segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

MODELO É HOMENAGEADA


Emanuela de Paula
Modelo Internacional


Acontece amanhã a homenagem que a Câmara de Vereadores do Cabo de Santo Agostinho presta à modelo internacional, EMANUELA DE PAULA, que nasceu nesta cidade e é filha do radialista Ely José, o Batata. A homenagem acontece no Plenário da Câmara de Vereadores, às 19 horas de amanhã, 22 de dezembro de 2009. Emanuel de Paula reside em Nova York, EUA.

COMO É GRANDE O MEU AMOR POR VOCÊ


Antonino Oliveira Júnior*

A minha paixão por você é coisa antiga. Desde pequeno. Cresci com essa paixão alimentando esse amor dentro do coração. Muitas vezes, viajei e meus olhos se encantaram com mais diversos tipos de beleza. E cheguei a ser infiel, por alguns momentos. Mas foram apenas aqueles momentos de fraqueza humana

De volta, já perto de você, o amor antigo, sincero, definitivo, sempre reacendeu, preservando nossa história de amor. Uma história conturbada, eu sei, mas, de amor, do mais puro amor. Doía muito e ainda dói, quando alguém machuca você. Às vezes eu gostaria de ser um cara possessivo, daqueles que transformam amor em propriedade individual e intransferível, para que você só tivesse olhos para mim e que só eu pudesse curtir você, ao adormecer e despertar.

Mas, ao contrário, sempre fui muito liberal e nada egoísta, ao ponto de aceitar você ser cortejada, tocada e usada por tanta gente que nem lhe merecia. E quantas brigas tivemos! Como sofri esses anos todos, alimentando o ciúme que senti, todas as vezes em que em que davas ouvido e atenção a quem se aproximava de você apenas para usar e jogar fora.

Mas também tivemos muitas alegrias juntos. No segredo de nossos encontros, de nossa intimidade afetiva, soubemos curtir como ninguém essa paixão. Em cada banco de praça, em cada rua estreita, em cada beco ladeiroso, em cada momento de sua história, o nosso amor se fez presente. Velha, mal tratada e vilipendiada, você olha triste para mim, como quem pede socorro e chora. E eu choro com você. Sinto raiva de quem lhe magoa e queria abraçar você todinha, colocar no meu colo e dizer baixinho ao seu ouvido:

-Ah! Minha cidade, como é grande o meu amor por você!


*Antonino Oliveira Júnior é membro da Academia Cabense de Letras.

O AMOR


Ivan Marinho

Etério furor que toma o ar e alucina,
Sempre menina, que nunca adulta,
Assim é o amor.
Rosa cortada, breve beleza
Que despetala,
Assim, por certo, vou te querer
Como a amada,
Que é luz no dia
Mas logo a noite
É quase
É nada.

*Ivan Marinho é membro da Academia Cabense de Letras.

SOMBRA, SOMENTE.


Douglas Menezes

Não. Aqui o tempo não vai parar nunca. As sombras e as chagas permanecem expostas no interior. O apagar do tempo, a idéia deles. Mas no pensamento penso eu. E aí, suas armas são inúteis. A reflexão sobrevive ao suplício físico, mesmo sendo doloroso também o acordar, o recriar aquilo que a alma deveria sepultar para sempre.

Embotada muitas vezes, a mente. Difícil o raciocínio. Nervos desgovernados, alucinações que tornam o pensar algo penoso e caótico. Todavia, revolver é preciso, ser conciso, rápido, papel difícil, luz nenhuma, quase. Passos ouvidos, se aproximam, se afastam. A pressão constante que atinge meses. Seguro, com sofreguidão, o fio tênue do pensamento. Agora ou nunca. Estar vivo daqui a pouco, duvido. Bater mais, nem precisam, questão de momento.

Então, o retorno é feito, segundos, minutos, horas, dias, dias, meses, anos. Impossível precisar o momento certo. Identificar o necessário, apenas isso, para que o juízo se torne leve e amenize a dor dessa consciência quase insana, débil como cabeça de criança.

Os olhos fixos no papel amarelado. Nele, a sombra ganha contorno. E devagar, distingo o sorriso dela, que me parece se destacar do restante da sombra.. É claro, o riso, é clara a pele já visível. Jeito de menina travessa a bailar sem música. Toda a vez assim, quando tudo saia a contento. Tempos escuros aqueles, mas ela clareava a vida, e vislumbrava o dia, mesmo na noite mais escura.

Confusão total, cérebro ocluso, remorso irreversível, dor maior, alma fraca que desde cedo traz o estigma do medo e da angústia sem sentido. Lama, meu ser agora, verme pior, existir não pode. Logo ela, meu Deus.

Preciso, no entanto, retomar os fatos, recolher pedaços de acontecimentos, pôr em evidência de novo, um passado mais que presente. Um passado que expressa a ruína a que me acho relegado.
De novo as palavras ganham vida. No papel amarelo dançam como se quisessem agredir-me. Embaçada a vista, tonta a cabeça, e ela que me achou estranho naquele dia. Estranho dia, aquele. Dia do fracasso maior. Nublado o tempo. Escuro quase, mesmo sendo manhã. Sua voz franca, direta. Explicando, detalhando a ação que jamais aconteceria. Didática, ela. Inteligente, ela, companheiros atentos: apenas eu nervoso. Já a marca da atitude sórdida. Um fraco, nenhum respeito à mulher que amava. Ela notou meu embaraço, mãos geladas, tensos os nervos. Tardio o arrependimento. Duas da tarde a ação. Tarde demais, pensei. Ação nenhuma. Só daí, a pouco, a cena. Inútil tentar justificar o ato. Inútil a existência, agora. Que apodreça aqui, pois sou igual a esse a ar fétido, nascido morto deveria ter.

