céu", "Bem Aventurado", além de uma releitura do clássico "Animais Irracionais" da dupla Dom e Ravel, que fez sucesso na década de 70.

Apesar de cabense, LIMARCOS começou a acontecer no meio artístico quando circulou por muitos anos nos Estados do Pará e Maranhão. Hoje LIMARCOS está radicado em Salvador, Bahia, com uma agenda profissional que se divide entre apresentações em Bares, Restaurntes e Casas de Espetáculos.

Para contatar e contratar LIMARCOS: fones: (81) 3521 9863 / (71) 9243 2059
cantorlimarcos@hotmail.com

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A POESIA MARGINAL NO SEXTA DE LETRAS


Hoje, às 19 horas, na Câmara de Vereadores do Cabo, acontece a última edição do ano do Projeto Sexta de Letras, realização da Academia Cabense de Letras, com palestra do acadêmico e poeta Ivan Marinho, sobre a Poesia Marginal em Pernambuco.

Ma oportunidade, a Câmara de Vereadores concede o Título de Cidadão Cabense ao acadêmico Nelino Azevedo, Presidente da Academia Cabense de Letras.

PROJETO ALEGRES BANDOS

Bloco Flor de Eucalipto - foto: Jamerson Soares

Acontece neste sábado, das 16:30 às 19 horas, na Praça do Arsenal, a penúltima edição do Projeto Alegres Bandos - Encontro de Blocos, que desta vez homenageia o Bloco Flor de Eucalipto, da cidade de Moreno, fundado no ano 2000 e apresenta o tema "No carnaval, a alegria do amor da Colombina, Arlequim e Pierrô. O evento é grátis e conta com a participação do Coral Edgard Moraes e Orquestra do Maestro Beto do Bandolim.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

JOSÉ LINS DO REGO ( IV )

JOSÉ LINS DO REGO:

A DOCE AMARGURA DO FINAL DE UM CICLO

BANGUÊ: A ESTÉTICA DO OCASO

DOUGLAS MENEZES


O que se nota é que nem toda a dignidade do coronel José Paulino consegue trazer um fio de esperança para que algo de bom aconteça no ambiente do romance. O envelhecimento do modelo econômico é o envelhecimento do patriarca. Sua morte não possui a glória dos heróis que parecem morrer felizes. Ele, uma árvore desfolhada pelo tempo, fragilizada até a raiz, pois os seus não continuam sua obra. Os herdeiros representam o fracasso. O neto, pusilânime, não consegue dominar os miseráveis que o coronel conseguira trazer sob domínio, a flor e ferro. Árvore que cai, porque a raiz está apodrecida, carcomida pelo atraso.

Carlos Melo fracassa em tudo: na profissão, no amor, no comando do engenho. Mas ele é apenas a peça de uma engrenagem já enferrujada. O rolo compressor do novo momento econômico o arrasta, como a todos. É o progresso do subdesenvolvimento, onde a máquina que facilita a produção, aumenta a desigualdade entre os homens, concentra a riqueza e faz a vida mais sofrida, principalmente para os eternos párias do campo. Melhor ser escravo de Zé Paulino, a ser expulso de suas casas pela usina. Esta a lógica da inconsciente massa de camponeses do início do século vinte. Assim, o personagem- narrador de Banguê entrança-se no emaranhado de uma teia sem fim. Labirinto de saída inexistente. Resta a fuga. O desaparecer em busca de um lugar: o esquecimento.

Em Banguê, infeliz, sempre, o destino dos personagens verticais. Todos caminhando para o vazio.

E o romance, no final, atesta, de modo poético, que todos os personagens ou “viajam” para a morte, ou fogem a lugar nenhum. A síndrome apocalíptica de uma época atinge a todos, mesmo os que se beneficiam da derrocada dos outros. Exército de infelizes: ricos e pobres.

DOUGLAS MENEZES É FORMADO EM LETRAS PELA UNICAP E EM COMUNICAÇÃO SOCIAL PELA UFPE. PROFESSOR DAS REDES OFICIAL E PARTICULAR DE PERNAMBUCO. PÓS GRADUADO EM LITERATURA BRASILEIRA, PELA FAINTIVISA E EM LEITURA, COMPREENSÃO E PRODUÇÃO DE TEXTO PELA UFPE. É MEMBRO DA ACADEMIA CABENSE DE LETRAS.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

JOSÉ LINS DO REGO ( III )


JOSÉ LINS DO REGO:

A DOCE AMARGURA DO FINAL DE UM CICLO

BANGUÊ: A ESTÉTICA DO OCASO

DOUGLAS MENEZES


Há de observar-se no romance além do aspecto triste, o lado telúrico, inconfundível, e o colorido que dá movimento à tristeza da história, além de um brasileirismo calcado na paisagem canavieira, no monótono arrastado do carro-de-boi, no “banzo” presente em tudo. Isto fez o crítico Otto Maria Carpeaux afirmar: “José Lins é brasileiríssimo. Grande Literatura. São os seus romances um grande momento. Os historiadores do futuro aproveitar-se-ão desse documento para reconstruir todo um mundo. Essa obra não morre tão cedo. É eternamente triste como o povo. É o trovador trágico da província”.

