segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

J.G. de ARAÚJO JORGE (lembram dele?)



Noturno nº 2
J.G. de Araújo Jorge


Estás no pensamento,
fixa, presa,
como a estrela no céu
como a nudez da beleza
sob um véu...

Estás no pensamento,
como a espuma na vaga...
Em vão o vai e vem do mar:
ela nunca apaga...

Estás no pensamento
como , na estória, o tema;
como a palavra, no poema;
como o sopro, no vento;
como a música no instrumento;

como o marulho no rio;
como a chama no pavio;
ou o pêndulo, no movimento...

Estás no meu pensamento
como a tatuagem na epiderme;
como a forma na escultura;
como o ritmo no "ballet"...
Como no espírito inerme
a amargura
ou a fé...

Estás no meu pensamento
como o som
na corda distendida;
como, na bússola, o Norte;
como a esperança, na vida;
como na Vida
a Morte!

OS VERSOS QUE TE DOU
J.G. de Araújo Jorge


Ouve estes versos que te dou, eu
os fiz hoje que sinto o coração contente
enquanto teu amor for meu somente,
eu farei versos...e serei feliz...
E hei de fazê-los pela vida afora,
versos de sonho e de amor, e hei depois
relembrar o passado de nós dois...
esse passado que começa agora...
Estes versos repletos de ternura são
versos meus, mas que são teus, também...
Sozinha, hás de escutá-los sem ninguém que
possa perturbar vossa ventura...
Quando o tempo branquear os teus cabelos
hás de um dia mais tarde, revive-los nas
lembranças que a vida não desfez...
E ao lê-los...com saudade em tua dor...
hás de rever, chorando, o nosso amor,
hás de lembrar, também, de quem os fez...
Se nesse tempo eu já tiver partido e
outros versos quiseres, teu pedido deixa
ao lado da cruz para onde eu vou...
Quando lá novamente, então tu fores,
pode colher do chão todas as flores, pois
são os versos de amor que ainda te dou.

(Poema de JG de Araújo Jorge
do livro "Meu Céu Interior" – 1934)

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