segunda-feira, 13 de junho de 2011

CRÔNICA DO INVERNO

DOUGLAS MENEZES

Tem dia assim. A gente amanhece peito apertado. Vontade de não ver ninguém. Uma tristeza de descrença. Melancolia de criança roubada de seu melhor brinquedo. Dor que vem não sei de onde, nem de qual motivo. Apenas se instala o inverno. Uma mágoa que é só sua, que a ninguém a gente dá direito de compartilhar. Porque “a dor é minha dor”. E é bom que fique aqui dentro o sentimento de que tudo foi em vão, pois a vida não merece a morbidez desse momento.

Explicar como? Tanto barulho, as pessoas rodopiando na praça, o som junino enchendo a gente de alegria, e esse caminhar alheio, esses ouvidos que não ouvem, essa voz que não quer falar. Aqui e ali, um sorriso formal, uma brincadeira de futebol dita sem graça, entusiasmo nenhum, apesar de ser campeão. Só a fala de Mateus pedindo a cacunda cansada consegue ser audível e o aniversário de Caio, sem graça e sem festa, apesar do menino bom e carinhoso.

Chuvisco frio, neve na alma. Um mundo que não se quis, mas um mundo possível é o que se tem. E aí se dorme depois, aos sobressaltos, pensando no que pode vir, na violência enraizada, no medo que ela atinja os seus e roube uma das razões dessa vivência, que no momento é glacial e quase sem vida.

Mas, enfim, chega o sono pesado, a morte de algumas horas. E a esperança de uma manhã que se não for de luz radiante, seja, pelo menos, o início de um nebuloso dia de sol.

13 de junho de 2011.

*Douglas Menezes é da Academia Cabense de Letras

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