quinta-feira, 28 de julho de 2011

AMANHÃ TALVEZ

DOUGLAS MENEZES* – 1983

Não olhava o movimento da cidade, sentia o corpo tremer. Medo, somente medo. Recife toda iluminada, respirando vida. Foi ao vendedor de frutas, pediu: “Give-me an Orange, please!” Sorveu sofregamente a fruta, gesto mecânico. Olhou o relógio, dez minutos do horário combinado. A um transeunte aproveitou para pedir a hora: “What time is it?” Respondeu: “Seven o’clock, mister. Respirou fundo. Conseguiria atingir o objetivo? Angústia dolorosa. Junto ao cine São Luiz, um carro com os dizeres ao lado da porta: “Police Car”. Mais apreensivo ainda ficou, tudo agora mais difícil. Quase na hora, o amigo não demoraria. Mas até lá, o medo incontido. Para distrair-se olhou dois homens que trabalhavam numa livraria, consertando uma estante: “Give-me that a hammer, please, Fred”. “ Which hammer?”. O outro indicou: “His one?”. Cinco minutos apenas. Estava inseguro, no entanto. O amigo estaria sendo seguido? Pensamentos ruins. Procurou ouvir a conversa dos dois operários, para o tempo passar mais depressa. Um dos homens falou: “No, not that one”. O outro trouxe o martelo pedido: “ Here you are”. Agradeceu o homem postado ao pé da escada: “Thanks, Fred”. Ele, então, avistou o amigo que atravessava a ponte Duarte Coelho. Coração disparando, momento importante da sua vida. O amigo apertou-lhe a mão, olhou em volta, certificou-se de que ninguém prestava atenção. Entregou-lhe um livro. Ele trêmulo, segurou o volume. Imensa a alegria. Olhou o Recife: uma bela cidade realmente. Olhou o livro, na capa em preto-e-branco: “Macunaíma”. Mais embaixo: “Mário de Andrade”. Uma propaganda da edição: “Marco do Literatura Brasileira”. Ainda tremendo, guardou na pasta 007 o volume. Despediu-se do amigo, ouvindo oresto da conversa dos trabalhadores: “What colour are going to paint it? “. O outro respondeu: “ I’m going to paint it pink”. Finalmente ele se decidiu. Caminhou apressadamente, quase correndo. Sem querer trombou com uma moça, pediu desculpas: “Sorry”.


*Douglas Menezes é da Academia Cabense de Letras

terça-feira, 26 de julho de 2011

ACADEMIA HOMENAGEIA MILTON LINS

Milton Lins (C) será homenageado pela Academia Cabense de Letras, dia 5 de agosto, em mais uma versão do Sexta de Letras, que acontece na Câmara de Vereadores, a partir das 19 horas. Na oportunidade, haverá a palestra da Escritora Ana Maria Cesar, Presidente da Academia de Artes e Letras do Nordeste, sobre o importante trabalho de Milton Lins. Está confirmada a participação do médico e escritor Valdênio Porto, Presidente da Academia Pernambucana de Letras.

Milton Lins é natural do Cabo de Santo Agostinho, filho do escritor Israel Felipe (autor de A HISTÓRIA DO CABO). Premiadíssimo tradutor das obras de Shakespeare, Milton Lins é membro da Academia Cabense de Letras e da Academia Pernambucana de Letras.

O HOMEM-BOMBA DE MIRÓ X CHINA

Sérgio Perrucho

O dia é “D”, a hora “H”:

Não precisamos mais do homem-bomba,

Tufão em Tio Sam e crack na esquina,

Tsunami, Japão, internet da menina,

Ser o Nobel da paz e matar um filho da outra,

Ser pobre jamais... Querer lavar a louça.

Enchentes no Rio e um paulista atrasado,

A fome é preta, o Papa beatificado.

O mundo parou para casar poder e anistia

Quem riu foi o Dalai e minha mãe lá na Bahia.

Ficou amarelo, negro, branco, pardo, ficou índio,

Restou um projetou que será bem vindo:

Vender a Amazônia e viver só e sorrindo,

Tomar um remédio para o dia ficar lindo.

Pensar em pré-sal se três contos é a gasolina,

Derrubar a Nasdaq para poder comprar coisas da China

Salvar um chileno e brindar com doses de uísque,

Calar o Fidel e trair o weekliks.

