segunda-feira, 18 de outubro de 2010
PROFESSOR EM PERNAMBUCO
Ivan Marinho*
PROFESSOR EM PERNAMBUCO
Acorda cedo e se assusta
Com a conta da luz
Que economizara,
Brigando com os meninos
Que não apagaram
A luz lá da sala.
Toma o café rotineiro
E, resignado, nem vai reclamar
Dessa torrada sem queijo,
Do adeus sem beijo,
Da conta do bar.
O Uno na oficina,
O cartão do vem é a solução
E a espera no ponto
Parece o Muro da Lamentação.
Sobe, atrasado, no aperto
Pensando num jeito
Pra vida mudar.
Mais apertado é o tempo
Que impede o alento
De poder sonhar.
Então, tomado de orgulho,
Com seu patrimônio de sabedoria
Impõe a pouca leitura
Dessa vida dura
De pouca alegria.
No sindicato discute
A forma eficaz\
De mobilização,
Mas crente que enterraram
Cabeça de burro
Nessa profissão.
De um governo fascista
Recebe algum brinde
No dia da classe,
Como se fosse esmola
O patrão enrola
Com riso na face.
Com dois ou três vínculos
Esquece que a vida
É mais do que pão
E o dia inteiro
Com pouco dinheiro,
Tem vida de cão.
Mas se acostuma
Comendo a merenda
Sempre a reclamar,
Mas reclamação
Quando é solitária
Não pode ecoar.
Na sala de aula
A sua didática
Se adéqua ao contexto,
Pois bem prevenido
Tem desenvolvido
Seu sentido sexto,
Que faz reparar
O cano de ferro
Nos quartos do mala,
Então avalia
Adequando a nota
Ao medo da bala.
Sua autonomia
É a mais valia
Do corruptor,
Que pelo que capta
Faz dos seus ouvidos
O de um mercador.
E condicionado a aprovação
Não pode cobrar
E no fim do ano
Letivo se obriga
A ter que passar,
Pro rato do Estado
Com boa estatística
Poder captar.
E contra à lógica
Pede para o tempo
Lhe antecipar,
Mais perto da morte,
Sua única sorte:
Se aposentar.
(poema selecionado para a coletânea do SINTEP)
*Ivan Marinho é membro da Academia Cabense de Letras
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