domingo, 11 de novembro de 2012

CULPA DE GODARD

Roberto Menezes*


Captar o teu olhar de cigana
na quase não - fila do cinema
para ver um filme de Godard
é fogo que virou poema
e me abrasou, e meu fez capitular.
E te seguir até à cadeira
onde você ficou a esperar
o desprezado filme de Godard.
Mas nem bem o filme começa
o ator na tela acaricia Brigite Bardot
e faz comovida jura de amor:
"te amo docemente
ternamente
tragicamente".
E teu choro de repente
pungente, obscuro
fez tremer as cadeiras
incendiou o escuro
e tua saída intempestiva
tuas lágrimas, teu segredo.
Nunca mais te vi
e no meu degredo
me tornei Bento e Escobar
devorados no ciúme e na ressaca
eles, culpa de Machado
eu, culpa de Godard.


(Ano passado em São Paulo. Durante lançamento da cópia remasterizada de O DESPREZO, do velho e sempre novo Jean- Luc Godard. Dedico à escritora Danielly Teles, que me entregou dois contos que escreveu, para que eu  filmasse o Curta "MENINA: DOIS EM UM)


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