O dia é “D”, a hora “H”:

Não precisamos mais do homem-bomba

Que siga em paz o homem-bomba

- Que morra em paz o homem-bomba... Buuuum!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

O NOVO CD DE LIMARCOS

O cantor LIMARCOS anuncia para breve o lançamento de seu novo CD. Radicado na Bahia, o cantor cabense tem feito muito sucesso no Piauí e Maranhão, e, agora, na Bahia. Misturando ritmos populares, LIMARCOS firmou seu nome em praças do Norte e Nordeste com o sucesso "AMERICANA".

LIMARCOS é um excelente intérprete da música romântica e vem se destacando nas noites baianas, apresentando-se com a costumeira competência, em Casas noturnas e restaurantes na terra de Castro Alves.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

À ESPERA DO ÚLTIMO GIRASSOL

É o título do novo livro do poeta Natnael Lima Jr. a ser lançado em breve, pela Editora Bagaço, trazendo novos poemas de mais um membro da Academia Cabense de Letras.

Pela qualidade indiscutível do que escreve Natanael Lima Jr., é grande a expectativa pelo lançamento de À ESPERA DO ÚLTIMO GIRASSOL.

DOMINGO TEM LIVRO NOVO

O acadêmico Pastor Erivaldo Alves lança neste domingo, dia 24 de julho, o seu novo livro, intitulado: LIDERANÇA ACOLHEDORA. O evento acontece na Igreja Batista da Cohab, Cabo de Santo Agostinho, às 17 horas.

Pastor Erivaldo Alves é membro da Academia Cabense de Letras e seu primeiro livro foi REFLETINDO O EVANGELHO COM O REBANHO. Vale a pena conferir a nova obra do escritor, que fala sobre a importânci das lideranças religiosas e do compromisso com o amor.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

NO DIA DO AMIGO, UM POUCO DE MIM


AMOR EM QUATRO ESTAÇÕES

Antonino Oliveira Júnior


A tarde fria de outono

Leva, sonolenta, meu olhar

Perdido na planície das folhas caídas;

Do inverno de nós dois

Restou o frio da tua partida,

O gesto de adeus,

Tua voz a me desejar um novo amor.

E a primavera apenas espalhou o teu cheiro,

O verão só me trouxe teu calor...

A natureza conspirou contra meu coração...


E VOCÊ CHEGA...

Antonino Oliveira Júnior

E chega você,

Depois do tempo

Que roubou meu tempo de sorrir...

Chega você,

Trazendo de volta o choro

Chorado no tempo de espera...

E chega você

Para olhar os olhos que nem choram,

A boca que nem sorri,

Os lábios que nem beijam...(mais)

E chega você

E me abraça no colo

Que o tempo negou,

Que o vento levou...

E me acolhe

E me pensa como quem pensa por todos

E me dança como quem dança com todos

E me ama como quem ama pra um

E sorri meu sorriso de paz

Suando o suor de nós dois...

E nos sonhos que sonho em seus braços

Vejo claro de olhos fechados...

É você quem chega pra mim.


FLOR MORENA

Antonino Oliveira Júnior


Vejo a flor-morena

ao meu alcance,

sinto o cheiro da erva-doce,

como doce é o seu olhar

de olhos de amêndoas;

sinto o arrepio da pele,

da pele-emoção,

o arrepio-prazer.

Origem das raças,

És o começo de tudo,

Do carinho,

Do prazer,

Do amor,

Dos meus sonhos, enfim.



CLARA

Antonino Oliveira Júnior

(Para a pequena Clara, que chega)


Ainda semente

Irradia alegria

E dá forma ao amor;

É semente

De luz

Que chega,

É a vida,

Que chega pura,

Sorrindo, feliz,

É a vida de Clara.



MEU POEMA DE TRISTEZA (a Theo Silva)

Antonino Oliveira Júnior


É na tristeza do poeta,

No seu coração que sangra,

Na solidão só sua,

Que a dor se aproveita

E, em forma de inspiração,

tira da garganta a sua voz

e o deixa falar apenas pelas mãos.

É o domínio imaterial,

Pelo qual,

A dor que feriu o poeta

Segue a sua sina insana

Vagando de coração em coração,

Perfurando almas

E iludindo a quem, um dia, como eu,

Viu na poesia

A cura do vazio sentimental.


