segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

HÁ 97 ANOS LUIZ “LUA” GONZAGA CHEGOU AQUI



A SAGA DO REI DO BAIÃO - LUIZ GONZAGA
Antonino Oliveira Júnior


Foi no dia 13 de dezembro de 1912 que nos mandaram Luiz Gonzaga. Para o nordeste, prá Pernambuco, e, ainda mais, para um sítio na cidade de Exu, no sofrido sertão, da seca, da exploração política, da discriminação, da pobreza absoluta, da fé inabalável. Foi esse o cenário para a estréia de Luiz Gonzaga. E ele topou. Como topou todos os desafios de sua vida adiante. Viveu a vida mortificada dos meninos sertanejos de sua época, correu e brincou pela terra batida e rachada, olhando por apenas um olho, como quem faz todo aquele que recebe um sol mais amarelo e mais quente do que no resto do mundo. Cresceu vivendo a experiência única de procurar encher a barriga com o vazio que o quase nada dos muito pobres oferece. Correu pro mundo, deixando prá trás o pai, a mãe, os parentes, amigos, o sertão. Parecia ter se acovardado e abandonado de vez o seu torrão e a sua gente. Que nada! Gonzaga chegou ao Rio de Janeiro, lutou contra todos os gigantes anti-nordestinos, marcou seu território e lá, longe prá cacete, fincou a bandeira do sertão nordestino. Ali, falou da força e da bondade de sua gente, fêz e cantou versos, acolheu novos companheiros, consolidou a música da gente, inventou o baião, criou, na então capital do Brasil, um cargo que não existia e se auto-nomeou, pela competência, bravura, compromisso com as suas origens e respeito ao seu povo, Embaixador do Nordeste. O sertanejo já tinha quem falasse por ele na capital do país.

Tornou-se a voz dos miseráveis e das belezas do nordeste brasileiro. Fez-se querido pelo Norte, pelo Centro-Oeste, admirado pelo Sul, admitido pelo Sudeste, acabou conquistando o Brasil e amado por todos. Tornou-se uma unanimidade nacional. Um rei. Um soberano que voltou para o lugar de onde veio, e não deixou um súdito, sequer, em condições de sentar em seu trono, vago até hoje.

Como compositor e intérprete da mais legítima música nordestina, fonte de tantas vertentes surgidas, Luiz Gonzaga deixou uma imensa lista de belas canções, a exemplo de Asa Branca, Assum Preto, Feira de Caruaru, talvez as mais famosas dentre todas, mas, publicamos aqui algumas não tão famosas, mas que expressam, na sua simplicidade, a força e a beleza do que era cantado por ele, inclusive, Acácia Amarela, um tango, composto em homenagem à Maçonaria, Instituição da qual ele era um dos integrantes. Sertanejo, católico fervoroso e Maçon. Parece um conjunto inusitado, mas, prá que tentar entender um gênio?

Noites Brasileras
Luíz Gonzaga

Ai que saudades que eu sinto
Das noites de São João
Das noites tão brasileiras na fogueira
Sob o luar do sertão

Meninos brincando de roda
Velhos soltando balão
Moços em volta à fogueira
Brincando com o coração
Eita, São João dos meus sonhos
Eita, saudoso sertão


A carta
Luíz Gonzaga

Na carta perfumada que deixaste sobre a mesa
Tenho a certeza de tua traição
Minhas lágrimas caíam teimosas
Sobre as folhas cor-de-rosa escritas por tua mão
Partiste mas minha alma seguirá teus passos
Onde estiveres, eu estarei contigo
Hás de guardar uma saudade minha
Tua lembrança ficará comigo
Não penses mais em mim
Seria inútil, pois nunca te amei
O que houve entre nós dois foi apenas fantasia
Nosso passado terminou como termina
Todas as ilusões
Doravante seguiremos caminhos diferentes
Não me procures, seria uma desilusão a mais.
E esta palavra, no fim da carta
Manchada pelo pranto meu
Esta palavra que me tortura é adeus.

A Letra I
Luíz Gonzaga/Zé Dantas

Vai cartinha fechada
Não deixa ninguém te abrir
À quela casa caiada
Donde mora a letra I
E diz que de uma cacimba
Do rio que verão secou
Meus óio chorou tanta mágoa
Que hoje sem água
Nem responda a dor
Vai diz que o amor
Frumega no meu coração
Ta e quá fogueira
Das noites de São João
Que eu sofro
Por viver sem ela
Tando longe dela
Só sei reclamar
Pois vivo como um passarinho
Que longe do ninho
Só pensa em voltar

Menestrel do Sol
Luíz Gonzaga

Pego a estrada sem descanso
Sem parar para ver
Tempo e chão que percorridos gritos que eu plantei
Menestrel do sol
Na vida eu só cantei
Juntando irmão com irmão
Eu esquecia de viver
Ai, ai quanta saudade
Do beijo que eu não dei
As coisas eu que não tive
São lembranças que eu guardei
Ai, ai que curta vida
Pra quem tanto viveu
Os sonhos de outras vidas
Que ajudei com o canto meu
Ouro e terra, e eu cantando sem me aperceber
Dos momentos que eram meus
Não voltam mais, eu sei.
Menestrel do sol
Caminhos que andei
Destino dividiu
Em mil destinos meu viver


Estrada de Canindé
Luíz Gonzaga/Humberto Teixeira

Ai, ai, que bom
Que bom, que bom que é
Uma estrada e uma cabocla
Cum a gente andando a pé
Ai, ai, que bom
Que bom, que bom que é
Uma estrada e a lua branca
No sertão de Canindé
Artomove lá nem sabe se é home ou se é muié
Quem é rico anda em burrico
Quem é pobre anda a pé
Mas o pobre vê nas estrada
O orvaio beijando as flô
Vê de perto o galo campina
Que quando canta muda de cor
Vai moiando os pés no riacho
Que água fresca, nosso Senhor
Vai oiando coisa a grané
Coisas qui, pra mode vê
O cristão tem que andá a pé

Acácia Amarela
Luíz Gonzaga/Orlando Silveira
(tango – dedicado à Maçonaria)

Ela é tão linda é tão bela
Aquela acácia amarela
Que a minha casa tem
Aquela casa direita
Que é tão justa e perfeita
Onde eu me sinto tão bem
Sou um feliz operário
Onde aumento de salário
Não tem luta nem discórdia
Ali o mal é submerso
E o Grande Arquiteto do Universo
É harmonia, é concórdia
É harmonia, é concórdia".

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