quinta-feira, 25 de novembro de 2010

UM CORPO QUE CAI


Alberto da Cunha Melo

Tal se tocasse a extremidade
do cabelo de estranha moça
o homem semeado tocou
naquele fio com muito medo.

Segurando-o, pôs-se a puxá-lo
de novelo, com a tirar
uma veia do grande órgão
que emurchecia pouco a pouco

(o coração). Mas preferiu
seguir de costas com seu fio
e contemplar o seu tamanho


e ver extinto o seu começo.


Davá-nos assim esse aspecto
de quem procura levantar
à distância, por trás das casas,
uma pandorga que caíra.

E só ele caíra — o chão
fez-se macio como o ar
e o mais souberam, tão somente,
a carne solta e o sangue em festa.


Do livro: Poemas Anteriores (1989)

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