sábado, 22 de dezembro de 2012

POEMA DE NATAL

Vinicius de Moraes


Para isso fomos feitos:
para lembrar e ser lembrados
para chorar e fazer chorar
para enterrar os nossos mortos-
por isso temos braços longos para os adeuses
mãos para colher o que foi dado
dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
uma tarde sempre a esquecer
uma estrela a se apagar na treva
um caminho entre dois túmulos-
Por isso precisamos velar
falar baixo, pisar leve, ver
a noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
uma canção sobre um berço
um verso, talvez de amor
uma prece por quem se vai-
mas que essa hora não esqueça
e por ela os nossos corações
se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
para a esperança no milagre
para a participação da poesia
para ver a face da morte -
De repente, nunca mais esperaremos...
hoje a noite é jovem; da morte, apenas
nascemos imensamente.

O BAILE DO MENINO DEUS

Começa neste domingo, dia 23 e vai até o dia 25, terça-feira, a curta temporada do imperdível espetáculo "O BAILE DO MENINO DEUS", no Marco Zero, Recife antigo.
O texto é de Ronaldo Correia de Brito e Assis Lima, coim a trilha sonora assinada por Antúlio Madureira. O espetáculo tem música ao vivo, com a participação de ua Orquestra composta por 14 músicos e solos musicais a cargo de Silvério Pessoa e Virgínia Cavalcanti. Um coral adulto, com 13 membros, junta-se ao Coro Infantil composto por 12 afinadas vozes, completando este belo espetáculo de Natal.
O espetáculo é grátis e começa às 20 horas.

VIAGEM POR VOCÊ

Antonino Oliveira Júnior*



Olhar seu corpo
Não é somente ver seu corpo;
Olhar seu corpo
É ver detalhes, beleza,
Marcas do sol e do desejo,
É viajar por ele
Tocá-lo sem por as mãos,
Acariciar com a mente,
Sentir o cheiro
Passear com os lábios
E sonhar um prazer
Infinitamente intenso.


*Antonino Oliveira Júnior é da Academia cabense de Letras

sábado, 15 de dezembro de 2012

HOMENAGEM A GONZAGÃO REVELA ANDREZA VIEIRA

A Secretaria Municipal de Cultura do Cabo de Santo Agostinho reuniu Sanfoneiros e forrozeiros da cidade, em noite de homenagem ao Centenário de Luiz Gonzaga. O evento aconteceu no Largo da Estação e revelou uma jovem cantora, que conseguiu se destacar dentre as dezenas de nomes que ali se apresentaram. Com uma voz madura, com a segurança de uma veterana, a jovem ANDREZA VIEIRA encantou a quem compareceu ao evento de Gozagão, alternando boa interpretação e excelente presença de palco. Uma jovem estrela, daqui mesmo, da Cohab, sobre quem ainda vamos ouvir muitos comentários. É só esperar e dar tempo ao tempo.

ENCONTRO DE BLOGS LITERÁRIOS DO NORDESTE

De 22 a 24 de maio do próximo ano, Maceió será sede do 2º ENCONTRO DE BLOGS LITERÁRIOS DO NORDESTE. O evento conta com apoio da Universidade Federal de Alagoas e Governo do Estado de Pernambuco, através da FUNDARPE. Segundo a coordenação, mais de 20 Blogueiros já confirmaram a presença, a exemplo do Blog de Antonino e Domingo com Poesia, ambos de membros da Academia Cabense de Letras.

A PONTE DOS VENTOS

O CANTO DO CORPO E AS RAÍZES DA VOZ - Oficina no Recife

O 19º janeiro de Grandes Espetáculos terá, em 2013, imperdível Oficina com atriz do Odin Teatret, da Dinamarca (IBEN NAGEL RASMUSSEN) em parceria com a pesquisadora TATIANA CARDOSO (RS). Serão 16 horas de Oficina em conjunto, quando compartilharão com os participantes suas técnicas pessoais de treinamento de ator, como em uma viagem através de exercícios feitos com o Grupo A PONTE DOS VENTOS.

