quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

CRIATIVIDADE DO FOLIÃO



Se cobrir vira Circo,
Se cercar vira cadeia,
Se enterrar vira aterro sanitário!!


(Folião no Galo da Madrugada mostrava maquete com a legenda)

O GRANDE ENCONTRO

Frederico Menezes

Aproxima - se o Encontro histórico. O evento sobre uma Nova Consciencia Cristã, que será realizado na Câmara de Vereadores do Cabo de Santo Agostinho, na sexta - feira e no sábado, após o carnaval, será um momento marcante pelos objetivos e o significado que carrega. Já passou da hora das religiões deixarem de ser razão de conflitos e violencia no mundo. É uma brutal incoerencia que se agrida e se mate em nome dos caminhos do Amor. Muitos se afastaram de Deus porque não aceitaram (com justa razão) que os seguidores dos diversos seguimentos religiosos brigassem pela "posse" de Deus. Muitas transformações vem ocorrendo na humanidade e as religiões, com sua tarefa sagrada, devem buscar as expressões mais belas e límpidas da tolerância e do respeito entre elas.

Quanto possível, tenho ressaltado a necessidade da vivencia dos sublimes postulados religiosos para que o materialismo, o real adversário da verdade, seja enfrentado. A Humanidade está doente e não é por falta de religiões, e sim, por ausência de exemplos vividos. São religiosos de todas as correntes que se apresentam angustiados e deprimidos, sem encontrarem o sentido da vida. Face a força do materialismo, há os que buscam na religião o progresso material, numa relação superficial para com a finalidade da existencia.

Por tudo isso, aonde surgir encontros que possam projetar a possibilidade de se criar canais de diálogos entre seguidores dos diversos credos, deve-se aproveitar a oportunidade. Este Encontro terá a participação do respeitado Frei Aloisio Fragoso, do querido Pastor Erivaldo Alves, da igreja Batista e nossa participação como espírita. Vamos trocar ideias à respeito dos que nos une e como fazer para realizarmos,juntos, algo pela divina mensagem do Evangelho. Como nos tornarmos agentes transformadores da realidade à nossa volta ? Quais os caminhos para potencializar o que nos une?

É mais fácil quebrar uma vara que um feixe. Quem puder, venha somar conosco nesse encontro, criando uma atmosfera de esperança e legítima fraternidade.Após o evento, voltaremos a tratar do assunto comentando como trancorreu.

*Frederico Menezes é um dos palestrantes do Seminário Cristão e membro da ACADEMIA CABENSE DE LETRAS.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

UM CARNAVAL DEMOCRÁTICO E MULTICULTURAL



Antonino Oliveira Júnior*

Estive na cidade de Bezerros, no domingo de carnaval e me deparei com um carnaval democrático, popular e, acima de tudo, verdadeiramente multicultural, na essência e no pleno significado da palavra.

De cara encontramos uma cidade preparada para a folia, com uma decoração simples, porém, expressiva, seguindo à risca a temática dos papangús, com máscaras gigantescas colocadas nos postes e um povo que esbanjava felicidade e alegria, juntando-se o tempero das orquestras de frevo, dos maracatus e dos demais ritmos e passos do carnaval de Pernambuco. Uma beleza imensa.

As ruas, todas tomadas por foliões animados, na sua maioria, jovens, eram transformadas num imenso salão de carnaval. Uma juventude bonita (ah, Capiba!!! – “...a juventude dourada, na rua que é do povo, camisa aberta no peito...”) envolvida no frevo executado por orquestras que tocavam no chão, Bloco e povo misturados, e mal a gente respirava, lá vinha o maracatu estremecendo as ruas com suas alfaias potentes em seu cortejo de muita concentração e gingado. E o povo misturado, no som do Afoxé que vem logo a seguir, executando seus toques místicos e mostrando a sensualidade dos quadris de suas mulatas e morenas. Como ficar parado? Como não se deixar envolver pela magia daquele carnaval?

Ali, em Bezerros, estava o carnaval na sua essência cultural e na democracia de sua brincadeira. Todos viram brincantes em Bezerros. Nenhum sintoma de briga e nem, sequer, de discussão. Todos estavam ali para brincar o carnaval e Reboleixon (escrevo assim de propósito), nem de longe. Por um momento pensei: Será que esses jovens não são jovens? Por que não estão dançando o reboleixon? E a resposta veio logo, sem titubear: É porque ali, no carnaval de Bezerros o carnaval é uma festa de carnaval, e se é em Pernambuco, é pernambucano, sem qualquer preconceito. Não vi um jovem sequer (menino ou menina) reclamar a falta do reboleixon, justamente porque não lhes faltavam os ritmos do carnaval de Pernambuco, o contagiante frevo-de-rua, o lirirsmo do frevo-de-blocos, o charme dos passos do caboclinho, a sensualidade e a seriedade dos ritmos afros. Lembrei de Olinda, no início da década de 70 (do século passado), quando aquela cidade fez escola, tirando o carnaval dos guetos dos Salões dos Clubes, que abrigavam os ricos e classe média para que brincassem um carnaval sem misturas. Olinda democratizou o carnaval, num momento em que o próprio país não podia ser democrático. O carnaval foi para as ruas (Ah, Michilles – “...e a folia explodiu no ar!!!”)

