quinta-feira, 15 de julho de 2010
O CHORO
Romero Menezes*
Após a desclassificação do Brasil pela Holanda, saí da casa do meu irmão Douglas, onde assisti todos os jogos, com o olhar atento para poder analisar o impacto causado pela inesperada derrota.
Fui caminhando, como sempre faço, até a localidade onde moro, olhando em cada rosto a reação do povo, o que deixou em mim a sensação de caminhar em um imenso “velório coletivo”. Além das lágrimas, um silêncio assustador.
Vi crianças e adultos chorando, vi os bares fechando suas portas, como se a tristeza ficasse ali guardada até a próxima Copa (eram 14 horas). Presenciei também o apagar das churrasqueiras, sob a chuva fina que caía na tarde da mais triste sexta-feira do ano.
No meu caminhar, cheguei à conclusão ser um verdadeiro absurdo tanta gente chorar e sofrer por um simples jogo de futebol. Continuei convencido ser coisa de idiota e fanático. Lembrei minha avó, que sempre me dizia: -Quando chorar, Romero, nunca chore por tolices.
Confesso que segui meu caminho com um certo ar de superioridade, pois, apesar de ser brasileiro, estava sendo diferente da maioria de idiotas e fanáticos. Não estava chorando. Chorar por futebol? Por que? Tô fora! Quem quiser, que chore.
Cheguei na minha moradia bastante cansado. Coloquei a sacola sobre a mesa, sentei no sofá e tirei os sapatos. Aí, lembrei da seleção, senti um forte aperto no peito...
E também comecei a chorar.
*Romero Menezes é funcionário do CRAS da Charneca.
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