quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

JOSÉ LINS DO REGO ( IV )

JOSÉ LINS DO REGO:

A DOCE AMARGURA DO FINAL DE UM CICLO

BANGUÊ: A ESTÉTICA DO OCASO

DOUGLAS MENEZES


O que se nota é que nem toda a dignidade do coronel José Paulino consegue trazer um fio de esperança para que algo de bom aconteça no ambiente do romance. O envelhecimento do modelo econômico é o envelhecimento do patriarca. Sua morte não possui a glória dos heróis que parecem morrer felizes. Ele, uma árvore desfolhada pelo tempo, fragilizada até a raiz, pois os seus não continuam sua obra. Os herdeiros representam o fracasso. O neto, pusilânime, não consegue dominar os miseráveis que o coronel conseguira trazer sob domínio, a flor e ferro. Árvore que cai, porque a raiz está apodrecida, carcomida pelo atraso.

Carlos Melo fracassa em tudo: na profissão, no amor, no comando do engenho. Mas ele é apenas a peça de uma engrenagem já enferrujada. O rolo compressor do novo momento econômico o arrasta, como a todos. É o progresso do subdesenvolvimento, onde a máquina que facilita a produção, aumenta a desigualdade entre os homens, concentra a riqueza e faz a vida mais sofrida, principalmente para os eternos párias do campo. Melhor ser escravo de Zé Paulino, a ser expulso de suas casas pela usina. Esta a lógica da inconsciente massa de camponeses do início do século vinte. Assim, o personagem- narrador de Banguê entrança-se no emaranhado de uma teia sem fim. Labirinto de saída inexistente. Resta a fuga. O desaparecer em busca de um lugar: o esquecimento.

Em Banguê, infeliz, sempre, o destino dos personagens verticais. Todos caminhando para o vazio.

E o romance, no final, atesta, de modo poético, que todos os personagens ou “viajam” para a morte, ou fogem a lugar nenhum. A síndrome apocalíptica de uma época atinge a todos, mesmo os que se beneficiam da derrocada dos outros. Exército de infelizes: ricos e pobres.

DOUGLAS MENEZES É FORMADO EM LETRAS PELA UNICAP E EM COMUNICAÇÃO SOCIAL PELA UFPE. PROFESSOR DAS REDES OFICIAL E PARTICULAR DE PERNAMBUCO. PÓS GRADUADO EM LITERATURA BRASILEIRA, PELA FAINTIVISA E EM LEITURA, COMPREENSÃO E PRODUÇÃO DE TEXTO PELA UFPE. É MEMBRO DA ACADEMIA CABENSE DE LETRAS.

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