Bezerros foi palco do carnaval da juventude dourada, dos coroas que a idade lhes dava apenas a opção de frevar da cintura para cima, dos casais fantasiados trocando beijos e ternura. Vi criancinhas (dentre elas a minha neta Camila), pulando, frevando, sorrindo, como quem dizia para o restante: o carnaval de Pernambuco está salvo! Era um carnaval de povo feliz, dentro e fora dos Blocos, uma alegria sem tempo (nem novo e nem velho). Era apenas a alegria do carnaval do povo. Um carnaval de todos, para todos.

E, justiça se faça, aquele carnaval participação que vi em Bezerros, não é fruto de contenção de gastos, não acontece daquela maneira porque o Prefeito “cortou” 40 ou 50 por cento dos recursos que se pretendia. Ali é uma concepção acertada do que seja o carnaval, do que ele representa para a cultura do povo. É a maior manifestação cultural do país. Tem que ser respeitada. Tem que ser um projeto sério, para que a iniciativa privada venha a investir, formando parceria com o Poder Público. Aquele carnaval é uma decisão política (por favor, articuladores de plantão, não falo de Partidos Políticos e muito menos das atitudes mesquinhas) em tornar o carnaval da cidade um patrimônio cultural da população e que as brincadeiras sejam respeitadas como um bem público. Olinda e Bezerros são, verdadeiramente, exemplos de carnaval democrático e multicultural.

PS: Sou fã do carnaval de Recife, mas, acho um equívoco promover shows com Zeca Baleiro, Maria Rita, Fernanda Abreu, Arnaldo Antunes, etc., todos reconhecidamente muito bons, mas, que nada têm a ver com o carnaval de Pernambuco. Este, sim, por si só, já é multicultural.

*Antonino Oliveira Júnior é membro da Academia Cabense de Letras

O MESMO PAI, O MESMO FILHO, O MESMO AMOR


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

TÁ CHEGANDO O CARNAVA L - EVOÉ




ESTATUTO DO FOLIÃO
Antonino Oliveira Júnior*


Art. 1 - Fica decretado, que durante todo o carnaval não haverá lugar para a tristeza e que a alegria deverá reinar na cidade.

Art. 2 – Que ao folião será dado o direito de extravasar sua alegria ao som do maracatu, do caboclinho, do afoxé, do samba e, principalmente, do frevo.

Art. 3 - Fica terminantemente proibida qualquer manifestação de violência, garantindo-se ao folião o direito de brincar em segurança.

Art. 4 - Que será respeitado o espaço do folião infantil, assegurando-se, dessa forma, o futuro do carnaval.

Art. 5 - Que Pierrôs e Colombinas poderão, enfim, se amar sem lágrimas e sem barreiras.

Art. 6 - Que durante o carnaval a cidade estará colorida e iluminada, para deleite dos foliões.

Art. 7 - Que o rei e a rainha do Carnaval serão parceiros do povo na alegria e no prazer da folia.

Art. 8 - Que a quarta-feira de cinzas não será o fim, mas o início da pausa entre um carnaval e outro.

Art. 9 - Que as ruas, praças, becos e ladeiras da cidade serão territórios livres e democráticos, para que sejam ocupados, de forma igual, por Troças, Blocos, Caboclinhos, Maracatus, enfim, por foliões de todas as raças e credos, de qualquer naturalidade e nacionalidade.

Art. 10 - Que o povo seja, definitivamente, dono dos passos e danças que executar; que amanheça na folia e que, exausto, possa adormecer, embalado por um Frevo-de-Bloco cantado à distância.


*Antonino Oliveira Júnior é membro da Academia Cabense de Letras

BEM MAIS QUE UM ABRIGO



Douglas Menezes*

Não é novidade alguma o enaltecimento do grande trabalho social realizado pelo Abrigo de São Francisco de Assis, há décadas acolhendo pessoas idosas que,por um desses azares da vida ,estavam fadadas a ter um final de vida melancólico e desassistido. Faz parte da paisagem do Cabo de Santo Agostinho aquela obra que fora um sonho tornado realidade pela Madre Iva Cardoso. De fato, acompanhar a velhice de modo digno como vem sendo feito, muitas vezes com muito sacrifício, contando com a ajuda das irmãs franciscanas e de alguns abnegados, torna aquela casa de acolhimento uma das marcas de bondade e respeito humano que engrandecem nossa cidade não só no âmbito local, mas, e sobretudo, como um símbolo de humanidade e desprendimento para todo o estado de Pernambuco. Suas eternas dificuldades servem para demonstrar quão, no Brasil, a inversão de valores, inclusive morais, nos causa uma espécie de revolta, pois os escândalos, o mau uso do dinheiro público, as falcatruas e os enriquecimentos ilícitos explodem cotidianamente, enquanto instituições sérias vivem à míngua, esperando a esmola dos que têm bons corações.Isto serve para que elevemos nosso nível de consciência para a necessidade de profundas transformações na Sociedade brasileira, coisa que o pretenso governo de esquerda não conseguiu fazer.