Treme o papel amarelo. Treme as mãos, no relembrar a vergonha, a indignidade em forma de gente. Notou meu embaraço, ela. E, ainda na conversa, chegou-se a mim. Bem perto ela, gostoso seu hálito. Descansaram um pouco, os companheiros. Chegou-se a mim, consciente. Intuição perfeita. Lâmina seus olhos, ultrapassando essa alma doente. Intuição perfeita: por que, Carlos? Por quê? Os olhos, os meus, circulavam atônitos. Por que, Carlos? Embrulhado, o estômago, vomitar, necessário. Paralisado. Era minha mãe, olhar severo.: você, Carlos. Você, Carlos, sempre mente. Seu irmão, Carlos, você o acusou injustamente, um homem não age assim. Um homem, não.Mas o que sou eu? O que sou eu, além desse poço imundo que envergonha a condição humana?

E tempo não houve. Afastada a mãe, mal teve tempo ela, última censura pronunciar não pôde, pois bafejava a morte, que chegou rápida, competente. Eles, os companheiros, caídos. Ela caindo, devagar, altiva até mesmo no instante final. Bonita, ela longos os cabelos que cobriam o seu rosto, longa a noite instalada em minha vida.

Mãos que me arrastavam. Mãos que me trouxeram aqui para esse caos que não termina, para essa vontade de desintegrar-me, de pôr termo à agonia, que, passando pelo sacrifício dela, definitivamente alojou-se em mim, um ser tão-somente sombra. Pálida sombra da covardia.

*Douglas Menezes é membro da Academia Cabense de Letras

sábado, 19 de dezembro de 2009

TRIBUTO AOS POETAS QUE SE FORAM

GABRIEL DOURADO

Nasceu na Cidade do Cabo. Era formado em Odontologia, foi casado e pai de cinco filhos. Teve intensa vida intelectual e foi um dos fundadores do Grêmio Literário Cabense, entidade que marcou época na cidade e, pode-se dizer, foi o embrião da Academia Cabense de Letras. Escreveu poemas e sonetos importantes e teve em UM CANTO EM SURDINA o seu mais famoso trabalho literário. Como das outras vezes, estamos oferecendo aos nossos leitores a oportunidade de conhecer de perto um dos grandes poetas e intelectuais do passado de nossa cidade.

UM CANTO EM SURDINA
Gabriel Dourado


Cidade de minha infância,
Dos meus sonhos de rapaz,
Dos meus primeiros amores
-dize-me agora,
Aonde vais?

Cidade quase sem ruas,
Apertadinhas demais,
Cidade das boemias,
Dos verdes canaviais
(como aquelas...nunca mais!)

Terra do meu romantismo,
Dos engenhos patriarcais,
Do São João de seu Zumba,
Das loas de Inácio Pais,
Das glosas de Mergulhão,
Chico Taboca e Caju,
De seu “Vigário sem crôa”,
Dos coqueiros de Gaibu.

Cidade das serenatas,
Das cantigas ao luar,
Cidade de tanta história
Sem nenhuma prá contar...

Cidade da minha infância,
Dos verdes canaviais
-Minha cidade querida,
Dize-me agora,
Aonde vais?

MEU CAMBUCÁ
Gabriel Dourado


Eu não sonho palácios agressivos,
De colunatas de oiro
De repuxos multicores,
De frisos cintilantes
E mármores nervosos,
Nem grandeza loira de moeda esterlinas,
Nem a glória de ser grande pela vida!

Quero ser simples,
Vivo imaginando uma vida interior,
Uma existência calma,
Despreocupadamente assim,

Numa casinha,
Toda bonitinha,
Toda caiadinha,
Onde existam palmeiras no terreiro
E verbenas florindo no jardim.

Eu quero, meu amor,
Para o futuro,
Ver-te assim
Como um cambucá maduro,
Aromado e saboroso,
Bem pertinho de mim...

1939

DEZ ANOS DEPOIS
Gabriel Dourado


Vem! Dá-me a tua mão. Vamos andar
Por estas alamedas inclinadas.
Ah! Como é bom a gente recordar
Enternecido, as emoções passadas.

Aqui, repara, andamos de mãos dadas,
Tranqüilos, pensativos a sonhar.
Que saudade das nossas caminhadas,
Do teu lenço, de longe, a me acenar...

Rosas, boninas, musgos, trepadeiras,
O mesmo quadro antigo, benfasejo,
A ponte, um rio de altas ribanceiras.

Fecho os olhos, relembro a tua fala,
“a carícia emotiva do teu beijo”,
Teu vestido de renda, cor de opala...

1949


ROMANTISMO
Gabriel Dourado


Num tranqüilo subúrbio da cidade,
Floriu nossa casinha iluminada,
Casa de gente cheia de humildade,
Onde pões tua graça, Flor amada!

Por dentro vivem tuas mãos de fada
Na ternura das coisas. Sem vaidade,
Vais me dando estes cantos de alvorada,
Em vinte anos de angélica bondade.

A casa fica bem numa travessa,
Entre árvores e flores, e mais essa
Harmonia por todos nós sonhada.

Cantando andei por todo esse caminho,
Vivi meu sonho e não vivi sozinho,
Segui teus passos, sem querer mais nada.

1959

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

HAI-KAI


Antonino Oliveira Júnior foto: Marcelo Ferreira

A Vida...
A Lâmpada...
Apaga...
Acende...

RETRATOS: UM CONTRAPONTO AO PRECONCEITO



Excelente o trabalho do jornalista Rafael Negrão no encerramento de seu curso de Jornalismo. Ele produziu e dirigiu, junto com o também concluinte Leo Tabosa, um documentário, em DVD, mostrando a vida de seis travestis que travam batalhas diárias para viver longe da prostituição e da marginalização. Pobres ou ricos, são travestis que fazem do seu dia-a-dia um contraponto ao preconceito da sociedade, longe do estilo costumeiro dos profissionais do sexo. O vídeo de Rafael Negrão e Leo Tabosa mostra, acima de tudo, pessoas, trabalhadores, cidadãos, gente.
O trabalho foi apresentado ontem, dia 17, às 19 horas, para uma exigente banca examinadora e, ainda não estando presente, tivemos informação que o video foi um sucesso e recebeu a merecida nota 10. Além de Rafael Negrão, o jornalismo pernambucano está ganhando também um indiscutível talento, através de Aline Vieira Costa, que conclui seu curso este ano.

