segunda-feira, 11 de abril de 2011

IRENE, ELA E O MONGE

Roberto Menezes, em 9/4/11


Livre da prisão de convento

Eu,um monge do deserto

vou caminhando contra o vento

vivendo a vida à míngua

no desejo de encontrar

a mulher da foto e sua língua

que tanto prazer me dá.

Num oásis só miragem

termino a minha viagem

ao vê-la com saia curta

coxas, peitos e “aquilo”

nome dado por Drummond

em “A Moça Mostrava a Coxa”

e se o poeta maior falou “daquilo”

por que não posso falar ?

Não sei fazer poesia

mas sei tirar “daquilo”

o cheiro de maresia

que todo “aquilo”tem.

E rolamos por areias escaldantes

língua com língua

mordidas, gritos lancinantes

minha barba fazendo cócegas

“naquilo” que o Drummond falou

e o cheiro de peixe e mar

por perto

onde não havia mar

só areia e deserto.

Saciados nos abraçamos

ela se veste e se vai

some a miragem, fico eu,só

com o cheiro de mar e peixe

que meu corpo impregnou

mas agora ser monge é pouco

pois lembro outro poeta

que cantou no seu desterro

“eu quero ir minha gente

Eu não sou daqui

Eu não tenho nada,nada

Quero ver Irene dar sua risada”.

Cravo as unhas na areia

vou onde ela está,não erro

e da areia desenterro

Irene, velha metralhadora

que sorri, cuspindo bala.

E eu vou me sentir inteiro

monge ,tuareg, guerrilheiro

que depois de fazer o amor querido

com a mulher amada

vingo o meu povo oprimido

faço Irene dar risada.


*Roberto Menezes é jornalista e cineasta

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