É preciso dizer, também, em relação ao Abrigo São Francisco que ele se insere, hoje, como um elemento histórico da nossa paisagem. Uma tradição merecendo ser tombada, legando à posteridade o exemplo maior de servir ao próximo. Numa cidade que teima em esquecer de se lembrar, a cada dia perdendo a identidade, salvo o trabalho hercúleo da Casa da memória realizado por Antonino Júnior, perpetuar a história do Abrigo é, no mínimo, lembrar do sentimento cristão do Cabo de Santo Agostinho, principalmente aquele de doar sem intenção de obter retorno. A luta heróica para construí-lo, os primeiros hóspedes, as várias reformas ali ocorridas, as festas memoráveis que marcaram época em nossa cidade. Sendo seu lado profano aguardado pelos cabenses com intensa ansiedade no mês de outubro. Demonstrando isso a abertura da instituição para toda a cidade, num gesto de acolhimento em relação à comunidade cabense. A capela do Abrigo é, justamente, o elo maior entre o albergue dos “velhinhos” e o povo.

O Abrigo de São Francisco está acima de qualquer concepção religiosa. É uma voz destoante,distante desse mundo que insiste em desconhecer os valores humanos verdadeiros, calcados na bondade gratuita, que representa a vida de seu patrono: São Francisco de Assis.
28 de maio de 2009

*Douglas Menezes é membro da Academia Cabense de Letras

TÁ CHEGANDO O CARNAVAL - EVOÉ



AS SURUBETES - Desfila hoje, a partir das 19 horas, na Vila Social, Cavo de Santo Agostinho, o Bloco AS SURUBETES. Irreverente, AS SURUBETES arrasta multidão ao som de uma excelente Orquestra de Frevo, tornando-se uma tradição da semana pré-carnavalesca.

BLOCO DO MIOLO MOLE - Desfila nesta quinta-feira, dia 11 de fevereiro, pelas ruas do Recife antigo. Organizado pelos doutores da alegria, o MIOLO MOLE promete botar prá frever a multidão de foliões que acompanham a agremiação, que sai às 20 horas, da Rua da Moeda. Vale a pena conferir.

ZÉ PEREIRA DE VAVÁ DA VACA - Uma tradiç~´ao na semana pré-carnavalesca do Cabo de Santo Agostinho. Atualmente é o Bloco mais antigo a desfilar nas ruas da cidade, arrastando uma multidão, com orquestra de frevo no chão. A cidade para para acompanhar e ver o desfile do É PEREIRA DE VAVÁ DA VACA. Sai às 20 horas, da Rua Dr. Inácio de Barros, centro da cidade.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

ANTONIO CAMPOS - estréia no Jornal do Brasil



POR UMA NOVA DIPLOMACIA CULTURAL


O Brasil experimenta o melhor momento de toda sua história quanto à estabilidade econômica e há uma feliz perspectiva de crescimento. O país não só resolveu a dívida externa, acumulada desde que era colônia de Portugal, como passou a ser credor do Fundo Monetário Internacional (FMI). Vem obtendo fechamentos cada vez mais positivos em sua balança comercial. Tem recebido fortes investimentos de companhias estrangeiras, que apostam com vigor no mercado nacional. Descobriu uma extensa camada de óleo sob suas águas (pré-sal) e até recebeu a concessão para sediar sua segunda Copa do Mundo de futebol e a primeira Olimpíada a ser realizada no continente sul-americano, que acontecerá no Rio de Janeiro.

Além disso, atravessou uma das mais violentas crises econômicas globais de todos os tempos e saiu quase ileso. Por isso mesmo, o Fórum Econômico Mundial escolheu o presidente Lula como o primeiro vencedor do recém-criado Prêmio Estadista Global, pela condução da economia brasileira durante a crise financeira mundial. Antes mesmo desse Fórum, economistas de vários países já previam que o Brasil será a quinta maior economia do planeta até 2020. Todos esses fatos são extraordinários. Contudo, as relações internacionais do Brasil precisam ser vistas não apenas sob o prisma dos entendimentos político-econômicos. É necessário se pensar e desenvolver de forma mais eficaz a nossa diplomacia cultural, o nosso diálogo com as culturas dos outros países.

A atividade mercantil e os negócios financeiros promovem o contato entre as pessoas, mas nada melhor que a cultura para fortalecer as raízes do processo de integração entre as sociedades. As desconfianças e rivalidades atenuam-se rapidamente quando há um maior nível de conhecimento das especificidades do outro. Se atentarmos para isso, veremos que a difusão da história cultural dos povos influencia positivamente na maneira de pensar as relações entre os Estados. As representações das diversas culturas constituem-se em objetos históricos legítimos, portanto um maior intercâmbio das práticas e produções culturais precisa ser sempre promovido.

Infelizmente, a cultura ainda é considerada por muitos algo supérfluo, não é valorizada nem como um instrumento de aproximação das sociedades nem como facilitadora do avanço da integração mundial ou regional. No Mercosul, por exemplo, as questões culturais são muito pouco debatidas. Os ricos patrimônios culturais dos países integrantes permanecem ignorados e não são utilizados como instrumentos para a construção de vínculos de confiança e de cooperação entre seus povos. A ausência de uma política cultural dos países que o integram deixa claro quais são as prioridades: as de natureza comercial.