UMA MULHER MENINA

Antonino Oliveira Júnior

Teu sorriso de menina
Abre o tempo
E anuncia, da primavera,
As flores que perfumam teu corpo,
Por onde flutua meu olhar...

Um corpo de mulher,
Que desperta pensamentos
E libera desejos...

Um corpo percorrido pelo meu olhar,
Em silêncio, mas afoito,
Buscando em teus olhos
Começar a entrega.

Tímida, envergonhada,
A face rubra,
Pareces te esconder sob as pálpebras,
Deixando à mostra
Um sorriso entreaberto, sutil,
Com a beleza e a pureza
De uma mulher em moldura de menina.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

LÍRIOS, TULIPAS & ESCORPIÕES


É o título do primeiro livro de VALÉRIA SARAIVA, um novo talento da poesia cabense, que expõe sua inspiração em LÍRIOS, TULIPAS & ESCORPIÕES, a ser lançado brevemente. Valéria faz parte da nova geração da poesia no Cabo de Santo Agostinho e oferece seus trabalhos aos amantes da literatura, em especial, a poesia.

Hoje publicamos um dos poemas de Valéria, que, juntos a outros belos trabalhos, integram seu primeiro livro: LÍRIOS, TULIPAS & ESCORPIÕES.

CENTELHAS

Valéria Saraiva


Lembra daquele dia, da poesia,

Do meu lugar comum.

Lembra das ondas quebrando,

Dos pássaros cantando,

Do céu azul.

Lembra que tudo era um sonho,

O mundo era medonho,

Uma jaula e o domador.

O céu era negro, a brisa era fria

E as estrelas fugiam de mim.

Lembra que o tempo regenera

O coração ferido,

Apaga as mágoas de que foi esquecido

Congela as centelhas do amor perdido.

Ah! Se o vento fosse só a maresia,

Se o som do mar fosse acordar o dia,

Se a minha mente pudesse navegar.

Ah! Um sonho às vezes toma vida,

Transforma o vento em brisa,

Afasta as nuvens para a lua brilhar.

Lembra, quando eu fechava os olhos

para ouvir o mar

e quando olhando o céu

reaprendi a amar.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

FIG HOMENAGEIA LULA CÔRTES

Lula Côrtes homenageado

O FESTIVAL DE INVERNO DE GARANHUNS (FIG) presta, este ano, uma justa homenagem a um dos mais completos artistas que Pernambuco conheceu. Músico, compositor, poeta e artista Plástico, LULA CÔRTES, falecido recentemente, é homenageado na gostosa cidade do agreste pernambucano.

Ano passado gosei do privilégio de conviver profissionalmente com Lula Côrtes, quando levamos para Jaboatão dos Guararapes o projeto de implantação dos Núcleos de Ação Cultural. Então Gerente de Cultura naquela cidade, Lula demonstrou completo entendimento da importância dos
NACs, sendo permanente incentivador de sua implantação.

O FIG 2011 homenageia nosso multiartista, pela importância de seu trabalho e por sua contribuição à cultura de Pernambuco e do Brasil e a noite de hoje, quando da abertura do Festival, a música de qualidade indiscutível composta por Lula Côrtes comandará os acordes na Suiça pernambucana.

Esperamos uma justa homenagem de Jaboatão dos Guararapes a Lula Côrtes, que tanto demonstrou amar aquela cidade e, ainda, pela importância cultural e visibilidade que deu ao cargo que ocupava.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

O NOVO LIVRO DO PASTOR ERIVALDO


O Pastor Erivaldo Alves, da Igreja Batista da Cohab e membro da Academia Cabense de Letras, está lançando seu segundo livro, intitulado "LIDERANÇA ACOLHEDORA". Ainda que voltado para um público específico de líderes religiosos, o livro é uma obra das mais importantes, principalmente pela abrangência de seu conteúdo, primando pelas experiências do autor como líder de sua Igreja e suas atuações na própria comunidade.



Erivaldo vai fundo na questão dos princípios que devem nortear não somente o cotidiano de uma liderança institucional, mas, o dia a dia do cristianismo como prática de vida. É um verdadeiro manual para uma vida cristã alicerçada na humildade, no estudo, na solidariedade e na vivência do amor. Em síntese, a obra tem a cara do autor e expressa o seu perfil de Pastor de vida descalça, que respira os mesmos ares de seu rebanho.



