sexta-feira, 19 de março de 2010

JACI BEZERRA




LINHA D'ÁGUA
Jaci Bezerra

Em Alagoas me achei, achando o mar,
desde então o conservo em mim, aberto,

porém nunca aprendi a soletrar
a insone cadência dos seus metros.

Talvez porque o mar, nervoso e inquieto,
no pacífico silêncio onde Deus viça,

não escreve nem repete o mesmo verso
no seu caderno de águas movediças.

Achando o mar me fiz cúmplice da beleza,
mas ao me consumir em suas chamas

soube que a alma é uma onda de incerteza
presa na cela da nossa areia humana.

Aprendi com o mar a ser constante
e a aceitar, sem pudor, as coisas frágeis:

a fazer da inconstância dos instantes
lembranças o mais possível perduráveis.

Entregue ao mar, pago ao mar o meu tributo,
e ao escutá-Io na minha humana cela,

sinto que o mar, fremindo longe e oculto,
me conta coisas que a ninguém revela.


NO SONHO A MÃO DE ALGUÉM ME APÓIA E GUIA
Jaci Bezerra

O pai tinha um cavalo luminoso
e cuidava das rosas do jardim,
porém seu coração não tinha pouso
e, por isso, ele foi um homem assim,
calado e só, talvez misterioso,
mesmo ao bordar estórias para mim.
Dele herdei o silêncio em que me movo
e os meus pastos de antúrio e de capim.
Ao recordá-lo, inteiro me enterneço.
O pai é a minha infância aurorescendo
nesses currais de luz onde adormeço.
Mito que me acompanha tempo afora,
O pai é uma canção esmaecendo
no atormentado sótão da memória.


ÁRIA PARA SOPRO E VIOLONCELO
Jaci Bezerra
a Antonio Salles Filho, O.S.B.

Hóspedes apenas
de Deus na terra
eis o que somos.

Frágeis cerâmicas,
sombras inúteis
do que sonhamos.

O tempo nunca
se move e passa
como supomos.

Parte do tempo
enquanto vivos
só nós passamos.

Sem bem saber
nessa passagem
porque nos vamos.

Toda existência
é um ato único
de despedida.


A CASA NO INERIOR DA CASA

Jaci Bezerra

Uma casa feita de invenções e espantos:
O violão fora do estojo, pousado na luz,
As cordas fremindo de amarelos e azuis.
E na janela, debruçado, um flamboyant sangrando
À espera do verão que o transforme em nuvem ou pássaro.
Uma casa doendo, toda feita de verbo e música,
impregnando a carne e a alma de nostalgia e tempo:
mais extensa que a vida, bem menor que a lembrança,
triste e pesada como a solidão nos olhos dos mortos.
Uma casa de invenções e espantos, linguagem e som
e entre suas paredes, amanhecendo e cantando,
outra casa que o homem, embora tente, não consegue alcançar.

quinta-feira, 18 de março de 2010

PÁSCOA CRISTÃ ECUMÊNICA




Acontece no dia 26 de março (sexta-feira), às 17 horas, a celebração da Páscoa Cristã Ecumênica, com a participação de Católicos, espíritas e Evangélicos. O Ato será co-celebrado por: Padre Josivaldo Bezerra, Frederico Menezes e Pastor Erivaldo Alves. Outros Padres, Pastores e lideranças espíritas já confrmaram presença no evento. A coordenação do Ato é do Centro de Estudos e Divulgação do Evangelho (CEDE).

MOSTRA BRASILEIRA DE DANÇA



São Paulo Cia. de Dança foto: Reginaldo Azevedo

MOSTRA BRASILEIRA DE DANÇA ABRE INSCRIÇÕES EM TODO O PAÍS


Já estão abertas as inscrições para a VIII Mostra Brasileira de Dança, que será realizada pelos produtores Íris Macedo e Paulo de Castro, no Recife, no período de 01 a 09 de julho de 2010, composta de espetáculos, oficinas, palestras, intervenções urbanas e lançamento de livros, traçando um painel das danças artísticas praticadas hoje no Brasil. Uma das atrações confirmadas é a elogiada São Paulo Cia. de Dança (foto em anexo) na abertura do evento. Companhias, grupos, escolas, academias de dança, produções independentes e grupos de pesquisa com espetáculos completos e/ou coreografias isoladas nos mais diversos estilos, além de projetos para oficinas e intervenções urbanas, podem se inscrever na sede da Mostra Brasileira de Dança (Rua Tupinambás, 737, Santo Amaro, Recife/PE, CEP: 50.100-250), com funcionamento de segunda a sexta, das 9h às 17h. Grupos e artistas amadores devem encaminhar suas propostas até o dia 13 de abril. Grupos e artistas profissionais podem se inscrever até o dia 05 de maio. Regulamento e necessidades dos projetos devem ser solicitados através do e-mail: info@mostrabrasileiradedanca.com
Maiores informações: (81) 3421 8456.