O aspecto cultural nas relações internacionais brasileiras pode e deve ser melhor cultivado. Precisamos promover iniciativas integradas aos países de todos os continentes para estimular um conhecimento mútuo e divulgar os principais aspectos da cultura brasileira, instaurando, assim, uma política cultural que vise à harmonia e ao congraçamento entre os povos, antes mesmo que qualquer comercialização do produto cultural. Uma significativa ação nesse sentido seria a implementação do Instituto Machado de Assis (IMA), instituição que deverá ficar ligada ao Ministério da Cultura (Minc). O instituto foi idealizado para formular e coordenar as políticas de promoção da língua portuguesa no Brasil e no mundo, induzindo e organizando pesquisas sobre o idioma, além de ser referência para o ensino e formação de professores e promover atividades científicas e culturais visando à divulgação da língua portuguesa e da cultura lusófona.

O Português é o idioma usado por 200 milhões de pessoas, constituindo-se no quinto mais falado do mundo. Cabe ao governo brasileiro estruturar o projeto de criação do IMA nos moldes da declaração conjunta entre Brasil e Portugal, por ocasião da VIII Cimeira Luso-Brasileira, realizada na cidade do Porto, em 2005, na qual ambos os países asseveram a importância da promoção da língua portuguesa em nível internacional. Servirão como referência para a contextualização e o início da constituição de uma entidade adequada à realidade brasileira instituições tradicionais e experientes nesse mesmo trabalho, a exemplo do Instituto Camões, Instituto Cervantes, Instituto Dante Alighieri e do British Council. O Instituto Machado de Assis deve contribuir ainda para o efetivo desempenho das práticas sociais da escrita e da leitura para todos os cidadãos brasileiros. É imperioso que em breve seja ‘tirado do papel’, contribuindo para iniciarmos uma nova diplomacia cultural no Brasil.

© Jornal do Brasil, JB Ideias | L7, 6 (sábado) de fevereiro de 2010

LÁGRIMAS SEM COR


(a Neguinho da Beija-Flor, em seu momento de dor)

Vi o negro de perto
no navio negreiro,
sua dor, suas lágrimas;
vi o negro de perto
nos grilhões dos engenhos,
seu tormento, suas lágrimas;
vi o negro de perto
na vida,
carregando nos ombros os pesos
em preto e em branco.

Negros
da bola, do gol, do samba,
do canto presente,
negro Presidente...
vi o negro
que canta beijos,
que beija a gente,
que beija a flor...
vi o negro cantando, encantando,
vi o negro chorando...
vi suas lágrimas, como as minhas,
pura emoção...
lágrimas, só lágrimas...
do coração,
lágrima incolor.

*Antonino Oliveira Júnior é membro da Academia Cabense de Letras.

ENCONTRO NA PRIMAVERA


Jairo Lima

Deu-nos o destino a primavera

Banhando-nos com flores perfumadas

Quando o ninho do pássaro se fizera

E copulam as espécies apaixonadas


Deu-nos a primavera nosso encontro

Em dia festivo dos infantes

Tudo até parece estava pronto

Éramos sem saber já bons amantes


Dar-nos-á esse encontro a certeza

Das quatro estações por toda vida

No verão teu suor, tua beleza


No outono tua alma mais sentida

Do inverno, aquecidos com proezas

Retornamos à primavera tão querida


*Jairo Lima é membro da Academia Cabense de Letras.

I FESTIVAL DA MUSICA REGIONAL DE JABOATÃO DOS GUARARAPES




Será no mês de maio, do dia 19 ao dia 22, o I FESTIVAL DE MÚSICA REGIONAL DE JABOATÃO DOS GUARARAPES, uma realização da Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, através da Secretaria de Cultura e Eventos, com o objetivo oportunizar e fomentar a cultura regional. A Secretaria de Cultura de Jaboatão dos Guararapes vem desenvolvendo um trabalho sério, voltado para o desenvolvimento e a valorização das manifestações culturais que expressam a identidade da população. As inscrições estão abertas e as informações podem ser conseguidas com Cobra Coderlista, um dos coordenadores do evento, na Secretaria de Cultura daquele município, pelo telefone: 3462 4440.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

HAITI


por Eduardo Galeano

A história do assédio contra o Haiti, que nos nossos dias tem dimensões de tragédia, é também uma história do racismo na civilização ocidental


(Os pecados do Haiti. A história do assédio contra o Haiti, que nos nossos dias tem dimensões de tragédia, é também uma história do racismo na civilização ocidental. Em 1803 os negros do Haiti deram uma tremenda sova nas tropas de Napoleão Bonaparte e a Europa jamais perdoou esta humilhação infligida à raça branca. O Haiti foi o primeiro país livre das Américas. Os Estados Unidos invadiram o Haiti em 1915 e governaram o país até 1934. Retiraram-se quando conseguiram os seus dois objetivos: cobrar as dívidas do City Bank e abolir o artigo constitucional que proibia vender plantações aos estrangeiros. O artigo é de Eduardo Galeano. Fonte: Agência Carta Maior)

A democracia haitiana nasceu há um instante. No seu breve tempo de vida, esta criatura faminta e doentia não recebeu senão bofetadas. Era uma recém-nascida, nos dias de festa de 1991, quando foi assassinada pela quartelada do general Raoul Cedras. Três anos mais tarde, ressuscitou. Depois de haver posto e retirado tantos ditadores militares, os Estados Unidos retiraram e puseram o presidente Jean-Bertrand Aristide, que havia sido o primeiro governante eleito por voto popular em toda a história do Haiti e que tivera a louca ideia de querer um país menos injusto.

