sábado, 27 de julho de 2013

PARCERIA VIABILIZA RESGATE DA OBRA DE THEO SILVA


A Academia Cabense de Letras formalizou parceria com a Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho, com o objetivo de viabilizar o resgate da obra do poeta Theo Silva. O livro com a obra literária de Theo Silva será publicado pelo Editora Bagaço.

O livro terá lançamento neste segundo semestre e terá distribuição para todas a rede de ensino municipal. Theo Silva é cabense e um poeta de grandes trabalhos, ainda desconhecidos da população de sua cidade.

UM DIA CINZENTO DE JULHO

  Douglas Meneses*


Julho está preparando agosto. Cor cinza anunciando ventos e a chegada possível de uma primavera. Tristeza que invade essa necessidade vital de dizer alguma coisa. Às vezes penso que se não escrever logo a morte será algo instantâneo. Outros também já disseram: escrevo para não morrer. Talvez não a morte física, mas aquele medo de saber ou não poder dizer mais nada para ninguém, já que existe a certeza de ser pouco ouvido. Homem trancado, tímido e de poucas  palavras.
   Julho num dia, sem a animação e a esperança de junho com o povo nas ruas. A ingênua visão sentimental de que as coisas vão mudar de repente, que a vergonha chegou aos que mandam. Ah! O povo nas ruas. A sensação, agora, é de que a massa adormeceu. Aqui parece sempre desse jeito: não há conclusão, nem solução definitiva para nada. Lembro-me do grande Bandeira: “Todos dormem profundamente”. E eles parecem saber das coisas do povo, da acomodação, como se esperassem esse  desfecho.
    Os jornais dizem: deixaram de votar matérias importantes, entraram de férias, mais uma. E continuam a fazer jantares de quase trinta mil reais, e os professores pagando imposto de renda, como se ganhassem tanto para isso. Um jantar pré- férias, quase trinta mil, outros virão. A presidente, no inferno momentâneo, pensando num céu de brigadeiro, para garantir-lhe mais anos de poder. O ex negando a candidatura, mas se movimentando  feliz  pelo messianismo, pela paixão que muitos lhe devotam. Dois mil e catorze chegou, sem ter chegado. E o reino do faz de conta continua vivo, muito ativo.
      A memória é curta: esquecidos os aviões oficiais carregando parentes. Já são voos passados. Comportem-se crianças,  recomendação dada antes de entrarem de férias. Ou seja, façam as coisas mais ocultas, não vacilem, pois podem querer voltar às ruas. Ah, o jornal falou: “integrantes do governo aportam na Suíça pernambucana levando de carona  parentes e amigos. Tudo registrado nas redes sociais”.
       Ah, dia de julho. Que venha agosto, com gosto de novidade e notícias alvissareiras. Que esse silêncio se transforme em vida pulsante, e a gente na esteira do novo, possa pensar, finalmente, que o céu é mais perto do que imaginamos ser, bem mais perto que o infinito cinzento desse mês de julho. Sem povo, sem massa, sem graça.

*Douglas é da Academia Cabense de Letras.

 


A MÁQUINA E EU

A MÁQUINA E EU
Antonino Oliveira Júnior

Triste, sem cor, abatido, chego no final da batalha daquele dia diante de quem imaginei como inimigo maior. Estou diante da máquina, séria, fria, que me olha e esboça um leve sorriso de vencedor, notado apenas por mim. As pessoas falavam ao meu redor e quase não as escutava, com os olhos fixos naquele ar de riso à minha frente, cuja dona estava a poucos centímetros de me tocar e de se tornar vencedora por inteiro.

Com a dignidade de quem sabe perder, entreguei-me à vencedora, cujos braços não me machucaram, mas, acolheram-me como uma mãe à sua cria mais nova. Apesar do medo, cheguei dormir ao seu lado, tanto foi o sentimento de afeto que recebi. Quem eu tanto imaginei que me mataria, dava-me vida e, ao ouvir a voz do médico falando que “encerrara por hoje”, levantei corado, falante, um novo homem. Olhei para trás e vi aquele ar de riso e vibrações que me mandaram uma mensagem : “Tá vendo? Eu só queria ajudar...”

Feliz, revigorado, estava saindo da sala e virei para um derradeiro olhar daquele dia. A máquina estava igualmente feliz. E se aos olhos de qualquer outro, ela não passa de um equipamento frio e inerte, aos meus olhos é um coração que pulsa ao lado do meu.

*Antonino é da Academia Cabense de Letras

SE EU MORRER...

Vinicius de Moraes

Se eu morrer antes de você, faça-me um favor. Chore o quanto quiser, mas não brigue com Deus por Ele haver me levado. Se não quiser chorar, não chore. Se não conseguir chorar, não se preocupe. Se tiver vontade de rir, ria. Se alguns amigos contarem algum fato a meu respeito, ouça e acrescente sua versão. Se me elogiarem demais, corrija o exagero. Se me criticarem demais, defenda-me. Se me quiserem fazer um santo, só porque morri, mostre que eu tinha um pouco de santo, mas estava longe de ser o santo que me pintam. Se me quiserem fazer um demônio, mostre que eu talvez tivesse um pouco de demônio, mas que a vida inteira eu tentei ser bom e amigo. Se falarem mais de mim do que de Jesus Cristo, chame a atenção deles. Se sentir saudade e quiser falar comigo, fale com Jesus e eu ouvirei. Espero estar com Ele o suficiente para continuar sendo útil a você, lá onde estiver. E se tiver vontade de escrever alguma coisa sobre mim, diga apenas uma frase : ' Foi meu amigo, acreditou em mim e me quis mais perto de Deus !' Aí, então derrame uma lágrima. Eu não estarei presente para enxuga-la, mas não faz mal. Outros amigos farão isso no meu lugar. E, vendo-me bem substituído, irei cuidar de minha nova tarefa no céu. Mas, de vez em quando, dê uma espiadinha na direção de Deus. Você não me verá, mas eu ficaria muito feliz vendo você olhar para Ele. E, quando chegar a sua vez de ir para o Pai, aí, sem nenhum véu a separar a gente, vamos viver, em Deus, a amizade que aqui nos preparou para Ele. Você acredita nessas coisas ? Sim??? Então ore para que nós dois vivamos como quem sabe que vai morrer um dia, e que morramos como quem soube viver direito. Amizade só faz sentido se traz o céu para mais perto da gente, e se inaugura aqui mesmo o seu começo. Eu não vou estranhar o céu . . . Sabe porque ? Porque... Ser seu amigo já é um pedaço dele !