A Academia Cabense de Letras deverá, nestes dias, promover o lançamento da mais nova obra de seu integrante, o acadêmico e Pastor Erivaldo Alves.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

SEXTA DE LETRAS

Escritor Jairo Lima

A Academia Cabense de Letras prossegue com o Sexta de Letras 2011, nesta sexta, dia 1 de julho, a partir das 19 horas, na Câmara de Vereadores do Cabo. Desta vez o tema será "OS IMPACTOS DO CRESCIMENTO ECONÔMICO SOBRE A CULTURA REGIONAL", apresentado pelos acadêmicos Jairo Lima e Frederico Menezes e a intervenção dos demais acadêmicos em debate que será aberto ao público.

O Sexta de Letras é um Projeto da Academia Cabense de Letras e acontece sempre na primeira sexta-feira de cada mês e está em sua segunda edição, tendo alcançado sucesso de público na primeira versão, em 2010.

OFICINAS DE DANÇA

Foto: Giordani Gork


Ainda há vagas para algumas oficinas que serão oferecidas durante a 9ª Mostra Brasileira de Dança que acontecerá no Recife, no período de 11 a 15 de julho, com produção de Iris Macedo e Paulo de Castro, e patrocínio dos Correios, Caixa Econômica Federal, Governo Federal e Prefeitura do Recife. Das totalmente gratuitas e para iniciantes, ainda é possível participar de Contato/Improvisação, com José W. Júnior; Movimento e Ciência: a Dança Baseada em Evidência, com Giordani Gorki (foto);Cavalo Marinho, com Paulo Henrique Albuquerque; e Danças Africanas, com Tiago Ferreira. Para os alunos de nível avançado, com oficinas ao preço de R$ 30 cada, ainda há vagas para Ballet Clássico, com Flávio Sampaio (CE); Hip Hop: The Next Level, com António Silva (Portugal); e Composição Coreográfica Contemporânea em Danças de Salão, para casais, com Jomar Mesquita (MG). Informações: (81) 3082 2830 / 3421 8456.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

A VOZ DO POETA

Juareiz Correya

Quando escrevemos, pensamos no Homem
e falamos diretamente com Deus.
O que um padre
na imensidão da sua Igreja
reza e comunica ?
Histórias já conhecidas versículos memorizados de leituras exercícios
esgotados estudos bíblicos.
E um pastor, na ampla habitação
do seu Templo,
o que ora e comunica ?
O mesmo que os padres rezam e comunicam,
com outros modos outra moda outro modelo.
Podem os mestres espíritas
ir além do Evangelho
e da palavra de Cristo
como síntese do Mundo dos Espíritos
Encarnados e Iluminados ?


Os poetas não diferenciam
a existência da Humanidade da existência de Deus.
Deus é a divindade do Homem
e o Homem é a Humanidade de Deus,
pura e simplesmente,
em cada palavra verso estrofe
fábula imprecação oração canto poema
dito sussurrado pranteado gritado
do interior do coração
no inferno ou no céu
onde o poeta possa estar
de onde o poeta possa falar
aos ouvidos e ao coração de Deus.
E Ele ouve e sempre ouvirá.

(Palmares,27/11/2002).

quinta-feira, 23 de junho de 2011

CARTA A UM AMIGO QUE SE FOI

Meu amigo Valdir Soares, na foto com o escritor Gilberto Freyre.


Caro amigo, Valdir, não imagina você o quanto de tristeza trago comigo neste momento. Saber de sua partida já foi um grande abalo no coração de seu velho amigo aqui. Recebi a notícia como um forte impacto e em poucos segundos vi passar um filme em minha mente, as cenas inesquecíveis de nossas lutas culturais por toda a década de 70, quando, companheiros do Teatro de Amadores do Cabo (TAC) percorríamos Pernambuco e boa parte do nordeste mostrando o talento dos jovens artistas cabenses. Já na década de 80, lembra amigo, ainda lutamos pela cultura do município, agora abrigados na Secretaria de Cultura, com o amigo Zé à frente dela. Mas ali a turma já dispersava e enfraquecemos. Ter o poder nas mãos ou fazer parte dele não foi uma boa para o movimento. Não esqueço que um dia você me falou isso. Tava conversando com Lu hoje pela manhã e a gente lembrava que você era o "organizado" da turma, sempre se vestindo elegantemente e com imensa capacidade burocrática, além de ser um bom ator. Estamos tristes, eu e Lu. Choro neste momento, inclusive, porque não me perdoo em não atender seus chamados e recados mandados através de Fred, que queria me ver. Fui um merda, amigo. Tive medo de chorar na sua frente, como se fosse feio chorar. A esperança que tenho é que você me entenda e me perdoe por minha fraqueza. De resto, resta uma coisa boa nisso tudo, que é o fato de só ter na minha mente, na minha lembrança, a sua figura elegante, sua gentileza, seu carinho ao chamar-me apenas de "Júnior". Fica a lembrança de sua importância para o que chamei um dia de "momento divisor de águas" para a cultura do Cabo de Santo Agostinho. Quase anônimo, você foi peça das mais importantes e vitais para que a resistência cultural de então pudesse dar frutos à cidade.