quarta-feira, 17 de março de 2010

VOLTAIRE




Voltaire difundiu o conhecimento e filosofia. Suas obras foram muito lidas. Ele comenta outros autores e dá sua opinião. Torna claro os complexos sistemas filosóficos, pois é inteligente e escreve bem. O ceticismo de Voltaire é uma atitude espiritual, contra a metafísica. Voltaire fala que o Ser Supremo, cuja crença veio depois do politeísmo, é válido. Disso resulta num paradoxo, pois Deus existe e não podemos conhecer os mistérios do universo. Voltaire aceita os argumentos para a existência de Deus de São Tomás de Aquino. É a causa primeira de tudo, Inteligência suprema.

Contrariarmente ao Deus judaico-cristão, O Deus de Voltaire fez o mundo em tempos remotos e depois abandonou-o ao próprio destino. Por isso Voltaire é deísta.
Para os Iluministas, Deus não existe e é o mal da humanidade. A ignorância e o medo criaram os Deuses, e a fraqueza os preserva. É um empecilho para a civilização. O materialismo é preferencial à teologia. Essas idéias foram defendidas na Enciclopédia, cujo principal autor é Diderot. Os enciclopedistas chamavam Voltaire de fanático, por esse acreditar em Deus. Lembre-se que Voltaire participou da Enciclopédia. Voltaire via Deus na harmonia inteligente entre as coisas. Mas negava o livre arbítrio e a providência. Respondeu ao Barão d’Holbach, notório ateu, que o título de seu livro O sistema da natureza, demonstra a inteligência superior.

Voltaire foi um defensor da justiça. Defendeu muitos que estvam em desgraça e lutou contra a tirania. Não se entusiasmava com as formas de governo. Achava os legisladores reducionistas. Como viajou muito, não era patriótico. Não confiava no povo e não gostava da ignorância, que estava muito difundida. Levantava dúvidas, muitas de suas obras são repletas de perguntas. Numa carta a Rousseau, no qual comenta o Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade, disse que o livro de Rousseau fazia surtir o desejo de voltar a ser animal, e andar de quatro patas, mas ele já havia abandonado esse hábito há sessenta anos.
Aos oitenta e três anos, viajou para Paris, para rever a cidade-luz, depois de tanto tempo. Teve calorosa recepção. Assistiu uma peça sua encenada. Foi até a Academia de Letras de Paris, recebendo uma homenagem. Morreu não muito depois e toda a população parisiense saiu na rua, para participar do cortejo fúnebre.

PENSAMENTOS DE VOLTAIRE



“Deus me defende dos amigos, que dos inimigos me defendo eu”

“Encontra-se oportunidade para fazer o mal cem vezes por dia e para fazer o bem uma vez por ano”

“Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”

“Aquele que vence e se vinga não é digno da vitória”.

FRANZ KAFKA



Franz Kafka (1883-1924), escritor tcheco de língua alemã. É considerado um dos principais escritores de literatura moderna. Sua obra retrata as ansiedades e a alienação do homem do século XX.

Kafka nasceu em Praga (03/07/1883), cidade que pertencia ao império austro-húngaro, filho de um comerciante judeu muito abastado, cresceu sob as influências de três culturas: a judia, a tcheca e a alemã.

Na adolescência, declara-se socialista e ateu. Participa de reuniões com grupos anarquistas e, no fim da vida, engaja-se no movimento sionista. Cursa Direito em Praga, formando-se em 1906. Passa a trabalhar em companhias de seguros e, em paralelo, dedica-se à Literatura. Em 1917, é obrigado a afastar-se do trabalho devido à tuberculose. A maior parte das suas obras foram publicadas postumamente.

Fez parte, junto com outros escritores da época, da chamada Escola de Praga. Esse movimento era basicamente uma maneira de criação artística alicerçada em uma grande atração pelo realismo, uma inclinação à metafísica e uma síntese entre uma racional lucidez e um forte traço irônico. Além do realismo, seu estilo é marcado pela crueza e pelo detalhamento com que descreve situações incomuns – como em O Processo , de 1925, cujo personagem principal é preso, julgado e executado por um crime que desconhece. Em seus livros, é constante o confronto entre os personagens e o poder das instituições, demonstrando a impotência e a fragilidade do ser humano. Escreve ainda A Metamorfose (1916) e O Castelo (1926).

FRASES DE FRANZ KAFKA



"Quem possui a faculdade de ver a beleza, não envelhece".

"Entre muitas outras coisas, tu eras para mim uma janela através da qual podia ver as ruas. Sozinho não o podia fazer".

"Só podia encontrar a felicidade se conseguisse subverter o mundo para o fazer entrar no verdadeiro, no puro, no imutável."

