sexta-feira, 7 de maio de 2010

"SE UM RIO SEPARA, UMA PONTE UNE"


DOUGLAS MENEZES*

Há pessoas que passam a vida inteira construindo ou tentando construir pontes separadas por rios. Refazer caminhos, recriá-los é missão de muitos. São seres que não vêem sentido numa existência sem servir a uma boa causa. Quanto sangue generoso foi e é derramado por conta de uma opção em prol dos outros? Pessoas que professam a máxima: ”Quem não vive para servir, não serve para viver”. Como seria fácil, por exemplo, para um Chico Mendes viver uma vida de teórico, curtindo as benesses de ser protetor do meio-ambiente a distância. O que dizer, então, de Dom Hélder, autoridade eclesiástica de fama internacional mas que fez opção pelos pobres, abdicando do direito de cuidar das almas, como faz a igreja conservadora.

De fato, existem homens produzindo ações políticas sem exercerem cargos ou mandatos. Tendo, muitas vezes, colocado sua vida pessoal em segundo plano para se dedicarem a uma ação coletiva.

São os anjos que velam os mais fracos, Lutam contra todo tipo de injustiça e fazem contraponto aos maus políticos, sempre, na sua maioria, preocupados com o imenso corporativismo, envolvidos em escândalos, conchavos, vivendo, tão-somente, visando a seus próprios interesses. São eleitos para cuidar de si, viciando o povo, prendendo-o às amarras do assistencialismo podre. Afora isso, o enriquecimento ilícito, as fraudes de todos os matizes.

Há, entretanto, aqueles que fazem da vida uma imensa quantidade de versos poéticos, totalmente despidos de ambições pessoais. Jamais eleitos para um mandato, mas dignificando a existência humana. Citar apenas alguns nomes é ser injusto com outros. Como disse Bertold Bretch, os que lutam a vida inteira, sem descanso, esses são imprescindíveis. São os verdadeiros políticos. Fazem o que os políticos deveriam fazer.

Estas são reflexões inspiradas no editorial do Tribuna sobre os cem anos de nascimento de Dom Hélder Câmara. Uma simples homenagem aos homens que adotam ou adotaram o verso maior da música popular como filosofia: ”Se um muro separa, uma ponte une”. Gente que acredita no verbo unir como um remédio, como uma espécie de solução para um mundo melhor.

*Douglas Menezes é membro da Academia Cabense de Letras

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