quarta-feira, 13 de março de 2013

MUIÉ SIM SINHÔ




Pr. Adriel Henrique
As histórias, as experiências e os ensinamentos que as mulheres vêm passando ao longo dos séculos vêm sendo registradas na literatura, na pintura e na música. A literatura bíblica é um capítulo a parte, pois neste tipo de literatura temos relatos emocionantes de mulheres ousadas, determinadas e capacitadas. Porém gostaria de começar refletindo através da música, pois, como canta Benito Di Paula: “Agora chegou a vez, vou cantar. Mulher brasileira em primeiro lugar. Norte a sul do meu Brasil caminha sambando, quem não viu mulher de verdade, sim senhor. Mulher brasileira é feita de amor”. A fórmula do amor nós faz ver porque as mulheres superam e suportam tantas coisas. A mulher cabense está entre as mulheres de verdade, ela é muié sim sinhô.
            Na Música Popular Brasileira temos canções que relatam o cotidiano das mulheres, denunciando a injustiça, a violência, a desigualdade que elas sofrem. Temos ouvido através das melodias a exposição da maneira deprimente como são tratadas, passando pela maneira como são protegidas ou simplesmente enaltecidas. No cancioneiro popular brasileiro cantamos: “Olé, mulé rendeira, olé mulé rendá”; “Mas felizmente, Deus agora se alembrou, de mandar chuva, pra este sertão sofredor, sertão das mulé séria”. Sim, elas são sérias e trabalhadoras. Na obra Os sertões de Euclides da Cunha, ele diz que: "O nordestino é, antes de tudo, um forte". Já a canção diz: “Paraíba masculina muié macho, sim sinhô”. A mulher nordestina, esta sim, tem sido a representação da verdadeira força. Pois o homem vem fugindo diante da seca devastadora, como denuncia a canção. Já a mulher, esta sim, é forte, pois continua cuidando da terra, dos filhos, de si mesma e das outras mulheres. Ela leva a vida adiante.
Elza Soares retratou (e retrata) a dureza da vida das mulheres, principalmente as nordestinas quando canta: “Lata d'água na cabeça, lá vai Maria, lá vai Maria. Sobe o morro e não se cansa. Pela mão leva a criança, lá vai Maria. Maria lava a roupa lá no alto, lutando pelo pão de cada dia. Sonhando com a vida. Do asfalto que acaba que morro principia”. Além de cantar ela ora assim: “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”. Infelizmente ainda hoje os homens continuam sendo egoístas e ingratos com aquelas que têm sido o seu sustento e suporte. Eles ainda cantam: “Bota a água pra ferver, pego muito cedo, meu trabalho é pra valer. Hoje a minha vida é um osso duro de roer. Vivo só pensando, só pensando em te esquecer. Vivo me jurando que não quero mais te ver. Vivo só sonhando numa vida sem você”. Ora o trabalho doméstico é pra valer, sim sinhô. Pois é, depois de tudo o que as mulheres fazem por estes, eles as desprezam. Como diria minha amiga Helivete: “Estes homens são uns éguas mesmo”.
            A mulher também está representada na canção “Cotidiano” de Chico Buarque. Confira: “Todo dia ela faz tudo sempre igual. Me sorri um sorriso pontual e me beija com a boca de hortelã. Todo dia ela diz que é pr'eu me cuidar e essas coisas que diz toda mulher. Diz que está me esperando pr'o jantar e me beija com a boca de café. Seis da tarde como era de se esperar ela pega e me espera no portão diz que está muito louca prá beijar e me beija com a boca de paixão. Toda noite ela diz pr'eu não me afastar. Meia-noite ela jura eterno amor e me aperta pr’eu quase sufocar e me morde com a boca de pavor”. Se assim ela faz, é porque ama profundamente. Esta mulher é um sonho, ela é a mulher que o homem deveria querer.
Capiba sempre ouvia dizer que:“Numa mulher, não se bate nem com uma flor. Loira ou morena, não importa a cor, não se bate nem com uma flor. Já se acabou o tempo que a mulher só dizia então: - Chô galinha, cala a boca menino. - Ai, ai, não me dê mais não”. Infelizmente elas ainda dizem: “Ai, ai, não me dê mais não”. Se não dizem é porque que estão mortas. Ou porque ainda existem homens que ouvem o que Capiba ouvia.
            Em briga de marido (homem) e mulher (esposa) ninguém mete a colher? Eu digo que devemos sim, nos meter na esperança de que ela não cante mais: “Ai, ai, não me dê mais não”. Ou podemos fazer como um grupo de mulheres, moradoras de um dos morros da cidade do Recife, que quando na vizinhança tem alguma mulher apanhando do marido, elas simplesmente pegam seus apitos e se reúnem em frente à casa em que está ocorrendo a violência e ficam apitando até que ele pare. Desta forma elas denunciam e não se calam. E disse Deus: “Não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém que lhe auxilie e lhe corresponda”. Precisamos resgatar este propósito. Ou então oremos para Deus mande para as que vêm sendo violadas um homem que lhe auxilie e lhe corresponda como Deus quer. Amém?

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