BENEDITO CUNHA MELO – POESIA SELETA



Lançamento do Livro, organizado por Alberto da Cunha Melo e prefácio do PE. Reginaldo Veloso. Acontece hoje (18/12/09, a partir das 19:30 horas, na Rua Desembargador Henrique Capitulino, 65 (antiga Cadeia Pública do Município), em Jaboatão dos Guararapes.
No evento haverá a Cantata Natalina pelos Meninos do Oratório Dom Bosco.
É uma promoção do Instituto Histórico de Jaboatão dos Guararapes.

CONFRATERNIZAÇÃO DOS ACADÊMICOS


Academia Cabense de Letras

Será neste sábado, dia 19, a confraternização dos membros da Academia Cabense de Letras, a partir das 19 horas, no Restaurante A Chácara, na Vila Social, com direito a “amigo secreto”. Em breve, este Blog divulgará o planejamento da Academia Cabense de Letras para o ano de 2010, que inclui, dentre outras ações, a aquisição da Sede própria, a criação de uma Biblioteca de qualidade, o lançamento de uma Coletânea e um projeto que levará a literatura às comunidades dos diversos bairros e distritos.

OFICINAS DO JANEIRO DE GRANDES ESPETÁCULOS


Rômulo Avelar foto: Guto Muniz

O Avesso da Cena – Oficina de Produção e Gestão Cultural (Romulo Avelar/MG)


De 13 a 16, das 14 às 18h, no Sesc de Santo Amaro. Vagas: 30. A oficina é voltada para artistas, estudantes e profissionais de produção e gestão cultural, com ênfase no setor das artes cênicas. Vagas: 30.
O objetivo é transmitir informações e conhecimentos fundamentais à realização de projetos e à gestão de grupos teatrais e entidades culturais, incluindo as relações dos produtores e gestores culturais com os artistas, o Poder Público, a iniciativa privada e o público. Visa provocar reflexões sobre os processos de produção e gestão e contribuir para a racionalização de procedimentos, em busca de resultados mais efetivos e uma maior qualidade nas ações desenvolvidas, incluindo regras fundamentais para abordagem das empresas em busca de patrocínio, além da reflexão sobre a manutenção e a sustentabilidade de grupos e espaços culturais.

Romulo Avelar é administrador, produtor e gestor cultural, responsável pela produção e direção de diversos espetáculos musicais. Estudou na Escola de Produção Cultural da Fundição Progresso (RJ) e, na área pública, atuou como Assessor Especial da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais. Nos últimos anos, tem ministrado cursos nas áreas de produção, planejamento e gestão cultural pelo Brasil. Atualmente trabalha como Assessor de Planejamento do Grupo Galpão e do Grupo do Beco (MG). Lançou recentemente o livro “O Avesso da Cena: Notas Sobre Produção e Gestão Cultural”, que terá um lançamento no Recife, dentro do XVI Janeiro de Grandes Espetáculos.

Iniciação à Interpretação (José Pimentel)

Para estreantes nas artes cênicas, a partir dos 14 anos. Vagas: 30. De 11 a 15 e de 18 a 22, das 14 às 17h, no Teatro Armazém (Bairro do Recife), com apresentação de conclusão no último dia, às 19h.
Serão abordados elementos da história do teatro no mundo, exercícios de desinibição e improvisação, técnica vocal, expressão corporal e dublagem, além da encenação de pequenos textos dramáticos ou cômicos.

José Pimentel é ator, diretor, dramaturgo, iluminador, professor e jornalista. Em seu extenso curriculum na direção, constam montagens grandiosas ao ar livre, como a Paixão de Cristo do Recife – em 2010, ele comemora 33 anos no papel de Jesus Cristo, um recorde absoluto no Brasil: o ator que há mais tempo vive a mesma personagem no teatro –, Paixão de Cristo da Nova Jerusalém, O Calvário de Frei Caneca, Jesus e o Natal e Batalha dos Guararapes, além de encenações de sucesso para o palco à italiana, como Calígula, Foi Bom, Meu Bem?, Besame Mucho, A Aurora da Minha Vida e O Boca de Ouro.

Taller de Creación – Oficina de Criação em Dança Contemporânea (Asier Zabaleta/Espanha)

De 15 a 18, de 10 às 14h, na sala de dança do Teatro de Santa Isabel. Vagas: 20. Para bailarinos e atores com alguma experiência de trabalho corporal. O objetivo é experimentar, através de improvisações, “não só corpos, mas o indivíduo, o sujeito social que transporta ao terreno cênico – com ferramentas como o olhar e a palavra – sua bagagem, sua cultura e seus ideais”.

O intérprete-criador Asier Zabaleta nasceu em Ezkio (País Vasco). Desde 1994 integra as companhias Arteszana, Adeshoras, Companhia de Vicente Sáenz, Hojarasca, Q-ro y cia. y Mascarada. De 1999 até 2004 fez parte da companhia suíça, Alias, estabelecida em Genebra, com a qual tem participado na criação de obras de dança-teatro e vários projetos paralelos como filmes, exposições e improvisações públicas. Como intérprete e coreógrafo, destaque para “DANADA” (1998), ”Belaki efektua” (1999), ”EGO” (2003), vencedora do primeiro prêmio de solos do festival 10MASDANZA, de Gran Canaria, “EGO-tik” (2004 – que será visto no XVI Janeiro de Grandes Espetáculos), “Babia” (2005), “LOOK”, “Pa Qué Tocas” (2006) e “Interperie” (2007), entre outros. Em abril deste ano, veio ao Brasil pela primeira vez.

