segunda-feira, 23 de novembro de 2009

E O MEU AMIGO TOINHO ESTÁ LÁ...


Antonino Oliveira Júnior

A IV SEMANA CABENSE DE CULTURA começou no Dia da Consciência Negra. Acompanhei, ainda que distante, a preocupação da equipe da Secretaria de Cultura em preparar uma programação diversificada, ainda que enxuta. Segundo se dizia, os recursos eram muito pequenos, o que não é novidade por estes lados. O problema é que não há recursos disponíveis e muito menos decisão política, por parte do prefeito, para que ações culturais aconteçam no município. O resultado é o que se viu na abertura: um evento que tem tudo para ser sucesso, acontece de maneira sofrível, não na qualidade da arte apresentada, mas, pela forma como foi tratada pelo próprio governo municipal. Iniciou de forma anônima, sem divulgação, sem mobilização na cidade, e, o que é pior, desprestigiada pelo próprio governo, mais uma vez.

Ano passado, expressei meu desapontamento já na abertura, no Teatro Barreto Júnior, quando sequer um só secretário esteve presente ao evento, salvo, claro, o secretário de cultura, que tinha mesmo que estar. Foi uma abertura esvaziada, triste, sem o dinamismo dos eventos culturais. Este ano, não foi diferente, com o agravamento de que foi numa praça pública, expondo os organizadores e artistas aos olhares de um povo que passava e não sabia o que estava acontecendo. O povo não sabia que estava acontecendo a abertura da Semana Cabense de Cultura. Mais uma vez faltou criar um clima na cidade, motivar a população a ir às ruas, ocupar a Praça e assistir seus artistas e suas obras.

Vou continuar batendo na mesma tecla. Tudo passa pelo respeito à cultura. Não adianta pintar tantas vezes o teatro Barreto Júnior, por exemplo, se na essência se vira o rosto aos artistas e à cultura, de um modo geral. Continua a mesma conversa de sempre. Vamos fazer a Semana de Cultura e se chama o artista cabense para colaborar, quase de graça (alguns, acho que são mesmo) sob a alegação de não ter dinheiro. Que história é essa? Aqui não é Manari, gente (cidade muito pobre do sertão pernambucano), mas, uma das mais ricas cidades do Estado, com uma receita grandiosa. Falta mesmo é um gestor municipal que respeite a cultura e, se não disponibiliza os recursos necessários, que dê respaldo político à sua secretaria de cultura na busca por patrocínios e apoios. Jamais expor a equipe de trabalho e os artistas ao vexame de serem co-autores de um evento que a cidade nem sabia que estava por acontecer. Não tiramos o mérito da Secretaria de Cultura, que demonstrou esforço e montou uma programação diversificada, é verdade, mas, na abertura já deu para ver que faltou a presença do governo municipal. Ficou muito claro que não foi uma ação da administração.

E é uma cidade cujo prefeito foi “ Leão do Norte” em Cultura. Antes, fosse um bichinho menos feroz, porém, com mais sensibilidade para entender e tratar melhor a cultura de sua cidade. E essa história batida e rebatida de que não existe dinheiro, já está no tempo de ser mudada. Não dá mais para engolir. Existe dinheiro. Falta respeito à cultura.

O tempo passa e meu amigo Toinho, mentor da Semana de Cultura, está lá, sonhando, lutando e sofrendo, com certeza.

*Antonino Oliveira Júnior é membro da Academia Cabense de Letras.

sábado, 21 de novembro de 2009

DESENCANTO


Manuel Bandeira

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.

CURTAS E BOAS

Continua a IV Semana Cabense de Cultura, com uma programação diversificada e descentralizada.

Politicagem - Tire seu político do caminho - De domingo agora a oito


Jessier Quirino

A tal da politicagem?
É o acento circunflexo da palavrinha cocô
É feito brigar com um gambá
Pois mesmo o cabra ganhando
Sai arranhado e fedendo
É dirigir dando ré
O cabra tem três espelhos
E ainda olha pra trás
E pode prestar atenção:
Na boca do candidato é o mesmo Mané Luis
Trabalho, honestidade
Trabalho, honestidade
Por quê?
Porque o povo gosta de mentira!
Seu Manezinho Boleiro
Suplente de merda viva
Foi dar uma de sincero
Dizendo o que pretendia
Trabalhar de terça à quinta
E roubar só o normal
Teve uma queda de votação tão pra baixo
Que até hoje ainda é suplente
Taí, fila da puta!
Tire seu político do caminho
Que eu quero passar com o eleitor
Hoje, pra esses peste eu sou Chiquinho
Fí de Seu Chico aboiador
Mas amanhã sou Chico véi que não dá trégua
Assim, táqui pra tu, fí duma égua
De domingo agora a oito
É dia de eleição
É dia do pleiteante
Do fundo do coração
Perguntar: o que desejas?
A quem tem de louça um caco
De terra só tem nas unhas
E mora de inquilino
Numa casa de botão
De domingo agora a oito
É dia “arreganha-cofre”
É de ajudar os que sofrem
É dia do estende a mão
E se agarrar com farrapos
De mastigar vinte sapos
E não ter indigestão
É dia de expor na fala
Que bem conhece o riscado
Ninguém come mais insosso
Ninguém bebe mais salgado
De domingo agora a oito
Não relampeja e nem chove
É o dia que nos comove
É o grande dia “D”
Agora, o dia “fuD”
Vai ser de domingo à nove