O voto e o veto

Para apagar as pegadas da participação estadunidense na ditadura sangrenta do general Cedras, os fuzileiros navais levaram 160 mil páginas dos arquivos secretos. Aristide regressou acorrentado. Deram-lhe permissão para recuperar o governo, mas proibiram-lhe o poder. O seu sucessor, René Préval, obteve quase 90 por cento dos votos, mas mais poder do que Préval tem qualquer chefete de quarta categoria do Fundo Monetário ou do Banco Mundial, ainda que o povo haitiano não o tenha eleito com um voto sequer.

Mais do que o voto, pode o veto. Veto às reformas: cada vez que Préval, ou algum dos seus ministros, pede créditos internacionais para dar pão aos famintos, letras aos analfabetos ou terra aos camponeses, não recebe resposta, ou respondem ordenando-lhe:

– Recite a lição. E como o governo haitiano não acaba de aprender que é preciso desmantelar os poucos serviços públicos que restam, últimos pobres amparos para um dos povos mais desamparados do mundo, os professores dão o exame por perdido.
O álibi demográfico
Em fins do ano passado, quatro deputados alemães visitaram o Haiti. Mal chegaram, a miséria do povo feriu-lhes os olhos. Então o embaixador da Alemanha explicou-lhe, em Port-au-Prince, qual é o problema:

– Este é um país superpovoado, disse ele. A mulher haitiana sempre quer e o homem haitiano sempre pode.

E riu. Os deputados calaram-se. Nessa noite, um deles, Winfried Wolf, consultou os números. E comprovou que o Haiti é, com El Salvador, o país mais superpovoado das Américas, mas está tão superpovoado quanto a Alemanha: tem quase a mesma quantidade de habitantes por quilômetro quadrado.

Durante os seus dias no Haiti, o deputado Wolf não só foi golpeado pela miséria como também foi deslumbrado pela capacidade de beleza dos pintores populares. E chegou à conclusão de que o Haiti está superpovoado... de artistas.

Na realidade, o álibi demográfico é mais ou menos recente. Até há alguns anos, as potências ocidentais falavam mais claro.
A tradição racista
Os Estados Unidos invadiram o Haiti em 1915 e governaram o país até 1934. Retiraram-se quando conseguiram os seus dois objetivos: cobrar as dívidas do City Bank e abolir o artigo constitucional que proibia vender plantações aos estrangeiros. Então Robert Lansing, secretário de Estado, justificou a longa e feroz ocupação militar explicando que a raça negra é incapaz de governar-se a si própria, que tem "uma tendência inerente à vida selvagem e uma incapacidade física de civilização". Um dos responsáveis da invasão, William Philips, havia incubado tempos antes a ideia sagaz: "Este é um povo inferior, incapaz de conservar a civilização que haviam deixado os franceses".

O Haiti fora a pérola da coroa, a colônia mais rica da França: uma grande plantação de açúcar, com mão de obra escrava. No Espírito das Leis, Montesquieu havia explicado sem papas na língua: "O açúcar seria demasiado caro se os escravos não trabalhassem na sua produção. Os referidos escravos são negros desde os pés até à cabeça e têm o nariz tão achatado que é quase impossível deles ter pena. Torna-se impensável que Deus, que é um ser muito sábio, tenha posto uma alma, e sobretudo uma alma boa, num corpo inteiramente negro".

Em contrapartida, Deus havia posto um açoite na mão do capataz. Os escravos não se distinguiam pela sua vontade de trabalhar. Os negros eram escravos por natureza e vagos também por natureza, e a natureza, cúmplice da ordem social, era obra de Deus: o escravo devia servir o amo e o amo devia castigar o escravo, que não mostrava o menor entusiasmo na hora de cumprir com o desígnio divino. Karl von Linneo, contemporâneo de Montesquieu, havia retratado o negro com precisão científica: "Vagabundo, preguiçoso, negligente, indolente e de costumes dissolutos". Mais generosamente, outro contemporâneo, David Hume, havia comprovado que o negro "pode desenvolver certas habilidades humanas, tal como o papagaio que fala algumas palavras".

A humilhação imperdoável

Em 1803 os negros do Haiti deram uma tremenda sova nas tropas de Napoleão Bonaparte e a Europa jamais perdoou esta humilhação infligida à raça branca. O Haiti foi o primeiro país livre das Américas. Os Estados Unidos tinham conquistado antes a sua independência, mas meio milhão de escravos trabalhavam nas plantações de algodão e de tabaco. Jefferson, que era dono de escravos, dizia que todos os homens são iguais, mas também dizia que os negros foram, são e serão inferiores.

