sábado, 26 de dezembro de 2009

TRIBUTO AOS POETAS QUE SE FORAM


foto: Marcelo Ferreira - Ag. Luzes

PAULO CULTURA

PAULO ALEXANDRE DA SILVA, conhecido como Paulo Cultura, foi funcionário público, da Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho, desempenhando suas funções profissionais numa área nada literária, a Secretaria Municipal de Finanças. Fora do trabalho, teve uma intensa vida cultural na cidade, fazendo parte da geração GRECUEC na década de 70, freqüentou o Grêmio Literário Cabense, onde chegou a fazer parte de uma das últimas diretorias da entidade e, já na década de 80, participou dos alternativos literários SO(L) DE VERSOS e PARA NÃO NOS ESQUECERMOS. Lançou um livro de poesias, intitulado AINDA BATEM NOSSOS CORAÇÕES. Vitimado por uma doença degenerativa, lutou bravamente, como em tudo que fez na vida, até não mais resistir e , enfim, venceu a doença e partiu. Deixou-nos fisicamente e ficou em forma de versos. Dentro do propósito do TRIBUTO AOS POETAS QUE SE FORAM, abrimos aos leitores uma janela para o universo literário de Paulo, o Cultura.


VOSSAS EXCELÊNCIAS
Paulo Alexandre da Silva (Paulo Cultura)

Cidadãos que se tratam de Vossas Excelências
Mas vivem se agredindo entre si
Respeitem o povo e o que o povo lhes deu
Se rasguem, se mordam, se matem entre si
Porém não deixem que suas brigas
Saiam dos bastidores sujos
Desse circo sujo
O homem comum
O humilde trabalhador
Nada tem haver com a ganância e egocentrismo
De vossas Excelências
Vossas Excelências que pertencem ao partido da opressão
Do egoísmo e da traição
Nunca mais apareçam nas praças da minha cidade
Para pedir voto ao povo
Isto porque: Vossas Excelências nem povo merecem ser
O povo tem memória
E da próxima vez
Vossas Excelências serão
Vossas Excelências nas casas das Vossas Excelências.


FELICIDADEPaulo Alexandre da Silva (Paulo Cultura)

Felicidade é nós nos olharmos com ternura
Sem nos importarmos com a amargura
Que a cidade nos traz
E depois do olhar:
Nós dois que estamos em eterno "cio"
Sentirmos o cheiro do amor
Mesmo que este - como disse o poeta:
Seja infinito enquanto durar!
E como disse o profeta:
Devemos atender o chamamento do Amor!
Dê-me as suas mãos,
Pouco importa a extensão do infinito desse amor;
E que em nossos caminhos
Existam pedras e espinhos
Ou sejam agrestes escalpados.
Porém, na profundíssima penetração
Daquilo que eu tenho que mais gostas
Naquilo que tu tens que mais gosto.
É na chegada do clímax,
Do gozo maior,
"Estrelas mudam de lugar, chegam mais perto só pra ver"...
Felicidade é isso aí e nada mais.

AINDA BATEM NOSSOS CORAÇÕES
Ao Livrório/Opus Zero
Paulo Alexandre da Silva (Paulo Cultura)


E todos os ch/c/oros
Pararam de /en/cantar
Porque todas as vozes ficaram emudecidas?
E emudecidos choramos
Ao desencanto de nossos cânticos de liberdade.
Diáspora!
Diáspora!
E juntos ficamos sem coral
Sem pátria e partido
Sem amigos
Sem filhos
Sem pai, mãe, esposa e marido.
E minha dialética de poeta
Fez dizer-te tudo que "não sabia".
E previ o teu, o nosso futuro através de poesias.
Escrevi para que os /c/egos (sem Braille) lessem
Cantei poemas com um coral de "mudos"
Para que todos os "surdos" ouvissem.
Contigo, agora nessa multidão de "mudos"
"Cegos" e "surdos"
Caminhando e cantando verde e amarelo...
Por que não vens, vamos embora
Esperar não é saber?
Vivo, vives...
Apesar deles
Ainda batem nossos corações.

VIDA DE CÃO
Paulo Alexandre da Silva (Paulo Cultura)


Hoje eu sou um simples cão que não sabe ladrir
Pelo simples fato de nunca ter ladrido.
Deixei que todas as carruagens passassem por mim
Apenas olhei-as com um olhar terno
De um cão que nunca soube ladrir.
Também nunca fui um cão morto!
Talvez por jamais ter sido um cão,
E sim, apenas um homem,
Um homem que via as carruagens passarem
Cheias de cães ladridores.
Por que nessa terra miserável
O homem que mora entre filas-brasileiros
Sente a inevitável necessidade de ser um vira-latas
Que nunca andou de carruagens?
Haviam carruagens de todas as cores
Porém, os filas preferiam as carruagens pretas
Por serem mais cômodas e menos dispendiosas
Para suas sacolas.
Mas os que estavam nas filas, os vira-latas
Preferiam as coloridas
Que apesar de serem bem maiores
Eram muito mais dispendiosas para os bolsos dos viras
Apesar dos pesares,
Às vezes os filas se juntavam
Aos pastores-alemães,
Aos pequenezes e outros...
E ladravam, e eram aqueles ladravazes.
Ladravam para melhorar as carruagens coloridas dos viras
E as carruagens de todas as cores
Continuavam a passar...
E nós por que nunca ladramos?
Já não podemos ladrar mais.


POETA VIDA
Paulo Alexandre da Silva (Paulo Cultura)


N as estradas da vida a poesia
A nteviu no presente o futuro
T ranslúcidas luzes da inspiração
A menizadas dores do passado
N asceram sonhos, nunca dantes sonhados
A ntes de ser, teria sido
E ste jovem
L ivre nasceu poeta.


J untemos, portanto, nossas vozes, poeta vida
U nidos na lira pela paz fraternal
N ossos cânticos num grito universal
I remos até o fim, num sonho louco, mas bonito
O uviremos a voz de Deus
R egressaremos guiados por essa voz ao infinito.

"Amanhã estaremos mudos e mais nada"

SANTA MARIA DE LA CONSOLACION
Paulo Alexandre da Silva

Natureza que me seduz
Desvirginada que fostes por homens arredios
Sangras no presente
Mas vejo-te como no passado
Vejo-te nua e beijo a tua existência porque és inviolável
Na tua beleza secular
Que Pinzón pisou
E te chamou
De Santa Maria de la Consolacion.

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