domingo, 26 de maio de 2013

A OSTRA: DENSO E VERDADEIRO

A OSTRA, de Luiz Navarro, integrou a programação da MOCASPE no última sábado, 25, juntamente com mais dois Skates: Esperando Godot e o Deus que devasta é o mesmo que cura.

Sobre a OSTRA, trata-se de um espetáculo denso, com um texto muito forte e situações que exigiram muito do elenco. A relação doentia entre mãe e filha que se anulam é uma  verdade que constatamos, ao longo dos tempos. Bem no estilo de Navarro.

No elenco, duas mulheres deram vida ao texto de Navarro: Belly Nascimento e Luiza (Lu) Oliveira. Foram competentes, principalmente por fazerem drama sem estereotipar. Foi uma interpretação intimista, capaz de nos levar a ser um pouco a filha ou a mãe.

CASA DA MEMÓRIA: UM PROJETO DE TODOS

Casa Grande do Engenho Boa Vista

 O Prefeito Vado bateu o martelo e autorizou a montagem da Casa da Memória do Cabo, que será instalada em módulos, no antigo prédio da Prefeitura. Será montado por módulos porque o acervo é muito erande e o espaço ainda não é suficiente, mas, existe a promessa do Prefeito em ir, na medida do possível, sendo ampliado.

Segundo Antonino Oliveira Júnior, que coordena o projeto, contando com a importante colaboração de Isbelo  Fonseca, Ian Carlo e Reginaldo  Pereira, a expectativa é que de que a primeira fase seja inaugurada no dia 9 de julho, aniversário da cidade.

A CULTURA CIRCENSE RESISTE

Encontra-se em curta temporada no Cabo de Santo Agostinho, o CIRCO MILENIUM, armado em frente à Igreja da Destilaria. Na sexta-feira passada, dia 24, fui com minhas netinhas assistir ao espetáculo. Nada de grandioso, mas saí feliz, ao sentir que um grupo de jovens, provavelmente  parentes,  está, bravamente, literalmente tocando o circo adiante.

Percebe-se claramente que os jovens de  revesam na nobre tarefa de divertir o público e, ao mesmo tempo, preservar sua cultura e uma das mais importantes manifestações artísticas. Malabaristas, equilibristas e um interessante trabalho de palhaços.

Parabéns aos circenses do Milenium e que tenham bom público no final da temporada.

A ORAÇÃO E ELA

DOUGLAS MENEZES*

QUE DEMORE, MAS VENHA
QUE DIGA SIM E NÃO, MAS DIGA
QUE FAÇA SOFRER, MAS PEÇA PERDÃO
QUE SEJA MALANDRO, MAS TENHA CARÁTER
QUE DEIXE MINHA VIDA VIRAR LUZ
ATÉ MESMO QUANDO A TREVA CHEGAR
AMOR SEM ALMA, AMOR DE GRAÇA, AMOR MORDAÇA
QUE APAREÇA COM CARA DE ANJO
E JEITO HUMANO DE OSSO E CARNE
QUE ENCHA OS ESPAÇOS, SUFOCANDO E LIBERTANDO O
SER CATIVO
QUE VENHA DO CÉU, DA TERRA OU DO MAR,
MAS QUE VENHA, COM A LEVEZA DOS VENTOS
OU COM A ENXURRADA DAS TEMPESTADES
QUE DEMORE, MAS VENHA ENFIM
E QUE SEJA O SULCO DA TERRA ARADA
PINGOS NAS FOLHAS DA MANHÃ DE NÉVOA
ARREBENTANDO AS CERCAS, FORA E DENTRO DE MIM.


*DOUGLAS MENEZES É DA ACADEMIA CABENSE DE LETRAS


segunda-feira, 20 de maio de 2013

PRODUÇÃO DE TEXTO: A PARÁFRASE

Douglas Menezes*


Paráfrase significa transposição. Em redação, é transformar um poema (texto em versos) numa produção escrita em prosa ( texto em linhas contínuas).
A Paráfrase não se trata de uma interpretação do poema, mas uma redação que contenha o mesmo conteúdo. É como se você se transformasse no próprio poeta, sendo que o novo texto, seria em prosa e com suas próprias palavras. O conteúdo do poema não muda, mudam os vocábulos, aparecem novas ideias e exemplos, enriquecendo o texto que deu origem à Paráfrase. É uma técnica que contribui muito para o desenvolvimento intelectual daqueles que pretendem escrever bem.
Na Paráfrase há uma ampliação do conteúdo. Procure introduzir conceitos seus. Fazendo isto, você estará demonstrando personalidade e passando a escrever com desembaraço.
Veja um exemplo de um texto parafraseado. Trata-se do poema Sobre a Ambição, de Guilherme de Almeida. Note que a Paráfrase não é uma imitação, mas uma recriação de um conteúdo, portanto não é plágio, mas um processo de Intertextualidade.


SOBRE A AMBIÇÃO: PARÁFRASE
"SOBRE A AMBIÇÃO"
GUILHERME DE ALMEIDA 
Só de pó Deus o fez. Mas ele, em vez de se conformar,
 quis ser sol, e ser mar, e ser céu... Ser tudo, enfim.
 Mas nada pôde! E foi assim que se pôs a chorar de furor... 
Mas ah! foi sobre sua própria dor que as lágrimas tristes rolaram. 
E o pó, molhado, ficou sendo lodo - e lodo só!