Maiores informações: Leidson Ferraz 3222 0025 / 9292 1316 ou na APACEPE 3082 2830.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

MÁRIO QUINTANA - Poemas e Frases



“Tenta Esquecer-me”

Tenta esquecer-me… Ser lembrado é como evocar
Um fantasma… Deixa-me ser o que sou,
O que sempre fui, um rio que vai fluindo…
Em vão, em minhas margens cantarão as horas,
Me recamarei de estrelas como um manto real,
Me bordarei de nuvens e de asas,
Às vezes virão a mim as crianças banhar-se…
Um espelho não guarda as coisas refletidas!
E o meu destino é seguir… é seguir para o Mar,
As imagens perdendo no caminho…
Deixa-me fluir, passar, cantar…
Toda a tristeza dos rios
É não poder parar!

“Os Retratos”

Os antigos retratos de parede
Não conseguem ficar longo tempo abstratos.
Às vezes os seus olhos te fixam, obstinados
Porque eles nunca se desumanizam de todo
Jamais te voltes pra trás de repente.
Não, não olhes agora!
O remédio é cantares cantigas loucas e sem fim…
Sem fim e sem sentido…
Dessas que a gente inventava
enganar a solidão dos caminhos sem lua.

“Canção Para Uma Valsa Lenta”

Minha vida não foi um romance…
Nunca tive até hoje um segredo.
Se me amar, não digas, que morro
De surpresa… de encanto… de medo…
Minha vida não foi um romance
Minha vida passou por passar
Se não amas, não finjas, que vivo
Esperando um amor para amar.
Minha vida não foi um romance…
Pobre vida… passou sem enredo…
Glória a ti que me enches de vida
De surpresa, de encanto, de medo!
Minha vida não foi um romance…
Ai de mim… Já se ia acabar

FRASES DE MÁRIO QUINTANA

DO AMOROSO ESQUECIMENTO
“Eu, agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?”
“A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda”.

AS INDAGAÇÕES“A resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas”.

DA FELICIDADE

“Quantas vezes a gente,em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão,por toda parte,os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!”

“A arte de viver é simplesmente a arte de conviver ... simplesmente, disse eu? Mas como é difícil!”

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

PODRE PODER


Jairo Lima

O vil incenso do poder,
A mais impregnar nas mãos,
Embriaga qualquer razão.
Apodrece a essência do ser.
O tornando outro ladrão,
Já enxergando de antemão,
Mais oportunidade de ter.
Julgando satisfação,
Na esperteza e na sensação,
De que não há melhor viver.
Mas lamenta o coração,
No silêncio do caixão,
Quão foi triste o conviver.

*Jairo Lima é membro da Academia Cabense de Letras

DEUSA DO PECADO


Antonino Oliveira Júnior

O sol da seis doura a cidade
E traz a morena que passa e nos leva
Em olhar e pensamentos,
Nos rastros esculpidos
Pelos passos leves rumo ao peso do seu dia.

E na cadência de seus quadris
Parece pisar nos corações
Dos que desejam um olhar,
Ainda que meteórico,
Como mortais aos pés da deusa.

E a morena passa faceira
Como quem sorri de todos,
Carregando nossos olhares,
Nossos suspiros
E um mundo inteiro de pecados.

*Antonino Oliveira Júnior é membro da Academia Cabense de Letras

NOVA MORADA


Tereza Soares

Portais de esperança abrem-se e invadem sons da antiga mata
Ninhos na tentativa de esconder-se

_ Predadores à vista!

E eu entendo mais o que é concreto
Desacredito no fazer aqui e vão efeito
Passo a sonhar então com a primavera que aflora a uma salto da morada que escolhi

Temos hoje mais demônios que anjos
De vez em quando um guardião do tempo nos ajuda a atravessar a rua

_"Homens trabalhando", diz a placa
Minha lança nunca acerta aquele alvo

Quero hoje construções interiores de luxo bem intencionadas
Sublimes pinturas que cintilam a ótica de quem está com sono
Acordar para ver mudar o céu desta incrível ambivalência
Que impõe um crescer sem esperanças
num bairro onde a morte faz muralha de campo minado

ENSEADA – JANEIRO 99

*Tereza Soares é membro da Academia Cabense de Letras

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

CASIMIRO DE ABREU



AMOR E MEDO
Casimiro de Abreu


Quando eu te vejo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, ó bela,
Contigo dizes, suspirando amores:
— "Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!"

Como te enganas! meu amor, é chama
Que se alimenta no voraz segredo,
E se te fujo é que te adoro louco...
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo...

Tenho medo de mim, de ti, de tudo,
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes.
Das folhas secas, do chorar das fontes,
Das horas longas a correr velozes.

O véu da noite me atormenta em dores
A luz da aurora me enternece os seios,
E ao vento fresco do cair cias tardes,
Eu me estremece de cruéis receios.

É que esse vento que na várzea — ao longe,
Do colmo o fumo caprichoso ondeia,
Soprando um dia tornaria incêndio
A chama viva que teu riso ateia!

Ai! se abrasado crepitasse o cedro,
Cedendo ao raio que a tormenta envia:
Diz: — que seria da plantinha humilde,
Que à sombra dela tão feliz crescia?

A labareda que se enrosca ao tronco
Torrara a planta qual queimara o galho
E a pobre nunca reviver pudera.
Chovesse embora paternal orvalho!

Ai! se te visse no calor da sesta,
A mão tremente no calor das tuas,
Amarrotado o teu vestido branco,
Soltos cabelos nas espáduas nuas!...

Ai! se eu te visse, Madalena pura,
Sobre o veludo reclinada a meio,
Olhos cerrados na volúpia doce,
Os braços frouxos — palpitante o seio!...

