sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

JANEIRO DE GRANDES ESPETÁCULOS 2010 PREMIADOS COM O TROFÉU APACEPE DE TEATRO E DANÇA




Na quarta-feira, 27 de janeiro, o salão de festas do Sesc de Santo Amaro superlotou com tantos artistas do teatro, da dança, da ópera e da música para a entrega do Prêmio APACEPE de Teatro e Dança, único voltado à produção profissional das artes cênicas no estado. Os troféus confeccionados pelo artista plástico Ricardo Cardeal foram entregues aos melhores do décimo-sexto projeto Janeiro de Grandes Espetáculos, com show de encerramento da cantora Gerlane Lops, em repertório animado marcado por sambas clássicos. A apresentação da festa ficou a cargo de intérpretes de produções premiadas na versão 2009: os bailarinos Mieja Chang (de “Coreológicas Recife”) e José W. Júnior (de “Imagens Não Explodidas”) e os atores Geysa Barlavento e Biagio Pecorelli (ambos do musical infanto-juvenil “Outra Vez, Era Uma Vez...”). A noite foi extremamente descontraída e, segundo uma unanimidade, com uma premiação bem rápida, afinal, todos queriam festejar com muita música e dança. Os atores Ivan Leite e José Brito, como o divertido casal Mateus e Catirina, animaram ainda mais o público presente, que pôde apreciar ainda uma ária da ópera “Dido e Eneas”, com a soprano Virgínia Cavalcanti acompanhada do pianista Manoel Theophilo, em homenagem a dois artistas falecidos, Hermógenes Araújo e Átila Araújo, e um número de dança de salão com os bailarinos Roberto Pereira & Giselly Andrade. Foi pura confraternização!

CURTAS & BOAS



INTERPOÉTICA INFORMA:

A TRANSPARÊNCIA DO TEMPO

A Transparência do Tempo, livro de poesia de Fábio Andrade será lançado no dia 30 de janeiro, às 17h, na galeria Arte Plural, Rua da Moeda, 140 - Bairro do Recife. Na ocasião os escritores Cristhiano Aguiar e Felipe Aguiar debaterão sobre o livro. Confira.

A SOLIDÃO É ESPAÇOSA

Lula Arraes fala do livro de contos e crônicas: A solidão é espaçosa - Editora Caliban, da escritora Inah Lins de Albuquerque, que vai ser lançado no dia 2 de fevereiro, às 19h, na Livraria Cultura - Paço Alfândega, Bairro do Recife.

SELETA DA LITERATURA VISCERAL DE LARA

O poeta Lara está disponibilizando on line seu último livro: Seleta Visceral. Trata-se de uma coletânea cuja seleção foi feita pelo próprio autor, a partir de textos já publicados em seus sete livros anteriores e inclui uma pequena novela finalizada recentemente e alguns trabalhos inéditos.

Estamos abrindo novamente o espaço da “corda virtual” para ser glosado o mote, de autoria do poeta e xilogravador, Marcelo Soares:
VI A PORTEIRA DO MUNDO
ENTRE AS PERNAS DA MULHER

www.interpoetica.com

A RUA E ELE



Douglas Menezes*

A cidade dorme com ele. A marquise é o teto que a vida negou. Nevoenta a madrugada cabense. A cidade, já cosmopolita, silencia junto à chuva fina. Tão silenciosa quanto as pessoas fechando os olhos e ouvidos para aquele corpo encolhido sob papelões rasgados. Rasgada a roupa. Rasgada a carne pela violência mal disfarçada. Ao lado, a garrafa alimentando a ilusão. Solvente, cola, sei lá o quê, entorpecendo o sofrimento. Talvez sonhe com uma coisa que não virá. Talvez sonhe com um futuro nunca a realizar-se. Talvez nem chegue ao presente, tirado da vida assim, ao acaso. Ou ao sabor da crueldade planejada.

Nem dez anos, ele. Tenra idade, maduro precocemente. Horas depois,a rotina. Zanzando, furtando, gritando, rindo, chorando, cantando, existindo e morrendo, quem sabe.

Nome não tem. Só apelidos, desde que surgiu no mundo. Ele não nasce, surge: ventola, maromba, pivete, cacimba, negão. Vez por outra, um gesto de compaixão: um pão mal-dormido, igual a ele. No mais, o ódio pela maldade plantada, latente. Não teve tempo de ser bom. O cotidiano impondo-se monótono, todo dia igual. Talvez uma arma na mão, posta como um amuleto às avessas, selando seu destino. A antítese matar ou morrer passaria a evidenciar os passos da sua vida.

Um leve movimento indica a manhã próxima. Sair cedo é preciso. A claridade um aviso, não muito tempo pode passar ali. A manhã chega. A existência dele,no entanto, é noite. Uma arma na mão, talvez. A perversidade que não pôde nunca expressar ternura.

A cidade acorda. É linda a cidade acordando, com os pregões e os operários barulhentos. Envergonha-me observar o pequeno corpo ainda estendido sob o cimento, seu lar. Daqui a pouco, escorraçado, aumentará a legião de miúdos viventes, invisíveis para uma sociedade que olha, mas, insensível e hipócrita, desumana até, insiste em não ver.

*Douglas Menezes é membro da Academia Cabense de Letras.
Junho de 2008 .

AMOR SEM ROMANCE (da peça "Coração Lilás)


Antonino Oliveira Júnior*

Eu nem abri meu coração
E você, lentamente,
foi transpondo tecidos,
músculos, células,
penetrando suave,
como suave é o ato de amar;
E aquietou meu coração arrítmico,
ditou seu compasso,
irrigou vasos,
liberou artérias
e concedeu vida à minh’alma;
Dois seres felizes,
prenhes de amor,
de um amor sem paixão,
de um amor sem romance,
de um amor que é só vida.

*Antonino Oliveira Júnior é membro da Academia Cabense de Letras

TÁ CHEGANDO O CARNAVAL - EVOÉ


DOMINGOS SÁVIO SERÁ HOMENAGEADO NO ENCONTRO DE BLOCOS

O maestro Domingos Sávio, do Coral e Orquestra Fantasia da Juventude Lírica, será um dos homenageados no Encontro de Blocos, que acontecerá no dia 31 de janeiro, domingo próximo, a partir das 16 horas, na rua da Aurora, em Recife. Os que reconhecem em omingos um defensor do autêntico carnaval pernambucanos, sem suingueiras e nem baianices, o parabenizam pelo reconhecimento dos recifenses.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

DITADURA


Natanael Júnior

VIVEMOS (ainda) SOB UMA

DITADURA

DURA VIDA

VIDA DURA...

BENDITA VIDA

VIDA BEM DITA

BEM DITA

BEM LIDA

VIDA.

TÁ CHEGANDO O CARNAVAL - EVOÉ



Acontece no próximo domingo, 31 de Janeiro, mais um Encontro de Blocos, na Rua da Aurora, em Recife. É uma oportunidade ímpar de ter contato com os Blocos Líricos de Recife e de ficar bem próximo e até participar das apresentações das agremiações que representam o carnaval romântico, que ainda faz chorar quando acaba o carnaval. É dia 31 de Janeiro, domingo, a partir das 16 horas, na Rua da Aurora, em Recife.

FRASES QUE CAMINHAM PELA CIDADE DO CABO DE SANTO AGOSTINHO

"Cidade de tantas Histórias e sem nenhuma prá contar" (Gabriel Dourado - Poeta, em 1960))

"A cidade está passando por uma profunda depressão cultural" (Antonino Oliveira Júnior - Escritor - 2007)

"No Cabo, a arte está morta" (Mestre Uruda - Artista Plástico / Ceramista - 2010)

UM ARTISTA PLURAL


Lula Côrtes

Lula Côrtes é único na força de suas canções, de suas poesias e de suas telas. Poeta, compositor e artista plástico, além de músico, é o que pode chamar de artista plural. Dono de uma visão pouco convencional do que seja o belo, é, na verdade, um artista que tudo tinha para ser mais um xodó das elites, no entanto, cheira a povo, porque transpira humildade e exercita diariamente uma profunda proximidade com a cultura popular. Roqueiro clássico, no sentido de primar pela qualidade, produz arte e cultura de forma contumaz. Como homenagem do Blog, postamos duas de suas belas canções:

A Força da canção
Lula Côrtes


Não deixe que o mundo malvado destrua
A força da sua mais nova canção
Que o monstro sedento lhe oprima e lhe assuste
Em seu desajuste, lhe roube a emoção
Não deixe que a dura visão do abandono
Lhe torne tão louco como um cão sem dono
Vagando na rua sem ser de ninguém
Que os galhos profundos dos golpes da vida
Lhe tomem, se tornem eternas feridas
De uma força maior que lhe afaste do bem
Porque a maldade, meu bem na verdade
É o puro retrato da realidade
Dos homens mais fracos que perdem a partida
Mais pelo contrário, reúna-se aos seus
Quando e se puder faça as pazes com Deus
Talvez uma luz lhe indique a saída.

Versos perversos
Lula Côrtes


Meus versos são frutos perversos
E que não brotam do nada
Ao contrário dessa coisa tão falada
Da inspiração que vem do espaço etéreo
Eu contestando esse argumento antigo
Digo acordado e assim sonhando, estigo
Versos são frutos com sabores sérios
Insônia, solidão, ou descontentamento
Versos são quase como um testamento
Deixados por homens sombrios

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A menina Clarice Lispector: erotização da infância


Por Ermelinda Ferreira

Você sabe que só relembrando de uma vez, com toda a violência, é que a gente termina o que a infância sofrida nos deu?
(Clarice Lispector )


Analisados conjuntamente, uma característica sobressai nos contos que tematizam Clarice Lispector quando menina, no livro Felicidade Clandestina: o erotismo. São quatro histórias de amor, ou de quase-amor, ou do amor como inevitável destino, vivenciadas em ansiosa expectativa por uma menina que mal pode esperar crescer, e que não se sente à vontade no corpo provisório de sua “interminável infância”, de sua “infância impossível”. “Nasci para amar os outros – diria ela –, para escrever e para criar meus filhos. O ‘amar os outros’ é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca”.

Escritas em primeira pessoa, neste que poderia ser considerado um dos livros de cunho mais autobiográfico da autora, as narrativas resgatam, de uma perspectiva memorialista da mulher adulta, a arguta ingenuidade de seus pensamentos e sentimentos aos oito e nove anos de idade, quando moradora da cidade do Recife, por cujas ruas perambulava, aos saltos, enchendo-as da memória da sua passagem. Esse material, buscado a uma época tenra de sua história pessoal, é utilizado para suas reflexões sobre a vida, a atividade literária e o exercício de um feminismo místico que se torna a marca de seu estilo.

