quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A POESIA ERÓTICA DE MARCUS ACCIOLY


Poeta Marcus Accioly

ÉRATO
(69 poemas eróticos
e uma ode ao vinho)
Rio de Janeiro: José Olympio, 1990
“Prêmio Jorge de Lima”


37

Explorarei teus vales e montanhas
(ó terra transformada) explorarei
(no mais dentro de ti) tuas entranhas
(escavando-te a gruta) gozarei
o prazer que me fere quando arranhas
tuas unhas em mim (ou beberei
nas fendas da vagina o sal que apanhas
do rio de suor que em ti suei)
solo de carne és farto de ti mesmo
(se o teu clitóris se embriaga a esmo
posso não ser a posse (eu sou o estupro)
e onde tu és mulher eu sou um bruto
para que o gozo anão seja gigante


48
R


onde tu estás
como um bicho no cio ou feito um pássaro
masturbando outro pássaro no espelho)
onde em mim não estás? (em tudo és dentro)
se me afasto do tempo estás no espaço
pois não sais dos lugares onde eu entro
(sempre nunca te encontro) muitas vezes
eu atravesso a sombra do teu corpo
como quem cruza um túnel (mexo as fezes
que entre nós dois o coração tem posto)
porém é farta de pecado e suja
que te quero à lembrança que te ama
(que porco eu sou fuçando a tua vulva
cheirando a peixe sobe o mar da cama?)


54
I


‘”por trás o prazer é diferente
do gozo pela frente” (diz) e a boca
suplica (“mais”) ai toda a carne é pouca
para todo o desejo (pela frente é pouca
para todo o desejo (pela frente
o amor no próprio mor se satisfaz)
mas é diverso o coito por detrás
da fêmea (é como os animais copulam)
existe um cio por detrás (um jeito
de pegar os cabelos quando ondulam
suas crinas) que o gozo insatisfeito
precisa de mais gozo para ser
em sua plenitude ou gozar mais
(se uma só vez o amor acontecer
é preciso que seja por detrás)

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