segunda-feira, 16 de agosto de 2010

CREPÚSCULO



Natanael Lima Júnior*

Alguém transpõe o silêncio impunemente

refém da oblíqua tarde em decadência

executa a existência sem piedade

macerando os sonhos ao ar livre?


Alguém nos move

e nos remove a nada

ao acaso da morte e da vida

sem surpresa e despedida?


Alguém por sorte da exígua lida

finge ser luz da visceral noite

e em prantos ilumina o rosto

abominável reflexo que não vê o dia?


Alguém da derradeira caminhada

falseia a memória dos séculos

iludindo pobres pecadores

do orbe morto e rejeitado?


Alguém da trave do olho se inspira

e do reles argueiro nada vê

crê na mão que apedreja

despreza aquela que afaga?


Alguém do sinistro rastro finda

marca o rosto de um narciso morto

posto na lama

sem fama e desfalecido?


Alguém do crepúsculo se completa

e sustenta as mãos vacilantes

que cosem as linhas do tempo

na aurora de uma nova vida?


*Natanael Lima Júnior é membro da Academia Cabense de Letras.

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