quarta-feira, 25 de novembro de 2009

ERA TÃO POBRE QUE SÓ TINHA DINHEIRO


Antonino Oliveira Júnior

Comenta-se que em determinada cidade havia um homem que tinha muito dinheiro, que “arrotava” grandeza e, acima de tudo, falava só acreditar na força de seu dinheiro. Deus só existia para ele pedir mais dinheiro, pra continuar tendo sucesso nos negócios; Jesus era uma figura decorativa em seus pensamentos; amigos “lisos”, nem pensar, pois fazia sempre questão de viver cercado daqueles amigos que dão risadas bem altas e falam sem noção de volume e que se deliciavam nas churrascadas que ele promovia nos finais de semana. Era muito comum, quando indagado acerca de uma vida mais fraterna, ouvir desse homem expressões tipo: “meus filhos se formam este ano, porque tive dinheiro para pagar boas escolas”, “comprei uma casa na praia, porque este mês sobrou muito dinheiro”, “ter amigo pobre é esperar a facada a qualquer momento”, etc., e sua ignorância espiritual continuava: “Se eu não tiver muito dinheiro, nada vai cair do céu”. Amor ao próximo, nem pensar.
Um dia, surpreendido pelas incertezas da vida, o homem poderoso começou a cair em desgraça, com a esposa acometida de doença incurável, o filho tão querido paraplégico, vítima de acidente e, para sua agonia, o dinheiro escorrendo pelo ralo. Aos poucos, sua conta bancária foi esvaziando, churrascos já não aconteciam, os “amigos” foram sumindo, a casa cada dia mais vazia, ele, cada vez mais solitário. Morrem a esposa e o filho, causando uma tragédia no interior daquele homem, que não encontrava um ombro sequer onde depositasse suas lágrimas, uma mão para afagar seus sofrimentos, um coração capaz de acolher o seu, tão sofrido, tão marcado pela dor.
Certo dia, cansado pela dor e deprimido pela solidão afetiva, sentou-se em um banco de praça, a mesma praça que ele só via pela janela do carro, olhou para o infinito com os olhos tristes, com a face úmida de lágrimas. Soluçou, chorou ainda mais, e chegou à conclusão de que era tão pobre que só tinha dinheiro.


*Antonino Oliveira Júnior é membro da Academia Cabense de Letras

Nenhum comentário:

Postar um comentário