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A VOZ DA RESISTÊNCIA


Antonino Oliveira Júnior

Vai, Voz Negra,
sobe bem alto no espaço,
rompe também outros laços
pelas terras onde passares,
lembrando que escravo é rei
no Quilombo dos Palmares

MINHA HISTÓRIA


Chico Buarque

Ele vinha sem muita conversa, sem muito explicar
Eu só sei que falava e cheirava e gostava de mar
Sei que tinha tatuagem no braço e dourado no dente
E minha mãe se entregou a esse homem perdidamente,

Ele assim como veio partiu não se sabe prá onde
E deixou minha mãe com o olhar cada dia mais longe
Esperando, parada, pregada na pedra do porto
Com seu único velho vestido, cada dia mais curto,

Quando enfim eu nasci, minha mãe embrulhou-me num manto
Me vestiu como se eu fosse assim uma espécie de santo
Mas por não se lembrar de acalantos, a pobre mulher
Me ninava cantando cantigas de cabaré,

Minha mãe não tardou alertar toda a vizinhança
A mostrar que ali estava bem mais que uma simples criança
E não sei bem se por ironia ou se por amor
Resolveu me chamar com o nome do Nosso Senhor.

Minha história e esse nome que ainda carrego comigo
Quando vou bar em bar, viro a mesa, berro, bebo e brigo
Os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz
Me conhecem só pelo meu nome de menino Jesus, laiá, laiá
Os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz
Me conhecem só pelo meu nome de menino Jesus.

LUIZA


Tom Jobim

Rua,
Espada nua
Boia no céu imensa e amarela
Tão redonda a lua
Como flutua
Vem navegando o azul do firmamento
E no silêncio lento
Um trovador, cheio de estrelas
Escuta agora a canção que eu fiz
Pra te esquecer Luiza
Eu sou apenas um pobre amador
Apaixonado
Um aprendiz do teu amor
Acorda amor
Que eu sei que embaixo desta neve mora um coração
Vem cá, Luiza
Me dá tua mão
O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem, me exorciza
Dá-me tua boca
E a rosa louca
Vem me dar um beijo
E um raio de sol
Nos teus cabelos
Como um brilhante que partindo a luz
Explode em sete cores
Revelando então os sete mil amores
Que eu guardei somente pra te dar Luiza
Luiza
Luiza

OS DOIS TEMPOS DA CIDADE

Antonino Oliveira Júnior

Estou em pé, bem em frente à Igreja matriz. O olhar fixo rumo à estação ferroviária observa o burburinho enlouquecedor de pessoas, carros e motos, em idas e vindas que mais lembram trilhas de formigas a carregarem seus fardos de sobrevivência. Era a antiga rua Antonio de Souza Leão, hoje entregue ao comércio. A rua de seu Alcides, seu Claudino, seu Zequinha da Modelo, de seu João Lopes, do bar de Leo. Ninguém conhece mais ninguém. Ninguém consegue parar. Conversar, nem pensar...mas, ali, eu passava devagar, com meus amigos, vindo do Luisa Guerra e depois do Santo Agostinho...ruas vazias, quietas. As pessoas formigas continuam subindo e descendo.

Viro um pouco o corpo e a rua da matriz e a mesma agonia, o burburinho do desce e sobe, dos locutores das lojas. A rua de seu Catarino, da farmácia de seu Chico, seu Joel Alfaiate, a rua de seu Pipiu, seu Duca, de dona Cecita, a casa de seu Tune, de seu Figueiredo, a rua de tanta gente...tá lá um corpo estendido, crivado de balas, a moça que apanha do “seu amor” madrugada a dentro, aos gritos, na minha rua, a rua do garrafão, do barra-bandeira, do cine Santo Antonio, nossa diversão maior...

O burburinho continua, ninguém sabe quem é ninguém e eu, em pé, olhando o cenário, ora virado para a estação ora virado para a igreja de Santo Amaro. Aquela mesma rua que foi a passarela dos poemas de Theo Silva, as noitadas de Epitácio Pessoa, as serestas, os desfiles ingênuos do sete de setembro.

A minha rua, com um corpo jovem estendido no chão, fuzilado. É só um jovem dos muitos sem assistência, sem lazer, sem horizontes, presa fácil das drogas, destino das balas. A mesma rua do eu menino, com meus amigos, sem medos, sem traumas. Olhei novamente para tudo e senti saudade de mim.