As Oficinas acontecerão no Teatro Luiz Mendonça, no Parque Dona Lindu, de 14 a 17 de janeiro de 2013, das 09:30 às 13:30 horas e os interessados deverão acessar o site www.janeirodegrandesespetaculos.com e preencher Ficha de Inscrição. Haverá um processo seletivo para participação e o investimento na Oficina será de R$ 200,00 para participantes e R$ 100,00 para Observadores, com o pagamento devendo se feito até o dia 08 de janeiro, no SATED/PE -Fone: 3424 3133

O CHORO DO AMOR




Antonino Oliveira Júnior*


É doloroso e cruel;
É como sentir o prego perfurando tua carne,
Teus nervos, tua história...
O Teu olhar sereno
Sossega nossas lágrimas
E apascenta nossos corações...

Volto no tempo
Que me leva à manjedoura
Para ver-Te em prantos
No colo da mãe serena...

O choro do amor ecoava,
O choro que trouxe luz
Apontou caminhos  para a humanidade
E encheu de esperanças
Um mundo preso aos pregos
E ao choro do nosso sofrimento,
Esquecendo , sem razão,
O Teu choro de amor.


*Antonino Oliveira Júnior é da Academia Cabense de Letras

INVENTÁRIO






                                        
                                                    DOUGLAS MENEZES*

   Ninguém lembrará de você daqui a pouco. No picadeiro não vai importar sua emoção. Anos a fio, chorou e fez chorar. Sorriu quando a dor era mais forte, naquela linha tênue entre a coragem e a fraqueza. Emocionou-se pelos outros, deixou de sentir sua própria emoção. E assim vai,  e assim foi. Fez da vida um parágrafo único: sem graça, no mais das vezes. E no desespero da sobrevivência menor, ouviu a amizade insincera: sinto muito, não posso ajudar, tenho minhas limitações. Pediu perdão por não ter sido forte. Consolou-se dizendo que o mundo era assim. Ninguém lembrará de você, pois hoje a nuvem do esquecimento levará de vez até a mais abissal das recordações. Vento sem som, carregando a memória por milhões de noites e dias. Atemporal a existência. Comer, dormir, fazer mais gente, perpetuando a rotina de sempre . Ai Drummond, vida besta esta, como tu disseste. Só você estará como veio ao mundo, e o poeta não esqueceu: “Pela última vida, poucos amigos hão de te procurar”. Santana também constatou: “Quem nos levará à derradeira morada, se todos que conhecemos estão indo embora para aquele sono sem retorno?” Pois, Santana, não haverá alça, nem caixão. Belo será a nossa transformação em poeira cósmica, como diz Ferreira, apenas a matéria orgânica voltará para onde veio. Vibrou com o futebol, fez campanha, se expôs, caminhou muito, discutiu, e assim mesmo ninguém lembrou de você. Não um agradecimento, que é demais para eles, mas a lembrança de que você existiu há uns meses. Esquecido será, pelos bens que não teve, pelo receio  de ousar mais e sair da mesmice, mesmo com risco. E a quem veio ao mundo pelo seu sémen, apenas a vontade de que tudo benevolente seja, numa vida de fardo menor que a sua. Ninguém  lembrará  de você daqui a pouco, embora ainda brotem as flores nos dezembros, e as namoradas permaneçam com o cheiro de jasmim no riso fácil de quem conta estrelas. Como lembrar de você daqui a pouco se já agora, na madrugada do silêncio, a luz do esquecimento presente se faz. Memória dilacerada, voz que não se ouve. Você e o medo medonho da amnésia do tempo, aqui, amanhecendo, na certeza de que daqui  a pouco, com o sol e esse verão tão moreno quanto quente, ninguém lembrará de você.

*DOUGLAS MENEZES é da Academia Cabense de Letras e Professor de Língua Portuguesa e Literatura.

sábado, 8 de dezembro de 2012

OLIVIER E LILI


OLIVIER E LILI: UMA HISTÓRIA DE AMOR EM 900 FRASES volta a cartaz no próximo dia 13, quinta-feira, às 20 horas, no Teatro Capiba, no SESC de Casa Amarela, em Recife, dentro da Mostra Capiba de Teatro. Os ingressos custam: R$ 10,00 e R$ 5,00. Preços realmente populares para um bom espetáculo.

