terça-feira, 30 de abril de 2013

A NITIDEZ POLÍTICA E A DITADURA

Douglas Menezes*



Não é saudosismo, e talvez até seja. Não nego que uma das coisas que me deixa com saudade no período da ditadura, claro, não o regime em si, era a transparência de lado que existia na política. Mesmo abrigados na oposição consentida do MDB, e da situação, expressa pela Aliança renovadora nacional (ARENA), os grupos de direita, centro e esquerda delimitavam seu território. Sabíamos onde estávamos pisando. Os políticos não escondiam suas posições, apesar dos riscos. Lembro, ainda menino, criei verdadeiros ídolos, que nos faziam vibrar pelas atuações combativas. Estavam lá povoando o sonho de mais liberdade na visão do ainda adolescente, Marcos Freire, Jarbas Vasconcelos, Maurílio ferreira Lima, Fernando Lyra, Cristina Tavares, Egídio Ferreira Lima, entre tantos outros.

A luta contra o regime de exceção era uma verdadeira escola política, Como foi pedagógica para milhares de jovens adquirirem consciência democrática. A juventude brasileira entendia valer a pena correr riscos, e os anos de chumbo não eram brinquedo.

Crescemos nesse ambiente de ebulição, aprendendo que liberdade se conquista na luta e, apesar dos exageros próprios da idade, foi um período de aprendizagem que moldou o caráter, para o bem, de muita gente. As pessoas aprendiam ter lado, a definir objetivos, inclusive no aspecto cultural. Havia uma “guerra” na música. Definíamos nossa preferência também pela posição dos artistas, pela postura contra ou a favor do sistema. A MPB fervia, e grandes nomes confirmaram através dos anos o valor artístico de suas obras. Estão aí, eternos, Vinicius, Chico, Tom, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Vandré, Edu Lobo, e tantos que enriqueceram nossa cultura, a partir da postura política, de buscar a democracia e a liberdade de expressão pela arte.

Tempo diferente de hoje. Se as conquistas democráticas se configuraram e vivemos num estado de direito quase pleno, por outro lado, abdicamos, e isso é muito ruim, de uma nitidez política necessária a qualquer democracia que se preze. Hoje, partidos que deveriam apresentar uma linha mais definida, como o PT e PCDB, na busca das transformações ainda muito necessárias ao país, Se apresentam como partidos que trocaram um projeto Brasil, por uma continuidade de poder: temos ainda, uma péssima distribuição de renda, uma Educação ruim, uma saúde capenga, que não corresponde às reais necessidades do povo e uma segurança que deixa a desejar. Sem falar da tentativa de controlar e cercear a livre expressão da imprensa.

Que aqueles anos não voltem mais. Todavia, dá saudade sim, de ver o povo nas ruas pedindo Diretas Já, mobilizado, “sem ódio e sem medo”, numa consciência política pouco vista hoje. Agora, o noticiário é de escândalos, de desvio de dinheiro público de violência e de outras mazelas que nos fazem menor. Além de uma juventude sem rumo. Essa mesma que um dia assumirá o comando do país.

Que voltemos a ter um confronto nítido de ideias, projetos claros para o país. Que retornemos ao Nacionalismo que tanto acalentou gerações, para que não tenhamos saudade do que passou.

*Douglas Menezes é da Academia Cabense de Letras

Um comentário:

  1. Boa tarde meu Amigo

    Que bom essa liberdade que temos atualmente, não é verdade? E pra completar, com farta ferramentas para nos comunicarmos em tempo real. Imagine se naqueles tempos tivéssemos todas essas ferramentas. Certamente haveria muita gente presa, torturada e em muitos casos assassinadas.
    Eu não tenho saudades de nada daqueles tempos, mesmo porque, fui militar em plena ditadura e, confesso, sinto nojo daquele regime arcaico e desmedido, era como se usássemos um canhão pra matar uma formiga, apenas uma, no meio do formigueiro sem se importar com as demais - inocentes. Combater o comunismo era o nosso dever, mas confundir pessoas honestas que apenas buscavam o direito de expressão, a liberdade plena de direito, como sendo comunistas, foi o grande erro das Forças Armadas.

    Se colocarmos na balança todas as ações, vejo como positiva, pois se não agíssemos naquela ocasião, hoje seríamos uma CUBA 2, ou pior que isso. Mas pra quem conhece a história nunca vai sentir saudades.

    Havia unidade entre os partidos por que havia apenas um inimigo. Hoje não. Hoje são inimigos entre si, e quando demonstram amizade é por interesses, que não sendo atendido logo cai a mascara e se voltam um contra o outro. Não há unidade nas ações que tanto o nosso país precisa, mas uma luta constante pra saber quem vai ficar no poder e por a mão na grana. Esse é o perfil dos nossos políticos, é o que penso de cada um deles, embora nem todos de livre e Espontânea vontade, mas obrigados por seguir o regime imposto pelo partido, que nada mais é senão o mesmo regime ditatorial daquela época.

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