segunda-feira, 29 de outubro de 2012

DE BREGA A CULT



Douglas Menezes*

Recentemente a Rede Globo incluiu na trilha sonora da novela Gabriela a música do cantor Fernando Mendes “Você não me Ensinou a te Esquecer”, canção que já fora trilha musical do filme Lisbela e o Prisioneiro, baseado na obra do grande escritor Osman Lins. Música classificada como brega romântico há trinta anos, desprezada pela intelectualidade brasileira que curte MPB de qualidade, foi sucesso à época na voz do seu autor Fernando Mendes. É interessante notar como o conceito do brasileiro médio muda de acordo não só com o passar do tempo, mas pela presença de quem “apadrinhou” o novo elemento cultural.

Pois bem, O “monstro Sagrado”, com inteira justiça, da música brasileira Caetano Veloso resolveu dar uma roupagem nova à música. Deu um tom mais dramático à canção, incluindo uma instrumentação de nível inquestionável. O resultado foi novo sucesso da música, com algo que impressiona: sua inclusão no repertório da MPB de bares e emissoras de rádio, junto a Djavan, Chico, Gal, Betânia, o  próprio Caetano, entre  outros, incluindo aí, o público jovem, com menos de trinta anos. Quer dizer, o que não possuía valor antes, passou a ser “nata” da música romântica brasileira de qualidade.  Mostrando que os mitos realmente são intocáveis, gerando verdades nunca questionáveis, pois já se disse demais versos como estes: “ Não vejo mais você faz tanto tempo/ Que saudade que sinto ; De olhar nos seus olhos sentir seu abraço/ É verdade eu não minto...”. No entanto, “Você não me Ensinou a te Esquecer”, retornou ao pódio do sucesso, inclusive por parte do público mais exigente, a ponto de a TV colocá-la na trilha de bom gosto da nova versão do romance de Jorge Amado, junto a obras consagradas de Djavan, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Moraes Moreira e Dorival Caymmi.

Aliás, Caetano Veloso é pródigo, ao longo de carreira, em despreconceitizar aquilo que é visto quase como tabu em nossa sociedade conservadora. Na música, fez isto, também, com Coração Materno, de Vicente Celestino e Sonhos, de Peninha, mostrando que, às vezes,  é tênue a fronteira entre o culto, de sentido elitizante, e o popular, naquilo que o povo assimila como sua cultura.

*Douglas Menezes é escritor, professor de Língua Portuguesa, pós-graduado em Literatura Brasileira e em Leitura, Compreensão e Produção Textual pela UFPE, membro da Academia Cabense de Letras.


Um comentário:

  1. Tens razão caro confrade Douglas em trazer a tona a tênue distância entre o clássico e o popular, o sagrado e o profano, o que é e o que não é, o que foi dito pelo marginal e o mesmo que foi dito pelo "central". Parece que o rei Salomão, século VI a.C., tinha razão quando disse: "Não há nada novo debaixo do céu".
    Abraço acolhedor,
    Erivaldo Alves

    ResponderExcluir