Douglas Meneses*
Julho está preparando agosto. Cor cinza
anunciando ventos e a chegada possível de uma primavera. Tristeza que invade
essa necessidade vital de dizer alguma coisa. Às vezes penso que se não
escrever logo a morte será algo instantâneo. Outros também já disseram: escrevo
para não morrer. Talvez não a morte física, mas aquele medo de saber ou não
poder dizer mais nada para ninguém, já que existe a certeza de ser pouco
ouvido. Homem trancado, tímido e de poucas
palavras.
Julho num dia, sem a animação e a esperança
de junho com o povo nas ruas. A ingênua visão sentimental de que as coisas vão
mudar de repente, que a vergonha chegou aos que mandam. Ah! O povo nas ruas. A
sensação, agora, é de que a massa adormeceu. Aqui parece sempre desse jeito:
não há conclusão, nem solução definitiva para nada. Lembro-me do grande
Bandeira: “Todos dormem profundamente”. E eles parecem saber das coisas do
povo, da acomodação, como se esperassem esse
desfecho.
Os jornais dizem: deixaram de votar
matérias importantes, entraram de férias, mais uma. E continuam a fazer
jantares de quase trinta mil reais, e os professores pagando imposto de renda,
como se ganhassem tanto para isso. Um jantar pré- férias, quase trinta mil,
outros virão. A presidente, no inferno momentâneo, pensando num céu de
brigadeiro, para garantir-lhe mais anos de poder. O ex negando a candidatura,
mas se movimentando feliz pelo messianismo, pela paixão que muitos lhe
devotam. Dois mil e catorze chegou, sem ter chegado. E o reino do faz de conta
continua vivo, muito ativo.
A memória é curta: esquecidos os aviões
oficiais carregando parentes. Já são voos passados. Comportem-se crianças, recomendação dada antes de entrarem de
férias. Ou seja, façam as coisas mais ocultas, não vacilem, pois podem querer
voltar às ruas. Ah, o jornal falou: “integrantes do governo aportam na Suíça
pernambucana levando de carona parentes
e amigos. Tudo registrado nas redes sociais”.
Ah, dia de julho. Que venha agosto, com
gosto de novidade e notícias alvissareiras. Que esse silêncio se transforme em
vida pulsante, e a gente na esteira do novo, possa pensar, finalmente, que o
céu é mais perto do que imaginamos ser, bem mais perto que o infinito cinzento
desse mês de julho. Sem povo, sem massa, sem graça.
*Douglas é da Academia Cabense de Letras.
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