segunda-feira, 30 de maio de 2011

PELA JANELA ABERTA

DOUGLAS MENEZES

A gente entra ou sai pela porta. Assim é a marca da vida. Às vezes tem de bater para entrar e nem sempre lá dentro se ouve o que se quer dizer. Quantas vezes, ao longo da caminhada, sob sol ou chuva, se chega ao desplante de esmurrar as portas, que poderiam se abrir, e nem sinal de vida se dá, como se aquele silêncio de ouvidos moucos significasse um não definitivo: a solidão maior da falta de solidariedade. E até mesmo quando entramos sem bater, e o ruído é nenhum lá dentro, sentimos a porta aberta, ao mesmo tempo, contudo, está fechada a esperança de que alguém ali, aqueça o desejo de um toque no ombro, de um sinal vital, que não precisa ser palavra. Chega, então, o sentimento de estar dentro sem ter entrado, um paradoxo como aquele do poeta: “quem me olha não me vê”.

Bate um desespero de suicida, dos sem saída, da sensação de astronauta no espaço, de alheamento precursor do sofrer. Na casa, de corredores imensos, não existe a porta dos fundos, só a da frente, aberta para o nada, espaço inútil, porteira de caminho nenhum.

Entretanto, uma escada, descoberta há pouco, se vislumbra, silêncio quebrado com o som melodioso dos passos. Passos são indícios de que se anda. Os primeiros deles de uma criança são comemorados como o início de uma vida livre e independente. Até que a escada chega ao fim. Que, na verdade, é um começo. Não há uma sala, depois, mas a janela, sem persianas nem vidros, num mistério fácil de desvendar. O medo antecede a coragem. O receio da morte nos deve fazer viver mais intensamente. Assim funciona a engrenagem da existência. Ou assim deveria ser. Porque a janela está bem aí, intacta, porém vivificada pela necessidade de ser agente de algo maior. O pássaro não sai pela porta, mas procura a janela que vai lhe abrir o mundo. Livre das amarras, da gaiola que o faz cantar bonito, no entanto, triste. O pássaro busca a janela, que lhe dá a mão, e o faz encontrar, resto de vida afora, a infinita e benvinda liberdade.

*Douglas Menezes é da Academia Cabense de Letras

28-05-2011.

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