Veja, agora, uma Paráfrase resumida deste poema.

SOBRE A AMBIÇÃO
A ambição do ser humano não tem limite. Quanto mais tem, mais quer. Não importa se para conseguir seus objetivos, tenha que “pisar” nos semelhantes. Sua sede de conquista é tão grande que até mesmo seu Criador é esquecido.
Embora tenha surgido do nada, criado para servir a Deus, o homem, através dos séculos, vem procurando dominar tudo o que aparece à sua frente. No entanto, a limitação que ele possui termina causando-lhe uma profunda frustração, pois, por mais que avance, esbarra na condição de que veio do pó e para o pó irá voltar.
Por isso, não adianta riquezas, ostentações, orgulho, poder, pois quando menos se espera, eis que a trama da vida é cortada e simplesmente o homem retorna à origem. Pior: apodrece, enche-se de vermes, no estranho processo onde todos são iguais, sem distinção de cor e raça ou nação. Enfim, o padecimento, a constatação de que nada mais é a não ser lama.
Douglas Menezes
Você observou que o conteúdo, apesar de manter sua essência, foi ampliado por novas ideias e um vocabulário próprio.

*Douglas Menezes é da Academia Cabense de Letras

sábado, 18 de maio de 2013

VOCÊ

Douglas Menezes*


NÃO A ALMA BEIJADA COMO FALOU O CHICO
NÃO O CORPO NAVEGANTE
NO ESPÍRITO LEVE DO AMOR POSSÍVEL
QUE INFANTIL EU DISSE UM DIA
VOCÊ, O PUNHAL, VÍSCERAS À MOSTRA
GIRANDO NA CARNE ACOSTUMADA À DOR
VOCÊ ACABANDO TUDO SEM TERMINAR
VOCÊ, NÃO O MOMENTO ETERNO DO ROMANTISMO BESTA
MAS VOCÊ A LÂMINA
JORRO SEM FINAL
ALMA E CORPO EU, SANGRANDO...
SANGRANDO... SANGRANDO, SEM MORRER

*Douglas Menezes é da Academia Cabense de Letras.

LEO GUILHERME JÁ É UMA REALIDADE

o Cantor LEO GUILHERME, que até poucos tempos era uma cara nova no cast dos cantores do estilo Sertanejo/Universitário, tornou-se uma realidade e já acumula fãs e admiradores pelo Brasil afora. 

Garoto que surgiu nas festas e encontros da família Guilherme, no Cabo de Santo Agostinho, assumiu uma postura profissional e "estourou" nos palcos dos grandes eventos. Uma voz madura e segura credencia o trabalho de LEO GUILHERME, sem dúvida a grande revelação dos palcos pernambucanos.

DESEJOS E DEVANEIOS

Será  n o dia 01 de junho, no Cabo de Santo Agostinho, o lançamento do livro DESEJOS E DEVANEIOS, da poetisa Neilza Buarque. O evento acontecerá no Restaurante Natrielli, no Shopping Costa Dourada, a partir das 18:30 horas.

O lançamento tem o apoio da Academia Cabense de Letras e será regado a um bom repertório de MPB.

OLIVIER E LILI

OLIVIER E LILI: UMA HISTÓRIA DE AMOR EM 900 FRASES está na Programação do Festival   Palco Giratório, do SESC, em apresentação única, neste domingo, dia 19 de maio, às 19 horas, no Teatro Hermilo Borba Filho, tendo no elenco Fátima Pontes e Leidson Ferraz.

Oportunidade única de assistir este espetáculo maravilhoso.

sábado, 11 de maio de 2013

AÇUCENA, MANDACARU E AMOR

Antonino Oliveira Júnior



É meu Dia
E ele nem sabe...
Chora há dias
Com sede, com fome,
Por causa da sua cabrinha
Que já não fica em pé...
Um menino que só tem dez anos
E junta tanta dor...
Como lembrar que hoje é meu Dia?
Queria saber o que ele sente
Quando olha pra mim
E vê meu rosto igual ao chão...
Foi desmamado cedo demais
Do peito seco de leite
Como lembrar que é meu Dia?
Seu olhar adulto de apenas dez anos
Olha meu rosto sofrido igual ao chão
E não entende
Quando passo a mão no peito seco
Para mostrar um coração de mãe,
Cheio de amor
E um olhar de tristeza
De onde nem lágrima brota.

DEUS É MÃE...?