A bandeira dos homens livres levantou-se sobre as ruínas. A terra haitiana fora devastada pela monocultura do açúcar e arrasada pelas calamidades da guerra contra a França, e um terço da população havia caído no combate. Então começou o bloqueio. A nação recém nascida foi condenada à solidão. Ninguém comprava do Haiti, ninguém vendia, ninguém reconhecia a nova nação.

O delito da dignidade

Nem sequer Simón Bolívar, que tão valente soube ser, teve a coragem de firmar o reconhecimento diplomático do país negro. Bolívar conseguiu reiniciar a sua luta pela independência americana, quando a Espanha já o havia derrotado, graças ao apoio do Haiti. O governo haitiano havia-lhe entregue sete naves e muitas armas e soldados, com a única condição de que Bolívar libertasse os escravos, uma idéia que não havia ocorrido ao Libertador. Bolívar cumpriu com este compromisso, mas depois da sua vitória, quando já governava a Grande Colômbia, deu as costas ao país que o havia salvo. E quando convocou as nações americanas à reunião do Panamá, não convidou o Haiti mas convidou a Inglaterra.

Os Estados Unidos reconheceram o Haiti apenas sessenta anos depois do fim da guerra de independência, enquanto Etienne Serres, um gênio francês da anatomia, descobria em Paris que os negros são primitivos porque têm pouca distância entre o umbigo e o pênis. A essa altura, o Haiti já estava em mãos de ditaduras militares carniceiras, que destinavam os famélicos recursos do país ao pagamento da dívida francesa. A Europa havia imposto ao Haiti a obrigação de pagar à França uma indenização gigantesca, a modo de perda por haver cometido o delito da dignidade.

A história do assédio contra o Haiti, que nos nossos dias tem dimensões de tragédia, é também uma história do racismo na civilização ocidental.

Fonte: www.trilhasliterarias.com

domingo, 7 de fevereiro de 2010

O mesmo Pai, o mesmo Filho, o mesmo Amor.



Acontece nos dias 19 e 20 de fevereiro, o Seminário "por uma nova Consciência Cristã", na Câmara de Vereadores do Cabo. O tema do Seminário é "O QUE PODEMOS FAZER JUNTOS?" e terá como palestrantes: Frederico Menezes (Espírita), Pastor Erivaldo Alves (Evangélico) e Frei Aloísio Fragoso (Católico). A iniciativa de realizar o Seminário foi do Centro de Estudos e Divulgação do Evangelho, um organismo nascido na Igreja Batista da Cohab, contando com a adesão da Sociedade Espírita Casa do Caminho, entidade que passou a coordenar o evento, em conjunto com o CEDE.

As informações mais detalhadas podem ser através de contato com os três coordenadores do Seminário: Antonino Oliveira Júnior (8718 6542) Jairo Lima (8793 9785) e Wilson Firmo (8871 9644). Na próxima terça-feira, dia 9 de fevereiro, a partir das 11 horas, os coordenadores estarão no Programa PASSANDO A LIMPO, da Rádio Calhetas, para maiores esclarecimentos sobre o evento.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

SERPENTE

Nelino Azevedo

A palavra salga a língua
e destempera e esgrima e mata
a alma de quem não sabe
A face a cor e o teor
o verdadeiro sabor
que tem o gosto da fala.

A palavra ávida
Ara
Cultiva
A cova
Em terra
Planta
A semente
Serpente traiçoeira
Que envenena o tino
E aniquila a mente
De quem não sabe ao certo
A força que tem o verbo.

*Nelino Azevedo é membro da Academia Cabense de Letras.

OS MISERÁVEIS



Ivan Marinho

Só se teme aos inimigos,
prezados cristãos,
e o medo é a doença dos covardes:
os que olham os que vêem
sem coragem de encontrá-los nas alturas,
querendo-os na lama,
porcos tal a si próprios.
Os que estão com os pobres
contra a pbreza
e com os ricos
contra os pobres.
Os que têm a língua afiada
e a retórica, não como elemento estático,
mas dissimulador da superficialidade.
Os que se refletem em olhos, espelhos,
porque não podem mergulhar em olhares.
Malditos!
Condeno-vos a vós mesmos:
túmulos vazios!

*Ivan Marinho é membro da Academia Cabense de Letras

EU PIVETE



Jeová Morais

Pelas ruas sem destino,
ao relento estou atento,
a deliquência me chama,
sou pivete menino.
Trombo aqui e levo algo,
sou trombado e sou levado,
não conheço o amor.
Fui gerado por acaso,
não tenho nome e nem registro,
sou largado e mal-educado,
sou pivete, magistrado,
sou pivete, magistrado.
Não sei ler, nem escrever,
só o mal conheço ao meu lado,
roubo, mato e sou surrado,
sou pivete abandonado.
Se mostrar-me o caminho,
talvez ainda haja tempo,
para ser famoso e respeitado
tirando-me do ninho das antas,
ainda tenho esperança,
de não ser pivete abandonado.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

RONALDO CUNHA LIMA





NÃO MALDIGO OS VERSOS QUE LHE FIZ

Ronaldo Cunha Lima

Não maldigo os versos que lhe fiz,
embora não devesse tê-los feito.
São versos que nasceram do meu peito,
mas frutos de um amor muito infeliz.