NA SALA DE AULA, MESTRE GRACILIANO E A INTERTEXTUALIDADE

Douglas Menezes*



   Não é fácil, hoje, estimular no estudante de nível médio o interesse pelo texto literário. Às vezes, num momento de pessimismo exagerado, achamos ser esta geração um amontoado de seres perdidos, invertendo os verdadeiros valores humanos. Um punhado de gente vazia, superficial, incapaz de analisar, por mais simples que seja, um tema, um conteúdo qualquer. Geração sem cabeça,  ao sabor da instantaneidade e de ações inconsequentes. Espantosa visão apocalíptica, esta. Nesse pesadelo, como encaixar, ao menos, uma tentativa, no meio dessa massa alheia, de realização de um trabalho literário? Pensamos nós, nos instantes de negativismo insolúvel. Mundo sem saída. Resposta inexistente para a equação.
     Junte-se a isto, salas abarrotadas, salários aviltantes. Omissão dos pais, preocupados, tão-somente, com o dia asfixiante na luta pela sobrevivência.
     Depois, apimentando a receita do bolo catastrófico da Educação no Brasil, a tecnologia e os meios de comunicação contribuindo com informações “mastigadas”, esperando apenas a ingestão, sem maiores questionamentos, pois pensar, dói.
    No entanto, o raciocínio depressivo, felizmente, vai-se dissipando e, embora não haja luz, nem sequer túnel, há aquilo que não devemos esquecer nunca: a crença em que, de uma forma ou de outra, podemos contribuir para que “as coisas” melhorem um dia. Até porque, aqui e ali, a manhã começa a chegar, tênue amanhecer pedagógico. Na certeza de fazermos dos inimigos, aliados, ferramentas de apoio. Não sermos tão retrógrados,  que não possamos avançar; nem tão avançados que esqueçamos a tradição, também necessária na luta pelas ações transformadoras.
    Passado o ranço da desesperança, vislumbramos a possibilidade de incutir no jovem estudante, a Literatura como objeto de seu interesse.
    Se é tarefa quase hercúlea, deve, ao mesmo tempo, ser função do professor de Português  não deixar o ensino da Língua  tornar-se, na verdade, alvo da alienação crescente junto ao educando mais novo. Fundamental reagir, politizar de forma democrática, mas levando em consideração, a experiência a ser passada, o professor um leme, um guia que escuta, crendo entrar no caminho que julga correto. Influenciar aquele que necessita aprender e apreender de modo positivo a discernir e aprofundar conhecimentos.
    Aparece, então, a primeira pergunta: é possível criar no aluno um interesse maior pela Intertextualidade, já que esse conteúdo  tornou-se  fundamental na compreensão  do  texto literário?
    A Intertextualidade já existe em alguns compêndios ( que palavra! ) da Língua Portuguesa do antigo segundo grau, um pouco sistematizada, porém, ainda assim, incipiente. É como se houvesse um certo receio em mexer com o mito da originalidade autoral. Remeter um texto a um outro, matriz, na visão conservadora, pode macular as obras de alguns “monstros sagrados”.  E o Ensino Médio é bastante recalcitrante nesse ponto: não gosta muito de bulir em feridas recém-abertas.
     No entanto, deve-se, pelo contrário, mostrar como a Intertextualidade é apaixonante, comprovando que o diálogo entre textos não torna nenhum autor menos criativo ou plagiador, demonstrando ser a Literatura um conjunto de contribuições, de acréscimos àqueles troncos iniciais, aquilo diferente e comuns a todos os textos, na visão de que não há escritos adâmicos. Essa prática deixaria menos enfadonha a análise dos estilos literários, presa à rigidez de datas e características nem sempre verdadeiras dentro do pragmatismo do texto artístico. Há modernismo em obras do passado; bem como passado em outras modernas. A verdade é que a Intertextualidade traz maior dinamismo ao fazer literário. Retira todo o engessamento da velha teoria dos estilos de época, que devem ser estudados sempre em um vai-e-vem: passado, presente e perspectiva para o futuro.
       Nessa linha, poderíamos motivar o Ensino Médio. Afastá-lo dessa concepção estática que ainda, salvo exceções, em relação à prática pedagógica da Literatura. Assim, a sonolenta concepção secular de não achar ligações entre as diversas épocas, daria lugar à criativa interação entre períodos e autores, valorizando-se, sobremodo, o diálogo entre textos. Sendo esse estudo bem conduzido, não deixaria margens à visão simplória de que tudo se imita, passando o adolescente a enxergar essa “imitação” como uma reescritura criativa de temas já produzidos, residindo aí, a criatividade maior. Seria o primeiro passo: eliminar qualquer visão preconceituosa em relação  à Intertextualidade na sala de aula.