Pr. Adriel Henrique

Infelizmente, para muitas pessoas Deus só é concebido como pai. Lamentavelmente, muitos não conseguem aceitar o fato de que Deus não pode ser classificado como feminino (mulher) e muito menos como masculino (homem). Deus é espírito apenas, e não é nada mais que isto ou além disto. Querer acreditar e difundir uma concepção errada sobre Deus é um pecado “mortal”. Calma, pois Deus não é como o homem que não perdoa, Ele sempre perdoa todos os pecadores. Eu poderia dizer que: Deus perdoa como aquela mãe que perdoa o filho ou a filha que transgrediu sem condicionar nada. Já os pais geralmente expulsam de casa ou do convívio estes mesmos filhos, principalmente se estes forem mulheres.
Na época de Jesus, era inconcebível a idéia de um pai perdoador. Principalmente um pai que fica esperando que seu filho transgressor volte para casa, e muito menos que quando o avista de longe sai correndo ao seu encontro. Para os judeus, este pai perdeu o juízo. Já o filho transgressor, caso se arrependesse, não esperava que o seu pai o recebesse de volta e muito menos que o considerasse como seu filho. A parábola do Filho Pródigo exemplifica muito bem esta concepção.
Quando, na parábola citada, Jesus usa a figura do pai para falar sobre o perdão, não é uma questão de preferência em relação à figura feminina da mãe, e sim por Ele querer demonstrar o tipo de atitude que Deus tem para com os seus filhos. O curioso nesta parábola é que a atitude deste pai representa a maneira que uma mãe naturalmente reagiria em tal situação. Nas entrelinhas, Jesus disse para os seus conterrâneos que eles deveriam ter uma atitude materna e não paterna, ou seja, uma atitude feminina e não masculina. Quando uma mãe age como o pai da parábola agiu, os pais geralmente dizem: “Mãe é bicho besta”. Pois é: Deus agiu e age como uma mãe agiria.
Precisamos aceitar o fato de que o ser humano foi formado à imagem e semelhança de Deus. Penso que seja no mínimo intrigante como as mães (as mulheres) demonstram com maior facilidade reflexos de Deus como perdão, amor incondicional, acolhimento, tolerância, cuidado, preocupação e esperança. Eu nunca ouvi dizer, por exemplo, que “no coração de pai sempre cabe mais um”; ou que “pai quer todos os seus filhos debaixo das suas asas”. E você, já ouviu?
Tem pessoas que diante de algumas situações afirmam que “Deus é pai”. Vale pontuar que essa afirmação é só da boca para fora. Além disso, a maneira como é utilizada distorce a imagem de Deus. Fico encantado quando vemos na Bíblia a apresentação da face materna de Deus. O bom é ouvir Jesus dizer: “Quantas vezes quis ajuntar os teus filhos, como a galinha junta os seus pintos debaixo das asas, e não quiseste?” (Lc 13.34).
Penso que pelo fato de a mulher representar a imagem e semelhança de Deus, posso entender e compreender melhor a ação de Deus em suas vidas, principalmente se estas forem mães. Já que aceitamos o fato de que a mulher possui a imagem e semelhança de Deus, podemos crer também que Deus possui uma face materna. Aleluia! Acho que só uma compreensão materna para entender a dor, o sofrimento, o desespero de uma mãe. Lembro-me da minha amiga em sala de aula no seminário que conseguiu sentir a dor da mãe dos filhos de Jó, esta que muitos condenam a atitude que ela teve em meio a uma grande tragédia. Eu nunca vi um pregador defendendo esta mãe. E você, já viu?
A face materna de Deus nos faz perceber a dimensão da grandeza de Deus. Pois esta face o fez ir ao encontro de mães aflitas e necessitadas como Hagar, mãe de Ismael, e Joquebede, mãe de Moisés. Em outros momentos, esta face concedeu a realização do sonho da maternidade a Ana, mãe de Samuel, Sarah, mãe de Isaque, à mulher de Suném (2 Rs 4.8-37), à mãe de Sansão, a Isabel, mãe do profeta João Batista, entre outras. Como diz o salmista no salmo 113, é Deus que faz com que a mulher estéril habite em família e seja uma alegre mãe de filhos.
Não sei se você considera ou passou a considerar Deus como mãe. Mesmo assim, em um texto futuro, compartilharei as respostas de outras amigas e amigos. Todavia retorno para você a pergunta da minha amiga Sílvia: “A mãe que eu sou testemunha a mãe/pai que Deus é? O pai que eu sou testemunha o pai/mãe que Deus é?”. Espero que sim. Neste final, deixo para vocês a saudação que geralmente Sílvia me faz: “Que o Deus pai/mãe esteja com vocês.” Amém?

terça-feira, 30 de abril de 2013

A NITIDEZ POLÍTICA E A DITADURA

Douglas Menezes*



Não é saudosismo, e talvez até seja. Não nego que uma das coisas que me deixa com saudade no período da ditadura, claro, não o regime em si, era a transparência de lado que existia na política. Mesmo abrigados na oposição consentida do MDB, e da situação, expressa pela Aliança renovadora nacional (ARENA), os grupos de direita, centro e esquerda delimitavam seu território. Sabíamos onde estávamos pisando. Os políticos não escondiam suas posições, apesar dos riscos. Lembro, ainda menino, criei verdadeiros ídolos, que nos faziam vibrar pelas atuações combativas. Estavam lá povoando o sonho de mais liberdade na visão do ainda adolescente, Marcos Freire, Jarbas Vasconcelos, Maurílio ferreira Lima, Fernando Lyra, Cristina Tavares, Egídio Ferreira Lima, entre tantos outros.

A luta contra o regime de exceção era uma verdadeira escola política, Como foi pedagógica para milhares de jovens adquirirem consciência democrática. A juventude brasileira entendia valer a pena correr riscos, e os anos de chumbo não eram brinquedo.