O bafejo de morte que ronda o livro nos leva a um mundo que, ao contrário, é só vida. Isto porque o fatalismo ali encontrado nos remete à luta instintiva pela sobrevivência. Locomovem-se, os personagens, mesmo caminhando para um final anunciado, para um futuro de aniquilamento.

O que entendemos, então, é que a estética da decadência só foi possível ser evidenciada por conta da espontaneidade da linguagem, sem a qual o mundo expresso perderia sua autenticidade. Por isso, a obra de José Lins do Rego é vista como algo instintivo, natural, fluente, melancólico, triste, saudoso, passadista, poético. E Otto Maria, em um prefácio de Fogo Morto, vem colocar foros de verdade no que dissemos até agora: “A obra de José Lins é ele mesmo. É profundamente triste. É uma epopeia da tristeza, da tristeza da sua terra e da sua gente, da tristeza do Brasil. Na tremenda saúde física de José Lins do Rego há a consciência desesperada de todas as doenças possíveis e da morte certa. Há na sua obra a consciência de que tudo está condenado a adoecer, a morrer, a apodrecer. Há a certeza da decadência dos seus engenhos e dos seus avós, de toda essa gente que produziu, como último produto, o homem engraçado e triste que lhe erigiu o monumento. É grande Literatura”.

Um outro aspecto em Banguê, que facilita a compreensão da intencionalidade do autor em fixar o mundo decadente dos engenhos ou o fim desse mundo, é o fato do escritor ser um contador de histórias, um dos últimos. A linearidade de sua narrativa está em extinção. Hoje se busca um texto mais complexo e introspectivo. É como se o seu modo de contar morresse com os engenhos e a derrocada dos personagens.

A visão de decadência, no entanto, nos aparece nítida nos personagens marcantes no romance. É tese confirmada. São eles, os seres criados e evocados que completam o conjunto final de um ciclo. Em Banguê, dois deles sintetizam o tom sepulcral. A hora da morte, o lutar em vão pela continuidade do que está irremediavelmente perdido. José Paulino é o patriarca do final dos tempos. Os banguês tragados pelas usinas, mecanizadas, trazendo o progresso e o desemprego para milhares de camponeses semiescravos, mas, ainda assim, com seu pedaço de terra do engenho para plantar o que comer. Sintomático, logo no inicio da história, a constatação do personagem-narrador Carlos Melo, como uma cortina se abrindo, desnudando uma realidade sem fantasia, sem romantismo, doce amargura: “ O meu avô passava no quarto sem olhar. Na mesa não tinha mais aquela alegria de outrora. Falava da seca, do algodão em baixa, tudo o que não me interessava de perto”.

Deprimente Carlos Melo na confissão exageradamente humana. Poeticamente humana. Sensivelmente humana. Tão a gosto de José Lins do Rego: “ Ele era tudo para mim. Amava-o imensamente, sem ele saber. Via a sua caminhada para a morte, sentindo que todo o Santa Rosa desaparecia com ele”. E a frase que é uma sentença: “ Começava a sentir a decadência do meu avô”.

E como todas as histórias de fim de tempo, também essa traz reminiscências: “ Nos outros tempos, o velho José Paulino não parava, a gritar para todos os cantos. Montava a cavalo para ver o corte, gritava para os carreiros, para os maquinistas, mandava recados para o mestre de açúcar, para os caldeiros. Nada lhe parecia feito, tido ainda dependia de suas ordens. Comia depressa e saia para sua torre de comando, que estava em todos os lados do seu navio”.

E como os personagens de José Lins do Rego são fortes na incessante busca do passado! Na lembrança de que o bom já passou, recordando Chico Buarque no início de carreira. Um Realismo romântico.A evidência: hoje é o ruim, o pior está para acontecer. O progresso esmaga a esperança, e o refúgio é o pretérito recente, presente, como um passado atual. O neto que vai fracassar, e, num átimo, volta ao presente e pressente o início do fim: “Quando passava pela porta do meu quarto, eu sentia que com ele se ia todo o velho José Paulino. Tio Juca falhara, e os netos não davam para nada . E a morte rondava-lhe a cama de couro. Oitenta e seis anos já eram um fim de vida. Mas o via de longe, dormia a noite toda, acordava de madrugada, andava por toda a parte. Não me iludia, entretanto, com essa resistência. Um dia ou outro, cairia” (Banguê).