Nascida em 10 de dezembro de 1920 em Tchetchelnik, uma aldeia na Ucrânia que não aparece no mapa, Clarice chegou ao Brasil com dois meses de idade, para morar em Alagoas, e depois em Pernambuco. Passou a infância em Recife, mudando-se com a família para o Rio de Janeiro em 1934. Em Recife, morou num pequeno sobrado na Praça Maciel Pinheiro, e fez o curso primário no grupo escolar João Barbalho. Aos sete anos aprendeu a ler e descobriu que os livros eram escritos por autores, fato espantoso para ela. Queria ser autora também e passou a escrever histórias ingênuas, que enviava para o Diário da Tarde. Havia prêmios para as melhores, mas Clarice nunca ganhou nada, talvez porque seus textos já focalizassem menos o enredo do que a reflexão. Aos nove anos escreveu uma peça de três atos, que não revelou a ninguém e por muito tempo guardou numa estante: “Era uma história de amor”, confessaria mais tarde. E lia muito. Também aos nove anos, perdeu a mãe. No mesmo ano, terminou o curso primário e entrou para o Ginásio Pernambucano. Foi aí que tomou consciência “de que estudava”.

Através da erotização de sua infância, Clarice fala de si mesma como de uma criança precoce, ansiosa para crescer e tomar posse de sua vida e dos segredos do mundo dos adultos. O erotismo também aparece nesses contos como um mecanismo compensatório das dificuldades enfrentadas pela família de imigrantes russos – o pai Pedro, a mãe Marian e as três filhas, Tânia, Elisa e Clarice – para sobreviver no novo país, resgatando a alegria que o termo “erótico” evoca, como impulso de vida, fecundidade e criação – elementos que a guiarão sempre – em oposição a tanatos, o impulso da morte, da esterilidade e da destruição.

A seguir, consideraremos os quatro contos - “Felicidade Clandestina”, “Restos do Carnaval”, “Cem Anos de Perdão” e “Os Desastres de Sofia” – analisando a perspectiva da infância erotizada.

FELICIDADE CLANDESTINA

O título do livro - Felicidade Clandestina - é sugestivo porque colhido de um relato, contido neste volume, que homenageia o pai da literatura infantil brasileira, Monteiro Lobato, de maneira entusiástica: através da paixão de uma menina (que se supõe ser a própria Clarice) pelo primeiro volume da série d’O Sítio do Picapau Amarelo: As Reinações de Narizinho. Provavelmente não foi casual a alusão a esta obra por Clarice, uma vez que ela centraliza a ação numa menina de sete anos, órfã – Lúcia, a “Narizinho” -, que é criada pela avó. A famosa Emília ainda aparece como boneca de pano, muda, que só ganhará voz e destaque ao longo do tempo. Os principais episódios de abertura da série dialogam com a temática clássica dos contos de fadas dirigidos sobretudo às meninas: a espera do príncipe encantado, que levará ao inevitável “final feliz” desse gênero de história: o casamento. Os principais eventos do livro de Lobato, portanto, são dois casamentos “arranjados”: o de Narizinho com o “Príncipe Escamado”, rei do maravilhoso Reino das Águas Claras, situado no ribeirãozinho do sítio; e o de Emília com o porco do quintal, o célebre “Marquês de Rabicó”. A fina ironia de Lobato com relação aos temas ligados à mulher, a irreverência com que sugere às meninas atitudes de independência e liberdade, bem como o senso profundamente crítico com que relê os textos dedicados à infância, não devem, certamente, ter escapado à percepção de Clarice. Um dos príncipes “encantados” aparece “escamado”, o outro é emporcalhado e indigno sequer da alcunha de “marquês”. Após o casamento, as meninas abandonam os “maridos” e seguem suas vidas. Emília cogita em “divórcio” ao longo da série, numa época em que o divórcio era proibido no Brasil, razão pela qual os livros de Lobato chegaram a ser queimados e proibidos nos colégios católicos para moças. A busca da verdade para além da convenção é uma constante na narrativa infantil de Lobato, e a marca de sua originalidade e pioneirismo na reformulação do gênero e na redefinição da imagem da criança na sociedade moderna, até então “esculpida” pelos textos moralistas, perpassados pelas noções de culpa e de castigo.

O enredo de Clarice é muito simples. Uma menina deseja ler o livro de Lobato, sensualmente descrito como “um livro grosso, meu Deus, para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o”. O livro pertence a uma colega, cujo pai é dono de uma livraria. Essa garota tiraniza a amiguinha longamente, criando uma expectativa nunca satisfeita de empréstimo, e estabelecendo uma relação cruel de dependência que só terminará quando sua mãe descobrir o fato e entregar o livro à menina desesperada, que todos os dias “batia à sua porta, exausta, ao vento das ruas de Recife”. Desde o início, porém, o relato ressalta as características físicas das meninas, valorizando o estereótipo da “bonitinha, esguia, altinha, loura e de cabelos livres”, que provocava a inveja da “gorda, baixa, sardenta e de cabelos crespos”, que se vingava impondo à outra o suplício da esperança. A rivalidade que se estabelece entre ambas aproxima-se, assim, de uma disputa pelo ser amado, objeto do amor real de uma, e da simples posse interesseira de outra, que culmina com a revelação da alegoria, quando da descrição da “felicidade clandestina” da criança que obtém o objeto amado: “Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante”.

RESTOS DE CARNAVAL

Em “Restos do Carnaval” o procedimento narrativo é o mesmo: a escritora adulta rememora um episódio da sua infância passada nas ruas e praças de Recife, que encontravam “sua razão de ser” no Carnaval. O episódio tem uma carga emocional muito forte, porque expressa o conflito vivido pela menina pequena, cercada pela alegria da festa alheia, a festa de rua, a festa de todos, a festa em si mesma, e o peso de um drama familiar, nota destoante de uma tragédia íntima, ameaçadora e terrível para qualquer criança: a doença da mãe, que piora nesta data, e que depois viria a falecer. O contraste é gritante, e aparece até no título: “restos”. Restos de um carnaval que, por qualquer motivo, a escritora relembra como “as quartas-feiras de cinzas nas ruas mortas onde esvoaçavam despojos de serpentina e confete”, e que vem a se tornar alegoria de outras situações semelhantes na vida, quando a própria vida em festa parece rir, cruelmente, do seu luto pessoal.
A história, porém, não ocorre numa quarta-feira. O carnaval está apenas começando, e a menina - cujas dificuldades financeiras são sempre enfatizadas, pelo aprendizado da privação e da conformação a que a obriga desde cedo -, acaba de ganhar uma fantasia de Rosa, dos restos da fantasia de uma amiguinha. Toda a dor que a autora adulta revela pela consciência do contraste irônico da situação, para ela imperdoável (“Muitas coisas que me aconteceram tão piores que esta, eu já perdoei. No entanto esta não posso sequer entender agora: o jogo de dados de um destino é irracional? É impiedoso”), inexiste na atitude da criança descrita. Completamente alheia, ou alheando-se inconscientemente do seu drama pessoal, a menina não pensa na mãe a sofrer. Não pensa na morte que se aproxima, e a agitação da família em torno da mãe doente é ignorada em função da fantasia. A fantasia real, a roupa de papel crepom cor-de-rosa, que pretendia imitar as pétalas de uma flor; e a fantasia abstrata, a realização de um sonho: “pela primeira vez na vida eu teria o que sempre quisera: ia ser outra que não eu mesma”, que revela o desejo de fuga daquela situação angustiante demais para ser apreendida pela criança, e talvez da própria vida real, sentida em seu limite e estreiteza.

O clímax do conto acontece em meio à agitação da menina que, preparada para a festa, é enviada depressa à farmácia para comprar remédio para a mãe, que sofre uma súbita piora. Ela vai, correndo, mas acompanhada de muda revolta e indignação pela coincidência da tragédia que se atravessa no caminho da sua alegria, sentimentos que perduram para além da infância, sobrevivendo no espírito da mulher adulta que relembra o fato. Nenhuma palavra de simpatia, preocupação ou dor é proferida com relação à mãe, nem mesmo pela adulta que a rememora. Clarice menciona apenas a lembrança de algum remorso da menina pela sua “fome de êxtase”, que ameaçava voltar em meio à festa da qual se sentia impedida de participar. De maneira algo egoísta, o que dói é a quebra da magia da criança, que começava a se acreditar uma Rosa, satisfazendo seu “sonho intenso de ser uma moça”. O que dói é a súbita deserotização da menina, que finalmente teria realizado o seu sonho de transformação em mulher, com a inesperada roupa que completaria a pintura forte nos lábios, o ruge nas faces e os cabelos frisados pela irmã, a seu pedido, nos outros Carnavais. O que dói, e o que a faz relembrar este episódio, é o desencanto vivido: “não era mais uma Rosa, era um palhaço pensativo de lábios encarnados”.

O “final feliz” surge como um anti-clímax, aí colocado para impedir, talvez, que a condenação da mãe doente pela criança frustrada em seus desejos apareça como o único desfecho cruel dessa história. Daí a menção ao menino de doze anos, que cobre de confete os cabelos “já lisos” da menina, fazendo-a sentir-se, por um instante neste dia horrível, uma “mulherzinha” de oito anos: uma Rosa.

CEM ANOS DE PERDÃO


Quem me amasse, assim eu curaria quem sofresse de mim.

Neste breve conto, também passado nas ruas de Recife, Clarice Lispector aborda novamente o tema da rosa, que lhe é tão caro. Rosa é um anagrama de Eros, o deus do amor, e essa flor tem sido consagrada às Deusas do Amor desde a Antigüidade. Também é curioso observar que o termo sub rosa, para os ocultistas, significa “algo feito em segredo”. A expressão “sob o signo da rosa” tem um sentido bastante específico para os iniciados nas doutrinas esotéricas. Para eles, o segredo é a Rosa – a rosa vermelha da outra Maria, não a mãe, mas a esposa; a Maria que representa Eros, o aspecto nupcial apaixonado do feminino que foi negado pela Igreja Católica. Os rosa-cruzes, cuja sociedade secreta proliferou durante o século XVII, mas que provavelmente se originou muito tempo antes, usavam o símbolo da cruz com a rosa no centro, cujo real significado só era conhecido por um pequeno grupo. Essa não era a cruz ortodoxa de Pedro e Jesus, que foi repudiada pelos hereges como um impiedoso instrumento de tortura. A sua cruz era o X vermelho da iluminação verdadeira, símbolo de lux ou “luz”. E lux está contido em “luxúria”, um dos pecados capitais condenados pela Igreja. Para os hereges dos primeiros tempos do catolicismo, a negação e a repressão do feminino haviam deformado a sociedade, privando-a de sua alegria e independência. Desde então, o trabalho de muitos artistas e intelectuais iniciados voltou-se para o uso de uma simbologia oculta, na tentativa de devolver a Mulher, o feminino esquecido, à consciência da sociedade.