Ai! se eu te visse em languidez sublime,
Na face as rosas virginais do pejo,
Trêmula a fala, a protestar baixinho...
Vermelha a boca, soluçando um beijo!...

Diz: — que seria da pureza de anjo,
Das vestes alvas, do candor das asas?
Tu te queimaras, a pisar descalça,
Criança louca — sobre um chão de brasas!

No fogo vivo eu me abrasara inteiro!
Ébrio e sedento na fugaz vertigem,
Vil, machucara com meu dedo impuro
As pobres flores da grinalda virgem!

Vampiro infame, eu sorveria em beijos
Toda a inocência que teu lábio encerra,
E tu serias no lascivo abraço,
Anjo enlodado nos pauis da terra.

Depois... desperta no febril delírio,
— Olhos pisados — como um vão lamento,
Tu perguntaras: que é da minha coroa?...
Eu te diria: desfolhou-a o vento!...

Oh! não me chames coração de gelo!
Bem vês: traí-me no fatal segredo.
Se de ti fujo é que te adoro e muito!
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo!...

Outubro - 1858

O QUE É - SIMPATIA

(A uma menina)




Simpatia - é o sentimento
Que nasce num só momento,
Sincero, no coração;
São dois olhares acesos
Bem juntos, unidos, presos
Numa mágica atração.


Simpatia - são dois galhos
Banhados de bons orvalhos
Nas mangueiras do jardim;
Bem longe às vezes nascidos,
Mas que se juntam crescidos
E que se abraçam por fim.


São duas almas bem gêmeas
Que riem no mesmo riso,
Que choram nos mesmos ais;
São vozes de dois amantes,
Duas liras semelhantes,
Ou dois poemas iguais.


Simpatia - meu anjinho,
É o canto do passarinho,
É o doce aroma da flor;
São nuvens dum céu d'Agôsto,
É o que m'inspira teu rosto...
- Simpatia - é - quase amor!


Indaiaçu - 1857.

PERNAMBUCO, FREVO & FOLIA



A partir de 15 de janeiro, o blog vai falar sobre o carnaval de Pernambuco, sua história, seus Blocos, suas Orquestras, as Fantasias, os Foliões, os eternos Porta-Estandartes, seus compositores. Os ritmos que marcam o carnaval de Pernambuco: Frevo (de Rua, Canção, de Bloco), o Maracatu (Baque Virado e Baque Solto), o Caboclinhos, o Afoxé e (por que não?) o Samba. O Pernambucarnaval, de Gustavo Krause, o Estatuto do Folião, de Antonino Oliveira Júnior, o compromisso do programa de Ednaldo Santos, as belas letras dos Frevos-de-Bloco. Só falta um mês. Aguarde. Num instante passa.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

HÁ 97 ANOS LUIZ “LUA” GONZAGA CHEGOU AQUI



A SAGA DO REI DO BAIÃO - LUIZ GONZAGA
Antonino Oliveira Júnior


Foi no dia 13 de dezembro de 1912 que nos mandaram Luiz Gonzaga. Para o nordeste, prá Pernambuco, e, ainda mais, para um sítio na cidade de Exu, no sofrido sertão, da seca, da exploração política, da discriminação, da pobreza absoluta, da fé inabalável. Foi esse o cenário para a estréia de Luiz Gonzaga. E ele topou. Como topou todos os desafios de sua vida adiante. Viveu a vida mortificada dos meninos sertanejos de sua época, correu e brincou pela terra batida e rachada, olhando por apenas um olho, como quem faz todo aquele que recebe um sol mais amarelo e mais quente do que no resto do mundo. Cresceu vivendo a experiência única de procurar encher a barriga com o vazio que o quase nada dos muito pobres oferece. Correu pro mundo, deixando prá trás o pai, a mãe, os parentes, amigos, o sertão. Parecia ter se acovardado e abandonado de vez o seu torrão e a sua gente. Que nada! Gonzaga chegou ao Rio de Janeiro, lutou contra todos os gigantes anti-nordestinos, marcou seu território e lá, longe prá cacete, fincou a bandeira do sertão nordestino. Ali, falou da força e da bondade de sua gente, fêz e cantou versos, acolheu novos companheiros, consolidou a música da gente, inventou o baião, criou, na então capital do Brasil, um cargo que não existia e se auto-nomeou, pela competência, bravura, compromisso com as suas origens e respeito ao seu povo, Embaixador do Nordeste. O sertanejo já tinha quem falasse por ele na capital do país.

Tornou-se a voz dos miseráveis e das belezas do nordeste brasileiro. Fez-se querido pelo Norte, pelo Centro-Oeste, admirado pelo Sul, admitido pelo Sudeste, acabou conquistando o Brasil e amado por todos. Tornou-se uma unanimidade nacional. Um rei. Um soberano que voltou para o lugar de onde veio, e não deixou um súdito, sequer, em condições de sentar em seu trono, vago até hoje.

Como compositor e intérprete da mais legítima música nordestina, fonte de tantas vertentes surgidas, Luiz Gonzaga deixou uma imensa lista de belas canções, a exemplo de Asa Branca, Assum Preto, Feira de Caruaru, talvez as mais famosas dentre todas, mas, publicamos aqui algumas não tão famosas, mas que expressam, na sua simplicidade, a força e a beleza do que era cantado por ele, inclusive, Acácia Amarela, um tango, composto em homenagem à Maçonaria, Instituição da qual ele era um dos integrantes. Sertanejo, católico fervoroso e Maçon. Parece um conjunto inusitado, mas, prá que tentar entender um gênio?