Vou parar por aqui, meu amigo, porque já não consigo raciocinar bem, tanta é a tristeza que sinto. Espero que esta carta o encontre num lugar de luz que tanto você é merecedor. Receba um abraço de saudade de seu amigo

Tuninho.*

PS: Se encontrar Paulo Cultura, fala pra ele que sinto saudade dele também.

*Tuninho é apelido de infância de Antonino Oliveira Júnior.













domingo, 19 de junho de 2011

ACADEMIA COMEÇA A RESGATAR THEO SILVA

Teo Filho, filho do poeta Theo Silva

A Academia Cabense de Letras vem desenvolvendo ações para resgatar os grandes nomes da literatura cabense, tirando alguns do anonimato e tornando populares outros já reconhecidos, através do Projeto Sexta de Letras, que acontece toda primeira sexta-feira do mês, na Câmara de Vereadores do Cabo. Zeca Plech, Theo Silva, Gabriel Dourado, etc., são nomes que serão resgatados e colocados nas mãos da população.

O Dia 03 de junho marcou a homenagem da Academia Cabense de Letras ao poeta Theo Silva, nascido na cidade do Cabo em 29 de maio de 1908, falecendo em 1950. Na noite do dia 3 de junho, com a presença do filho do poeta, Teo Silva Filho e familiares, a Academia entregou Certificado que registra a homenagem ao poeta, oficializando seu nome como um dos Patronos da Instituição. Na oportunidade, aconteceu palestra dos acadêmicos Antonino Oliveira Júnior e Ivan Marinho, sobre a vida e a Obra de Theo Silva.

Foi um evento marcado pela emoção dos familiares, do público presente e dos acadêmicos. Por inciativa do palestrante Antonino Oliveira Júnior, a Academia solicita da Câmara de Vereadores a aprovação do Projeto de Lei que institui o dia 29 de maio, data em que nasceu Theo Silva, como o Dia do Poeta Cabense.

O Presidente da Academia, escritor Nelino Azevedo, anunciou o lançamento do projeto de publicação da Coleção de Escritores cabenses, inciando com a Obra do poeta THEO SILVA. As pubvlicações são parte do convênio da Academia com a Editora Bagaço.


segunda-feira, 13 de junho de 2011

CRÔNICA DO INVERNO

DOUGLAS MENEZES

Tem dia assim. A gente amanhece peito apertado. Vontade de não ver ninguém. Uma tristeza de descrença. Melancolia de criança roubada de seu melhor brinquedo. Dor que vem não sei de onde, nem de qual motivo. Apenas se instala o inverno. Uma mágoa que é só sua, que a ninguém a gente dá direito de compartilhar. Porque “a dor é minha dor”. E é bom que fique aqui dentro o sentimento de que tudo foi em vão, pois a vida não merece a morbidez desse momento.

Explicar como? Tanto barulho, as pessoas rodopiando na praça, o som junino enchendo a gente de alegria, e esse caminhar alheio, esses ouvidos que não ouvem, essa voz que não quer falar. Aqui e ali, um sorriso formal, uma brincadeira de futebol dita sem graça, entusiasmo nenhum, apesar de ser campeão. Só a fala de Mateus pedindo a cacunda cansada consegue ser audível e o aniversário de Caio, sem graça e sem festa, apesar do menino bom e carinhoso.

Chuvisco frio, neve na alma. Um mundo que não se quis, mas um mundo possível é o que se tem. E aí se dorme depois, aos sobressaltos, pensando no que pode vir, na violência enraizada, no medo que ela atinja os seus e roube uma das razões dessa vivência, que no momento é glacial e quase sem vida.