A história de Clarice situa a menina, mais uma vez, num ambiente de contraste entre um mundo de sonho, ao qual pertencem os outros, e um mundo de privações, que é o seu. Se em “Felicidade Clandestina” ela fala da dificuldade de comprar livros e em “Restos de Carnaval” da dificuldade de ter uma fantasia – o que, afinal, é quase a mesma coisa -, em “Cem anos de perdão” ela fala de outra fantasia, tornada talvez realidade, e cuja satisfação da conquista se assemelha a uma visita aos bairros ricos da cidade, diferentes do seu, onde em vez de sobrados simples como aquele em que mora há imponentes palacetes cercados de pomares e jardins, que despertam a sua admiração e cobiça.

O relato memorialístico lembra a menina Clarice, com uma amiguinha, olhando “com a cara imprensada nas grades”, estrangeiras e ávidas, o mundo de beleza e fartura que lhes é vedado, do qual se sentem exiladas e no qual são, efetivamente, proibidas de entrar. O enredo se desenvolve em torno dos cálculos da menina para roubar uma rosa de um jardim. O objeto do roubo é tão pequeno para a importância que lhe dá a autora, que chega a produzir uma suspeita no leitor. Ao contrário dos demais contos, nos quais ela implora a outros a satisfação de seus desejos, ou cede à frustração dos mesmos, neste conto ela não espera nem se conforma, ao contrário, tece os seus ardis e vai em busca daquilo que deseja, sem se importar com as conseqüências. É como se toda aquela exuberância e alegria alheias pudessem ser experimentadas por vias sorrateiras, ilegais, mas tão legítimas quanto quaisquer outras.

Uma carga simbólica fortemente erótica envolve todo o relato desta mulher, cujo nome, Lispector – literalmente “flor-de-lis no peito” –, evoca o lírio, outra flor mística que na tradição bíblica é símbolo da eleição do ser amado, como aparece no Cântico dos Cânticos, e na tradição heráldica representa a flor de glória, fonte de fecundidade. A brancura do lírio, símbolo de pureza, inocência e virgindade, contrapõe-se ao vermelho da rosa, que na iconografia cristã é a taça que recolhe o sangue de Cristo, ou a transfiguração das gotas desse sangue, ou o signo das chagas de Cristo. Por sua relação com o sangue derramado, a rosa parece ser freqüentemente o símbolo de um renascimento místico através do amor. Curiosamente, Clarice cria uma alcunha para si que ultrapassa a “marca” de pureza atávica impressa em seu sobrenome: Rosa.

OS DESASTRES DE SOFIA

Eu daria tudo o que era meu por nada, mas queria que tudo me fosse dado por nada.
Fechando a série da nossa seleção de quatro narrativas autobiográficas, este longo conto também alude, como o primeiro, a um livro infantil: Os Desastres de Sofia, da Condessa de Ségur, grande sucesso na França e no Brasil até meados do século XX. Também neste caso a alusão não parece ser gratuita. Muitos elementos neste livro são de importância fulcral para a autora. O nome da menina, por exemplo, que significa “sabedoria”, entra em choque com a sua atuação dita “desastrosa” no mundo, narrada sob a forma de episódios onde a efabulação conduz a uma inevitável “moral da história”, de cunho fortemente religioso e repressor. Expressa por um adulto - em geral a mãe, que ocupa o lugar da educadora –, esses ensinamentos direcionam-se sempre ao julgamento e à condenação dos atos da criança, desfiando os itens de uma cartilha de normas sobre a formação de uma “menina exemplar”. As meninas exemplares é, aliás, o título do segundo volume da “edificante” série desta autora, um gênero que durante décadas foi considerado de eleição para a leitura do público infantil. Neste livro, reforça-se o contraste do comportamento de duas irmãs “perfeitas”, Camila e Madalena, e da “pobre Sofia”, agora órfã de mãe – como a menina Clarice –, que após um breve período de castigos e sofrimentos atrozes com a madrasta, passa a viver com uma nova família, a fim de continuar o seu aprendizado para a vida.

Numa pedagogia que se pretende moderna e menos repressora, a Condessa sublima a agressão física, descrevendo técnicas variadas de tortura psicológica para refrear os impulsos indesejados das crianças. Os livros deixam clara a noção de treinamento: a literatura infantil deveria ser um aliado importante na árdua tarefa da família e da escola de criar o adulto ideal, obedecendo a parâmetros pré-estabelecidos. Assim, o leitor da obra da Condessa de Ségur poderá acompanhar a transformação da alegre e irreverente Sofia, uma menina interessante e curiosa, cheia de vida e de idéias, numa pálida versão de si mesma, irreconhecível na criaturinha tímida e oprimida, silenciosa e submissa que aparece, em papel exemplarmente secundário, no terceiro volume da série, As Férias.

No livro resgatado por Clarice, portanto, a pequena Sofia tem inacreditáveis três anos de idade para a severidade do exercício de doutrinamento ao qual é submetida, e que deve ter atingido a jovem leitora Clarice de perto, pois menciona questões que lhe são pessoalmente caras. Como a vaidade da menina, por exemplo. Num dos episódios que começa, como os demais, definindo o “pecado” de Sofia que se vai procurar corrigir – “Sofia era vaidosinha. Gostava de estar sempre bem arrumada e de que a achassem bonita. No entanto, ela não era bonita.” -, a Condessa narra a admiração de Sofia pelos cabelos cacheados. Como vimos, esse também era um tópico importantíssimo para a menina Clarice, cujos cabelos irremediavelmente lisos causavam-lhe tristeza. Como diz, no conto “Os desastres de Sofia”: “Suportando com desenvolta amargura as minhas pernas compridas e os sapatos sempre cambaios, humilhada por não ser uma flor, e sobretudo, torturada por uma infância enorme que eu temia nunca chegar a um fim – sacudia com altivez a minha única riqueza: os cabelos escorridos que eu planejava ficarem um dia bonitos com permanente e que por conta do futuro eu já exercitava sacudindo-os”.

No livro da Condessa, a condenação de Sofia por haver molhado os cabelos na chuva para encrespá-los vem sob a forma de um castigo humilhante. A mãe a expõe, deliberadamente, ao riso e às pilhérias dos outros, obrigando-a a comparecer ao jantar toda suja e molhada. O resultado é sempre definido numa frase de arremate, onde a Condessa resume o sucesso do seu método educacional: “Desde esse dia Sofia nunca mais se expôs à chuva para encrespar o cabelo”. Em outros episódios: “Nunca mais procurou fazer nada para ficar com sobrancelhas bonitas”; “Nunca mais foi aonde não devia ir”; “Nunca mais disse o que não devia dizer”; “Nunca mais fez o que não devia fazer”. Assistimos, assim, à paulatina destruição da auto-estima da criança, à amputação do seu intelecto, ao cerceamento da sua criatividade e ao encaminhamento de sua história para um fim previsível e insípido, onde a “sabedoria” impressa no nome da menina é associada à mera habilidade de repetir as regras ditadas, obedecendo-as para corresponder às expectativas dos adultos.

Em seu estudo Literatura Infantil –Teoria, Análise, Didática, Nelly Novaes Coelho discute a radical mudança dos valores tradicionais da sociedade, ocorrida no século XX, e determina quais os principais aspectos temáticos e formais que diferenciam as literaturas destinadas ao público infantojuvenil de ontem e de hoje. No quadro abaixo transcrito, ela oferece um resumo das características dos dois paradigmas de representação da criança vigentes nas obras para e/ou sobre a infância, que podem ser úteis para analisarmos os seus princípios nas autoras aqui consideradas:

Última semana do XVI Janeiro de Grandes Espetáculos

SEGUNDA-FEIRA COM DEBATE E LEITURA

Debate sobre as atrações de dança do evento (5 Minutos Para Blackout, De Dentro, Leve, Por Um Fio Em Lã e Sobre Um Paroquiano), às 19h, no Espaço Compassos (Rua da Moeda, 93, 1° Andar – Bairro do Recife), com participação da pesquisadora Roberta Ramos e do bailarino Marco Bonachela. A mediação é do jornalista Marcelo Sena. Entrada franca.

Também às 19h, no Teatro Apolo (tel. 3232 2028), acontece a leitura dramática da tragédia grega “As Troianas”, de Eurípedes, com o Grupo Magiluth, sob direção de Marcus Rodrigues. Entrada a R$ 1 (hum real).

TERÇA-FEIRA PUNK

O Coletivo Dois Contemporâneo (MG), apresenta às 20h, no Teatro Armazém (Bairro do Recife), ao preço de R$ 5 (valor único promocional), “Meu Grito de Dor”, montagem em dança-teatro com cenas de sadomasoquismo, tortura e violência. Espetáculo indicado para maiores de 18 anos.

QUARTA-FEIRA DE FESTA

A entrega do Troféu APACEPE de Teatro e Dança aos melhores do projeto JGE acontece no Sesc de Santo Amaro, às 19h, em meio a uma festa de confraternização. O ator José Brito no papel da divertida Catirina, os dançarinos de salão Giselly Andrade & Roberto Pereira e a cantora lírica Virgínia Cavalcanti são as atrações convidadas, com show de encerramento da sambista Gerlane Lops. Entrada franca para os artistas participantes do evento e R$ 5 para o público em geral. Informações: 3082 2830.

QUINTA-FEIRA INTERNACIONAL

Atração de Portugal, “A Visita”, da companhia Teatro Invisível, é um solo do ator português Pedro Giestas, com apresentação nesta quinta e sexta, às 20h, no Teatro Marco Camarotti (Sesc de Santo Amaro) e ingressos a R$ 20 e R$ 10. Texto e direção de Moncho Rodriguez.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

OROPA, FRANÇA E BAHIA


ASCENSO FERREIRA

"Oropa, França e Bahia"

(Romance)

Para os 3 Manuéis:
Manuel Bandeira
Manuel de Souza Barros
Manuel Gomes Maranhão


Num sobradão arruinado,
Tristonho, mal-assombrado,
Que dava fundos prá terra.
( "para ver marujos,
Ttituliluliu!
ao desembarcar").