Crescemos nesse ambiente de ebulição, aprendendo que liberdade se conquista na luta e, apesar dos exageros próprios da idade, foi um período de aprendizagem que moldou o caráter, para o bem, de muita gente. As pessoas aprendiam ter lado, a definir objetivos, inclusive no aspecto cultural. Havia uma “guerra” na música. Definíamos nossa preferência também pela posição dos artistas, pela postura contra ou a favor do sistema. A MPB fervia, e grandes nomes confirmaram através dos anos o valor artístico de suas obras. Estão aí, eternos, Vinicius, Chico, Tom, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Vandré, Edu Lobo, e tantos que enriqueceram nossa cultura, a partir da postura política, de buscar a democracia e a liberdade de expressão pela arte.

Tempo diferente de hoje. Se as conquistas democráticas se configuraram e vivemos num estado de direito quase pleno, por outro lado, abdicamos, e isso é muito ruim, de uma nitidez política necessária a qualquer democracia que se preze. Hoje, partidos que deveriam apresentar uma linha mais definida, como o PT e PCDB, na busca das transformações ainda muito necessárias ao país, Se apresentam como partidos que trocaram um projeto Brasil, por uma continuidade de poder: temos ainda, uma péssima distribuição de renda, uma Educação ruim, uma saúde capenga, que não corresponde às reais necessidades do povo e uma segurança que deixa a desejar. Sem falar da tentativa de controlar e cercear a livre expressão da imprensa.

Que aqueles anos não voltem mais. Todavia, dá saudade sim, de ver o povo nas ruas pedindo Diretas Já, mobilizado, “sem ódio e sem medo”, numa consciência política pouco vista hoje. Agora, o noticiário é de escândalos, de desvio de dinheiro público de violência e de outras mazelas que nos fazem menor. Além de uma juventude sem rumo. Essa mesma que um dia assumirá o comando do país.

Que voltemos a ter um confronto nítido de ideias, projetos claros para o país. Que retornemos ao Nacionalismo que tanto acalentou gerações, para que não tenhamos saudade do que passou.

*Douglas Menezes é da Academia Cabense de Letras

sábado, 27 de abril de 2013

COISA AMAR




Manuel Alegre

Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.

Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.

Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como doi

desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.

  

O BOM JOSÉ


G.Moustaki – Versão: Nara Leão
Gravada por Rita Lee

Olhe  que foi meu bom José
Se apaixonar pela donzela
Dentre todas a mais bela
De toda a sua Galiléia


Casar com Débora ou com Sara
Meu bom José, você podia
E nada disso acontecia
Mas você foi amar Maria

Você podia simplesmente
Ser carpinteiro e trabalhar
Sem nunca ter que se exilar
De se esconder com Maria
Meu bom José você podia
ter muitos filhos com Maria
E teu ofício ensinar
Como teu pai sempre fazia

Por que será, meu bom José
Que este teu pobre filho um dia
Andou com estranhas idéias
Que fizeram chorar Maria

Me lembro às vezes de você
Meu bom José, meu pobre amigo
Que dessa vida só queria
Ser feliz com sua Maria

MANHÃ DE CHUVA



*Douglas Menezes*


Tem dias assim, onde a poesia transparece não com o sol brilhando, mas num céu carrancudo, de nuvens que pesam mais que chumbo. Um amanhecer escuro, forte a água que cai. O levantar disposto por sentir um momento diferente. Falta do sol, nenhuma, estranho sentimento de que a névoa traz uma verdade nova.
Ruas mais tranquilas, estudantes em algazarra, poucos, professores parados, escolas vazias e a sensação de que esta chuva veio não só para molhar caras e cabelos, mas para lavar a alma carecendo de limpeza. Preciso, então, espiritualizar esses pingos grossos, musicalizar esse ruído, harmonia doce só ouvida por quem tem olhos para enxergarem os sons. Não perceber frieza na água descendo sobre a pele. Ao contrário, sensualizar os poros, misturados ao líquido, quase sêmen, que penetra o corpo e encontra uma alma receptiva à purificação.
Manhã de chuva. Filosofando eu aqui, ainda sem coragem de me completar nas águas que vêm lá de cima. Deus chorando de alegria por confortar a terra seca. Um cão passeia impassível sob o temporal, felpudo, não sente frio, parece, como disse Manuel Bandeira, um homem de negócio preocupado com suas empresas. Cão passando, personalidade forte enfrentando o tempo bom de chuva. Necessito desse encorajamento. Na vida quem não se molha, não vive. Observar, não só; contemplar apenas é teorizar a carência prática do existirmos.
Então, a criança resolve ser o seu herói. Banhar-se ali, agora, correr na avenida. Ser menino já velho. Aumentam os pingos. Colada ao corpo a roupa. A sensação de felicidade. Ser louco para todos, não importa, pois entre trovões e relâmpagos e debaixo das águas torrenciais, aqui, agora, pelo menos nesse momento, eu sou feliz, para mim.


*Douglas Menezes é da Academia Cabense de Letras

domingo, 21 de abril de 2013

CORAÇÃO EM EROSÃO



Antonino Oliveira Júnior


Você chegou daquele jeito...
Tinha que ser assim...
Suas carícias, seus carinhos,
Uma enxurrada de prazer
Causando essa erosão em meu coração,
Uma fenda profunda
Preenchida por tudo o que sinto,
Por tudo o que desejo,
Pelo tudo que é você.

Não fala nada agora
E apenas fecha os olhos...
E com o sal de seu suor
Batizo com o nome de amor
o  recheio dessa fenda
que me abre e me preenche o peito.