POLÍTICA PÚBLICA DE CULTURA


A Secretaria de Cultura do Cabo de Santo Agostinho convida artistas e produtores culturais para reunião plenária, nesta quinta-feira, às 19 horas, no Teatro Barreto Júnior, para escolha da representação do município no Forum Regional de Cultura da Região Metropolitana.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

JOSÉ LINS DO REGO ( II )




JOSÉ LINS DO REGO:

A DOCE AMARGURA DO FINAL DE UM CICLO

BANGUÊ: A ESTÉTICA DO OCASO

DOUGLAS MENEZES


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Mas inegável, também, é confirmar que O livro nos aproxima da visão de uma estética da decadência: Banguê. Nele, o tratamento dado é de uma linguagem que combina com a intenção maior: explicitar o momento decadente da zona canavieira nordestina. E mais ainda, vislumbrar a perplexidade do povo, vítima de uma fatalidade que dura séculos. Explica-se o fator econômico de forma extremamente literária. Literatura, nada mais que isso: entender a economia de uma região e de um ciclo de uma forma figurada, com personagens bem delineados, e alguns até com densidade psicológica. Injusto encontrar o autor nessa obra. A não ser no cenário vivenciado por ele na infância. Banguê éobra de ficção madura, sensível, dentro do espírito do Regionalismo Moderno, notadamente no discurso oral da linguagem, que nos aproxima da fala do homem comum. Olivro, uma música. A sinfonia do melancólico. Um canto que nos faz sentir o cheiro da cana, o doce do melaço, o gosto sensível dos frutos daqui. E que, ao mesmo tempo, nos traz o aroma de suor do pobre homem do eito.

O odor acre do sangue derramado, daqueles que fazem a riqueza dos outros e não têm nada. O perfume nauseabundo das crianças amarelas e famintas, sujas no corpo, exalando a diarreia que a fome e os vermes entranharam em suas vidas; elas limpas na alma, essas crianças, porém.

A verdade é que, em Banguê , a tristeza é a tônica. O autor, obcecado em fixar a decadência de um período, deu unidade temática aoromance. O desânimo contagia a obra. Desânimo intencional que não tira o vigor do livro. Os seres principais envolvidos no enredo evidenciam a postura ideológica de José Lins do Rego. , Carlos Melo, José Paulino, entre outros, são agentes sociais, são a fala do autor, são os pensamentos vivos de quem nasceu e viveu grande parte da existência naquele mundo regional, tão particular, mas, porque as dores do homem estão em todo canto, ao mesmo tempo universal. Miseráveis e injustiçados são vítimas em qualquer lugar do mundo.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

JOSÉ LINS EM CAPÍTULOS ( I )

JOSÉ LINS DO REGO:

A DOCE AMARGURA DO FINAL DE UM CICLO

BANGUÊ: A ESTÉTICA DO OCASO

DOUGLAS MENEZES

A linguagem telúrica, o conteúdo melancólico, a tristeza que paira em cada página que circunda os personagens,o apocalipse de um ciclo socioeconômico que aprofundou o capitalismo dependente do início do século vinte e aumentou a miséria do camponês, levando à falência centenas de senhores de engenhos na zona canavieira nordestina. Este o universo do escritor paraibano. Triste como o povo. Sofrido como o povo. Arte simbolizando decadência. A doce amargura do final de um período.

José Lins do Rego não só no enredo, mas na ênfase às paisagens, na formação dos personagens, buscou, na obra Banguê, evidenciar, em tudo, a dolorosa transformação das pequenas fábricas de açúcar em poderosas usinas, afirmando o capitalismo e tornando o povo mais miserável.

Analisar esse romance é também vislumbrar um painel histórico e viajar por uma época poética, fazendo-nos sentir o gosto do mel, o cheiro do açúcar, mesmo que esse cheiro e gosto sejam amargos para a gente sofrida, para aqueles que preferiam viver como escravos, porque as máquinas das usinas lhes tiraram tudo, até mesmo o “pirão” dado de esmola pelos donos de engenho.

Estudar a arte da decadência em Banguê,é fazer uma reflexão, que embora passadista, nos faz pensar no tempo de hoje. Tempo ainda escuro, injusto, concentrador de renda. Um tempo que precisamos contar e cantar com isenção, trazendo a marca de que ser omisso, é concordar com o sofrimento de uma gente que padece há mais de quinhentos anos.

Esse livro não vai morrer tão cedo, pois é vivo enquanto história e enquanto houver gente com fome. Nele, a beleza no aparente feio; a fealdade no belo apenas para os olhos.

A doce amargura do final de um ciclo. Juntos, em sua obra, a memória e a ficção. A conotação que serve à sociologia. A transfiguração do real é, na verdade, o suporte para que entendamos sua voz.

Entendamos essa realidade tão viva que ora é tratada como sociologia, ora é a mais pura ficção, cuja literariedade está, justamente, em tecer uma linguagem aproximada do tempo e espaço onde sua obra é produzida.

Injusto dizer do paraibano ser ele apenas um memorialista, um menino de engenho relaxado em relação ao ofício de ficcionista. Certo dizer que em sua obra a memória é constante. Em tudo o que se escreve há um pouco da vida do artista. Pode-se mesmo constatar: em seus livro há muito do que ele viveu, notadamente na infância.