sábado, 12 de dezembro de 2009
TRIBUTO AOS POETAS QUE SE FORAM
JOSÉ AUGUSTO PLECH FERNANDES ( Zeca Plech)
Nasceu no dia 02 e novembro de l886, na Cidade do Cabo de Santo Agostinho.
Pais devotados, Manoel Maria Gonçalves Fernandes e Maria Carolina Plech Fernandes, deram-lhe uma formação além do usual à época.
A austeridade dos fins do Séc.XIX deu-lhe uma infância feliz e sua adolescência aconteceu dentro dos padrões de moral da sociedade, vigentes à época.
A escola do Professor Sette introduziu-o aos estudos e à palmatória.
O sobrado de d. Dhália Plech o acolheria durante os períodos de férias. Ali, no Pátio de São Pedro, a presença de Hermano Plech, filho do seu tio materno Júlio Plech, encheria de travessuras e de momentos grados aos seus olhos e sentidos.
Fins de tarde no Recife, em fins de século: Algo de cosmopolita pairava no ar aristocrático e isto começava a suscitar dúvidas e inquirições.
Apenas a presença de Hermano Plech o trazia de volta aos brinquedos e jogos.
Hermano, companheiro inseparável, dava o toque de realidade aos seus sonhos infantis.
O Mercado de São José, com seu ar parisience quebrado apenas pelo pregão das vendedoras de guloseimas, dava-lhe o toque de independência ao provocar a busca do tostão que o separava da fumegante tigela de arroz-doce.
Nenem, sua irmã mais nova, ora estorvo ora companheira.
Filhos de família abastada, tiveram educação esmerada.
A faculdade o recebeu com toda a pujança e objetivos claros a alcançar.
Francisca entrou em sua vida como uma promessa de amor e paz.
Em seus braços viu aflorar toda a sua virilidade.
Na incompreensão dos pais viu soçobrar um futuro promissor, prenhe de bem-estar e felicidade.
Belém do Pará foi seu refúgio e lenitivo à perda da sua Chiquinha.
Curadas as seqüelas inicias, a vida sorriu-lhe novamente nos braços da sua Alice. Depois filhos, Hilton e Valdir, completaram-lhe a felicidade conjugal.
A vida transcorria mansa e prazerosa.
Seu coração inquieto, mal iniciados os anos vinte, enfrentou novas atribulações e uns cândidos olhos adolescentes de morena, encheram-lhe a vida de dúvidas.
Novo horizonte, incompreensões, rixas e a volta ao páramo luminoso da sua infância anunciou-lhe quadras de paz e equilíbrio emocional.
Novos filhos, novas emoções e o seu espírito finalmente, aquietou-se.
Sua quietude espiritual não evitava, entretanto, momentos de angústia na sua luta contra a mediocridade e a torpeza.
Essa luta aguçou-lhe a perspicácia e a inspiração, motivando a plenitude intelectual, gerando manifestações múltiplas de sapiência e lirismo.
Vida intensa, produzia freneticamente e a qualidade do que fazia era diretamente proporcional ao volume produzido.
A velhice o encontrou em paz com o mundo e consigo mesmo.
A morte, em 1959, foi o retorno à origem, de onde encetou ou encetará novas jornadas em busca da paz definitiva. Não teve livros publicados, mas, deixou uma obra poética da mais alta importância e que expressa o seu nível de intelectualidade. Seus trabalhos poéticos, produzidos no mais alto estilo erudito, foi, sem dúvida (opinião pessoal de Antonino Oliveira Júnior) o maior intelectual nascido no Cabo de Santo Agostinho.
Depois de Theo Silva e Celina de Holanda, oferecemos aos leitores a oportunidade ímpar de descobrir Zeca Plech.
ESCADA DE JACÓ
Zeca Plech
Nascer, viver, morrer, renascer ainda, progredir sempre, tal é a lei.
NASCER – Transpor o umbral do Templo onde oficia
Madre-Natura a ler no Divino Missal;
VIVER – Exercitar o espírito na via
Por onde o Bem castiga as potências do Mal;
MORRER – Voltar à Pátria, a esplêndida harmonia
Do plano iluminado, o imenso plano astral;
E RENASCER AINDA – à força que irradia
Das sublimes lições do Karma original;
PROGREDIR SEMPRE – Isto é, subir de passo em passo,
A Escada de Jacó para ascender aos céus,
TAL É A LEI – Do amor que num supremo abraço
Desacorrenterá da Terra os prometeus,
Para a doce pressão do laço
Que a humanidade prende ao Coração de Deus.