Mas, enfim, chega o sono pesado, a morte de algumas horas. E a esperança de uma manhã que se não for de luz radiante, seja, pelo menos, o início de um nebuloso dia de sol.

13 de junho de 2011.

*Douglas Menezes é da Academia Cabense de Letras

sábado, 11 de junho de 2011

PARA OS NAMORADOS ENAMORADOS


CONTRARIANDO O POETA

Antonino Oliveira Júnior


Espera,

Logo vou ultrapassar essa estrada,

Cuja bruma densa

Deixa opaca a retina dos meus olhos...

Sei que devo encontrar-te

E será logo, Mas não serei breve;

Espera,

Meu coração camaleônico

Toma agora uma forma única,

Estagnado na cor que reflete

O negro dos teus olhos,

O calafrio emotivo de tua pele,

A maciez rósea dos teus seios,

O mistério do teu ventre acolhedor;

Espera,

Vou entregar-me cegamente

Como quem voa um vôo sem descida,

E, uma vez em teus braços,

Gritarei para o mundo

Meu discordar do poeta,

O meu brado de entrega:

Que este amor que me incendeia

E me aquieta o coração

Não seja infinito enquanto dure,

Mas, que dure por ser ele infinito.

terça-feira, 7 de junho de 2011

MEU POEMA DE TRISTEZA (a Theo Silva)

Antonino Oliveira Júnior


É na tristeza do poeta,

No seu coração que sangra,

Na solidão só sua,

Que a dor se aproveita

E, em forma de inspiração,

tira da garganta a sua voz

e o deixa falar apenas pelas mãos.


É o domínio imaterial,

Pelo qual,

A dor que feriu o poeta

Segue a sua sina insana

Vagando de coração em coração,

Perfurando almas

E iludindo a quem, um dia, como eu,

Viu na poesia

A cura do vazio sentimental.

LUA CAMBARÁ

Foto: Sebastião Lucena


O musical dramático Lua Cambará fará duas únicas sessões no Teatro Luiz Mendonça, no Parque Dona Lindu, nas próximas terças-feiras, antes de turnê pelo Sudeste, em julho. Com 49 pessoas na equipe de viagem, é a primeira vez que o Aria Social sai do Nordeste, com apresentações agendadas no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Toda a renda das apresentações é revertida em prol da construção de um ateliê de corte e costura para parentes das crianças e jovens atendidos pelo Aria Social, no município do Jaboatão dos Guararapes.

Nas duas próximas terças-feiras, dias 07 e 14 de junho, com sessões às 20h, no Teatro Luiz Mendonça, no Parque Dona Lindu (Av. Boa Viagem, s/n. Tel. 3355 9823), o elogiado espetáculo “Lua Cambará”, musical dramático do Aria Social, estará despedindo-se do Recife, antes de partir pela primeira vez para uma ousada turnê pelo Sudeste do país, em julho. Os ingressos custam R$ 20 e R$ 10 (estudantes, professores com carteira e maiores de 60 anos).

O musical dramático “Lua Cambará” reúne a grandiosa equipe do Aria Social, que, para as viagens, será composta de 45 bailarinos, 06 músicos, 02 coreógrafas/diretoras, 02 técnicos (luz e som), 01 camareira e 03 pessoas na equipe de produção, ou seja, uma ousada proposta para ir ao Rio de Janeiro, no dia 06 de julho, para o Teatro Carlos Gomes; São Paulo, nos dias 09 e 10 de julho, para o Teatro Paulo Autran/SESC Pinheiros; São João Del Rey (MG), no dia 12 de julho, para o Teatro Municipal de São João Del Rey; e Ouro Preto (MG), no dia 14 de julho, para o Teatro de Ouro Preto, no Centro de Convenções da UFOP. Com coreografia e direção de Ana Emília Freire e Carla Machado, direção musical e regência de Rosemary Oliveira, coordenação geral de Cecília Brennand, cenário e figurinos de Beth Gaudêncio e iluminação de Saulo Uchôa, “Lua Cambará” estreou em agosto de 2010, no Teatro de Santa Isabel, desde então vem recebendo elogios constantes.