         O aluno, nesse primeiro momento, deve entender a Intertextualidade como um exercício analógico, já que, provavelmente, possui ele uma experiência desse tipo durante sua vida antes da escola. Com efeito, para um principiante, atividades indicando semelhanças no diálogo entre os textos,  seriam um bom começo, pois analisar teoria pelas diferenças comporta um aprofundamento não encontrado nos adolescentes.
          Essencial é ativar a curiosidade do estudante, fazendo-o trabalhar uma variada quantidade de textos e de autores diferentes, ocasionando a inclusão do diálogo textual no dia a dia da sala de aula, mostrando ser algo positivo o relacionamento intertextual para a compreensão da escrita literária.
          A partir daí, podemos trabalhar, com os alunos do Ensino Médio, os textos de Graciliano Ramos. Sendo bom lembrar, ser esse trabalho precedido de um conhecimento prévio sobre a Intertextualidade. Assim, para o docente, não deve parecer estranho o uso do termo, pois ele fará, constantemente, um exercício de diálogo.
          Depois, os livros São Bernardo e Angústia, logo no início do ano, devem ser indicados como paradidáticos. Os alunos, assim, teriam tempo necessário de, pelo menos em um semestre, manusear as obras, havendo também, a necessidade do conhecimento biográfico do autor e alguma coisa sobre seu estilo, estabelecendo uma visão, ainda que superficial, de toda a obra do mestre alagoano. O professor é fundamental nessa tarefa, à medida que deve ser um elemento motivador na prática da leitura. A ideia geral sobre a obra de Graciliano, repito, é fundamental. Por exemplo, ao falarmos da linguagem enxuta dos dois livros em pauta, não criaremos estranheza aos alunos, veriam isto com naturalidade, como marca do artista.
            Além disso, o professor pode chamar a atenção para um aspecto comum nos dois romances de Graciliano Ramos, Angústia e São Bernardo, e que, com certeza, por ser um sentimento típico do ser humano, tornará mais fácil a análise intertextual dos textos. Trata-se da presença do ciúme nos dois livros,  que de resto sempre foi tema encontrado na Literatura Universal. Os dois personagens principais, Paulo Honório em São Bernardo, e Luís da Silva em Angústia, a seu modo, expressam um ciúme paranoico, que gera duas tragédias pessoais: a morte da esposa Madalena em São Bernardo, que se suicida diante da pressão do marido; e a perda da noiva Marina para o comerciante Julião Tavares, levando Luís da Silva a assassinar o rival. Todo esse processo de desconstrução dos dois personagens é seguido de uma desagregação psicológica degenerativa, sem volta e facilmente compreendida por quem faz a leitura das duas obras.
            E aí, um outro romance, de dimensão grandiosa dentro da Literatura Brasileira, pode servir como mais um elemento comparativo para o estudante de nível Médio: Dom Casmurro, de Machado de Assis, a sua maneira, traz o ciúme, a desconfiança, como um dos temas centrais, havendo, nesse momento, a possibilidade, de uma análise formal entre os três livros: a mesma escrita enxuta é encontrada nas obras maiores dos dois escritores. Linguagem carregada de essencialidade. Temáticas semelhantes, abordagens diferentes, em Machado e em Graciliano, parecidos os dois, e, ao mesmo tempo, díspares, pois cada um com sua personalidade própria de escritor.
            O passo seguinte e definitivo, é fazer um estudo da Intertextualidade, mostrando o dialogismo dentro da obra de um mesmo autor. Dois escritores poderiam servir de modelo nesse exercício: José Lins do Rego, na prosa, e Manuel Bandeira, na poesia. Ambos ricos em relação à Intertextualidade.
             Afora isso, lembremos de outras expressões artísticas sobre a obra de Graciliano Ramos. Vidas Secas, São Bernardo e Memórias do Cárcere são livros adaptados para o cinema que, pela qualidade, acrescentam, e muito, algo mais sobre a produção do gênio alagoano. O teatro é outra expressão artística que poderia ser utilizada pelos alunos em um estudo na forma de monólogo, principalmente com relação a Angústia e São Bernardo.  
          Por fim, recordar a contemporaneidade do Mestre Graça. Sua atualidade, mostra, sobretudo, o autor que ultrapassou o seu tempo. Como o mago Machado de Assis,  demonstrou que os dramas humanos vão além de um período histórico, inserem-se naquela visão de que grandezas e mesquinharias acompanharão o homem, independendo da época e que sempre valerá a pena estudar um artista como Graciliano, que produziu um trabalho  de humanismo ímpar e que dificilmente será apagado, por ser regional, brasileiro, mas, principalmente, universal.