VEM AÍ A 18ª MOCASPE

O homenageado: Marcelo Rushansky

A 18ª MOSTRA CABENSE DE SKETES E POESIAS ENCENADAS (MOCASPE) acontece no mês de maio, de 15 a 17 com a Mostra Infantil, e de 18 a 26 com a Mostra de Espetáculos Adultos.

O evento é uma realização do Movimento Teatral do Cabo de Santo Agostinho, com o apoio da Secretaria de Cultura local. Na versão deste ano, a Mocaspe homenageia o ator  Marcelo Rushansky, recentemente assassinado na Praia de Gaibu.

Breve divulgaremos a Programação completa.

I FESTIVAL DE CIRCO A CEU ABERTO

Grupo Seres de Luz

Começa quarta-feira, 24 de abril, o I Festival de Circo a Céu Aberto, realização da Caravana Tapioca, dos artistas Giulia Cooper  e Anderson Machado, em parceria com a Papelão Produções, da também artista Marina Duarte.

O Festival tem o patrocínio do Funcultura e apoio  do Centro Cultural dos Correios e a programação acontecerá  no Parque da Jaqueira, em Recife, e na Praça do Carmo, em Olinda, com Oficinas, Batepapo e Espetáculos circenses à noite.

A Programação, com detalhes, você encontra no site: www.carvanatapioca.com 

sexta-feira, 12 de abril de 2013

QUANTAS GUERRAS?

Antonino Oliveira Júnior


O estampido seco inconfundível,
Longe ou perto,
Soa no coração.
Sofre a mente...
Sofre a alma...
Menos um em algum lugar,
Mais um corpo que cai...
E as lágrimas de dor
Servem de alimento
À alma pacifista
Que não entende
Que não aceita
Que repudia..

“Quantas guerras ainda terei que vencer,
Para ter um pouco de paz?”

UM MOMENTO




Douglas Menezes


Eu não queria ver só de relance
uma lua cheia digitada
um sol net que a gente fabrica
eu não queria dedos
nervosos
mas mentes tranquilas
fabricando sons e luzes
Eu não queria me ver assim
frente a um brilho que me ofusca os olhos
e buscando crianças perdidas,
nunca achadas.
Mundo que se vê e ouve
mas não se pega, não se cheira, não se senta.
Mundo de amigos de superfície
de imagens maquiadas
e piadas sem graça
o que quero, enfim
é a graça do bêbado na feira
é a molhada terra da chuva.
O que quero, enfim
é o sol quente da praia que não vejo mais
ou uma lua natural de namorados e
astronautas.
Quero sim, me livrar da mentirosa luz
que me afasta da vida
e cega esses olhos cansados de olhar
o que não querem.

*Douglas Menezes é da Academia Cabense de Letras

sexta-feira, 5 de abril de 2013

UMA VEZ MAIS

Letra: Douglas Menezes
Música: Jorge Queiroz


Uma vez mais, bom demais
rever você amor selvagem
ah, bom demais, quando se faz
sem precisão.
É como o som de violão bem tocado
é como ver o sol nascer no cerrado
me dá teu peito
sou um menino querendo a mãe
entregue o corpo
erice os pelos
que relva boa
como é à toa
a vida sem fazer amor
quero explodir total prazer
sem hesitar
a alma leve para que o corpo
navegante possa amar
sem vergonha
sem ter medo
de se achar.

TEATRO INFANTO-JUVENIL


TEATRO INFANTO-JUVENIL EM SEMINÁRIO IMPERDÍVEL E COM ENTRADA FRANCA NO TEATRO JOAQUIM CARDOZO! JOSÉ MANOEL SOBRINHO VAI SER HOMENAGEADO.

Maria Helena Kuhner é uma das convidadas   para Palestra e o evento contará, ainda, com lançamentos de Livros, espetáculos grátis e debates com o público.

O Grupo Teatro Dubando realiza, de 12 a 14  de abril, no Teatro Joaquim Cardozo, em Recife,  p Seminário Leituras Cruzadas II, cujo tema é "Teatro Infanto-Juvenil: Tradição e Ruptura".

O evento é uma homenagem a José Manoel Sobrinho, por sua trajetória  de dedicação ao teatro de todas as idades. A inscrição para o Seminário é grátis.

quinta-feira, 28 de março de 2013

CHARME E ATENDIMENTO PERFEITO

O Cabo de Santo  Agostinho e demais cidades da região podem se orgulhar de ter um Restaurante de primeira linha. O Restaurante NATRIELLI, localizado no Shopping Costa Dourada, Cabo de Santo Agostinho, tem instalações requintadas, um cardápio variado e de qualidade indiscutível, além da excelência em atendimento.