...Morava Manuel Furtado,
português apatacado,
com Maria de Alencar!

Maria, era uma cafuza,
cheia de grandes feitiços.
Ah! os seus braços roliços!
Ah! os seus peitos maciços!
Faziam Manuel babar...

A vida de Manuel,
qque louco alguém o dizia,
era vigiar das janelas
toda noite e todo o dia,
as naus que ao longe passavam,
de "Oropa, França e Bahia"!

— Me dá uma nau daquelas,
lhe suplicava Maria.
— Estás idiota , Maria.
Essas naus foram vintena
Que eu herdei da minha tia!
Por todo o ouro do mundo
eu jamais a trocaria!

Dou-te tudo que quiseres:
Dou-te xale de Tonquim!
Dou-te uma saia bordada!
Dou-te leques de marfim!
Queijos da Serra Estrela,
perfumes de benjoim...

Nada.
A mulata só queria
que seu Manuel lhe desse
uma nauzinha daquelas,
inda a mais pichititinha,
prá ela ir ver essas terras
"De Oropa, França e Bahia"...

— Ó Maria, hoje nós temos
vinhos da quinta do Aguirre,
uma queijadas de Sintra,
só prá tu te distraire
desse pensamento ruim...
— Seu Manuel, isso é besteira!
Eu prefiro macaxeira
com galinha de oxinxim!

"Ó lua que alumias
esse mundo de meu Deus,
alumia a mim também
que ando fora dos meus..."
Cantava Seu Manuel
espantando os males seus.

"Eu sou mulata dengosa,
linda, faceira, mimosa,
qual outras brancas não são"...
Cantava forte Maria,
pisando fubá de milho,
lentamente no pilão...

Uma noite de luar,
que estava mesmo taful,
mais de 400 naus,
surgiram vindas do Sul...
— Ah! Seu Manuel, isso chega...
Danou-se de escada abaixo,
se atirou no mar azul.

— "Onde vais mulhé?"
— Vou me daná no carrosé!
— Tu não vais, mulhé,
— mulhé, você não vai lá..."

Maria atirou-se n´água,
Seu Manuel seguiu atrás...
— Quero a mais pichititinha!
— Raios te partam, Maria!
Essas naus são meus tesouros,
ganhou-as matando mouros
o marido da minha tia !
Vêm dos confins do mundo...
De "Oropa, França e Bahia"!

Nadavam de mar em fora...
(Manuel atrás de Maria!)
Passou-se uma hora, outra hora,
e as naus nenhum atingia...
Faz-se um silêncio nas águas,
cadê Manuel e Maria?!

De madrugada, na praia,
dois corpos o mar lambia...
Seu Manuel era um "Boi Morto",
Maria, uma "Cotovia"!

E as naus de Manuel Furtado,
herança de sua tia?

— continuam mar em fora,
navegando noite e dia...
Caminham para "Pasárgada",
para o reino da Poesia!
Herdou-as Manuel Bandeira,
que, ante a minha choradeira,
me deu a menor que havia!

— As eternas naus do Sonho,
de "Oropa, França e Bahia"...

O CARNAVAL ESTÁ CHEGANDO - EVOÉ


GETÚLIO CAVALCANTI

ÚLTIMO REGRESSO

Composição: Getúlio Cavalcanti

Falam tanto que meu bloco está,
dando adeus pra nunca mais sair.
E depois que ele desfilar,
do seu povo vai se despedir.

Do regresso de não mais voltar,
suas pastoras vão pedir:
Não deixem não, que o bloco campeão,
guarde no peito a dor de não cantar.
Um bloco a mais é um sonho que se faz
o pastoril da vida singular.

É lindo ver ver o dia amanhecer,
ouvir ao longe pastorinhas mil,
dizendo bem, que o Recife tem,
o carnaval melhor do meu Brasil

O BICHO


Manuel Bandeira

VI ONTEM um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

COMPUTADORES A LENHA, CHIPS A VAPOR

Malungo

Mãos analfabetas folheiam cordéis digitais.
Paralíticos binários dançam cirandas ancestrais.
Os alto-falantes vomitam os sons dos sintéticos
baiões.
Um bando alienando o povo com seus forrós
charlatões.

Neurônios, fios e tomadas.
Circuitos e impulsos nos pés
Dançando um maracatu elétrico.
Das mãos saem faíscas;
Palmas pro coco de roda!

Um pensamento plugado na eletrosfera
E um cérebro iluminando quarteirões.

DEUS-VERME


Augusto dos Anjos

O DEUS-VERME

Factor universal do transformismo.
Filho da teleológica matéria,
Na superabundância ou na miséria,
Verme - é o seu nome obscuro de batismo.

Jamais emprega o acérrimo exorcismo
Em sua diária ocupação fúnerea,
E vive em contubérnio com a bactéria,
Livre das roupas do antropomorfismo.

Almoça a podridão das drupas agras,
Janta hidrópicos, rói vísceras magras
E dos defuntos novos incha a mão...

Ah! Para ele é que a carne podre fica,
E no inventário da matéria rica
Cabe aos seus filhos a maior porção!

VOZ POR TODA PARTE

Natanael Lima Jr.

um acordo fiz contra o acordo:
sangrar de vez a voz
e ser grito e lábios eternamente.

um acordo fiz contra o acordo:
ter palavras qual extensão da vida
e ser olhos, mãos e alma.

um acordo fiz contra o acordo:
jamais limitar o sonho
e viver até desflorescer.

um acordo fiz contra o acordo:
jamais ressuscitar a dor,
ser amor permanente
e voz por toda parte.


*Natanael Lima Jr. é membro da Academia Cabense de Letras

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

ACTA A TODO VAPOR



A ACTA - Associação Cabense de Teatro Amador, continua a todo vapor, no processo de revitalização e anuncia para o dia 26 de janeiro, às 19 horas, a primeira reunião do ano, estando na pauta, dentre outros assuntos, a XV MOCASPE. Lugar de ator é na ACTA. Participe.

PONTO DE CULTURA BACAMARTE: TIRO DA PAZ


OFICINA DE XAXADO

Dia 23 de Janeiro, sábado, a partir das 9 horas da manhã, Oficina de Xaxado, grátis, promovida pelo Ponto de Cultura Bacamarte: Tiro da Paz, em convênio com a Fundarpe. O Ponto de Cultura é coordenado pelo poeta e artista plástico Ivan Marinho, que também integra o grupo de Bacamarteiros do Cabo de Santo Agostinho.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

FANTASIA DA JUVENTUDE LÍRICA


O Coral e Orquestra Fantasia da Juventude Lírica já está em fase de ensaio geral. Coordenado e liderado pelo professor e maestro Domingos Sávio, o grupo, nascido no Cabo de Santo Agostinho é, hoje, um nome bastante requisitado por Blocos de Recife e para apresentações em focos de animação do carnaval de Pernambuco.

TÁ CHEGANDO O CARNAVAL - EVOÉ


Dia 31 de Janeiro acontece o tradicional Encontro de Blocos, na Rua da Aurora, em Recife. É simplesmente espetacular este evento que leva os presentes a se deliciarem com o carnaval romântico dos Blocos Líricos. Vale a pena chegar, no final da tarde e entrar pela noite, curtindo os mais belos frevos-de-blocos. É uma viagem ao mundo do carnaval romântico. Vale a pena conferir.

DIVERSIDADE MUSICAL DE PERNAMBUCO


Canto Reggae é uma banda Pernambucana que emite som de raiz. Com uma equipe forte e focada em fazer o melhor reggae, ela vem se destacando há mais de sete anos no cenário plural de Recife. A banda nasceu de uma conversa de dois músicos da Cidade do Cabo de Santo Agostinho, litoral sul de Pernambuco. Oberdan, que veio da MPB dos bares e das noites e Moares, que veio do Rock da banda ELITE NA MIRA. Resolveram formar uma banda de reggae que até então era novidade em Cabo de Santo Agostinho.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

PARA NÃO NOS ESQUECERMOS

Douglas Menezes

Na década de oitenta do século passado, um grupo de jovens aqui do cabo de Santo Agostinho fundou um folheto poético chamado “Para não nos Esquecermos”. Natanael Júnior, Paulo Cultura, de saudosa memória, Antonino Júnior, Frederico Menezes, Gerson Santos, Jeová, entre outros, faziam parte desse trabalho, cuja tentativa maior era resgatar o fazer poético da cidade de Santo Agostinho e avivar a memória dos cabenses para a necessidade de se perpetuar o bem imaterial do município através da arte. Foi uma angustiante busca de se produzir uma “Cantiga para não morrer”, como bem diz o grande poeta Ferreira Gullar. E embora de vida efêmera, a publicação foi um grito, uma chamada de atenção, um incentivo para que não deixássemos de falar, de ter voz, de mostrar à ditadura, principalmente a nível da cidade, que nós estávamos vivos, que tínhamos corações e mentes e, sobretudo, sensibilidade.

Fazíamos parte do grupo e não lembramos bem quem colocou o título tão sugestivo. O certo é que, a partir daquela edição, alguns companheiros não pararam mais de produzir literatura, embora uns tivessem feito um hiato e depois retornado à produção. Parte deles lançou livros, que hoje são antológicos dentro do fazer literário da cidade do Cabo. Natanael Júnior conseguiu a façanha de publicar um livro pelas Edições Piratas, um dos movimentos mais significativos do século vinte na cultura pernambucana. Podemos mesmo dizer que a década de oitenta fez surgir boa parte da hoje Academia Cabense de Letras. Aqueles sonhadores não pleiteavam fama, glória literária, mas apenas um espaço para poder cantar o que a alma implorava.E lembremos: isto ainda na ditadura militar, onde a liberdade de expressão se mantinha cerceada.

Aqueles jovens escritores confirmaram, também, a visão de que se podia fazer cultura sem a tutela do poder público, à época, como hoje, insensível aos bens imateriais de uma comunidade. Mostraram que é possível dizer “as coisas” sem o carimbo oficial” que, muitas vezes, tiram a chance do artista ser realmente livre para realizar seu trabalho. Sua arte sobrevivia da necessidade de produzir esteticamente e de fazer história,deixando claro que a cidade é o povo, com o seu cotidiano sofrido, com sua tradição natural. As pessoas simples é que fazem a historiografia de um lugar, pois o poder é passageiro e muitos dos governantes são jogados apenas no lixo dos anos que se passam.