Antonino Oliveira Júnior
É escritor, poeta e membro
Da Academia Cabense de Letras

CURTAS E BOAS

Começa hoje a IV SEMANA CABENSE DE CULTURA, concentrando as atividades na praça da Estação, centro da cidade. E hoje tem:

14h Feira da mulher empreendedora do Cabo, exposição de artes
plásticas,fotográfica,artesanatos e literatura de cordel
18h Abertura Solene
18h30 Exibição do vídeo da diversidade cultural cabense com a participação especial da
Banda Filarmônica VX de Novembro, grupos de Coco do Mestre Dié,
Coco do Mestre Goitá, Coco do Mestre Zezinho, Toadas de Pernambuco.
Cantor João Sales, banda Forró Oxente, Cantor Eduardo Luiz e o Coral
Municipal do Cabo de Santo Agostinho.
18h40 Grupo Educ’arte (projeto liberdade assistida)
Grupo de perna de pau (centro da criança e do adolescente)
19h10 Coral e Orquestra Fantasia da Juventude Lírica
19h30 Apresentação do sexteto da Escola de Música Ladislau Pimentel
20h Projeto oficina Ginga
21h30 Voz e Violão - Nice Albano e Zé Caetano

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

IV SEMANA CABENSE DE CULTURA

20 a 29 de novembro

P R O G R A M A Ç Ã O*

20 de Novembro Sexta-feira

ABERTURA

Local – Pátio da Estação Ferroviária

14h Feira da mulher empreendedora do Cabo, exposição de artes
plásticas,fotográfica,artesanatos e literatura de cordel


18h Abertura Solene

18h30 Exibição do vídeo da diversidade cultural cabense com a participação especial da
Banda Filarmônica VX de Novembro, grupos de Coco do Mestre Dié,
Coco do Mestre Goitá, Coco do Mestre Zezinho, Toadas de Pernambuco.
Cantor João Sales, banda Forró Oxente, Cantor Eduardo Luiz e o Coral
Municipal do Cabo de Santo Agostinho.

18h40 Grupo Educ’arte (projeto liberdade assistida)
Grupo de perna de pau (centro da criança e do adolescente)

19h10 Coral e Orquestra Fantasia da Juventude Lírica

19h30 Apresentação do sexteto da Escola de Música Ladislau Pimentel

20h Projeto oficina Ginga

21h30 Voz e Violão - Nice Albano e Zé Caetano

21 de Novembro Sábado (Praça Marcos Freire) Ponte dos Carvalhos

16h Teatro de rua - A Incrível Peleja de Tonho Bozó Contra o Rei Tinhoso
16h40 Mamulengo do Mestre Índio

17h20 Grupo Raízes

18h20 Capoeira volta que o mundo dá

19h Concerto: música para todos com a Filarmônica XV de Novembro
E o Coral Municipal Cabo de Santo Agostinho

20h Voz e Violão - BenJavan
22 de Novembro - Domingo (Centro Cultural Mestre Goitá em Pontezinha)

16h A Carroça do Encantado

16h40 Espetáculo Infantil- O Rei do Lixo

17h20 Balé Popular Brilhart

18h Concerto: música para todos com a Filarmônica XV de Novembro
E o Coral Municipal Cabo de Santo Agostinho

19h20 Encontro dos Mestres
Coco do Mestre Zezinho
Coco do Mesrte Dié
Coco do Mestre Goitá
Toadas de Pernambuco

23 a 26 de Novembro (Teatro Barreto Junior)

23 segunda-feira
19h Espetáculo: o Mordomo

24 terça-feira
19h Espetáculo: Manual Prático de Felicidade

25 quarta-feira
16h Cinema Infantil

26 quinta-feira
19h Show de Talentos
Apresentadores - Mateus e Catirina

27 de Novembro Sexta-feira (Praça de Suape)

17h Teatro de rua - Cadê meu boi

17h40 Coral e Orquestra Fantasia da Juventude Lírica

18h20 Balé Grucsa

19h Concerto: música para todos com a Filarmônica XV de Novembro
E o Coral Musical Cabo de Santo Agostinho

19h20 Encontro dos Mestres
Coco do Mestre Zezinho
Coco do Mesrte Dié
Coco do Mestre Goitá
Toadas de Pernambuco


28 de Novembro - Sábado ( Pirapama)

17h Teatro de rua - Cadê Meu Boi
17h40 Grupo Educ’arte (projeto liberdade assistida)
Grupo de perna de pau (centro da criança e do adolescente)
8h20 Balé Raizes

19h Concerto: música para todos com a Filarmônica XV de Novembro
E o Coral Municipal Cabo de Santo Agostinho

29 de Novembro - Domingo ( Jussaral)

17h A Carroça do Encantado

17h40 Teatro de rua - Cadê meu Boi

18h20 Balé Popular Brilhart

19h Concerto: música para todos com a Filarmônica XV de Novembro
E o Coral Municipal Cabo de Santo Agostinho

20h20 Voz e Violão - Nice Albano & Zé Caetano

*Programação fornecida pela Secretaria Executiva de Cultura

CURTAS E BOAS


A nação regueira se encontra no Festival da Celebração Reggae - Ano 3, dia 28 de novembro, no Clube Português. Concorra a convite duplo para o evento que reúne Ponto de Equilíbrio, Ras Bernardo + Digitaldubs Soundsystem, N Zambi e Erva Doce.

CURTAS E BOAS


ACL na FAJOLCA - A Academia Cabense de Letras estará, nesta sexta-feira, a partir das 19 horas, participando da Semana Acadêmica da FAJOLCA, na cidade de Ipojuca; na oportunidade, escritores cabenses e membros da ACL estarão lançando seus livros mais recentes, estando confirmadas as presenças de Jairo Lima, Nelino Azevedo e Antonino Oliveira Júnior.