Noites Brasileras
Luíz Gonzaga

Ai que saudades que eu sinto
Das noites de São João
Das noites tão brasileiras na fogueira
Sob o luar do sertão

Meninos brincando de roda
Velhos soltando balão
Moços em volta à fogueira
Brincando com o coração
Eita, São João dos meus sonhos
Eita, saudoso sertão


A carta
Luíz Gonzaga

Na carta perfumada que deixaste sobre a mesa
Tenho a certeza de tua traição
Minhas lágrimas caíam teimosas
Sobre as folhas cor-de-rosa escritas por tua mão
Partiste mas minha alma seguirá teus passos
Onde estiveres, eu estarei contigo
Hás de guardar uma saudade minha
Tua lembrança ficará comigo
Não penses mais em mim
Seria inútil, pois nunca te amei
O que houve entre nós dois foi apenas fantasia
Nosso passado terminou como termina
Todas as ilusões
Doravante seguiremos caminhos diferentes
Não me procures, seria uma desilusão a mais.
E esta palavra, no fim da carta
Manchada pelo pranto meu
Esta palavra que me tortura é adeus.

A Letra I
Luíz Gonzaga/Zé Dantas

Vai cartinha fechada
Não deixa ninguém te abrir
À quela casa caiada
Donde mora a letra I
E diz que de uma cacimba
Do rio que verão secou
Meus óio chorou tanta mágoa
Que hoje sem água
Nem responda a dor
Vai diz que o amor
Frumega no meu coração
Ta e quá fogueira
Das noites de São João
Que eu sofro
Por viver sem ela
Tando longe dela
Só sei reclamar
Pois vivo como um passarinho
Que longe do ninho
Só pensa em voltar

Menestrel do Sol
Luíz Gonzaga

Pego a estrada sem descanso
Sem parar para ver
Tempo e chão que percorridos gritos que eu plantei
Menestrel do sol
Na vida eu só cantei
Juntando irmão com irmão
Eu esquecia de viver
Ai, ai quanta saudade
Do beijo que eu não dei
As coisas eu que não tive
São lembranças que eu guardei
Ai, ai que curta vida
Pra quem tanto viveu
Os sonhos de outras vidas
Que ajudei com o canto meu
Ouro e terra, e eu cantando sem me aperceber
Dos momentos que eram meus
Não voltam mais, eu sei.
Menestrel do sol
Caminhos que andei
Destino dividiu
Em mil destinos meu viver


Estrada de Canindé
Luíz Gonzaga/Humberto Teixeira

Ai, ai, que bom
Que bom, que bom que é
Uma estrada e uma cabocla
Cum a gente andando a pé
Ai, ai, que bom
Que bom, que bom que é
Uma estrada e a lua branca
No sertão de Canindé
Artomove lá nem sabe se é home ou se é muié
Quem é rico anda em burrico
Quem é pobre anda a pé
Mas o pobre vê nas estrada
O orvaio beijando as flô
Vê de perto o galo campina
Que quando canta muda de cor
Vai moiando os pés no riacho
Que água fresca, nosso Senhor
Vai oiando coisa a grané
Coisas qui, pra mode vê
O cristão tem que andá a pé

Acácia Amarela
Luíz Gonzaga/Orlando Silveira
(tango – dedicado à Maçonaria)

Ela é tão linda é tão bela
Aquela acácia amarela
Que a minha casa tem
Aquela casa direita
Que é tão justa e perfeita
Onde eu me sinto tão bem
Sou um feliz operário
Onde aumento de salário
Não tem luta nem discórdia
Ali o mal é submerso
E o Grande Arquiteto do Universo
É harmonia, é concórdia
É harmonia, é concórdia".

sábado, 12 de dezembro de 2009

TRIBUTO AOS POETAS QUE SE FORAM



JOSÉ AUGUSTO PLECH FERNANDES ( Zeca Plech)

Nasceu no dia 02 e novembro de l886, na Cidade do Cabo de Santo Agostinho.
Pais devotados, Manoel Maria Gonçalves Fernandes e Maria Carolina Plech Fernandes, deram-lhe uma formação além do usual à época.

A austeridade dos fins do Séc.XIX deu-lhe uma infância feliz e sua adolescência aconteceu dentro dos padrões de moral da sociedade, vigentes à época.
A escola do Professor Sette introduziu-o aos estudos e à palmatória.
O sobrado de d. Dhália Plech o acolheria durante os períodos de férias. Ali, no Pátio de São Pedro, a presença de Hermano Plech, filho do seu tio materno Júlio Plech, encheria de travessuras e de momentos grados aos seus olhos e sentidos.

Fins de tarde no Recife, em fins de século: Algo de cosmopolita pairava no ar aristocrático e isto começava a suscitar dúvidas e inquirições.
Apenas a presença de Hermano Plech o trazia de volta aos brinquedos e jogos.
Hermano, companheiro inseparável, dava o toque de realidade aos seus sonhos infantis.
O Mercado de São José, com seu ar parisience quebrado apenas pelo pregão das vendedoras de guloseimas, dava-lhe o toque de independência ao provocar a busca do tostão que o separava da fumegante tigela de arroz-doce.
Nenem, sua irmã mais nova, ora estorvo ora companheira.
Filhos de família abastada, tiveram educação esmerada.

A faculdade o recebeu com toda a pujança e objetivos claros a alcançar.
Francisca entrou em sua vida como uma promessa de amor e paz.
Em seus braços viu aflorar toda a sua virilidade.
Na incompreensão dos pais viu soçobrar um futuro promissor, prenhe de bem-estar e felicidade.

Belém do Pará foi seu refúgio e lenitivo à perda da sua Chiquinha.
Curadas as seqüelas inicias, a vida sorriu-lhe novamente nos braços da sua Alice. Depois filhos, Hilton e Valdir, completaram-lhe a felicidade conjugal.