“Para não nos Esquecermos” teve vida curta, foi sucedido pelo bem mais elaborado “Sol de Versos”, mas, embora quase esquecido, deixou semente e marcou nossa existência. Guardamos suas edições como a um tesouro que não tem preço. Em seu último e eterno número a frase emblemática, que resume o espírito romântico, rebelde, histórico e identificador com a cidade: “Tem Arte e Artistas nas Ladeiras do Cabo de Santo Agostinho”.Lição que os novos deveriam assimilar, pois assusta como, a passos largos, perdemos a identidade e o humanismo. Tornamo-nos cosmopolitas e ricos economicamente, mas estamos esquecendo de beber a água da fonte da espiritualidade que é a cultura. E antes que seja muito tarde, façamos o retorno sem deixar de avançar. Toquemos o presente buscando inspiração no passado “para não nos esquecermos”.

- JANEIRO DE 2010

*DOUGLAS MENEZES é membro da Academia Cabense de Letras

BICHO DE LIXO


Antonino Oliveira Júnior

Passa o ônibus,
passa a moto,
passa o carro;
Levanta o vidro,
põe o capacete,
liga o ar...
Ninguém aguenta
da sociedade o escarro
que fede,
que tem doenças,
que tá podre,
que faz podre;
Tem urubu, tem cachorro,
tem o outro
que fala, que chora,
que sente...

Acelera...tá na hora...
Na Igreja
quero a hóstia, quero o pão,
quero a bênção
do Pai que padece,
do Pai que é pai
de todos nós, de todos nós, de todos nós...
de todos nós?!?

Então, para o carro,
desce o vidro, estende a mão
e não ignora
que é teu irmão
que tá no lixo,
feito bicho!!!

Amém! Aleluia! Que assim seja!


*Antonino Oliveira Junior é membro da Academia Cabense de Letras

SOLANO TRINDADE



TEM GENTE COM FOME
Solano Trindade


Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome...

Piiiii!

Estação de Caxias
de novo a dizer
de novo a correr
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Vigário Geral
Lucas, Cordovil,
Brás de Pina,
Penha Circular
Estação da Penha,
Olaria,
Ramos,
Bonsucesso,
Carlos Chagas,
Triagem, Mauá,
trem sujo da Leopoldina,
correndo correndo,
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Tantas caras tristes
querendo chegar,
em algum destino,
em algum lugar...

Trem sujo da Leopoldina,
correndo correndo,
parece dizer:
tem gente com fome,
tem gente com fome,
tem gente com fome.

Só nas estações,
quando vai parando,
lentamente,
começa a dizer:
se tem gente com fome,
dai de comer...
se tem gente com fome,
dai de comer...
se tem gente com fome,
dai de comer...

Mas o freio de ar,
todo autoritário,
manda o trem calar
Psiuuuuuuuuu.......

CURTAS E BOAS

Neste domingo, às 11h, tem debate sobre alguns dos espetáculos locais da programação no Espaço Cultural Fiandeiros (Rua da Matriz, 46, 1º Andar, na rua lateral da Igreja da Boa Vista, perto da praça Maciel Pinheiro, num prédio azul). Serão analisadas as peças Greta Garbo Quem Diria..., Histórias de Além-Mar, Pinóquio e Suas Desventuras e PLAYDOG. Mediação: Leidson Ferraz. Debatedores: Luís Reis e Fernando Limoeiro (MG). INICIATIVA INÉDITA.

Na próxima segunda, às 19h, no Teatro Apolo, acontecerá a leitura dramática de “Prometeu Acorrentado”, do dramaturgo grego Ésquilo, com direção de Samuel Santos e elenco do Grupo Teatral Quadro de Cena. Ingresso: R$ 1 (hum real).

Tudo isso acontece por conta do JANEIRO DE GRANDES ESPETÁCULOS.

PONTO DE CULTURA



Oficina de Xaxado, grátis, no Ponto de Cultura Bacamarteiros Tiro da Paz, coordenado pelo artista plástico e poeta Ivan Marinho, em convênio com a Fundarpe. A Oficina acontece neste dia 17 de janeiro, 9 horas da manhã, no Teatro Barreto Júnior, Cabo de Santo Agostinho.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

POETAS HOMENAGEIAM FREI CANECA



O Frei Joaquim do Amor Divino, conhecido como Frei Caneca, um dos heróis da Revolução de 1817, é homenageado hoje em Recife, no Museu do Forte das Cinco Pontas, em solenidade que contará com um recital que terá a participação de Cida Pedrosa, Mariane Bigio, Suzana Mooraes e Silvana Menezes, que declamarão pesias de autoria do Frei Caneca. O recital será acompanhado pela música barroca do Grupo Flor de Maio. O evento acontece às 17 horas.

O DOM DA PAZ



Pensando bem
Dom Hélder Câmara


que importa
que a sombra
que atinge a todos
me atinja, também!?...
Nem me sentiria à vontade
diferente de todos...
Essencial
é que seja de luz
o ramo
cuja entrega
é a razão da minha vida
e de meu vôo!...

FRASES DE D. HÉLDER CÂMARA

“Não há penitência melhor do que aquela que Deus coloca em nosso caminho todos os dias”.

“A maneira de ajudar os outros é provar-lhes que eles são capazes de pensar”.

“Feliz de quem atravessa a vida inteira tendo mil razões para viver”.

“As pessoas são pesadas demais para serem levadas nos ombros. Levo-as no coração”.

“... Feliz de quem passa pela vida; tendo mil razões para vivê-la ...”

“Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto porque eles são pobres, chamam-me de comunista”.

“Não me dou a penitências.Com todo respeito que me merecem os santos, não sou homem de autoflagelações... Não há penitência melhor do que aquelas que Deus coloca em nosso caminho”.

“Feliz de quem entende que é preciso mudar muito pra ser sempre o mesmo”.

PROGRAMAÇÃO DE ABERTURA DO CINEMA SÃO LUIZ


Colaboração Solange Lopes

Terça-feira (12)
Nossos Ursos Camaradas (2009, 12 minutos), de Fernando Spencer
Baile Perfumado (1996, 93 minutos), de Lírio Ferreira e Paulo Caldas

Quarta-feira (13)
Até o sol raiá (2007, 12 minutos), de Fernando Jorge e Leanndro Amorim
Orange de Itamaracá (2006, 78 minutos), Franklin Júnior

Quinta-feira (14)
Ave Maria, mãe dos sertanejos (2009, 12 minutos), de Camilo Cavalcanti
KFZ-1348 (2008, 81 minutos), Gabriel Mascaro e Marcelo Pedroso

Sexta-feira (15)
Cachaça (1995, 13 minutos), Adelina Pontual
Deserto feliz (2007, 88 minutos), Paulo Caldas

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

MATÉRIA RIMA


Mário Hélio
(ao poeta Natanael Júnior)

cantamos a alegria num dia de angústia
nessa cantoada vã de inquieto som
e fomos toda rica lírica caixa de acústica
quando nada nem ninguém era bom

fizemos todas as flébeis e plásticas
artes humanas com passos e cenas.
imagens escorriam corriam como lágrimas
de todas as películas penínsulas-temas

de todas infantarsias coloridas
passapressendentro documenta do futuro.
(menos caótico) das múltiplas vidas
e o tanto muito após o túnel escuro.

a másc’ra ritualística que
usamos em palco com a pouca
imaginação o mundo que se antevê;
o escudo que não protege; a roupa

que não esconde. onde se condensa a luz
deixada por engano. o resposteiro: fuligem.
bailávamos nos espelhos espantalhos nus
a quando pedra cravava a vertigem.

indefinidos, soltos e finais
sem origem que nous explique, afinal
os não-criadores originais
sermos sombras pastiches d’obra original.

entretanto o enigma não se desfez. a
espada de Janus mostrou-nos que tememos.
a certeza brilha em nós, no entanto lá
dúbia imagem em dúbio reflexo. remos:

meros instrudimentos das mãos. que são as mãos?
artérias, peles, ossos, células, articulações...
e tanto-mais. os sós (desesperados sãos)
ainda andam recriando aparições.

o ser cada vez mais seco e sombrio
o servo cada vez mais menos livre e autônomo.
o verso sorve o som. resta-nos andante con brio
até que o outono chegue e cegue os ânimos antônimos.

e vamos nós, separados em nós.
prosseguimos. poucos querem morrer. a morte
ou sequer o pensamento nos apavora. e a voz?
que faz a voz do artista? oculta o corte

certo. um calor toma-nos o corpo. “Lorca, fazes
o que com os timbres emprestados, restos de prece?”
adoece-os. nenhum fenômeno. porém, crazes
vorazes grifam-se. grafa-se um esse

enorme mergulha na página. como posso ver-me
se o sentido de ver perdeu o sentido e a vista
não avista além do vasto? veste o finito. o verme
sobrevive. com verve capta-o o artista.

temos mesto, o senhor. o prazer se nos seduz
é para que a dor venha depois. a armadilha
é infalível. e o que traduz a tua pretensa luz
se a treva da luz é filha?

o que é doce cedo torna-se acre
e é de cera ainda todo santo.
o vate cumpre em parte o longo encargo,
o resto veta, atáveco. o resto é tanto!

se o fraco possui a força sem cedilha
e em anagrama vertida, os vocábulos
são rimas irmãs sem til. bastava-nos a cartilha
única do escriba para decifrar todos os incunábulos.