QUEM TEM MEDO DA CULTURA


Antonino Oliveira Júnior


“Cultura não é prioridade”. Esta frase tornou-se uma rotina no Brasil. Os artistas, produtores e intelectuais parece que assimilaram essa desculpa dos governantes e, de certa forma, se acomodaram, passando a adotar dois tipos de atitude: Ou se dão por vencido e procuram outros meios de financiamento ou se bastam com pequenos mimos e afagos dos governantes, de modo especial, os que estão mais próximos do artista, nos municípios. Claro que a gente tem que entender que educação, saúde e segurança devem ser prioridade num país de enormes diferenças sociais, mas o grande problema reside na falta de respeito para com a cultura, onde os parcos recursos são canalizados para eventos que consomem quase tudo e nada deixa para o crescimento da cidade. Milhares de Reais e uma noite de alegria, cantando e dançando. E depois? Não que os eventos não devam existir, mas não podem consumir tudo e deixar que a prata de casa, aquele artista que constrói a expressão da gente que mora na cidade, aquele que carrega nas costas e no coração as caras e as atitudes dos personagens reais do dia-a-dia “sobrevivam” com as migalhas que sobram dos contratos recheados das grandes bandas. As “Calypso” da vida raspam as fichas orçamentárias das Prefeituras. E aqui e acolá um trocadinho para o grupinho de danças, um cachê para um grupo de teatro (que merecem, claro) que mais são um mimo, um agrado de amizade pessoal.

Se um governo decide pela implantação de uma política cultural para o município, a cultura é vista de forma horizontal, sem preferências, sem levar em consideração apenas o gostar pessoal, mas, com a adoção de medidas que façam da atividade intelectual e artística um agente transformador da sociedade. São ações discutidas, planejadas e executadas com seriedade, destinando e respeitando orçamentos que possibilitem fazer cultura com dignidade, como um feito do cidadão. Respeitar a cultura passa necessariamente pelo respeito ao artista/cidadão. Respeito no tratar, na forma como propõe o contrato (quando existe, porque, geralmente, é de boca), no cachê digno, na agilidade do pagamento (é tão fácil pagar R$ 200 mil a um artista famoso, de forma antecipada, por que é tão difícil pagar R$ 400 reais a um sanfoneiro do lugar, mesmo muito depois do evento?). Respeito também na estrutura do evento. O famoso, que só vem buscar o dinheiro, se apresenta em palco bonito e som de primeira. O de casa, que tem o cheiro do povo, que brinca junto com a sua gente, se apresenta num tablado e um som fanhoso, uma nojeira. E aí, aparece um “conhecedor” que fala: “eles são muito ruins”. Claro, não é, sua besta, como pode sair bom?

Por outro lado, o Governo Federal vem anunciando um mundo de dinheiro para a cultura, mas a coisa emperra nos municípios, porque falta capacidade, conhecimento sobre cultura na maioria dos prefeitos e na quase totalidade de seus secretários de cultura. Às vezes fazem alguma coisa na pressão ou por instinto. E a gente sabe que não adianta colocar fulano ou sicrano para trabalhar numa secretaria, porque, na maioria dos casos, é colocado como secretário alguém pra fazer as festas e pronto. Eu não critico mais secretário nenhum, porque estão ali, quase sempre, para ocupar burocraticamente um lugar vazio, sustentados por amigos influentes e/ou são pessoas que estão ali para não incomodarem...e não incomodam.

Priorizar cultura, mesmo com poucos recursos, é uma decisão política. É preciso que o governante se disponha a aprender a importância da cultura para o engrandecimento da população, porque se acontecer apenas o crescimento de ruas calçadas e prédios construídos, o município incha, e será pobre, mesmo com a prefeitura rica. Priorizar a cultura é estimular a formação do Conselho de Cultura e respeitá-lo, dando condições para que o debate seja a mola propulsora das ações culturais, evitando os pratos feitos servidos frios e com má vontade. Priorizar a cultura é motivar a secretaria da pasta a sair do gabinete e descer às comunidades, onde estão os verdadeiros mananciais das manifestações artísticas mais populares e originais. Priorizar a cultura é fortalecer a secretaria de cultura junto a empresários e órgãos de outras esferas governamentais, para que cheguem a esses lugares com projetos e com a autoridade de quem representa o prefeito nesta área. É capacitar e investir em técnicos em projetos, para acabar de vez com as improvisações e amadorismo. Priorizar a cultura é ter humildade para escutar a sabedoria do brincante, a sensibilidade do poeta, a ousadia do ator, a leveza do bailarino, a sagacidade do cineasta. É, também, colocar a importância intelectual do cidadão acima das picuinhas pessoais que transformam uma cidade grande numa província.

Acho que, na verdade, alguns governantes sentem medo dos artistas e dos intelectuais. Ainda que não sejam lideranças políticas e não tenham a capacidade de conseguir muitos votos, fazem uma coisa muito perigosa. Eles, esses governantes, não querem que artistas e intelectuais se misturem com a população, porque desse convívio surge a troca de ensinamentos, a formação de consciência e nasce a estrutura básica da cidadania. E a massa, tão manobrada por eles, de repente, pode virar povo. E quando a massa vira povo, milhares de olhos se abrem, mentes pensam e o mundo ao redor se transforma.

