segunda-feira, 21 de junho de 2010
FUTEBOL E CIDADANIA
Douglas Menezes*
É muito gostoso esse clima de Copa do Mundo que paira sobre o país. Interessante, à hora de cada jogo do Brasil, as ruas, lentamente, ficando desertas, silêncio de milhares de cidades fantasmas, como se todo mundo abandonasse o país e fosse para outro planeta .Dizia o grande Nelson Rodrigues: “a seleção é a Pátria de chuteiras”. Realmente a Nação se mobiliza quando o assunto é o escrete em confronto com o mundo. Mais além ,o sonho de milhares de meninos pobres, quase sem futuro, parece se aproximar da realidade. Os jogos na televisão têm o valor de catarse.
Nossas crianças sonham em fazer as mesmas jogadas e completarem para o gol. Cada um desses meninos é Kaká, Luís Fabiano, Robinho, Júlio César, ou até o inimigo comum e argentino Messi. Mas, sabemos, poucos irão atingir um pedaço dessa glória. Muitos que se tornam jogadores profissionais, não passarão de mais um contingente que vai ganhar até três salários mínimos, a grande maioria dos salários de jogadores profissionais do país. Outros morrerão sem nem ao menos sentirem no bolso, o gosto de uma remuneração como jogador. Infelizmente essa a grande maioria, aumentando a fileira de frustrados pretensos jogadores.
Este é apenas um lado dessa reflexão sobre o futebol e a Copa. Ao passo que é bonito ver o povo se motivando, colorindo as ruas, enchendo de alegria essa nação ainda tão sofrida e cheia de fossos sociais, vibrando, acelerando o peito, quase às vezes enfartando e sentindo orgulho em ser brasileiro, por outro lado, é forçoso dizer da alienação causada pelo futebol e pela despolitização da população brasileira.
Que bom seria se toda essa movimentação e conhecimento de causa, tivesse um outro direcionamento. Não fosse apenas um eco da fantasia que o futebol proporciona. Que a gente entendesse não só de bola, mas, sobretudo de cidadania. Que a gente banisse de vez os corruptos da cena política. Que tivéssemos o sonho de não vermos nunca mais pessoas passando necessidade, e que a Educação Pública não fosse objeto apenas de tema às vésperas da eleição, sendo depois, posta em prática de modo hipócrita e mentiroso. Que reagíssemos com indignação ao vermos irmãos morrerem nas filas dos hospitais públicos, sempre abarrotados e tendo a desculpa de que nunca há dinheiro pra saúde, quando há para show e divertimentos duvidosos, num circo que não deveria interessar a ninguém. Aí estaríamos ganhando a verdadeira Copa da Cidadania. A copa que não dá alegria apenas por um mês, mas por décadas a fio e que nos tornaria um país feito de irmãos, sem a violência fraticida, que até hoje nos enfraquece e nos faz menor perante a humanidade.
*Douglas Menezes é professor e membro da Academia Cabense de Letras
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Digo com todas as palavras que atitude escrita esta totalmente correta. Uma vez que todos estão céticos a respeito do tema tradado. Parabéns por mostrar um pouco dos reais motivos e acontecimentos que outros não verei.
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