(25/01/82)

*Mário Hélio é membro da Academia Cabense de Letras

QUATRO HORAS E UM MINUTO


Miró

Quatro horas
Quatro ônibus levando vinte e quatro pessoas
Tristonhas e solitárias
Quatro horas e um minuto
Acendi um cigarro e a cidade pegou fogo.
Cinco horas
Cinco soldados espancando cinco pivetes
Filhos sem pai
E órfãos de pão
Cinco horas e um minuto
Urinei na ponte e inundei a cidade
Sei horas
O Recife reza
E eu voando pra ver Maria

BARROQUILHAS*


Ivan Marinho

Nas madrugadas insones
Sinto o tropel de chegada,
Sem ordem, desarrumadas,
De palavras, letras, nomes.
Balançam, saltam, deslocam
Sem ritmo ou direção
E da inquietação
Algo parece que evocam.
Todas de tanto maduras
Encontram-se a se encaixar,
Como que a despertar
Do sonho que se inaugura.
Então se cruza o ensejo
Com o anseio ancestral,
Nivelando ao animal
O instintivo desejo.
E preterindo o futuro,
Faz da noite a luz do dia
E a esfera, por magia,
Amolece o papel duro.
Pois o papel do poeta
É deixar claro o escuro

*Primeiro lugar no Festival Jaci Bezerra de Poesia,
do Centro de Estudos Superiores de Maceió


Ivan Marinho é membro da Academia Cabense de Letras

sábado, 9 de janeiro de 2010

MEMÓRIAS DA CENA PERNAMBUCANA



EXPOSIÇÃO: Memórias da Cena Pernambucana
De 12 a 31 | Teatro do Parque | Entrada franca

Fruto da pesquisa realizada para a coleção “Memórias da Cena Pernambucana” e idealizada a convite da Funarte para a reabertura do Teatro Glauce Rocha, no Rio de Janeiro, em 2009, a exposição traz banners com várias fotografias raras do nosso teatro, distribuídas por sete contextos: históricos, rurais, urbanos, clássicos, provocativos, lúdicos e recordistas.

Curadoria: Leidson Ferraz.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

UM NOVO TEXTO



Já em fase de conclusão de revisão, o novo texto de Antonino Oliveira Júnior ganhará as ruas e subirá aos palcos dos nossos teatros. O texto "CORAÇÃO LILÁS" é um mergulho no universo da mulher e fala, fundamentalmente da relação entre duas mulheres amigas, que expoem seus dramas, suas alegrias, suas angústias e seu sentimentos em momentos de diálogos muito fortes. Um dos momentos decisivos da peça é quando a personagem Silvana revela e denuncia que a amiga Letícia sofre violência na relação com o marido, no lar. "Denunciamos a maior das violências sofridas pela mulher. Maior que a violência física, que machuca, é verdade, mas é somente no corpo. Denunciamos a violência afetiva que sofre a mulher. É uma violência que deixa marcas profundas em sua alma", define Antonino Oliveira Júnior, autor do texto.

Durante mais de um ano, Antonino manteve contato quase que diário, com mais de 600 mulheres, dos mais diversos lugares do Brasil. Tanto pessoalmente, quando em conversas pela internet, nos sites de relacionamentos. "Conhecendo por dentro o universo da mulher, descobrimos verdades e realidades que jamais imaginamos que exista", conclui Antonino.

ATUALIZAÇÃO DO BLOG

Comunicamos aos leitores que, neste mês de janeiro, a atualização deste Blog acontecerá nas segundas, quartas e sextas-feiras, pretendo que no mês de fevereiro retome a sua atualização diária.

ACADEMIA CABENSE DE LETRAS



Acontece hoje, dia 8 de janeiro, a primeira reunião da Academia Cabense de Letras, às 19 horas, no prédio da Loja Maçônica Alvorada da Paz. Dentro da extensa pauta, consta a discussão e aprovação de nomes para ampliação do quadro de membros e a publicação de uma Coletânea de escritores cabenses, de ontem e de hoje.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

RECUSA


Herivelto Martins

Esta dor que deixaste em minha alma
Com tanta indiferença
Eu não posso afasta-la sequer
Um momento de mim
Quanto mais me desprezas
Mais quero sentir tua presença
Não consigo esquecer-te, meu deus,
Por que sofrer assim ?
Sem motivo nenhum
Tu recusas
Um amor tão sincero
Sem motivo nenhum
Abandonas a felicidade
A minha vida é uma vida
De mágoa, de dor e descrença
E eu sofro, ao sentir na recusa
Tamanha indiferença.

UM POEMA DE MIRÓ



O urubu
Come carniça e voa
O homem
Come hamburguer
E nem-nem.

GENIALIDADE DE MIRÓ

Merece um tiro
Quem inventou a bala!

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

CHICO BUARQUE



Morte e Vida Severina
Chico Buarque


Esta cova em que estás, com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho, nem largo, nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio
Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida
É uma cova grande pra teu pouco defunto
Mas estarás mais ancho que estavas no mundo
É uma cova grande pra teu defunto parco
Porém mais que no mundo, te sentirás largo
É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas à terra dada nao se abre a boca
É a conta menor que tiraste em vida
É a parte que te cabe deste latifúndio
(É a terra que querias ver dividida)
Estarás mais ancho que estavas no mundo
Mas à terra dada nao se abre a boca

A RESISTÊNCIA DA ACTA



Muito legal saber que a Associação Cabense de Teatro Amador - ACTA -, de tantas histórias e de tanta resistência cultural, consegue reagir e já ensaia novos vôos, reunindo os grupos locais e planejando ações para o ano de 2010. Criada em setembro de 1977, mas, registrada oficialmente no início da década de 80, a ACTA é um símbolo indestrutível do teatro cabense e da região.

A RESISTÊNCIA DE ZUMBI


Selma Vasconcelos

Nosso destino de pedra
nossos braços de foice
irmãos de sangue da selva
filhos espessos da noite
de trilhos nos servirão
pelo oasis do mato.

Nossas raízes guerreiras
fincadas aqui estão
que nos venham arrancar
do profundo desse chão
nas armas adestraremos
todos nossos irmãos
somos parceiros da morte
mas nunca da servidão

O mato de novo acolhe
dos seus filhos os mais nobres.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

XVI JANEIRO DE GRANDES ESPETÁCULOS



Homenagem aos
160 anos do Teatro de Santa Isabel
e a Joacir Castro


P R O G R A M A Ç Ã O
--------------------------------------------------------------------------------

Recife

Intervenções Urbanas

Olinda

Projetos Sociais

Atividades Extras
:: Leituras Dramáticas
:: Debates sobre os Espetáculos
:: Oficinas
:: Lançamentos
:: Conclusão de Oficina
:: Exposição
:: Seminário
:: Avaliação do 16º JGE

Realização: Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco (APACEPE)

Detalhes completos no site www.janeirodegrandesespetaculos.com ou (81) 3082 2830.

PROGRAMAÇÃO

Abertura Oficial - Dia 06 – quarta / 19h / Teatro de Santa Isabel
O Grande Inquisidor (Paulo de Castro Produções) - Dia 06 - quarta / 20h / R$ 15 e R$ 7,50 / Teatro de Santa Isabel

Dido e Eneas (Musicata Cia. de Arte & Departamento de Música da UFPE) - Dia 07 - quinta / 20h e dia 08 - sexta / 21h / R$ 30 e R$ 15 / Teatro de Santa Isabel

Greta Garbo Quem Diria... (Produtores Independentes) - Dias 08 e 09 - sexta e sábado / 19h / R$ 10 e R$ 5 / Teatro Apolo

Histórias de Além-Mar (Remo Produções Artísticas & Teatro Munganga) - Dia 9 - sábado / 17h / R$ 10 (preço único promocional) / Teatro Hermilo Borba Filho
5 Minutos Para Blackout (Acupe Grupo de Dança) - Dia 09 - sábado / 21h / R$ 15 e R$ 7,50 / Teatro de Santa Isabel

Sonho de Primavera (Chocolate Produções Artísticas) - Dias 10, 17, 24 e 31 - domingos / 10h / R$ 10 (preço único promocional) / Teatro do Parque
Pinóquio e Suas Desventuras (Cênicas Companhia de Repertório) - Dia 10 - domingo / 16h30 / R$ 10 (preço único promocional) / Teatro de Santa Isabel
FRIDA KAHLO viva la vida (Compañia de Uruguay / Uruguai) - Dias 10 e 11 - domingo e segunda / 19h / R$ 30 e R$ 15 / Teatro Marco Camarotti (Sesc de Santo Amaro)

Sons da África (Balé de Cultura Negra do Recife – Bacnaré) - Dia 12 - terça / 20h / R$ 20 e R$ 10 / Teatro de Santa Isabel

Teresa e o Aquário (Cia. Espaço em BRANCO / RS) - Dias 13 e 14 - quarta e quinta / 19h / R$ 10 e R$ 5 / Teatro Marco Camarotti (Sesc de Santo Amaro)
Arco-Íris, a Magia das Cores (Cia. Árabe Hannah Costa) - Dia 13 - quarta / 20h30 / R$ 15 e R$ 7,50 / Teatro de Santa Isabel

As Criadas... Malcriadas (Cia. Trupe do Barulho) - Dia 14 - quinta / 19h / R$ 20 e R$ 10 / Teatro do Parque
PLAYDOG (Centro de Formação e Pesquisa das Artes Cênicas Apolo-Hermilo – Projeto O Aprendiz Encena) - Dia 14 - quinta / 19h / R$ 10 e R$ 5 / Teatro Hermilo Borba Filho
De Cumpade Pra Cumpade (Jessier Quirino / PB) - Dia 14 - quinta / 20h30 / R$ 30 e R$ 15 / Teatro de Santa Isabel

De Dentro (Qualquer Um dos 2 Companhia de Dança / Petrolina) - Dia 15 - sexta / 19h / R$ 10 e R$ 5 / Teatro Apolo
Apareceu a Margarida (Cia. Trupe do Barulho) - Dia 15 - sexta / 19h / R$ 20 e R$ 10 / Teatro do Parque
Quarteto Para o Fim dos Tempos (Sopro Cia. de Dança / SP) - Dia 15 - sexta / 21h / R$ 20 e R$ 10 / Teatro de Santa Isabel

O Quebra Nozes (Ballet da Cidade do Recife) - Dia 16 - sábado / 19h / R$ 10 e R$ 5 / Teatro do Parque
Terapia de Ris(c)o – Por Uma Outra Via – Estudos Sobre a Violência 02 (Companhia S.A.I. – Setor de Áreas Isoladas / DF) - Dias 16 e 17 - sábado e domingo / 19h / R$ 10 e R$ 5 / Teatro Hermilo Borba Filho
Ágape / SENHA (Sopro Cia. de Dança / SP) - Dia 16 - sábado / 21h / R$ 20 e R$ 10 / Teatro de Santa Isabel

Peter Pan – Em Mais Uma Aventura na Terra do Nunca (Capibaribe Produções) - Dia 17 – domingo / 16h30 / R$ 10 (preço único promocional) / Teatro de Santa Isabel
Babau ou A Vida Desembestada do Homem que Tentou Engabelar a Morte (Mão Molenga Teatro de Bonecos) - Dias 17, 24 e 31 - domingos / 16h30 / R$ 10 e R$ 5 / Teatro Marco Camarotti (Sesc de Santo Amaro)

