quinta-feira, 8 de julho de 2010

ESTA CIDADE... ( PARABÉNS)



Douglas Menezes*

Às vezes menina-moça, assim tão jovem como à espera do primeiro amor. Sim, na avenida quase arborizada, de casas novas e pracinha moderna, o Cabo é uma namorada que se envaidece do seu jeito faceiro e de sua formosura adolescente, como se fora assim. Como se o tempo todo não houvesse passado. Se diz moderna, como a mais moderna das meninas que andam por aí, tendo o ontem tão bonito como o hoje. Uma história que nos enche de encanto, tal qual o presente e o futuro que se misturam. E apesar desse comportamento contemporâneo tão vivo e palpitante, pulsando tal coração emocionado, não esconde o seu romântico lirismo. É como se mocinhas e rapazes que moram ou frequentam a avenida e seus arredores guardassem um quê de ingenuidade antiga e um leve saudosismo, mesmo sem terem tempo de sentir saudade.

Ali a cidade que surge, anunciando a nova era emergente. A Historiador Pereira ironiza a parte velha, afirmando sua jovialidade nas transversais bem traçadas, nas construções que aparecem todo dia e, principalmente, no ar novo-burguês de seus habitantes, que se consideram viventes de um bairro nobre.

E no movimento incessante, na zoada estridente e melódica dos colegiais afogueados e cheios de vida, está o lado menino deste lugar, que se estende de norte a leste, numa expansão que não tem fim, ruas e avenidas multiplicando-se, afirmando um futuro que chegou e, lógico, com os problemas advindos do progresso chegado com toda a carga de coisas ruins, mas também boas que todo desenvolvimento traz.

Noutro extremo, ao sul, os morros e a parte antiga, orgulhando, pois foi onde tudo quase começou. A sensação à flor da pele de que aqui a descontinuidade, essa antítese, esse paradoxo, na verdade, é elemento que une. Elemento atravessando os séculos e fazendo desta cidade, surgida do massapê, do barro da vida, um instrumento de redenção para muitos, mais os de fora, menos os daqui, mas assim mesmo tornou-se ela a mãe que abriga, que dá leite, que possibilita a sobrevivência. A mãe centenária que ama os filhos e que não cobra retorno do amor oferecido, sofrendo ou não o desdém dos desnaturados. Parabéns amamentadora de sonhos e desilusões. De alegrias e tristezas. És o guarda-chuva que nos ampara a todos, sejam ou não nascidos aqui.
JULHO DE 2010.

*Douglas Menezes é professor, escritor e membro da Academia Cabense de Letras.

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