VENDO CAVEIRAS. (DELIQUENTE)
Zeca Plech
Silenciosamente, horripilantemente,
O estômago da terra, aos poucos, digeriu
As vísceras, a carne, a língua, a muita gente,
Que em túrbidas paixões a vida repartiu.
Um, bons anos passou a deglutir somente,
E o falerno doirado, às pipas, engoliu;
Aquele foi, do gozo, um fervoroso crente,
Este, sempre a falar, em honras mil cuspiu.
Assim a humanidade, em franca maioria,
No gesto, na palavra, em tudo denuncia
O cérebro-embrião do mísero ancestral;
E passa pelo mundo eterno delinqüente –
A rugir e a lutar prehistóricamente,
Nos arrancos febris de sádico animal!
ADEUS (INGRATIDÃO)
Zeca Plech
A TÉO SILVA – O POETA DA CIDADE
Vais partir...vais trocar as carícias da terra
Em que viste o primeiro clarão do arrebol,
Por um Centro de vida e conforto, que encerra
Outro campo – confesso – ao teu pletro de escol.
Vais deixar esta paz por um Meio que aterra!...
Este calmo viver, por nefasto aranhol !
Pelo Glauco do mar, a verdura da serra
Onde o Cruzeiro abre os braços ao sol
Não verbero o teu passo. Altas causas terão,
Com certeza, influído em teu bom coração,
Transformando-te, assim, num segundo Israel.
Mas, Senhor! Que direi, no momento de azar,
Quando a trêmula voz da cidade indagar:
"saberás onde está meu gentil menestrel?”
ASCENSO (JAMAIS)
Zeca Plech
Poeta, vê: rebenta a primavera,
No sol, na cor, no pólen de veludo...
A natureza esplêndida exubera
Um constante labor fecundo e mudo.
Dinheiro e glória estão à tua espera,
E bem sabes, os dois exprimem tudo;
Abandona, portanto, a estratosfera,
Que a vida “são três dias, mas...de entrudo.
Debalde o mundo em festa chama o vate!
Debalde a rósea mão das “coisas belas”,
Ao coração levíssimo lhe bate!
Como voltar dos páramos da lua
Quem já distingue a fala das estrelas
Em colóquios eternos com Jesus?!
AMOR...AMOR...
Zeca Plech
AO AMIGO TUNE, COMO PRESENTE DE CASAMENTO – MAIO DE 1944)
Você achou, enfim, amor, felicidade,
Nessa alma de criança, amigo, que hoje é sua.
Como é bom quando o sol a nossas casas invade!
Quanto é grato beber os eflúvios da lua!
A vida é bela e a quadra feliz da mocidade,
Deve ser o retrós que a velhice debrua.
Que dádiva do céu, quando o sono se evade,
Escutar um violão plangendo pela rua
Violão da saudade, ah! Como é doce ouvi-lo,
Quando o corpo já sente o primeiro pugilo
Da terra do coval, horrivelmente fria!
Amigo, seja o amor seu pão cotidiano,
A razão de viver, o funerário pano,
O trabalho, a virtude, a beleza, a poesia.
Via Franca -
Zeca Plech
Vejo pleno de luz o meu caminho,
trilha fatal que leva a eternidade,
graças a mão do paternal carinho
externação da Máxima bondade.
Da vida, penetrei no burburinho,
gozei como devia a mocidade,
porém do mundo opíparo ou mesquinho,
não conservo resquícios de saudade.
Despeço-me da terra na certeza
de penetrar no Reino da Beleza,
daquela que não murcha nem fenece,
deixando para os filhos minha benção,
perdão para os que ódio me dispensam
e à humanidade o estímulo da prece.
Soneto Escrito 30 dias antes de sua morte.
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Fala Tuninho.
ResponderExcluirFalar de Zeca Plech pra mim é complicado. Apesar de não tê-lo conhecido, a nossa ligação é muito intensa, me sinto muito próximo dele.Todas as vezes que leio me emociono muito. O seu
linguajar muitas vezes inatingível é de uma riqueza sem igual.É maravilhoso. Parabéns amigo por estar dando ao público em geral a oportunidade de conhecer Cabenses ilustres, poetas que não deixam nada a desejar aos conhecidos da grande mídia. Todo os dias me alimento de cultura no seu Blog.Se nós tivéssemos 100 cabenses como vc, a cultura da nossa terra estaria em outras águas.A família agradece de coração.Vc é um arretado. Parabéns. Ramon Jr.