A vida transcorria mansa e prazerosa.
Seu coração inquieto, mal iniciados os anos vinte, enfrentou novas atribulações e uns cândidos olhos adolescentes de morena, encheram-lhe a vida de dúvidas.
Novo horizonte, incompreensões, rixas e a volta ao páramo luminoso da sua infância anunciou-lhe quadras de paz e equilíbrio emocional.
Novos filhos, novas emoções e o seu espírito finalmente, aquietou-se.
Sua quietude espiritual não evitava, entretanto, momentos de angústia na sua luta contra a mediocridade e a torpeza.
Essa luta aguçou-lhe a perspicácia e a inspiração, motivando a plenitude intelectual, gerando manifestações múltiplas de sapiência e lirismo.
Vida intensa, produzia freneticamente e a qualidade do que fazia era diretamente proporcional ao volume produzido.

A velhice o encontrou em paz com o mundo e consigo mesmo.
A morte, em 1959, foi o retorno à origem, de onde encetou ou encetará novas jornadas em busca da paz definitiva. Não teve livros publicados, mas, deixou uma obra poética da mais alta importância e que expressa o seu nível de intelectualidade. Seus trabalhos poéticos, produzidos no mais alto estilo erudito, foi, sem dúvida (opinião pessoal de Antonino Oliveira Júnior) o maior intelectual nascido no Cabo de Santo Agostinho.
Depois de Theo Silva e Celina de Holanda, oferecemos aos leitores a oportunidade ímpar de descobrir Zeca Plech.


ESCADA DE JACÓ
Zeca Plech

Nascer, viver, morrer, renascer ainda, progredir sempre, tal é a lei.

NASCER – Transpor o umbral do Templo onde oficia
Madre-Natura a ler no Divino Missal;
VIVER – Exercitar o espírito na via
Por onde o Bem castiga as potências do Mal;

MORRER – Voltar à Pátria, a esplêndida harmonia
Do plano iluminado, o imenso plano astral;
E RENASCER AINDA – à força que irradia
Das sublimes lições do Karma original;

PROGREDIR SEMPRE – Isto é, subir de passo em passo,
A Escada de Jacó para ascender aos céus,
TAL É A LEI – Do amor que num supremo abraço
Desacorrenterá da Terra os prometeus,
Para a doce pressão do laço
Que a humanidade prende ao Coração de Deus.


VENDO CAVEIRAS. (DELIQUENTE)
Zeca Plech

Silenciosamente, horripilantemente,
O estômago da terra, aos poucos, digeriu
As vísceras, a carne, a língua, a muita gente,
Que em túrbidas paixões a vida repartiu.

Um, bons anos passou a deglutir somente,
E o falerno doirado, às pipas, engoliu;
Aquele foi, do gozo, um fervoroso crente,
Este, sempre a falar, em honras mil cuspiu.

Assim a humanidade, em franca maioria,
No gesto, na palavra, em tudo denuncia
O cérebro-embrião do mísero ancestral;

E passa pelo mundo eterno delinqüente –
A rugir e a lutar prehistóricamente,
Nos arrancos febris de sádico animal!


ADEUS (INGRATIDÃO)

Zeca Plech
A TÉO SILVA – O POETA DA CIDADE

Vais partir...vais trocar as carícias da terra
Em que viste o primeiro clarão do arrebol,
Por um Centro de vida e conforto, que encerra
Outro campo – confesso – ao teu pletro de escol.

Vais deixar esta paz por um Meio que aterra!...
Este calmo viver, por nefasto aranhol !
Pelo Glauco do mar, a verdura da serra
Onde o Cruzeiro abre os braços ao sol
Não verbero o teu passo. Altas causas terão,
Com certeza, influído em teu bom coração,
Transformando-te, assim, num segundo Israel.

Mas, Senhor! Que direi, no momento de azar,
Quando a trêmula voz da cidade indagar:
"saberás onde está meu gentil menestrel?”


ASCENSO (JAMAIS)
Zeca Plech

Poeta, vê: rebenta a primavera,
No sol, na cor, no pólen de veludo...
A natureza esplêndida exubera
Um constante labor fecundo e mudo.

Dinheiro e glória estão à tua espera,
E bem sabes, os dois exprimem tudo;
Abandona, portanto, a estratosfera,
Que a vida “são três dias, mas...de entrudo.

Debalde o mundo em festa chama o vate!
Debalde a rósea mão das “coisas belas”,
Ao coração levíssimo lhe bate!

Como voltar dos páramos da lua
Quem já distingue a fala das estrelas
Em colóquios eternos com Jesus?!


AMOR...AMOR...
Zeca Plech
AO AMIGO TUNE, COMO PRESENTE DE CASAMENTO – MAIO DE 1944)

Você achou, enfim, amor, felicidade,
Nessa alma de criança, amigo, que hoje é sua.
Como é bom quando o sol a nossas casas invade!
Quanto é grato beber os eflúvios da lua!

A vida é bela e a quadra feliz da mocidade,
Deve ser o retrós que a velhice debrua.
Que dádiva do céu, quando o sono se evade,
Escutar um violão plangendo pela rua

Violão da saudade, ah! Como é doce ouvi-lo,
Quando o corpo já sente o primeiro pugilo
Da terra do coval, horrivelmente fria!

Amigo, seja o amor seu pão cotidiano,
A razão de viver, o funerário pano,
O trabalho, a virtude, a beleza, a poesia.

Via Franca
-
Zeca Plech

Vejo pleno de luz o meu caminho,
trilha fatal que leva a eternidade,
graças a mão do paternal carinho
externação da Máxima bondade.

Da vida, penetrei no burburinho,
gozei como devia a mocidade,
porém do mundo opíparo ou mesquinho,
não conservo resquícios de saudade.

Despeço-me da terra na certeza
de penetrar no Reino da Beleza,
daquela que não murcha nem fenece,

deixando para os filhos minha benção,
perdão para os que ódio me dispensam
e à humanidade o estímulo da prece.