DOUGLAS MENEZES É PROFESSOR DA REDE OFICIAL E PARTICULAR DE PERNAMBUCO,  FORMADO EM LETRAS E EM COMUNICAÇÃO SOCIAL. ESPECIALISTA EM LITERATURA BRASILEIRA E EM LEITURA, COMPREENSÃO E PRODUÇÃO TEXTUAL.
EMAIL: douglasmenezesnet@gmail.com
         

PROJETO "A ESCRITA DO CORPO" CHEGA AO FINAL

Grupo Quadro de Cena              foto: Aryella Lira


Neste domingo, às 19 horas, o auditório da Livraria Cultura, no Paço Alfândega, recebe a etapa final do `projeto A ESCRITA DO CORPO: DRAMATURGIA DO ATOR NO PROCESSO DE CRIAÇÃO, com os atores Marcella Malheiros, Thomás Aquino, Andreza Nóbrega e Milena Marques demonstrando cena-experimentos a partir do diálogo da música com a partitura corporal, sob a direção musical de André Filho.
O LIVRO DAS PERGUNTAS, de Pablo Neruda, será o mote para a construção dos experimentos, com discussão aberta ao público no final. O trabalho tem o incentivo do Funcultura e a entrada é grátis.

sábado, 1 de dezembro de 2012

SONETO DAS METAMORFOSES



Carlos Pena Filho


Carolina, a cansada, fez-se espera
e nunca se entregou ao mar antigo.
Não por temor ao mar, mas, ao perigo
de com ela incendiar-se a primavera.

Carolina, a cansada que então era
despiu, humildemente, as vestes pretas
e incendiou navios e corvetas
já cansada, por fim, de tanta espera.

E cinza fez-se. E teve o corpo implume
escandalosamente penetrado
de imprevistos azuis e claro lume.

Foi quando se lembrou de ser esquife:
abandonou seu corpo incendiado
e adormeceu nas brumas do Recife.

MEU CANTO DE GUERRA

Solano Trindade

Eu canto na guerra,
como cantei na paz,
pois o meu poemas
é Universal.
é o homem que sofre,
o homem que geme
é o lamento do povo oprimido,
da gente sem pão...
é o gemido
de todas as raças,
de todos os homens.
é o poema da multidão.

HI-RO-SHI-MA É O TEU NOME

*Roberto Menezes


A bomba explode distante
e me deixa cego agora
como o sol radiante
naquela noite lá fora.
Sol que me tirou o olhar
sol que mostra e zomba
sol que pra amar me chama
Hiroshima, mulher, menina.
Hiroshima. Só.
O sol, a bomba
e me tornei cego radioativo
perseguindo tua imagem
na loucura de uma viagem
que imagino, vivo e ativo:
sem saber se és Nevers
sem saber se és Hiroshima.
Cego sigo nessa dramática vertigem
de um pretenso e tenso cine-poema
que nunca passou, nem passará, no cinema.


(Para quem assistiu Hiroshima Mon Amour. E prá ela)

*Roberto Menezes é Jornalista.