sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
PARA LER NA VÉSPERA DO NATAL
O QUE FIZERAM DO NATAL
CARLOS DRUMMOND
Natal
O sino toca fino.
Não tem neves, não tem gelos.
Natal.
Já nasceu o deus menino.
As beatas foram ver,
Encontraram o coitadinho
(Natal)
mais o boi mais o burrinho
e lá em cima
a estrelinha alumiando.
Natal.
As beatas ajoelharam
e adoraram o deus nuzinho
mas as filhas das beatas
e os namorados das filhas
foram dançar black-bottom
nos clubes sem presépio.
CANTIGA
GIL VICENTE
Em Belém, vila do amor,
da rosa nasceu a flor, virgem sagrada.
Em Belém, vila do amor,
nasceu a rosa do rosal, virgem sagrada.
Da rosa nasceu a flor,
para nosso Salvador, virgem sagrada.
Nasceu a rosa do rosal,
Deus e homem natural, virgem sagrada.
E o menino dela nascido naquela noite vicentina
do Natal era o Salvador do Mundo,
descendente da alta
linhagem de David,
filho de Jessé.
SONETO DE NATAL
MACHADO DE ASSIS
Um homem, – era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço no Nazareno, –
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,
Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.
Escolheu o soneto... A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.
E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
"Mudaria o Natal ou mudei eu?"
CARTÃO DE NATAL
JOÃO CABRAL DE MELO NETO
Pois que reinaugurando essa criança
pensam os homens
reinaugurar a sua vida
e começar novo caderno,
fresco como o pão do dia;
pois que nestes dias a aventura
parece em ponto de vôo, e parece
que vão enfim poder
explodir suas sementes:
que desta vez não perca esse caderno
sua atração núbil para o dente;
que o entusiasmo conserve vivas
suas molas,
e possa enfim o ferro
comer a ferrugem
o sim comer o não.
NATAL
FERNANDO PESSOA
O sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro de minha alma.
E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.
Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho.
Soas-me na alma distante.
A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.
CANTO DE NATAL
MANUEL BANDEIRA
O nosso menino
Nasceu em Belém.
Nasceu tão-somente
Para querer bem.
Nasceu sobre as palhas
O nosso menino.
Mas a mãe sabia
Que ele era divino.
Vem para sofrer
A morte na cruz,
O nosso menino.
Seu nome é Jesus.
Por nós ele aceita
O humano destino:
Louvemos a glória
De Jesus menino.
O FILHO DO HOMEM
VINÍCIUS DE MORAES
O mundo parou
A estrela morreu
No fundo da treva
O infante nasceu.
Nasceu num estábulo
Pequeno e singelo
Com boi e charrua
Com foice e martelo
Ao lado do infante
O homem e a mulher
Uma tal Maria
Um José qualquer.
A noite o fez negro
Fogo o avermelhou
A aurora nascente
Todo o amarelou.
O dia o fez branco
Branco como a luz
À falta de um nome
Chamou-se Jesus.
Jesus pequenino
Filho natural
Ergue-te, menino
É triste o Natal.
SONETO
Bom Jesus, amador das almas puras,
Bom Jesus, amador das almas mansas,
De ti vêm as serenas esperanças,
De ti vêm as angélicas doçuras.
Em toda parte vejo que procuras
O pecador ingrato e não descansas,
Para lhe dar as bem-aventuranças
Que os espíritos gozam nas alturas.
A mim, pois, que de mágoa desatino
E, noite e dia, em lágrimas me banho,
Vem abrandar o meu cruel destino.
E, terminado este degredo estranho,
Tem compaixão de mim, Pastor Divino,
Que não falte uma ovelha ao teu rebanho!
NATAL
AUTA DE SOUZA
É meia noite ... O sino alvissareiro,
Lá da igrejinha branca pendurado,
Como num sonho místico e fagueiro,
Vem relembrar o tempo do passado.
Ó velho sino, ó bronze abençoado,
Na alegria e na mágoa companheiro!
Tu me recordas o sorrir primeiro
De menino Jesus imaculado.
E enquanto escuto a tua voz dolente,
Meu ser que geme dolorosamente
Da desventura, aos gélidos açoites ...
Bebe em teus sons tanta alegria, tanta!
Sino que lembras uma noite santa,
Noite bendita mais que as outras noites!
A RUA DOS CATAVENTOS: XII
MÁRIO QUINTANA
Tudo tão vago... Sei que havia um rio...
Um choro aflito... Alguém cantou, no entanto...
E ao monótono embalo do acalanto
O choro pouco a pouco se extinguiu...
O Menino dormira... Mas o canto
Natural como as águas prosseguiu...
E ia purificando como um rio
Meu coração que enegrecera tanto...
E era a voz que eu ouvi em pequenino...
E era Maria, junto à correnteza,
Lavando as roupas de Jesus Menino...
Eras tu... que ao me ver neste abandono,
Daí do céu cantavas com certeza
Para embalar inda uma vez meu sono!...
Colaboração: Natanael jr.
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Procura
ResponderExcluir********Augusto Souto
Na véspera de Natal
Eu te busquei
Em diversos lugares e rostos
Tentei vislumbrar-te no europeu
Branco de olhos azuis, não tive culpa.
Pois esta sempre foi à imagem tua,
que eles tentaram implantar em minha mente
Na minha segunda tentativa
Busquei-te no intelectual
Que discutia com os grandes Mestres da Cultura;
Falhei pela segunda vez
De repente tropecei em alguém
Era incontestavelmente a tua
Presença que se fazia:
Transparente, límpida, clara.
O meu preconceito teimava
Em não acreditar, mas,
Indubitavelmente estavas ali
Na calçada fria, uma mãe solteira
Amamentava sorridente seu recém-nascido
E de seu lado crianças abandonadas
Embeveciam-se admirando-a.
Feliz Natal a Você meu amigo
e todos e todas seus(as) leitores(as)