Além do excelente almoço, servido no modelo Self Service e a La Carte, o Natrielli tem o melhor Rodízio de Pizza da região, todos os dias, a partir das 17 horas. Comer bem, num ambiente da melhor qualidade, tem nome: RESTAURANTE NATRIELLI.

quarta-feira, 27 de março de 2013

RENASCER



Por DOUGLAS MENEZES*

É bom lembrar: Páscoa é renascer. Buscar na vida uma manhã onde o sol não se ponha nunca. No amanhecer os pássaros cantam todos os dias, mas o canto parece inédito, não repetido, sempre novo.Nos versos do poeta nordestino, a manutenção da chama que é a vida, essa celebração que faz o milagre acontecer quando menos esperamos, aliviando o fardo da existência sofrida e desesperançada. Nascer de novo é nascer duas vezes ou mais. Disse o poeta: ”O entardecer é bonito; mas belo mesmo é o amanhecer, pois coisas novas podem acontecer.”
Esse é o momento. Não o do paraíso consumista, da obrigação do peixe e do ovo de páscoa. Nem das solenidades coletivas dos templos repletos, muitas vezes mecânicas, superficiais até, rotineiras, para marcar uma data apenas. Mas o momento individual, reflexivo, onde você estará somente com você. Ao mesmo tempo sozinho e pensando nos outros. A busca da luz em meio às trevas. A cura da embriaguez do vinho amargo do orgulho, da soberba, da opressão, do egoísmo que embota os sentimentos bons. Renasçamos para, mesmo com os defeitos que levaremos até à morte, sejamos um pouco melhores.
Na visão pós-moderna, a Páscoa tornou-se um grande feriado turístico, onde a Paixão transformou-se em algo rentável, fonte de riqueza para empresários e divertimento para pessoas em busca de lazer.
Então, o espírito do nascer de novo deveria ser retomado, no sentido de entendermos bem o sacrifício DELE.
É preciso um renascimento da consciência, alcançando todos os ângulos da vida, notadamente aquele que trata das injustiças, das condições existenciais degradantes de grande parte da humanidade: os desprovidos de tudo. As eternas vítimas de uma ordem desumana e hipócrita.
Comamos o peixe e o chocolate, bebamos do vinho, sem, no entanto, esquecermos daqueles que nada disso possuem.
*DOUGLAS MENEZES é professor, poeta e escritor – Cabo de Santo Agostinho – PE

PÁSCOA: O RENASCER



Antonino Oliveira Júnior

Infelizmente, as comemorações cristãs tomam um rumo mercantilista, como produto do marketing comercial, que se aproveita para vender produtos supérfluos e que nada têm a ver com os momentos que se comemora.
Assim acontece com o Natal, quando o nascimento de Jesus tem, a cada ano, menos importância que o papai noel. Dessa forma, o apelo comercial dos presentes e das ceias natalinas, exploram e, na maioria dos casos, deixa a maioria da população endividada, esquecendo de viver a importância do nascer do Cristo. Viramos escravos da Mídia e nos embelezamos e procuramos nos fartar de coisas materiais que em nada lembram o Homem simples que nascia naquela data.
Não menos alienante tem sido a Páscoa, com o apelo comercial e a massificação da Mídia desviam as pessoas do verdadeiro olhar que deveria jogar sobre este momento. Na maioria dos casos, os ovos de chocolate, as guloseimas do almoço, as garrafas de vinho, desviam o olhar da população para o relevante fato da Ressurreição do Cristo. Este, sim, é o verdadeiro sentido da Páscoa, quando Jesus   mo0rreu crucificado e renasceu com a Páscoa.
Quantos entendem que ali Jesus estava falando para o mundo que o amor supera a violência? O simbolismo do renascer de Jesus está, justamente, na mensagem que Ele nos deixava da vitória do amor sobre a violência, sobre o ódio e sobre as injustiças.
Comemoramos muito pouco o Seu nascimento. Até choramos um pouco a Sua morte na cruz, porém, esquecemos da grande comemoração que deveria ser feita pelos cristãos: A PÁSCOA, A RESSURREIÇÃO DO CRISTO, O RENASCER DO AMOR, A VITÓRIA DA VIDA SOBRE A MORTE.

sábado, 16 de março de 2013

DANÇAS POPULARES

A partir de terça-feira, a atriz e dançarina Viviane Souto Maior promove o Trocadilho: I  Encontro Prático e Teórico de Pesquisa em Danças Populares. O evento, com entrada grátis, conta com a participação de artistas-pesquisadores, como Helder Vasconcelos, Maria Acserald, Roberta Ramos, Tainá Barreto Valéria Vicente e Lineu Gabriel.

No dia 20, quarta-feira, haverá a Aula-Espetáculo  "Fervo Frevo". com Viviane Souto Maior.

O evento acontece no centro Cultural Correios, no Recife Antigo.

TUA FORÇA



Antonino Oliveira Júnior


Apenas achei que dominaria
e quis mandar e ditar
o caminho da luz,
a direção do olhar.
A tua cor escrava,
teu olhar tão menino,
teu sorriso de onze anos
derramou-se no mar
e mostrou a mulher escondida
que veio de longe
com a força dos pés,
pelo grito de guerra
Zumbi ! Ganga Zumba !
dominou, venceu,
prendeu-me o olhar,
perdeu-me a razão,
arrastou-me na relva,
derrotou-me no amar.

