quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

BEM MAIS QUE UM ABRIGO



Douglas Menezes*

Não é novidade alguma o enaltecimento do grande trabalho social realizado pelo Abrigo de São Francisco de Assis, há décadas acolhendo pessoas idosas que,por um desses azares da vida ,estavam fadadas a ter um final de vida melancólico e desassistido. Faz parte da paisagem do Cabo de Santo Agostinho aquela obra que fora um sonho tornado realidade pela Madre Iva Cardoso. De fato, acompanhar a velhice de modo digno como vem sendo feito, muitas vezes com muito sacrifício, contando com a ajuda das irmãs franciscanas e de alguns abnegados, torna aquela casa de acolhimento uma das marcas de bondade e respeito humano que engrandecem nossa cidade não só no âmbito local, mas, e sobretudo, como um símbolo de humanidade e desprendimento para todo o estado de Pernambuco. Suas eternas dificuldades servem para demonstrar quão, no Brasil, a inversão de valores, inclusive morais, nos causa uma espécie de revolta, pois os escândalos, o mau uso do dinheiro público, as falcatruas e os enriquecimentos ilícitos explodem cotidianamente, enquanto instituições sérias vivem à míngua, esperando a esmola dos que têm bons corações.Isto serve para que elevemos nosso nível de consciência para a necessidade de profundas transformações na Sociedade brasileira, coisa que o pretenso governo de esquerda não conseguiu fazer.

É preciso dizer, também, em relação ao Abrigo São Francisco que ele se insere, hoje, como um elemento histórico da nossa paisagem. Uma tradição merecendo ser tombada, legando à posteridade o exemplo maior de servir ao próximo. Numa cidade que teima em esquecer de se lembrar, a cada dia perdendo a identidade, salvo o trabalho hercúleo da Casa da memória realizado por Antonino Júnior, perpetuar a história do Abrigo é, no mínimo, lembrar do sentimento cristão do Cabo de Santo Agostinho, principalmente aquele de doar sem intenção de obter retorno. A luta heróica para construí-lo, os primeiros hóspedes, as várias reformas ali ocorridas, as festas memoráveis que marcaram época em nossa cidade. Sendo seu lado profano aguardado pelos cabenses com intensa ansiedade no mês de outubro. Demonstrando isso a abertura da instituição para toda a cidade, num gesto de acolhimento em relação à comunidade cabense. A capela do Abrigo é, justamente, o elo maior entre o albergue dos “velhinhos” e o povo.

O Abrigo de São Francisco está acima de qualquer concepção religiosa. É uma voz destoante,distante desse mundo que insiste em desconhecer os valores humanos verdadeiros, calcados na bondade gratuita, que representa a vida de seu patrono: São Francisco de Assis.
28 de maio de 2009

*Douglas Menezes é membro da Academia Cabense de Letras

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