DOUGLAS MENEZES*
Quando Tune saiu de casa pela última vez para se tornar estrela, lá longe no infinito, não ia embora ali, apenas um pedaço de mim, mas uma parte de humano do Cabo de Santo Agostinho se despedia. Mesmo na dor, observei as janelas das casas antigas acenando lenços brancos, no coro triste do adeus. Era meu pai partindo e os humildes, esses que fazem a verdadeira história do mundo, homenageando-o, como fazendo justiça a quem contribuiu, no dia-a-dia, com a cidade que o acolheu. Lembro de um bêbado no velório, chorando muito, pedindo para meu pai não ir embora.
Recordo, então, que ali, naquele momento, há vinte anos, começava a morrer uma identidade humana da cidade de Santo Agostinho. E o tempo encarregou-se de confirmar que a partir daquele instante, aos meus olhos, a cidade mudava. Uma geração notável de cabenses desaparecia, lentamente. Eram figuras importantes, não somente por razões econômicas ou culturais, mas por serem o cheiro do Cabo, o próprio ar da cidade, confundiam-se com a flora e a fauna e as casas desta terra, fossem ricos ou pobres. E se foram como Tune do cartório. Onde estão agora? Como disse o poeta Manuel Bandeira: “dormem profundamente, profundamente”. Talvez habitem, fantasmas, as ruas velhas da cidade, zelando por elas.
Caminho no domingo chuvoso pelas artérias centenárias, o silêncio da manhã preguiçosa diz tudo. Eu ando ao lado deles. Em mim, a identidade que se foi permanece.
Já o sol a pino de um dia comum. Sou exilado em minha terra. Não conheço ninguém e ninguém me conhece. O Cabo é de todos, que vêm de todos os lugares.
Hoje, na cidade de Santo Agostinho, com certeza, a maioria me olha e não me vê.
*Douglas Menezes é membro da Academia Cabense de Letras.
ANDAS COM ELES PELAS RUAS DA NOSSA CIDADE, NÃO OS FANTASMAS, "AS ESTRELAS".
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