*Antonino Oliveira Júnior é
Escritor, poeta e membro da Academia Cabense de Letras
e-mail: antoninojr@hotmail.com

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

TECENDO A MANHÃ


João Cabral de Melo Neto

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

2.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão

A LISTA


Oswaldo Montenegro

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...

Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!

Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...

Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?

Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?

Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?

Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?

Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?

Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?

Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?

Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?

INSTANTE MÁGICO

Frederico Menezes

Por que marcas meu peito com o aço da solidão e os teus olhos chovem por dentro de mim, como a tormenta no Pacífico?

Se me invades e, tomando cada canto da alma, da sala, dos sonhos, insistes em ficar, por que não me falas com frequência?

Interrogo a tudo o que me cerca e nem a vida me responde e nem teu silêncio me diz, e nem a própria dor conforta; pareceu um instante mágico; por um momento acreditei no tempo...

Tu ao alcance das mãos, sem barreiras, sem muros, sem inibições.

Foi rápido este instante, relâmpago, fugaz, que como um lapso de tempo, me encantou.


• Frederico Menezes é membro da Academia Cabense de Letras.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

DÁ-ME A TUA MÃO


Clarice Lispector

Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.

De como entrei
naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.

Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.

PASSAGEIRO


Douglas Menezes

Ganha corpo o movimento. Já o gigante respirando quente. Uma respiração, no entanto, fria, insensível ao que possa haver de humano. Também é máquina a gente que escorrega pra lá e prá cá/ todo mundo se olhando; ninguém se vendo. Um estúpido medo da sinceridade. Mesmo eu, observador pretensioso, corro a vista para não encontrar uns olhos que amarrem os meus. Ninguém espelha a alma de graça.

De vagão em vagão, acho sincero o aleijado que expõe a realidade. Penso: sou o aleijão embutido. Evidente o exagero, penso de novo.

Respira fundo o gigante. Para um pouco. Remoçado parece bicho enfurecido. Corre querendo ultrapassar o tempo. Retomo as observações, inúteis e necessárias. Vozes passam. Tanta gente e a certeza da solidão. Absorvido como estou, o ruído é silêncio. Verde e azul forte lá fora. Mas eu sino no olhar uma paisagem cinza: murchas as árvores. Queimada a cana. Escuro o céu.

Várias vezes parando o gigante. A cabeça, porém, é movimento. Complicado, como o entra e sai nas estações. O cheiro denso da gente está em tudo. O cheiro diz que está perto. Cada vez mais perto, a sensação do astronauta na lua.

É nesse momento que o deserto se faz por completo. Imagino que todos me olham, porque sei que estou distante. Pressinto a dissipação do formigueiro, quero ser o último. O gigante silencia. Breve retornará, o mesmo roteiro será feito. O mesmo caminho: monótono e cheirando a mofo. Invariável será a paisagem. Como eu toda vida. São cem quilômetros, todos os dias, de solidão.


Douglas Menezes é membro da Academia Cabense de Letras.

PATRIOTISMO A MEU MODO


Alberto da Cunha Melo

minha bandeira
é meu coração,
mas olho com amor
a pupila azul
da bandeira da pátria
procurando por mim;
minha pátria
é meu coração;
mas olho com pena
as pálpebras verdes
da bandeira da pátria
se fechando por mim.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

PERNAMBUCARNAVAL


Gustavo Krause

Território: “Recife cidade lendária” e “Olinda cidade eterna”.
Governo: ginecocracia absoluta, exercida pela Rainha do Maracatu com poderes mágicos de fada-madrinha e de Santa. O Rei Momo é o bobo da corte.

Constituição: “Art.1- Fica instituído o reino da alegria e decretada a folia, em todo o território do Pernambucarnaval, sob os acordes do Frevo e do Maracatu.

Art. 2- Esta constituição estará em vigor do sábado de Zé Pereira até a Quarta-Feira de Cinzas, revogados a tristeza, o mau humor, o pessimismo e o azar”.

Neste reino, o tempo é o presente e não haverá saudades.
Todos estarão vivos,
“de braços para o alto/frevando sem parar”,
assim na terra como no céu.

As mulheres serão “morenas da cor de canela”,
"diabos louros com cara de gente”,
“mulatas da alma cor de anil”.

E todas terão “pele macia, carne de caju, saliva doce...”

Os homens serão bons e pacíficos.
Sairão fantasiados de anjos,
dizendo a uma só voz:
“Olinda, quero cantar a ti esta canção”.
(O amor será livre, leve e louco).

Todos comerão o Pão que Deus amassou.
Beberão “bate-bate com doce”.
Provarão do vinho que Baco ofertou.
E a sobremesa será filhoses.

À noite,
serão iluminadas as casas e as ruas
(em vez de lâmpadas)
por pedaços de lua.

“Na madrugada do terceiro dia”,
choverá um minuto de cinzas
para lembrar que somos pó
e que ao “Bacalhau na vara” retornaremos.

Depois, todos dormirão em paz.
Durante 361 dias, sonharão com “serpentinas partidas”,
até que “o Galo canta e anuncia
a madrugada de um novo dia”.

CURTAS E BOAS


Ednaldo Santos


MARACATUS, BATUQUES E FOLIA é a grande pedida nas noites de quinta-feira, na Rádio Jornal. O comando é de Ednaldo Santos, que tem garantido importante espaço para as músicas regionais e manifestações da cultura popular.