ESSA CRÔNICA VONTADE DE DIZER


                                            
                        
                                                        DOUGLAS MENEZES*

 Desejo de dizer sempre. Busca de luz pela palavra que teima em ser difícil. Quero cantar uma coisa que não sai porque a vida não deixa. Procura de um otimismo cá dentro existente, mas conflituoso, pois a existência é antítese: ilusão não entender isto. Bem ou mal convivem e não temos o direito de negar pra ninguém. Ir e voltar. Ofender pedindo perdão logo adiante.  “Existirmos a que será que se destina?”. Poeta fala coisa que queremos dizer e não sabemos como, ele sabe mais que os racionais, os pragmáticos de plantão.
  Não à toa que alguém falou ser a Literatura mais coerente que a vida. Coerência própria, interna: a Arte não nega nem a fantasia, o sonho, o mágico; nem a realidade mais concreta desse mundo. Não insana a loucura. Insanidade maior essa briga por espaços, por dinheiro, desenfreada. Poder pelo poder. Sujeira disfarçada. Gentilezas artificiais dessas figuras pegajosas, de cumprimentos leves, macios, falsos por demais. Corra desse: fala mansa, sempre resolvendo tudo, artificial humildade, oportunista em tudo, no entanto: Terra cheio dessa gente que faz da hipocrisia a marca da existência.
   Marinita, não. Diz o que quer entre uma merenda e outra e sempre expressando verdade. Verdade dos humildes sem mãos macias, calejadas de honestidade. “Sou um atleta sexual, Marinita”. A merendeira não perde o ritmo: “Só gosto de mentira quando eu conto”. Não me ofende, Marinita. Pois ali, pureza; pois ali, sinceridade; ali, amizade que os títulos, os cursos e os livros, aos montes, não trazem. Não de graça que loucos bons, feito Manuel Bandeira e o Buarque Francisco gostavam e gostam tanto desse povo simples. Gente que faz a história da vida.
   Ah, essa crônica vontade de dizer. Letras no lugar do som da voz. Tão tímida que não emite quase ruído. Esse cuidado covarde no falar da boca. Essa coragem de dedos e mente, porque expressar é preciso. Cabeça pior se não engendrar frases e períodos, mesmo que poucos leiam e aumente a ilusão de que isto serve para alguma coisa.
   Madrugada tão alta. O calor da existência aparece devagar, como os gestos calmos de Débora, lembrando dia que chega. Os dedos não têm sono, mas querem terminar esse pedaço apenas. Pois sei, vida afora, até a morte, não vai cessar nunca, haja o que o houver , essa vontade crônica de dizer.

*Douglas Menezes é da Academia  Cabense de Letras
  










         

quarta-feira, 13 de março de 2013

MUIÉ SIM SINHÔ




Pr. Adriel Henrique
As histórias, as experiências e os ensinamentos que as mulheres vêm passando ao longo dos séculos vêm sendo registradas na literatura, na pintura e na música. A literatura bíblica é um capítulo a parte, pois neste tipo de literatura temos relatos emocionantes de mulheres ousadas, determinadas e capacitadas. Porém gostaria de começar refletindo através da música, pois, como canta Benito Di Paula: “Agora chegou a vez, vou cantar. Mulher brasileira em primeiro lugar. Norte a sul do meu Brasil caminha sambando, quem não viu mulher de verdade, sim senhor. Mulher brasileira é feita de amor”. A fórmula do amor nós faz ver porque as mulheres superam e suportam tantas coisas. A mulher cabense está entre as mulheres de verdade, ela é muié sim sinhô.
            Na Música Popular Brasileira temos canções que relatam o cotidiano das mulheres, denunciando a injustiça, a violência, a desigualdade que elas sofrem. Temos ouvido através das melodias a exposição da maneira deprimente como são tratadas, passando pela maneira como são protegidas ou simplesmente enaltecidas. No cancioneiro popular brasileiro cantamos: “Olé, mulé rendeira, olé mulé rendá”; “Mas felizmente, Deus agora se alembrou, de mandar chuva, pra este sertão sofredor, sertão das mulé séria”. Sim, elas são sérias e trabalhadoras. Na obra Os sertões de Euclides da Cunha, ele diz que: "O nordestino é, antes de tudo, um forte". Já a canção diz: “Paraíba masculina muié macho, sim sinhô”. A mulher nordestina, esta sim, tem sido a representação da verdadeira força. Pois o homem vem fugindo diante da seca devastadora, como denuncia a canção. Já a mulher, esta sim, é forte, pois continua cuidando da terra, dos filhos, de si mesma e das outras mulheres. Ela leva a vida adiante.
Elza Soares retratou (e retrata) a dureza da vida das mulheres, principalmente as nordestinas quando canta: “Lata d'água na cabeça, lá vai Maria, lá vai Maria. Sobe o morro e não se cansa. Pela mão leva a criança, lá vai Maria. Maria lava a roupa lá no alto, lutando pelo pão de cada dia. Sonhando com a vida. Do asfalto que acaba que morro principia”. Além de cantar ela ora assim: “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”. Infelizmente ainda hoje os homens continuam sendo egoístas e ingratos com aquelas que têm sido o seu sustento e suporte. Eles ainda cantam: “Bota a água pra ferver, pego muito cedo, meu trabalho é pra valer. Hoje a minha vida é um osso duro de roer. Vivo só pensando, só pensando em te esquecer. Vivo me jurando que não quero mais te ver. Vivo só sonhando numa vida sem você”. Ora o trabalho doméstico é pra valer, sim sinhô. Pois é, depois de tudo o que as mulheres fazem por estes, eles as desprezam. Como diria minha amiga Helivete: “Estes homens são uns éguas mesmo”.
            A mulher também está representada na canção “Cotidiano” de Chico Buarque. Confira: “Todo dia ela faz tudo sempre igual. Me sorri um sorriso pontual e me beija com a boca de hortelã. Todo dia ela diz que é pr'eu me cuidar e essas coisas que diz toda mulher. Diz que está me esperando pr'o jantar e me beija com a boca de café. Seis da tarde como era de se esperar ela pega e me espera no portão diz que está muito louca prá beijar e me beija com a boca de paixão. Toda noite ela diz pr'eu não me afastar. Meia-noite ela jura eterno amor e me aperta pr’eu quase sufocar e me morde com a boca de pavor”. Se assim ela faz, é porque ama profundamente. Esta mulher é um sonho, ela é a mulher que o homem deveria querer.
Capiba sempre ouvia dizer que:“Numa mulher, não se bate nem com uma flor. Loira ou morena, não importa a cor, não se bate nem com uma flor. Já se acabou o tempo que a mulher só dizia então: - Chô galinha, cala a boca menino. - Ai, ai, não me dê mais não”. Infelizmente elas ainda dizem: “Ai, ai, não me dê mais não”. Se não dizem é porque que estão mortas. Ou porque ainda existem homens que ouvem o que Capiba ouvia.
            Em briga de marido (homem) e mulher (esposa) ninguém mete a colher? Eu digo que devemos sim, nos meter na esperança de que ela não cante mais: “Ai, ai, não me dê mais não”. Ou podemos fazer como um grupo de mulheres, moradoras de um dos morros da cidade do Recife, que quando na vizinhança tem alguma mulher apanhando do marido, elas simplesmente pegam seus apitos e se reúnem em frente à casa em que está ocorrendo a violência e ficam apitando até que ele pare. Desta forma elas denunciam e não se calam. E disse Deus: “Não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém que lhe auxilie e lhe corresponda”. Precisamos resgatar este propósito. Ou então oremos para Deus mande para as que vêm sendo violadas um homem que lhe auxilie e lhe corresponda como Deus quer. Amém?

