quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR



Antonino Oliveira Júnior*

E mais uma eleição aconteceu. Há cerca de quarenta anos acompanho as campanhas políticas e eleições, no Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco e no Brasil. Achava que já tinha visto de tudo, mas, sinceramente, jamais tinha sido testemunha de uma campanha eleitoral de tão baixo nível, com tanto preconceito explícito, tanta difamação e tanta boataria. Tudo o que pode ser chamado de “negação do bem” foi feito para se realizar uma falsa “cruzada contra o mal”, tentando emplacar uma candidatura arrogante e prepotente, que posou de bom moço, defensor das famílias e arauto cristão, alternando momentos de encenação, ora como um padre à beira de beatificação em vida, ora como pastor enaltecendo a salvação. Em outros momentos, a humildade dos espíritas fluiu no jeito manso e no olhar caridoso. Um poço de hipocrisia. Em momento algum conseguiu convencer o povo do Brasil, principalmente pelo seu olhar de homem frio. Ainda bem. Aliou-se ao que há de mais atrasado no catolicismo (a famigerada TFP) e a crentes acostumados à manipulação de pobres fiéis. E ainda contou com a grande mídia para veicular a boataria pelo país afora. Mas, quem leu ou ainda quiser ler a revista ISTO É, de 27/10 poderá entender ainda melhor a verdadeira face da farsa. Os acordos espúrios nos bastidores, um andar inteiro no seu Comitê Central só para “doar” recursos para “obras sociais” de crentes (tá na revista).

Claro que não podemos generalizar, nem deixar de reconhecer que existem lideranças religiosas sérias, que estiveram com Serra por consciência política, outros poucos por equívoco, mas, uma parte enorme desse bolo, acostumada às benesses surgidas nas campanhas eleitorais, assumiram o papel, nada cristão, de espalhar a boataria contra a candidata Dilma, fazendo verdadeiras lavagens cerebrais nas suas comunidades religiosas, criando uma legião de “sem miolos” a repetir palavras e frases de seus “líderes”. Esqueceram ou não quiseram lembrar que existe uma passagem bíblica, que diz ser o escândalo um pecado, mas, que pecado maior é praticado por quem serve de veículo para a propagação do escândalo. Mas esse tipo de liderança não está “nem aí” para a Palavra, prefere seus interesses pessoais. Distanciam-se cada vez mais de Jesus e de Seus ensinamentos. Mas eu prefiro ficar do lado de Jesus, que na sua época chamava os sacerdotes de então de “raças de víboras” e “sepulcros caiados”. Aliás, foram os sacerdotes os grandes algozes de Jesus. As trinta moedas dadas a Judas não saíram dos cofres do Império Romano, mas, dos recursos dos sacerdotes.

Não sou petista e muito menos contras as religiões, porém, não poderia deixar passar em branco uma perseguição descabida a uma mulher que passou a vida inteira a lutar, em alguns momentos contra a ditadura militar que infelicitou o Brasil, em outros momentos para fazer valer a sua competência nos diversos governos em que participou e, finalmente, contra o preconceito de ser mulher e ousar ocupar o mais alto cargo da política de um país.

Sou radicalmente contra o aborto, por princípios cristãos, mas, foi lamentável ver que tentaram tornar pequeno o debate sobre um país tão importante quanto o Brasil. Padres, Pastores estrelas de TV, Pastores outros, menos famosos, e outras lideranças religiosas, esqueceram o que Jesus pregou.

Não sei como eles estão hoje, depois que as eleições passaram e eles viram o povo ignorar seus gestos anti-cristão. Mas não devem estar tristes e ainda esta semana estarão nos seus templos, falando de Deus, de Jesus e à espera de novas eleições, daqui a dois anos. Aí, eles voltam à cena para novas conversas reservadas. E, na hora H, preferem entrar no racha daquilo que era prá ser só de César.

*Antonino Oliveira Júnior é um cristão convicto e membro da Academia Cabense de Letras.

Um comentário:

  1. Parabéns amigo pelo artigo. Sincero e racional acima de tudo.

    Um grande abraço.

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