ESTATUTO DO FOLIÃO



Antonino Oliveira Júnior


Art. 1 - Fica decretado, que durante todo o carnaval não haverá lugar para a tristeza e que a alegria deverá reinar na cidade.

Art. 2 – Que ao folião será dado o direito de extravasar sua alegria ao som do maracatu, do caboclinho, do afoxé, do samba e, principalmente, do frevo.

Art. 3 - Fica terminantemente proibida qualquer manifestação de violência, garantindo-se ao folião o direito de brincar em segurança.

Art. 4 - Que será respeitado o espaço do folião infantil, assegurando-se, dessa forma, o futuro do carnaval.

Art. 5 - Que Pierrôs e Colombinas poderão, enfim, se amar sem lágrimas e sem barreiras.

Art. 6 - Que durante o carnaval a cidade estará colorida e iluminada, para deleite dos foliões.

Art. 7 - Que o rei e a rainha do Carnaval serão parceiros do povo na alegria e no prazer da folia.

Art. 8 - Que a quarta-feira de cinzas não será o fim, mas o início da pausa entre um carnaval e outro.

Art. 9 - Que as ruas, praças, becos e ladeiras da cidade serão territórios livres e democráticos, para que sejam ocupados, de forma igual, por Troças, Blocos, Caboclinhos, Maracatus, enfim, por foliões de todas as raças e credos, de qualquer naturalidade e nacionalidade.

Art. 10 - Que o povo seja, definitivamente, dono dos passos e danças que executar; que amanheça na folia e que, exausto, possa adormecer, embalado por um Frevo-de-Bloco cantado à distância.




*Antonino Oliveira Júnior é membro da Academia Cabense de Letras

CURTAS E BOAS


Raíza Muniz

POESIA DA MANHÃ é o Cd de Raíza Muniz e Leometáfora, recém lançado no mercado., contendo músicas de qualidade indiscutível, compostas, na sua maioria, por Leometáfora. Raíza Muniz e Leometáfora (Hugo Leonardo Muniz) são irmãos, sendo ela estudante de jornalismo e ele de Letras.

sábado, 14 de novembro de 2009

FILARMÔNICA XV DE NOVEMBRO CABENSE COMPLETA 121 ANOS


Vice-Campeã no Concurso Nacional de Bandas

O maior patrimônio cultural do Cabo de Santo Agostinho completa, neste 15 de novembro, 121 anos. Os cabenses sentem-se, cada vez mais, orgulhosos pelo que a Filarmônica representa para a cultura da região.

A programação de aniversário da Filarmônica XV de Novembro Cabense começa hoje, a partir das 19 horas, com um concerto no Teatro Barreto Júnior, cujo repertório será especial, com clássicos e músicas populares.

No domingo, dia 15, acontece às 7 horas da manhã o tradicional passeio pelas ruas da cidade, executando os dobrados que marcaram a sua trajetória, num verdadeiro “acorda povo”. Às 8 horas o hasteamento das bandeiras na sede, à rua Vigário João Batista, para em seguida acontecer a costumeira Sessão Solene de todos os anos. Ao meio-dia a programação oficial chega ao final com um almoço festivo para os músicos e diretoria

ENTRE SANTOS E ENCANTADOS – Aula espetáculo


Zabumbeiros de Tacaratu

Aprovado no edital de 2008 do Funcultura, o projeto Entre Santos e Encantados desenvolveu uma pesquisa e mapeamento, em três municípios do Sertão de Itaparica/PE (Tacaratu, Jatobá e Petrolândia), sobre as manifestações culturais e religiosas onde existe a presença do instrumento pífano. O projeto teve a coordenação geral da Sambada Comunicação e Cultura e a coordenação de pesquisa do historiador e pesquisador Gustavo Vilar e promove, no próximo dia 16/11, a partir das 11h, uma aula-espetáculo no Cineteatro Aeso Barros Melo, com a presença dos Zabumbeiros de Tacaratu; monitores-aprendizes do projeto; coordenadores do projeto e do mestre em etnomusicologia, André Sonoda, responsável pela captação sonora da pesquisa. A entrada é gratuita.

O pífano é um instrumento simples, fabricado artesanalmente a partir de materiais como taboca, bambu, cano de PVC, metal etc; capaz de produzir uma música rica e melódica que, no interior de Pernambuco, anima festas populares, procissões, novenas e rituais indígenas. Geralmente, os tocadores de pífanos fabricam seus instrumentos tanto para tocar quanto para vender. É um ofício passado de pai para filho através da oralidade.

Os grupos que tocam pífanos – também compostos por instrumentos de percussão (caixa e zabumba) – na verdade, estão presentes em quase todo o Nordeste, recebendo diversas denominações: esquenta-mulher; banda cabaçal; terno de pífano etc. No Sertão de Itaparica, esses grupos são conhecidos como zabumbeiros; formados por homens humildes, agricultores e moradores da periferia, que têm suas vidas relacionadas tanto aos rituais da igreja católica quanto aos indígenas da etnia pankararu. Este sincretismo é fundamental na construção da identidade cultural do povo dessa Região.