Concebida a partir da obra de Ronaldo Correia de Brito e Assis Lima, com música de Antônio Madureira, a montagem traz coreografias em dança contemporânea sobre uma mulher apaixonada que, envolvida em assassinatos, é condenada pela Morte a vagar eternamente. No elenco das apresentações locais, seis instrumentistas, além de 52 jovens que dançam e cantam ao vivo e participação especial da bailarina Cecília Brennand. É um espetáculo para se sentir, tamanha a quantidade de belas imagens em seqüência, tudo com música ao vivo.

“Lua Cambará” já cumpriu sessões disputadas nos teatros de Santa Isabel, Barreto Júnior e Luiz Mendonça, no Recife, e integrou a programação do II Festival de Artes Cênicas de Garanhuns, sendo aplaudida ainda no município do Paulista e na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte. Em janeiro último, a montagem recebeu um prêmio especial no Janeiro de Grandes Espetáculos edição 2011, pelo cuidado em produção, concepção e execução artística. Até então, a experiência com turnês do Aria Social foi apenas pelo Nordeste (Maceió, Aracaju, Natal, João Pessoa e várias cidades do interior de Pernambuco), tanto com “Lua Cambará”, quanto com o espetáculo anterior, “Três Compassos”.


domingo, 5 de junho de 2011

A SAGA DE UMA CAMINHADA HISTÓRICA

A SAGA DE UMA CAMINHADA HERÓICA

Antonino Oliveira Júnior


Nasci no agreste,

Pequenino, frágil,

Mas corajoso.

Ainda um pequeno filete,

Recebi pisadas e ameaças diversas,

Mas segui adiante,

Tomando corpo,

Criando brilho próprio,

Encantando as cidades por onde passei.

Segui meu curso

Em busca de novos ares,

Na ânsia de chegar ao litoral,

De me entregar ao mar,

Como todo aquele que deixa o árido

Em busca do frescor tropical.

A caminhada da felicidade

Tornou-se dolorosa

E chorei,

Sofrendo as dores da tortura,

Da falta de ar, da vida se esvaindo,

Fugindo de mim.

O chegar à cidade tornou-se um sofrer,

Uma certeza que o mal estava a caminho:

Espumas tóxicas, dejetos humanos,

Lixo contaminado matando meus frutos...

Que dor horrível!

Os peixes, coitados, morrendo afogados...

Que dor horrível!

Pessoas morando pertinho de mim,

Suspensas em varas, distantes da vida...

Mas eu sigo a viagem,

Mulheres guerreiras, pedaço homem, pedaço mulher,

Lavando as roupas, cantando cantigas alegres

Em rostos felizes que escondem a tristeza

Da alma que teima viver diante da morte...

Aqui, acolá,

Crianças brincando em gritos e risos,

Inocência, pureza,

Sem ver a sujeira que eu carregava;

Levo doenças, sofrimento e até a morte.

A canoa vai,

A canoa vem...

O homem olha triste para mim

E não entende...

Sua vida está ali...

A minha agonia

É a fome dos seis,

Dos sessenta, dos seiscentos.

O peixe afogado,

O pescador sem sorriso,

As crianças com fome...

Que dor horrível!

A espuma amarela

A cor da doença,

Prenúncio de morte...

E eu sigo a viagem,

Quase não respiro

E tento (em vão) limpar-me com lágrimas...

O mangue!!!!

Tenho que ali chegar vivo,

Ajudar a nascer novas vidas

De peixes, crustáceos, de plantas...

Estou chegando,

Muito fraco, ofegante,

Mas chegando,

Levando espumas amarelas,

Esgotos humanos,

Restos de fábricas...

Reencontro mulheres guerreiras,

Pretas da pele e do mangue;

Mulher e mangue se abraçam...

Estou feliz...

Ainda que muito ferido e abatido,

Levei a vida

Ao mangue que resiste,

À mulher que teima em viver;

E vou um pouco mais além...

Que alegria!!!

Vejo o mar,

Sinto a brisa tropical,

Chego fraco, abatido,

Ajoelho-me diante do mar

Tão forte, tão imponente, tão envolvente...

Estou chegando mais perto

E volto a lembrança lá atrás...

As casas suspensas em varas,

O triste olhar do pescador,

A espuma amarela,

Os dejetos,

Os peixes afogados,

As mulheres guerreiras,

O mangue tinhoso...

Não há tempo para nada...

Estou sendo tragado...

Estou sendo engolido...

Cheguei ao final,

Estou maior,

Virei infinito...