Chão (Xirê Jogodedança / RS) - Dia 18 - segunda / 19h / R$ 10 e R$ 5 / Teatro Marco Camarotti (Sesc de Santo Amaro)

Não Me Fales de Freddy Krueger (1,2 Na Dança – Mostra Internacional de Solos e Duos de Minas Gerais / MG) - Dia 19 - terça / 19h / R$ 10 (preço único promocional) / Teatro de Santa Isabel
Encruzilhada Hamlet (Cia. do Ator Nu) - Dia 19 - terça / 20h30 / R$ 10 e R$ 5 / Teatro Barreto Júnior

Invasão (ENTREtanto TEATRO / Portugal) - Dias 20 e 21 - quarta e quinta / 19h / R$ 20 e R$ 10 / Teatro Marco Camarotti (Sesc de Santo Amaro)
Suíte Afro-Recifense (Grupo Musical Korin Orishá) - Dia 20 - quarta / 20h30 / R$ 15 e R$ 7,50 / Teatro de Santa Isabel

Carícias (Remo Produções Artísticas) - Dia 21 - quinta / 19h / R$ 10 e R$ 5 / Teatro Hermilo Borba Filho
Miranda’s: Um Elogio a Carmen (Gonzaga Leal e Grupo Saracotia) - Dia 21 – quinta / 20h30 / R$ 20 e R$ 10 / Teatro de Santa Isabel
EGO-Tik (Ertza Dantza Garaikide Taldea / Espanha) - Dias 21 e 22 - quinta e sexta / 21h / R$ 20 e R$ 10 / Teatro Apolo

A Dona da História (Trup Errante & Pé Nu Palco Grupo de Teatro / Petrolina) - Dia 22 - sexta / 19h / R$ 10 e R$ 5 / Teatro Marco Camarotti (Sesc de Santo Amaro)
Chuva de Caju (Geraldo Maia) - Dia 22 - sexta / 21h / R$ 20 e R$ 10 / Teatro de Santa Isabel

Il Trasporto Umano (Circo in Bottiglia / Itália) - Dia 23 - sábado / 17h / R$ 10 (preço único promocional) / Teatro Apolo
Leve (Maria Agrelli e Renata Muniz) - Dia 23 - sábado / 19h / R$ 10 e R$ 5 / Teatro Hermilo Borba Filho
O Encontro de Capiba e Nelson Ferreira no Céu (Paulo de Castro Produções) - Dia 23 - sábado / 20h / R$ 30 e R$ 15 / Teatro de Santa Isabel
Começar a Terminar (Companhia Anjos Pornográficos / SP) - Dias 23 e 24 - sábado e domingo / 20h30 / Entrada franca / Teatro Barreto Júnior
Entre (Hibridus / MG) - Dia 23 - sábado / 21h / R$ 10 e R$ 5 / Teatro Marco Camarotti (Sesc de Santo Amaro)

Guerreiros da Bagunça (Pedro Portugal) - Dia 24 - domingo / 16h30 / R$ 10 (preço único promocional) / Teatro de Santa Isabel
Sobre Um Paroquiano (Compassos Cia. de Danças) - Dia 24 - domingo / 19h / R$ 10 e R$ 5 / Teatro Hermilo Borba Filho
Por Um Fio Em Lã (Juan Guimarães) - Dia 24 - domingo / 20h30 / R$ 10 e R$ 5 / Teatro Apolo

Meu Grito de Dor (Coletivo Dois Contemporâneo / MG) - Dia 26 - terça / 20h / R$ 5 (preço único promocional) / Teatro Armazém

A Visita (Teatro Invisível / Portugal) - Dias 28 e 29 - quinta e sexta / 20h / R$ 20 e R$ 10 / Teatro Marco Camarotti (Sesc de Santo Amaro)

O Púcaro Búlgaro (Idarte Produções Artísticas Ltda / RJ) - Dias 29 e 30 – sexta e sábado / 21h / R$ 20 e R$ 10 / Teatro de Santa Isabel

Historinhas de Dentro (Grupo Teatral Quadro de Cena) - Dia 31 - domingo / 10h / R$ 10 (preço único promocional) / Teatro de Santa Isabel
Outra Vez, Era Uma Vez... (Companhia Fiandeiros de Teatro) - Dia 31 - domingo / 16h30 / R$ 10 (preço único promocional) / Teatro de Santa Isabel


**********

PROJETOS SOCIAIS

Cruzamentos - Dia 08 - sexta / 19h / Entrada franca / Teatro do Parque (Projeto Núcleo de Dança na Comunidade, do Grupo Experimental)

Teatro em Comum: Mostra de Teatro Presente (Centro de Diversidade Cultural Teatro Armazém):
Dia 07 - quinta / 19h / Entrada franca / Teatro Armazém
Memórias (Núcleo do Pilar) e Ainda Há Cristais nas Flores de Sal (Núcleo de Santo Amaro)
Dia 08 - sexta / 19h / Entrada franca / Nascedouro de Peixinhos
Além das Margens (Núcleo de Peixinhos) e entrEMundos (Núcleo de Nova Descoberta)
Dia 09 - sábado / 18h / Entrada franca / Teatro Barreto Júnior
Desejo de Desejo (Núcleo do Ibura) e Além das Margens (Núcleo de Peixinhos)
Dia 10 - domingo / 15h / Entrada franca / Teatro Barreto Júnior
entrEMundos (Núcleo de Nova Descoberta) e Ainda Há Cristais nas Flores de Sal (Núcleo de Santo Amaro)
Dia 10 - domingo / 19h / Entrada franca / Teatro Barreto Júnior
Em Torno da Mente (Núcleo de Brasília Teimosa) e Memórias (Núcleo do Pilar)
Dia 11 - segunda / 19h / Entrada franca / Escola João Emerenciano (Ibura)
Desejo de Desejo (Núcleo do Ibura)
Dia 14 - quinta / 19h / Entrada franca / Teatro Barreto Júnior
Em Torno da Mente (Núcleo de Brasília Teimosa)

Três Compassos (Ária Social / Jaboatão dos Guararapes) - Dia 17 - domingo / 18h / R$ 5 (preço único promocional) / Teatro Barreto Júnior

****

INTERVENÇÕES URBANAS

Eu Tava Passando e Resolvi Sair (Flávia Pinheiro) - Dia 20 - quarta / 10h / Entrada franca / Mercado de São José

As Partes do Todo (Patrícia Pina Cruz) - Dia 21 - quinta / 10h / Entrada franca / Casa da Cultura

Eu Tenho Autorização da Polícia Para Ficar Pelado Aqui (Couve-Flor Minicomunidade Artística Mundial / PR) - Dia 22 - sexta / 22h / Rua da Moeda e Dia 23 - sábado / 10h / Entrada franca / Rua da Imperatriz

Travessia (Hibridus / MG) - Dia 23 - sábado / 11h / Entrada franca / Rua da Imperatriz

Ação Cidade-Contínua (Coletivo Dois Contemporâneo / MG) - Dia 24 - domingo / 10h / Entrada franca / Calçadão da Av. Boa Viagem (em frente ao Edf. Acaiaca)

**********

PROGRAMAÇÃO OLINDA
Em parceria com a Prefeitura Municipal de Olinda.

Guiomar, a Filha da Mãe (Companhia Pharcas Serthanejaz) - Dia 17 - domingo / 16h30 / Entrada franca / Praça do Carmo
Forró é Melhor (Sopro Cia. de Dança / SP) - Dia 17 - domingo / 18h / Entrada franca / Praça do Carmo

Chão (Xirê Jogodedança / RS) - Dia 22 - sexta / 16h / Entrada franca / Terreiro de Umbigada (Rua do Guadalupe, 380)

Abrolhos (Teatro dos Amadores de Olinda – TAO / Olinda) - Dia 23 – sábado / 16h30 / Entrada franca / Vila Olímpica (Rio Doce)
Intemperie (Ertza Dantza Garaikide Taldea / Espanha) - Dia 23 - sábado / 18h / Entrada franca / Vila Olímpica (Rio Doce)

Mercadores de Liberdade (Ifá-Rhadhá de Art’Negra / Olinda) - Dia 30 - sábado / 16h30 / Entrada franca / Lumiara Zumbi (Cidade Tabajara)
Il Trasporto Umano (Circo in Bottiglia / Itália) - Dia 30 - sábado / 18h / Entrada franca / Lumiara Zumbi (Cidade Tabajara)

*******

ATIVIDADES PARALELAS

LEITURAS DRAMÁTICAS

Antígona (Cia. de Teatro Omoiós) - Dia 11 - segunda / 19h / R$ 1 / Teatro Apolo

Prometeu Acorrentado (Grupo Teatral Quadro de Cena) - Dia 18 - segunda / 19h / R$ 1 / Teatro Apolo

As Troianas (Grupo MAGILUTH) - Dia 25 - segunda / 19h / R$ 1 / Teatro Apolo
Bululu – Histórias da Invenção do Mundo (Sérgio Gusmão) - Dia 30 - sábado / 19h / R$ 1 / Teatro Marco Camarotti (Sesc de Santo Amaro)

****

DEBATES SOBRE ESPETÁCULOS LOCAIS DA PROGRAMAÇÃO

Greta Garbo Quem Diria..., Peter Pan – Em Mais Uma Aventura na Terra do Nunca, Histórias de Além-Mar, Pinóquio e Suas Desventuras e PLAYDOG
Dia 17 - domingo / 11h / Entrada franca / Espaço Cultural Fiandeiros (Rua da Matriz, 46, 1º Andar – Boa Vista)

Encruzilhada Hamlet, Carícias, A Dona da História e Guerreiros da Bagunça
Dia 24 - domingo / 11h / Entrada franca / Espaço Cultural Fiandeiros (Rua da Matriz, 46, 1º Andar – Boa Vista)

5 Minutos Para Blackout, De Dentro, Leve, Por Um Fio Em Lã e Sobre Um Paroquiano
Dia 25 - segunda / 19h / Entrada franca / Espaço Compassos (Rua da Moeda, 93, 1° Andar – Bairro do Recife)

****

OFICINAS
Informações e inscrições no SATED (Sindicato dos Artistas – Casa da Cultura, Raio Oeste, 2° Andar. Tel. 3424 3133). Preço: R$ 30 (cada)

O Avesso da Cena – Oficina de Produção e Gestão Cultural (Romulo Avelar/MG) - De 13 a 16 / 14 às 18h / Sesc de Santo Amaro

Iniciação à Interpretação (José Pimentel) - De 11 a 15 e de 18 a 22 / 14 às 17h / Teatro Armazém

Taller de Creación – Oficina de Criação em Dança Contemporânea (Asier Zabaleta/Espanha) - De 15 a 18 / 10 às 14h / Sala de dança do Santa Isabel

****************

ATIVIDADES EXTRAS

Lançamento do livro “O Avesso da Cena – notas sobre produção e gestão cultural”, do produtor e gestor cultural Romulo Avelar (MG) - Dia 15 - sexta / 19h / Sesc de Santo Amaro / Valor: R$ 58

Lançamento da trilha sonora de “Leve”, criação de Isaar - Dia 23 - sábado / Após apresentação do espetáculo / Valor: R$ 5.