Soneto Escrito 30 dias antes de sua morte.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Saber Viver


Cora Coralina

Não sei... Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura... Enquanto durar

Por Causa de Você


Dolores Duran

Ah, você está vendo só
Do jeito que eu fiquei e que tudo ficou
Uma tristeza tão grande
Nas coisas mais simples que você tocou
A nossa casa, querido
Já estava acostumada aguardando você
As flores na janela
Sorriam, cantavam por causa de você
Olhe, meu bem
Nunca mais nos deixe, por favor
Somos a vida, o sonho
Nós somos o amor
Entre, meu bem, por favor
Não deixe o mundo mau
Lhe levar outra vez
Me abrace simplesmente
Não fale, não lembre
Não chore, meu bem

Eu Prefiro a Família Careta


Nadja Nascimento

Mesmo esperando uma reação de espanto e/ou indignação a respeito do título acima, reafirmo o que digo e acho a família careta bem melhor que a dita moderninha! Chamo-os para uma reflexão: na família careta existe alguma ordem, responsabilidade, amor e sentimento de pertença, valores tão esquecidos nos dias de hoje. Não falo aqui em rigidez militar, muito menos de pais sacrificiais, nem de frieza e omissão, nem em pais detetives que fuçam tudo, evitando assim uma conversa. Nem de longe aceito o moralismo ou o preconceito seja ele qual for, muitas vezes disfarçado de religião.
Falo de uma família que dá amor com limites, que cuida sem suspeitar, que escuta sem julgamentos, passando um senso de proteção aos filhos. Falo em respeito dos pais para com os filhos, dentro e fora de casa, de pais que demonstram interesse, lembrando que se interessar jamais será sinônimo de fiscalizar e sim de acompanhar, observar, dialogar, saber.

Vemos com freqüência crianças de 12,13 anos sozinhas freqüentando festas noturnas, onde pais nem sabe onde os filhos estão, com quem andam, não sabem quem são seus amigos, que sites visitam na internet, nem com que roupas estavam vestindo quando desapareceram...

Não entendo a maior parte dessas coisas, que acontecem na família moderninha que quase sempre está nas mãos de uma gatinha vagamente idiotizada e um gatão querendo ser adolescente, poucos pais escutam a voz arcaica (porém necessária) que os faria atender suas crias indefesas. Sem as desculpas de que trabalham demais e não tem tempo, muito menos porque andam confusos e aflitos com a crise mundial. Quem acha que filho é mais chateação do que alegrias,abandonem de vez essa tarefa, pois para qual exercício não haverá jamais férias,muito menos aposentadoria.

Para ser pai e mãe é preciso estar sempre amorosamente envolvido e com coragem de dizer não na hora certa, mas quem não estiver disposto a isso, não finja que é pai ou mãe e deixe os filhos entregues à própria sorte,afirmando que a responsabilidade é da escola .

É bom começar a tentar, a vida sempre será dura e os filhos não pedem para nascer e o que temos hoje no cenário atual é um retrato da família que temos: a família é a base da sociedade.

*Nadja Nascimento é Pedagoga

11º Encontro Pernambucano de Coco



Tudo pronto para o 11º Encontro Pernambucano de Coco, que acontece de 14 a 19 de dezembro, no Cabo de Santo Agostinho. O público vivenciará o festival em sua décima primeira edição, com uma programação diversificada em Gaibu, Vila de Nazaré, Ponte dos Carvalhos e Pontezinha. O projeto conta com atividades de inaugurações do Ponto de Cultura Farol da Vila Coco de Pontezinha, que neste mês de novembro participou do Festival Canavial no interior na Zona da Mata Norte do Estado.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

POEMA PARA UMA QUARTA-FEIRA EM CINZAS


Natanael Lima Jr


nada além de uma noite vazia

sem existência

sem brilho

des

co

lo

ri

da

nossos corpos envolvidos

na cinza paixão

de uma quarta-feira

sem vida


*Natanael de Lima Jr. é membro da Academia Cabense de Letras

A Última Crônica


Fernando Sabino

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.

Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.

Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.

São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "Parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.

Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

NÓS CEGOS


Mário Hélio*

O que fazer quando há no olho
Um corvo que consome todo rosto
E as asas nada mais são do que pontos
Onderrame o silêncio estranho corpo
Inomonável espelho que vê outro
Tantalizando algum narciso morto?

O que fazer quando no morto
Há um mocho que se enxerta dentro do olho
Que tem a falsa memória do outro
E finge ser o sol perdendo o rosto
De um espelho partido no seu corpo
Abominável feito só de pontos?

O que fazer quando os pontos
São grous que contaminam o orbe morto
Deitado num céu branco e reles corpo
Com um riso tão dor que fere o olho
E pode até carcomer todo o rosto
Feliz de nada ser bastante outro?

O que fazer quando outro
Pombo aprendeu a debicar os pontos
Que cosem as linhas das mãos e do rosto
Lei secreta que pesa e mede o morto
E pede a mesa onde se corta o olho
Porta que fecha e esmaga todo o corpo?

O que fazer quando o corpo
Quer ser algum condor com vôo de outro
Abrindo ávidos vôos dentro do olho
Espelho macerado os mesmos pontos
Quando a razão se perde e tudo é morto
E o que se vê não é mais que outro rosto?

O que fazer quando o rosto
É um sol já murcho, e quando o estranho corpo
Os pólos toma sempre o rumo de outro
E o que encontrou foi um nome de morto
Que entra na terra e se escreve: deus é um olho
Silente e macilento mais três pontos?

*Mário Hélio é membro da Academia Cabense de Letras

TUDO BEM


Tereza Soares*

Não quiseste meu semblante
Não tiveste
Não tiveste minha indumentária de dor
Não sofreste
Não saíste do teu lago encantado
Não partiste
Não pisaste a grama com medo de estragar a flor
Não lamento
Estava tudo certo, embora errado
Agora bem
Curvo e reto
Ondulado.

*Tereza Helena Soares é membro da Academia Cabense de Letras

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

NESTE FIM-DE-ANO, INDICAMOS O PRESENTE



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