segunda-feira, 23 de agosto de 2010

MILTON LINS, O TRADUTOR



Amaury Medeiros*

Milton Felipe de Albuquerque, nascido no município do Cabo de Santo Agostinho, graduado em medicina, é contista e tradutor. Como cirurgião salvou inúmeras vidas, embelezando-as com o primor de suas traduções. Milton se fez poeta na difícil arte de traduzir. Nos arranjos melódicos, nas rimas perfeitas, na complexa arte de metrificação dos poemas traduzidos. Traduzir a poesia é uma das mais difíceis formas de expressão literária por exigir não apenas o significado, porém, rimas e demais características próprias do processo. Quem desconhece de idiomas estrangeiros e que, via de regra, atraiçoa o sentido o sentido original das frases. Seja um simples transladar de um idioma para outro, sem refletir a originalidade do texto. No italiano existe,inclusive, um sugestivo jogo de palavras: traduttore-traditore (tradutor-traidor). Domingos Carvalho da Silva, Poeta português que traduziu os 20 poemas de amor e uma canção desesperada, de Paulo Neruda, afirmava que a poesia é intraduzível. Traduzir é escrever novo poema.

Milton enfrentou e venceu até mesmo o desafio de enfrentar a poesia maldita de Rimbaud, eivada de virulência no linguajar, criadora de imagens inusitadas, de rimas imprevistas cujas sutilezas fogem às mentes férteis e ricas em erudição. Acompanhando a criação de autores estrangeiros ele se diz gratificado ao encontrar soluções próprias para por no vernáculo a idéia ou imagem de um poeta maior. Seu trabalho recebeu muitos elogios. De Ledo Ivo: “Felicidades pela sua primorosa tradução que o coloca entre os mais atentos, inventivos e adestrados tradutores de Shakespeare em nossa língua”. De Wilson Martins: “Cumprimento-o pelas admiráveis traduções”. De Ivan Junqueira: “Parabéns pela esplêndida versai dos poemas shakespearianos”. De Mário Gibson Barbosa: “Você soube, numa poética da mais alta qualidade, penetrar a beleza, o ritmo e o sentido profundo dos sonetos de William Shakespeare”. De Fátima Quintas: “Ele se deixa envolver pela arte de traduzir, doando- se de corpo e alma na reconstrução do poema sem desvirtuar sua gênese, num trabalho de artesão que cuida de sua obra com esmeros quase litúrgicos”. De Nelson Saldanha, mestre de todos nós: “Milton Lins, ilustre tradutor de tantos poetas, exímio no recriar e no refazer, inquieto e buscador, lúcido e nunca traditore”.

Entre os inúmeros poetas por ele traduzidos, destacamos Shakespeare, Rimbaud, Baudelaire, André Chérnier, Chateaubriand, Victor Hugo, Melarmé, Verlaine, Alfred de Vingy, Balzac, Téophile Gaultier, Musset, Racine, Saintebeuve, Lamartine e Laconte de Lisle. Tive a honra e o privilégio de escrever o prefácio da tradução dos poemas de Miguel de Cervantes, o imortal autor de Dom Quijote de La Mancha.

Seu trabalho foi reconhecido e sacramentado com o prêmio Odorico Mendes de melhor tradutor brasileiro de 2010, outorgado pela Academia Brasileira de Letras. Participaram da comissão os acadêmicos, Evanildo Bechara, Ivan Junqueira e Carlos Nazae. Ressalve-se que, dentro de sua humildade, Milton não se inscreveu para o concurso: foi inscrito pelos próprios acadêmicos da Academia Brasileira de Letras.

Parabéns ao escritor premiado e às artes literárias pernambucanas. Que mais e justas homenagens lhe sejam prestadas.

Amaury Medeiros é membro da Academia Pernambucana de Letras.

MILTON LINS é membro da Academia Cabense de Letras.


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