Conclusão da Oficina de Iniciação à Interpretação, com José Pimentel - Dia 22 - sexta / 19h / Entrada franca / Teatro Armazém

Exposição Memórias da Cena Pernambucana - De 12 a 31 / Entrada franca / Teatro do Parque

Seminário Dança e Economia Solidária – Preparatório para o Seminário Economia da Dança/Pernambuco
Dia 16 – sábado / 9 às 12h e 14 às 17h / Sesc de Santo Amaro /

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

QUEM?


"seu" TUNE

Quem foi que já viu a tristeza
na alegria aparente do meu rosto?
-Ninguém.
Só o meu coração.

Quem foi que já me viu amar
o amor dos carinhos, dos beijos, da volúpia?
-Ninguém.
Só meu coração.

Quem foi que já me viu difamar,
maltratar e fazer sofrer as mulheres?
-Ninguém.
Nem o meu coração.

Quem foi que já me viu...

Basta!
O meu coração sabe viver.


*Seu TUNE é um dos Patronos da Academia Cabense de Letras.

POEMA DE QUEM FICOU SÓ

Ronaldo Menezes

Vi
O dia que nasceu,
Ir-se embora.
Vi a noite...
E, dentro de mim,
Sentindo,
Tua presença que fugia
Como um açoite,
Semelhante o dia
Que partira...
Vi a noite...

MENSAGEIRA DAS VIOLETAS

Antonino Oliveira Júnior*

(para Florbela Espanca)

Ó, construtora de versos e rimas,
Flor bela que espalha lirismo
E espanca meu ser com poesias,
Conquista-me
Com a força das tuas palavras,
Envolve-me com teus mistérios
E desbrava os sertões
Dos tempos que me separam de ti.

Estendo mãos e corações para além-mar,
Na espera inconseqüente
De encontrar-te em ventos, em chuva,
Em raios que doiram tua imagem,
Para alcançar-te, quem sabe,
Na esperança vã de te impedir o gesto
Que te levou como corpo
E te deixou em forma de versos...

E não és, sequer, a razão do meu viver...

Ó construtora de versos e rimas,
Flor bela que espalha lirismo
E espanca meu ser com poesias!


*Antonino Oliveira Júnior é membro da Academia Cabense de Letras.

TATUAGEM IMORTAL

Frederico Menezes*

Tente o mundo retirar-me de ti:
Impossível, inconcebível,
Tatuado em tua alma,
Estou posto para sempre.
Fiz poesia em cada curva
Do teu corpo,
Em teu coração flutuei,
Qual farinha na água,
Flor ao vento,
Nuvem sem destino...

Tente a dor separar-me de ti:
Baterá em retirada.
Fugirá vencida pelo gozo divino,
Pela alegria cintilante
Que brota em tua face
Quando sou teu rei...

Tua pele destilando arco-íris
E tua voz cantando o amor.
Não há terra para dor,
Não há noite, só dia,
Eternamente dia.

Tente a estrela se apagar
E tu te incendiarás,
Iluminando o universo
No “Fiat lux” de uma nova criação.
Cometa ou raio,
Sibila ou sacerdotisa,
Pitonisa ou deusa,
Pote onde deposito o amor,
Resplandecente dirás ao mundo:
“Desistam – ele é tatuagem imortal”.<

*Frederico Menezes é membro da Academia Cabense de Letras

A IDENTIDADE QUE SE VAI

DOUGLAS MENEZES*

Quando Tune saiu de casa pela última vez para se tornar estrela, lá longe no infinito, não ia embora ali, apenas um pedaço de mim, mas uma parte de humano do Cabo de Santo Agostinho se despedia. Mesmo na dor, observei as janelas das casas antigas acenando lenços brancos, no coro triste do adeus. Era meu pai partindo e os humildes, esses que fazem a verdadeira história do mundo, homenageando-o, como fazendo justiça a quem contribuiu, no dia-a-dia, com a cidade que o acolheu. Lembro de um bêbado no velório, chorando muito, pedindo para meu pai não ir embora.

Recordo, então, que ali, naquele momento, há vinte anos, começava a morrer uma identidade humana da cidade de Santo Agostinho. E o tempo encarregou-se de confirmar que a partir daquele instante, aos meus olhos, a cidade mudava. Uma geração notável de cabenses desaparecia, lentamente. Eram figuras importantes, não somente por razões econômicas ou culturais, mas por serem o cheiro do Cabo, o próprio ar da cidade, confundiam-se com a flora e a fauna e as casas desta terra, fossem ricos ou pobres. E se foram como Tune do cartório. Onde estão agora? Como disse o poeta Manuel Bandeira: “dormem profundamente, profundamente”. Talvez habitem, fantasmas, as ruas velhas da cidade, zelando por elas.

Caminho no domingo chuvoso pelas artérias centenárias, o silêncio da manhã preguiçosa diz tudo. Eu ando ao lado deles. Em mim, a identidade que se foi permanece.

Já o sol a pino de um dia comum. Sou exilado em minha terra. Não conheço ninguém e ninguém me conhece. O Cabo é de todos, que vêm de todos os lugares.

Hoje, na cidade de Santo Agostinho, com certeza, a maioria me olha e não me vê.


*Douglas Menezes é membro da Academia Cabense de Letras.

sábado, 2 de janeiro de 2010

TRIBUTO AOS POETAS QUE SE FORAM


MANEZINHO ARAÚJO

Nasceu na cidade do Cabo, Pernambuco, no dia 27 de setembro de 1910. Mas, foi em Casa Amarela, bairro de Recife, que aprendeu a embolar, com o artista popular Minona, apelido de Severino de Figueiredo Carneiro.
Em 1930 deixou o nordeste e seguiu para o Rio de Janeiro, compondo o batalhão do exército que seguia do Nordeste para o sudeste, após estourar a Revolução de 30. No navio conheceu artistas como Carmen Miranda, Almirante e outros, e como ele já costumava fazer embolada para os companheiros de quartel, logo tomou as ruas do Rio de Janeiro e, com muita competência, tornou-se o rei da embolada no Brasil.
O TRIBUTO AOS POETAS QUE SE FORAM continua cumprindo o seu papel de mostrar ao mundo virtual a riqueza da poesia do Cabo de Santo Agostinho
.

CUMA É O NOME DELE?
Manezinho Araújo

Cumá é o nome dele?
É Mané Fuloriano.

Vi um sujeito
Discutindo co´a mulhé
E pensem lá o que quisé
Mas direito é que eu não acho
É que por cima
Pouca roupa ela usava
Além disso não gostava
De usar roupa por baixo

Cuma é o nome dele?
É Mané Fuloriano.

Antigamente
Quando a gente se beijava
Num instante se separava
Pois o beijo não ilude
Mas hoje um moço
Quando beija a namorada
Fica de boca grudada
Parece que leva grude

Cuma é o nome dele?
É Mané Fuloriano.

De uma moça
Uma perna beliscando
Eu fiquei foi suspirando
Disso nunca a gente acha
Mas de momento
Essa moça com bondade
Foi dizendo: " É a vontade,
Minha perna é de borracha."

Cuma é o nome dele?
É Mané Fuloriano.

Fui convidade pr´uma festa de rigô
Onde a gente de valô
Ia toda encasacada
A minha sogra pra bancá a saliente
Levou roupa só na frente
Mas atrás não tinha nada

Cuma é o nome dele?
É Mané Fuloriano

PRÁ ONDE VAI, VALENTE?
Manezinho Araújo

Pra onde vai, valente?

Pra onde vai, valente?
Vou pra linha de frente,

Tava na feira
C'a pistola e um cravinote
0 muleque deu um pinote
Me chamou mode brigá.

Pego no meu punhá
Enfio a faca, o sangue pula
Moleque você não bula
Com Mané do Arraiá.

Veio um sordado
C'um boné arrevirado
Com dois oio abuticado
Que só cachorro do má.

Botou-me a mão
Home, me disse, você tá preso
E eu fiquei c'um braço teso
Na cara lhe quis passá.

Pra vadiá
Eu sou caboco bom na briga
Mas só gosto da intriga
Quando encontro especiá.

Dedo do Cão
Moleque bom no gatilho
Se coçou, eu vi o brilho
Atirou pra me pegá.

Ele me atira
Eu me abaixo e a bala passa
E fico achando graça
Do baque que a bala dá.

Pra onde vai, valente?
Vou pra linha de frente.

COMO TEM ZÉ NA PARAÍBA -

Vixe como tem Zé
Zé de baixo, Zé de riba
Me desconjuro com tanto Zé
Como tem Zé lá na Paraíba

Lá na feira é só Zé que faz fervura
Tem mais Zé do que coco catolé
Só de Zé tem uns cem na prefeitura
Outros cem no comércio tem de Zé

Tanto Zé desse jeito é um estrago
Eu só sei que tem Zé de dar com pé
Faz lembrar a gagueira de um gago
Que aqui se danou a dizer Zé

Num forró que eu fui em Cajazeira
O cacete cantou e fez banzé
Pois um bebo no meio da bebedeira
Falou mal e xingou a mãe d'um Zé

Como tinha só Zé nesse zum-zum
Houve logo tamanho rapapé
Mãe de Zé era a mãe de cada um
No salão brigou tudo que era Zé

É Zé João, Zé Pilão e Zé Maleta
Zé Negão, Zé da Cota, Zé Quelé
Todo mundo só tem uma receita
Quando quer ter um filho só tem Zé

E com essa franqueza que eu uso
Eu repito e se zangue quem quiser
Tanto Zé desse jeito é um abuso
Mas o diabo é que eu me chamo Zé