No projeto Entre Santos e Encantados, diversos jovens tiveram a oportunidade de aprender a tocar pífano, caixa e zabumba, com os mestres, além de receber noções sobre registro fotográfico e pesquisa cultural de campo, através de encontros com os coordenadores do Projeto. As aulas de música aconteceram, semanalmente, na Aldeia Brejo dos Padres e no Centro de Tacaratu. Desta forma, o Projeto contribuiu com a continuidade, divulgação e valorização da tradição e do fazer musical dos zabumbeiros, além de complementar a renda dos monitores e mestres, através de uma bolsa concedida pelo Projeto, durante oito meses de trabalho.

Na aula-espetáculo do próximo dia 16, haverá um bate-papo sobre a realização do projeto, que abordará todo o processo de execução do mesmo: pesquisa, capacitação, produção, coordenação e captação sonora. Em seguida, o grupo Zabumbeiros de Tacaratu e monitores-aprendizes farão uma pequena apresentação musical, enquanto serão projetadas fotografias que documentam as manifestações culturais da região registradas ao longo pesquisa.

Serviço:
Entre Santos e Encantados - Aula-espetáculo de encerramento de projeto.
Local: Cineteatro Aeso Barros Melo
End: Av. Transamazônica, 405, Jardim Brasil II, Olinda.
Dia: 16/11
Horário: 11h
Entrada gratuita

O PULSO


Arnaldo Antunes

O pulso ainda pulsa
O pulso ainda pulsa...

Peste bubônica
Câncer, pneumonia
Raiva, rubéola
Tuberculose e anemia
Rancor, cisticircose
Caxumba, difteria
Encefalite, faringite
Gripe e leucemia...

E o pulso ainda pulsa
E o pulso ainda pulsa

Hepatite, escarlatina
Estupidez, paralisia
Toxoplasmose, sarampo
Esquizofrenia
Úlcera, trombose
Coqueluche, hipocondria
Sífilis, ciúmes
Asma, cleptomania...

E o corpo ainda é pouco
E o corpo ainda é pouco

Assim...
Reumatismo, raquitismo
Cistite, disritmia
Hérnia, pediculose
Tétano, hipocrisia
Brucelose, febre tifóide
Arteriosclerose, miopia
Catapora, culpa, cárie
Câimba, lepra, afasia...

O pulso ainda pulsa
E o corpo ainda é pouco

Ainda pulsa
Ainda é pouco
Assim...

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

BRAVO! É O FESTIVAL RECIFE DE TEATRO NACIONAL!


Till, a saga de um herói torto, do grupo Galpão, de Minas Gerais, abre o Festival de Recife



De 19 a 30 de novembro, Recife é a capital nacional do teatro, que acontece pela 12ª vez. O FESTIVAL RECIFE DE TEATRO NACIONAL chega este ano com mais novidades e bem mais dinâmico, com uma programação descentralizada e atividades paralelas, como Oficinas, Seminário e lançamentos de livros.

O tema do Festival 2009 é O teatro e a Cidade, com a proposta de descentralizar ao máximo e levar os espetáculos às ruas, a começar pela noite abertura, que não acontecerá, como de costume, num teatro fechado, para convidados especiais, mas, com um espetáculo ao ar livre, na Praça do Arsenal, no Recife antigo.

A noite de abertura ficou reservada para o espetáculo Till, a saga de um herói torto, excelente montagem do grupo mineiro Galpão, a partir das 19 horas. No dia seguinte haverá uma reprise do espetáculo de estréia, no mesmo local.

Durante onze dias, se apresentarão ainda companhias de Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte e Ceará, numa diversificada programação, recheada de bons espetáculos.

Com curadoria de Kil Abreu, que já foi curador do Festival de Teatro de Curitiba, crítico do jornal Folha de São Paulo e é parte do júri do Prêmio Shell, o festival homenageia os cenógrafos e cenotécnicos Seu Zezinho e Beto Diniz, que deixaram sua marca na história do teatro local. A trajetória dos profissionais será contada nos livros Antônio de Almeida - Zezinho do Santa Isabel e Beto Diniz - Construtor de cenas e sonhos (Percurso cenográfico: 1975-1989), que os escritores Marcondes Gomes Lima e Cláudio Lira lançam durante o evento.

CURTAS E BOAS



Agenda de ensaios da Filarmônica XV de Novembro Cabense:
Terças e quintas-feiras – às 20 horas
Sede: Rua Vigário João Batista – Centro – Cabo de S. Agostinho

Agenda da Banda Toadas de Pernambuco em NOvembro
20 – Semana Cabense de Cultura
28 - Festa de Terreiro - Festival Canavial em Aliança - PE

CURTAS E BOAS



Entra em cartaz nesta sexta-feira, 13 de Novembro, o filme 2012, uma aventura sobre um cataclismo global que traz o fim do mundo e conta a luta dos sobreviventes.

ASCENSO FERREIRA



Luiz Alberto Machado


Conheci Ascenso, "rei dos mestres, que aprendeu sem se ensinar", ou melhor, a sua obra, com a publicação da antologia "Poetas de Palmares", uma iniciativa do Juarez Correia e Eloi Pedro, editado pela Editora Palmares, em 1973, ano do primeiro centenário municipal. Eu, nesse tempo, contava com 13 anos de idade e saía recitando sua "Filosofia": "Hora de comer, - comer! Hora de dormir, - dormir! Hora de vadiar, - vadiar! Hora de trabalhar? - Pernas pro ar que ninguém é de ferro!". E já me esgueirava fazendo jograis com a turma do colégio com seus poemas engraçados e que representavam a realidade daquele lugar: as feiras, as iguarias locais, a vida besta, a putaria, a risadagem, o adiantamento, as invencionices peculiares ao local onde nasci.