Agora sou Mar...

quarta-feira, 1 de junho de 2011

SEXTA DE LETRAS 2011

A Academia Cabense de Letras dá continuidade ao projeto SEXTA DE LETRAS, nesta sexta-feira, 3 de junho, a partir das 19 horas, na Câmara de Vereadores do Cabo de Santo Agostinho. O tema do evento desta sexta-feira é THEO SILVA, poeta cabense, falecido precocemente aos 42 anos de idade.

THEO SILVA foi um poeta além de seu tempo, uma vez que na década de 20 já fazia, no Cabo, uma poesia identificada com o Movimento que originou a Semana de Arte Moderna, protagonizada por Oswald de Andrade, Mário de Andrade e outros escritores e poetas radicados no sudeste, cerca de 1.600 quilômetros da cidade do Cabo, numa época sem qualquer comunicação que pudesse influenciar na sua produção literária. THEO SILVA já era um poeta do Movimento, ainda que sem influências. Seu avanço era coisa de seu interior, de sua cabeça poética avançada no tempo e na geografia física.

A Academia resgata a figura de THEO SILVA, debatendo sua vida e sua obra, com o objetivo de entregar à cidade que o viu nascer a sua identidade como grande poeta que foi. No centro da cidade existe uma praça que leva seu nome, entre o Centro da cidade e o bairro do Mauriti. Chegou a hora de revelar à população a personalidade cultural de seu filho, fazendo justiça a um homem de vida simples, que além de poeta, era músico e boêmio.

CONSELHO
Theo Silva

Bem sei que é impossível
entre nós dois uma aproximação.
No entanto, por que teus olhos
conversam tanto com os meus?

Evita eu te querer! Mata essa ilusão!
Sofre como eu...

O que será de nós se a cidade conhecer
essa força do destino a jogar entre nós dois?
O que será de ti! O que será de mim!
O que será, enfim, do nosso amor depois...

Censura!...Escândalo!...Maldade!...
Tudo há de surgir escandalosamente
como recompensa dessa felicidade.

Sofre, como eu, a ventura desse bem,
JESUS também amou a MARIA MADALENA,
sofreu mais do que nós dois
e nunca disse a ninguém.

(1937)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

PELA JANELA ABERTA

DOUGLAS MENEZES

A gente entra ou sai pela porta. Assim é a marca da vida. Às vezes tem de bater para entrar e nem sempre lá dentro se ouve o que se quer dizer. Quantas vezes, ao longo da caminhada, sob sol ou chuva, se chega ao desplante de esmurrar as portas, que poderiam se abrir, e nem sinal de vida se dá, como se aquele silêncio de ouvidos moucos significasse um não definitivo: a solidão maior da falta de solidariedade. E até mesmo quando entramos sem bater, e o ruído é nenhum lá dentro, sentimos a porta aberta, ao mesmo tempo, contudo, está fechada a esperança de que alguém ali, aqueça o desejo de um toque no ombro, de um sinal vital, que não precisa ser palavra. Chega, então, o sentimento de estar dentro sem ter entrado, um paradoxo como aquele do poeta: “quem me olha não me vê”.

Bate um desespero de suicida, dos sem saída, da sensação de astronauta no espaço, de alheamento precursor do sofrer. Na casa, de corredores imensos, não existe a porta dos fundos, só a da frente, aberta para o nada, espaço inútil, porteira de caminho nenhum.

Entretanto, uma escada, descoberta há pouco, se vislumbra, silêncio quebrado com o som melodioso dos passos. Passos são indícios de que se anda. Os primeiros deles de uma criança são comemorados como o início de uma vida livre e independente. Até que a escada chega ao fim. Que, na verdade, é um começo. Não há uma sala, depois, mas a janela, sem persianas nem vidros, num mistério fácil de desvendar. O medo antecede a coragem. O receio da morte nos deve fazer viver mais intensamente. Assim funciona a engrenagem da existência. Ou assim deveria ser. Porque a janela está bem aí, intacta, porém vivificada pela necessidade de ser agente de algo maior. O pássaro não sai pela porta, mas procura a janela que vai lhe abrir o mundo. Livre das amarras, da gaiola que o faz cantar bonito, no entanto, triste. O pássaro busca a janela, que lhe dá a mão, e o faz encontrar, resto de vida afora, a infinita e benvinda liberdade.

*Douglas Menezes é da Academia Cabense de Letras

28-05-2011.