segunda-feira, 11 de março de 2013

UM CONTO SOBRE LOUCURA E SOLIDARIEDADE


                                     

                                               DOUGLAS MENEZES*

   O universo literário de Guimarães Rosa é marcado pela singularidade e, ao mesmo tempo, por uma postura de um tradicional contador de histórias. Nele, o revolucionário convive com o passadismo, com o provincianismo dos sertões das Minas Gerais. E isto se dá claramente no conto “Soroco, Sua Mãe, Sua Filha”.
    A estrutura narrativa é conservadora, numa história com começo, meio e fim,  além da característica típica de um conto: um único conflito próximo do desfecho. O narrador, heterodiegético, onisciente conduz a história de modo linear, na medida em que há uma sequência cronológica, levada até o final da história.
   Mas, a partir daí, começamos a observar os elementos inovadores e próprios das construções literárias de Guimarães Rosa. A temática se apresenta comum: a loucura como “gancho” no fazer artístico. O assunto, a ida das duas mulheres, mãe e filha de Soroco, ao hospício, não expressa  novidade, nem a presença da personagem sobre a qual gira todo o conto que, diga-se de passagem não consideramos redonda e sim, menos plana que as outras. Na verdade, o elemento humano emoldura o  conteúdo do texto. O que se quer chamar a atenção em termos de algo diferente em Soroco, Sua Mãe, Sua Filha são os aspectos ligados à linguagem: presença forte de neologismos, como “humildoso, “brutalhudo”, entre outros; o regionalismo evidente: “ O povo caçava um jeito”, “Para o pobre, os lugares são mais longe”.
     É interessante notar algumas construções frasais na ordem indireta, o que confere um tom poético: “ Em mentira, parecia entrada em igreja”. O poético está no fato de que a imagem figurada indicando que a cena se assemelhava a um casório é logo colocada como mentira, algo só aparente.
     O núcleo dramático do conto, podemos dizer o clímax do conflito, não está na expectativa da ida das duas mulheres ao sanatório em Barbacena, isto é uma preparação para o verdadeiro ápice conflitante do texto. O surpreso, o criativo em termos de conteúdo está no enlouquecimento de Soroco. A ausência da mãe e da filha, os únicos entes da personagem principal, nos leva a duas interpretações: uma, determinista, naturalista, a predisposição congênita a certas doenças, a loucura, por exemplo; a outra, de cunho humanístico: as ausências, mesmo de quem nos aperreia, doem mais. A solidão pode levar à loucura também. Mãe e filha distantes tornam a vida insuportável.
     Outro fato que nos chamou a  atenção, diz respeito ao final do conto, quando observamos dois elementos interessantes: a solidariedade da população para com Soroco, desde o início, mas sacramentada quando da sua loucura, ao acompanhá-lo na cantiga e em romaria; outra leitura que fazemos do desfecho da história se refere `loucura coletiva,  a predisposição de todos, no sentido de serem iguais aos três, que enlouqueceram.
    Notamos, também, que o ritmo lento da narrativa lembra um velório, um acompanhamento fúnebre, um réquiem, uma música triste em tom menor. Uma visão apocalíptica, melancólica, mostrando que não só os versos se ligam à música: a sonoridade pode estar em qualquer texto literário.
     Por fim, a evidente universalidade do conto. Do particular se discute encontrável em qualquer lugar do planeta, pois a vida pulsa, seja numa aldeia do interior nordestino ou numa megalópolis. Os problemas existenciais do homem não possuem residência fixa.

*Douglas Menezes é da Academia Cabense de Letras.