São versos que guardam o que não quis
guardar daquele nosso amor desfeito.
Relendo-os sofro, e sofrendo aceito
o que o destino quis como juiz.

Não os maldigo, não. Não os maldigo.
Vou guardá-los em mim como castigo,
para no amor eu escolher direito.

Só porque nesse amor não fui feliz,
não maldigo os versos que lhe fiz,
embora não devesse tê-los feito.

GERAÇÃO 65 - UMA JUSTA HOMENAGEM



Na próxima semana, estaremos homenageando a Geração 65, movimento literário que abriu espaços aos novos e inquietos poetas e escritores que decidiram pensar, escrever e falar de forma não convencional. Alberto da Cunha Melo, Marcus Acioly, Jaci Ribeiro, Juhareiz Correya, dentre outros, receberão esta singela homenagem do nosso blog.

INSTITUTO CULTURAL V ICENTE PINZÓN



Aconteceu nesta quinta-feira, dia 4 de fevereiro, a reabertura do escritório do Insttituto Vicente Pinzón, no Mercadão, Cabo de Santo Agostinho. A proposta da diretoria é manter o Instituto vivo e promovendo ações culturais, em parceria com diversas entidades culturais do município.

COCO DO MESTRE GOITÁ




O mestre Goitá anunciando agenda para o mês de fevereiro, levando o autêntico Coco-de-roda aos quatro cantos da região. Nascido, criado e ainda em Pontezinha, o Grupo é um dos que são fiéis aos passos originais do coco-de-roda. Eis a agenda, passada pelo próprio mestre Goitá:

No dia 11 tem coco na casa da Cultura 15hs
No dia 15 quinze tem coco em Porto de Galinhas
No dia 16 tem coco em Pontezinha

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

CARLOS DRUMOND DE ANDRADE



"A cada dia que vivo, mais me convenço
de que o desperdício da vida está no amor que não damos,
nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade".

Concordo com você,e é por isto que eu me arrisco tanto..
TE AMO...TE AMO...TE AMO...TE AMO...TE AMO...!!!!!!!!!!

CECÍLIA MEIRELES



SERENATA

"Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.
Permita que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,e a dor é de origem divina.
Permita que eu volte o meu rosto para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho como as estrelas no seu rumo"

FERNANDO PESSOA


Entre o sono e sonho

Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.

Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.

E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre
Esse rio sem fim.

VINICIUS DE MORAIS



Vinicius de Morais
SONETO DO AMIGO

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

MIRÓ - O POETA DA MURIBECA




MARGINAL RECIFE

Recife
Cidade das pontes
E das fontes da miséria
Poetas mendigando passes
Pra voltar pra casa
E sua poesia passando despercebida
Aliás,
Nem passa.

TÁ CHEGANDO O CARNAVAL - EVOÉ




Dia 11 de fevereiro acontece na cidade do Cabo de Santo Agostinho, o desfile do tradicional Zé Pereira de Vavá da Vaca, o mais antigo Bloco em atividade na cidade. A saída acontece às 20 horas, da Rua Dr. Inácio de Barros, centro da cidade, arrastando multidão de foliões, com Orquestra de Frevo no chão, o que expressa a autenticidade da agremiação carnavalesca cabense. Já falecido, o conhecido folião Vavá da Vaca, deixou nos seus filhos a mesma alegria e o compromisso com a manifestação cultural do carnaval de blocos.

OFICINA DE XAXADO


Acontece nesta quarta-feira, dia 3, às 18 horas,no Teatro Barreto Júnior do Cabo de Santo Agostinho, mais um oficina de Xaxado promovida pelo Ponto de Cultura Bacamarteiros: Tiro de Paz. É uma iniciativa da Sociedade dos Bacamarteiros do Cabo, em convênio com os Governos Estadual e Federal, sob a coordenação do poeta, artista plástico e membro da Academia Cabense de Letras, Ivan Marinho.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A ATUALIDADE PERPÉTUA DE PAULO




Desde que Ernest Renan fez publicar sua monumental e magnificamente escrita série de textos sobre as origens do cristianismo, em que lançou luz sobre sua figura, o fariseu Saul (com nome de rei tribal judeu) de Tarso saiu das sombras de uma posição subalterna no Novo Testamento para campos mais iluminados da reflexão filosófica. Embora tenha mantido incólume sua fama de prosador de indiscutíveis graça e qualidade, o francês é hoje submetido ao crivo das dúvidas em seus atributos de arqueólogo e historiador. De sua biografia de São Paulo, rebatizado após a espetaculosa conversão, ao cair do cavalo na estrada de Damasco, de perseguidor de cristãos a cristão perseguido, vêm a lume sinais de que este foi mais que o apóstolo dos gentios da tradição de uma das profissões religiosas predominantes no mundo pós-Império Romano. Mais que mártir ou autor das epístolas às comunidades cristãs primitivas mantidas no rito da missa 20 séculos depois, ele foi redescoberto como uma espécie de criador do Cristo, a mente poderosa que transformou o profeta simplório e taumaturgo popular na referência de uma civilização que dominaria os territórios conquistados pelas legiões romanas e as mentes e os corações que nelas têm habitado. O Paulo de Renan criou algo que viria a se chamar de Ocidente e foi o instaurador da Europa, continente que dizimou indígenas na América e tribos primitivas na África, deixando suas pegadas também pela Ásia anciã.