Na antologia estavam Raimundo Alves de Souza (alfaiate, Don Juan inveterado, noventa e tantos anos nas costelas, um poeta que morreu criando a maior polêmica que o indicava como sendo o pai biológico de Vinicius de Morais), o poeta e folclorista Jayme Griz, o artista plástico Teles Júnior, o teatrólogo e poeta Fenelon Barreto, meu pai Rubem Machado, e toda uma plêiade que consagravam à terra dos Palmares a verdadeira "Terra dos Poetas".

No volume ainda podia conhecer a obra dos mais novos poetas que surgiam com belíssimos poemas, como Eniel Sabino de Oliveira, Afonso Paulins e Juarez que, ao organizar a antologia, fechava o volume.

Com o livro tive contato com poesias como "Cinema", "A Sucessão de São Pedro", "Predestinação", "Folha Verde", "Graff Zeppelin" e "Black-out" que me levaram a buscar nos cafundós de judas, qualquer edição dos livros publicados de Ascenso. Foi incensante porque não o conheci pessoalmente, vez que, como honra, apenas podia ser seu conterrâneo por ele haver nascido na rua dos Tocos, no dia 9 de maio de 1895, em Palmares e de ter morrido no dia 05 de maio de 1965, no Recife, quando eu contava apenas com cinco anos de idade.

Pois bem, em 81, o incansável poeta Juarez Correia lança pela Nordestal, o livro "Poemas de Ascenso Ferreira", reunindo seus livros "Catimbó", "Cana Caiana" e "Xenhenhém". Além dos poemas de Ascenso, estavam ali ensaios de, nada mais nada menos, que Manuel Bandeira, Sérgio Milliet, Mário de Andrade, Luís da Câmara Cascudo, Roger Bastide, um depoimento "Minha vida com Ascenso", da companheira dele Maria de Lourdes Medeiros e ilustrações de Gilvan Samico, Wellington Virgolino, Tereza Costa Rego, Abelardo da Hora, Bajado, Sílvia Pontual, Gl Vicente e muitos outros artistas plásticos pernambucanos de renome.

Ao folhear suas páginas, fiquei logo embevecido com as palavras de Manuel Bandeira: "os poemas de Ascenso são verdadeiras rapsódias do Nordeste, nas quais se espelha moravelmente a alma ora brincalhona, ora pungentemente nostálgica das populações dos engenhos e do sertão". E o Sérgio Milliet declarando que a contribuição de Ascenso para o modernismo brasileiro era "das mais originais".

Não menor a satisfação ao ler as palavras de Mário de Andrade: "(...) depois que as personalidades dos iniciadores se fixaram, só mesmo Ascenso Ferreira trouxe pro modernismo uma originalidade real, um ritmo verdadeiramente novo. Esse é o mérito principal dele a meu ver, um mérito inestimável".

E Luís da Câmara Cascudo sentenciou: "... e não há quem o ouça para não sentir o encanto irresistível duma poesia estranha e doce, bravia e sincera, cheia de vitalidade e de força evocadora. (...) Ascenso Ferreira, Ascensão... guardem o nome de um grande poeta!" E Roger Bastide arrematando: "... uma beleza que merecia ter seu poeta, e este poeta é Ascenso Ferreira".

A companheira Lourdes, que conheci anos depois, viu primeiro o poeta. E tomou com ele uma cerveja preta depois duma queda assustada com aquele volumão de gente. Ela adolescente, ele cinquentão. Desse encontro veio Maria Luiza, iluminando o casal.

Em 1985, portanto, a Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, de Palmares, sua terra natal, em convênio com a Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco, publicou um outro livro com o título do mais célebre de seus poemas parnasianos, na afirmação de Luíz da Câmara Cascudo, "Eu voltarei ao sol da primavera", uma pesquisa organizada pela professora Jessiva Sabino de Oliveira, então diretora da Biblioteca Pública Municipal Fenelon Barreto, também de Palmares, resultado de 10 anos de estudos nos arquivos do jornal "A Notícia", onde Ascenso adolescente rimava parnaseano.

Nesse ínterim, Alceu Valença musica dois poemas seus, "O trem das Alagoas" e "Oropa, França e Bahia", duas belas páginas do cancioneiro nordestino.

Nunca que poderia esquecer desse grande poeta, que um dia, segundo relato da própria Lourdes, chegando em casa em época natalina, viu a ornamentação da sala e saiu destruindo tudo. Um espanto, porque aquele homenzarrão era de uma ternura singular. Depois da revolta, trancou-se no quarto. Horas mais tarde, saiu carinhosamente procurando por Maria Luiza com um poema entitulado "A Festa": "Minha filhinha, Papai Noel! É uma figura tragicômica! Não se iluda com os seus enredos! Pois que no meio dos seus brinquedos! Virá um dia a bomba atômica!". Salve, Ascenso!