Roberto Menezes, em 9/4/11
Livre da prisão de convento
Eu,um monge do deserto
vou caminhando contra o vento
vivendo a vida à míngua
no desejo de encontrar
a mulher da foto e sua língua
que tanto prazer me dá.
Num oásis só miragem
termino a minha viagem
ao vê-la com saia curta
coxas, peitos e “aquilo”
nome dado por Drummond
em “A Moça Mostrava a Coxa”
e se o poeta maior falou “daquilo”
por que não posso falar ?
Não sei fazer poesia
mas sei tirar “daquilo”
o cheiro de maresia
que todo “aquilo”tem.
E rolamos por areias escaldantes
língua com língua
mordidas, gritos lancinantes
minha barba fazendo cócegas
“naquilo” que o Drummond falou
e o cheiro de peixe e mar
por perto
onde não havia mar
só areia e deserto.
Saciados nos abraçamos
ela se veste e se vai
some a miragem, fico eu,só
com o cheiro de mar e peixe
que meu corpo impregnou
mas agora ser monge é pouco
pois lembro outro poeta
que cantou no seu desterro
“eu quero ir minha gente
Eu não sou daqui
Eu não tenho nada,nada
Quero ver Irene dar sua risada”.
Cravo as unhas na areia
vou onde ela está,não erro
e da areia desenterro
Irene, velha metralhadora
que sorri, cuspindo bala.
E eu vou me sentir inteiro
monge ,tuareg, guerrilheiro
que depois de fazer o amor querido
com a mulher amada
vingo o meu povo oprimido
faço Irene dar risada.
*Roberto Menezes é jornalista e cineasta
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