terça-feira, 8 de dezembro de 2009

NÓS CEGOS


Mário Hélio*

O que fazer quando há no olho
Um corvo que consome todo rosto
E as asas nada mais são do que pontos
Onderrame o silêncio estranho corpo
Inomonável espelho que vê outro
Tantalizando algum narciso morto?

O que fazer quando no morto
Há um mocho que se enxerta dentro do olho
Que tem a falsa memória do outro
E finge ser o sol perdendo o rosto
De um espelho partido no seu corpo
Abominável feito só de pontos?

O que fazer quando os pontos
São grous que contaminam o orbe morto
Deitado num céu branco e reles corpo
Com um riso tão dor que fere o olho
E pode até carcomer todo o rosto
Feliz de nada ser bastante outro?

O que fazer quando outro
Pombo aprendeu a debicar os pontos
Que cosem as linhas das mãos e do rosto
Lei secreta que pesa e mede o morto
E pede a mesa onde se corta o olho
Porta que fecha e esmaga todo o corpo?

O que fazer quando o corpo
Quer ser algum condor com vôo de outro
Abrindo ávidos vôos dentro do olho
Espelho macerado os mesmos pontos
Quando a razão se perde e tudo é morto
E o que se vê não é mais que outro rosto?

O que fazer quando o rosto
É um sol já murcho, e quando o estranho corpo
Os pólos toma sempre o rumo de outro
E o que encontrou foi um nome de morto
Que entra na terra e se escreve: deus é um olho
Silente e macilento mais três pontos?

*Mário Hélio é membro da Academia Cabense de Letras

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