EPÍSTOLAS PAULINAS TRAZEM MAIS DO QUE A EVIDÊNCIA DO AMOR COMO NORMA DE VIDA

O filho do comerciante de tendas, que, segundo se desconfia, pode ter corrompido algum burocrata do Império para adquirir a condição de cidadão romano, judeu de origem e grego por vocação globalizante (ou seja, gregária), está descendo dos altares para conquistar a glória das cátedras. Nesta era globalizante, ele deixa a hagiografia para ocupar o panteão da filosofia, entrando pelo portal da ideologia. É possível argumentar que a simpatia dos comunistas pelas raízes da cristandade remonta às origens do marxismo: o parceiro financiador do velho barbudo, Friedrich Engels, tratou do tema comparando os cristãos primitivos com os pioneiros das comunas no século 19. Engels, contudo, não é filósofo que se leve a sério fora das hostes socialistas, ao contrário do francês Alain Badiou, autor do recém-lançado São Paulo: A Fundação do Universalismo (tradução de Wanda Caldeira Brant). Num texto erudito, claro e breve, este papa do pensamento da esquerda democrática contemporânea europeia resgata o papel fundamental que o apóstolo peripatético e distribuidor de cânones para os prosélitos da nova religião na Ásia Menor e no centro do Império teve na fixação de nossa vocação para cidadãos do mundo.

Com a honestidade intelectual dos devotos da lógica e da transparência, capazes de ler além dos próprios limites e raciocinar acima dos preceitos, o autor encontra nas epístolas paulinas mais que as evidências da instauração do amor como norma de convívio e sobrevivência da condição humana. O célebre trecho da carta aos coríntios, em que o missivista indica ao homem antigo a porta de saída de sua renitente crosta de egoísmo bárbaro, usando o convívio harmonioso com o outro como senha de acesso à civilização, compõe um conjunto de ideias fundadoras. Coerentes entre si, tornam a palavra paulina essencial, conforme Badiou, para a compreensão dos enigmas que ora tentamos decifrar.

Mais até que o universalismo do discurso do apóstolo, citado no título do ensaio, fascina o filósofo francês a atualidade do pregador globe-trotter de 2 mil anos atrás. Ele encontra essa contemporaneidade “perpétua” no estilo e até no universo vocabular empregados nas epístolas, que, segundo o consenso arqueológico, precedem historicamente os Evangelhos e os outros textos do Novo Testamento. Por mais escassas que sejam as linhas das cartas chegadas até nós hoje em dia, nelas predomina, conforme Badiou, “sob o imperativo do acontecimento, algo vigoroso e atemporal, algo que, precisamente porque se trata de destinar um pensamento ao universal em sua singularidade nascente (o grifo é do autor), mas independentemente de qualquer particularidade, nos é inteligível sem termos de recorrer a pesadas mediações históricas (o que está longe de ser o caso de diversas passagens dos Evangelhos, para não falar do opaco Apocalipse).”

Pier Paolo (que não se perca pelo nome) Pasolini, grande cineasta (diretor do vigoroso O Evangelho Segundo Mateus), definido por Badiou como “um dos maiores poetas de nosso tempo”, é citado na obra como testemunha dessa contemporaneidade que nunca se perde. O autor ilustra sua afirmação com o projeto cinematográfico em que PPP pretendia situar o apóstolo hoje sem mudar uma só palavra que remanesce do que ele escreveu há 20 séculos. Poderoso exemplo, não?

Só que há no livro de Badiou algo que vai além do roteiro citado, no qual Pasolini pretendia fazer do xará dele um ancestral dos comunistas atuais. A atualidade que o pensador moderno vê nas cartas do apóstolo de antanho não se apoia em ideias, mas em eventos, na clareza com que o missivista antigo descrevia os fatos de seu tempo com a clarividência de quem é capaz de enxergar além dele. O Paulo de Badiou não é precursor, mas profeta: não prevê, mas relata o que vai mudar para que tudo fique tal qual sempre foi.

José Nêumanne

Fonte: Trilhas Literárias

RÉQUIEM PARA UM POETA QUE SE FOI


Antonino Oliveira Júnior

E o poeta disse não,
disse adeus à inspiração...
preferiu o exílio de si mesmo
ou o partir como quem morre...

Tanto amor cultivado
tanta or transformada
tanto amor
que teu olhar pétreo ignorava;

E o poeta partiu como quem morre...

Sabendo-se caidiço
recusa-se a voltar o olhar
e apenas leva na mente
a relva onde deitou seus versos...

E o poeta partiu como quem morre,
no recato de seus pensamentos.