"De um certo ponto adiante não há mais retorno.Esse é o ponto que deve ser alcançado".

"se fosse possível dividir a vida em partes mínimas e cada partícula pudesse ser julgada em separado, certamente qualquer pedacinho da minha vida seria um aborrecimento para ela"

terça-feira, 16 de março de 2010

INSTITUTO MAXIMIANO CAMPOS


De 25 a 31 de março de 2010, o Instituto Maximiano Campos realiza exposição SEM LEI NEM REI e lançamento da REVISTA DE CULTURA E HISTÓRIA. O evento acontece no Colégio Damas, em Vitória de Santo Antão.

sexta-feira, 12 de março de 2010

GERAÇÃO 65



Sexta-feira é dia de homenagem à GERAÇÃO 65, um Movimento Literário que marcou o universo cultural de Pernambuco. Toda semana estaremos publicando obras dos poetas e escritores dessa geração. Hoje é o dia de SEVERINO FILGUEIRA. Aproveitem e curtam a poesia de qualidade desse pernambucano.

SEVERINO FILGUEIRA



Severino Filgueira (na foto escrevendo)OS

PREGÕES
Severino Filgueira

De pequenas coisas o céu se compõe
Com o que é nosso seja breve
Ou longamente rolando o carro
A traça rói a camisa nomeada
E retorna das pedras das salinas
À eternidade dos vôos
Ao redor dos impérios
Na banca dos jogos suburbanos
Pela margem que carrega o vidro
Com a fumaça retirada
Da casa da praia
Visionária ao alcance da dispensa de multa
Sobre todo racionalismo cristão
Na rua cheia d'água
Porque o resto é combogó
O homem se encosta em tronco
Da árvore na praça com as deusas
Segurando espada sem tocar no chão
Fora de horário de serviço
Na tarde escura vindo dos políticos
E novos empregos que se arranja com eles
Além dos que tinha
A ouvir o que toca zabumba.

HUMANITAS
Severino Filgueira


Conversa fiada
Rege ótica consensual
De algum maduro trigo
Por estações úmidas
Com caudaloso eco
Atravessando rosa do mar em cristais
E cacto poupa o azul
Invisível da semente
Em forte construído
Contra indícios.
A primeira vez
O nome senhor
Designa
Tudo isso é tão velho
Que vai por outra estrada
Semelhante.

CONFLUÊNCIA
Severino Filgueira

Rótula e aspa
De esqueleto
Alguma contemporaneidade
Vai para língua
Em qualquer época
Variável ao ser
Ponderando charrua
Enterrada na areia.

quinta-feira, 11 de março de 2010

AUTO DA COMPADECIDA



Domingo dia 14/03, a DRAMART produções comemora o 18º aniversário de montagem do clássico O AUTO DA COMPADECIDA, de Ariano Suassuna, em sessão única, às 19:30 horas, no Teatro do Parque. A montagem teve a direção de Marco Camarotti (in memorian). A entrada custa apenas R$ 10,00, na bilheteria. Todos ao Teatro, é ao vivo.

quarta-feira, 10 de março de 2010

MULHER 2010


Natanael Júnior*

Meus versos, pobres versos...
Uma canção singela a ti
Lume de estrelas, sol radiante de esplendor
Harmonia, encanto, encarnação do amor
Esperança, coragem, vida gerando vida
Rosa de puríssima beleza, mãe, companheira, mulher.

Por trás das grandes conquistas realizadas no mundo, existe a marca da mulher.

*Natanael Júnior é membro da Academia Cabense de Letras

ACADEMIA HOMENAGEIA JOAQUIM NABUCO



A Academia Cabense de Letras realiza um evento importante, dia 9 de abril de 2010, em homenagem ao centenário de morte do abolicionista Joaquim Nabuco. A homenagem acontece na Câmara de Vereadores do cabo de Santo Agostinho, a partir das 19 horas, com uma programação que inclui Palestra proferida pelo escritor e membro da ACL, Mário Hélio, além de uma exposição de parte do acervo do Projeto da Casa da Memória do Cabo, como: um Livro de registros dos escravos dos engenhos do Cabo e diversas fotos de senzalas dos engenhos do município.

terça-feira, 9 de março de 2010

UMA VIAGEM MUSICAL PELO UNIVERSO DA MULHER


O novo CD da cantora mineira/pernambucana Irah Caldeira é uma verdadeira viagem pelo universo musical da mulher. O trabalho de Irah, que tem por título "Marias...das Dores...da Luz" , é assinado, em todas as suas faixas, por mulheres compositoras.
Bem produzido, o CD mostra uma diversidade que bem expressa a participação da mulher na música brasileira. Um CD só de mulheres já é, por si só, uma inovação, uma excelente novidade, com letras bem construídas e uma linha melódica variada e de muito bom gosto. Por fim, a interpretação segura e afinada de Irah Caldeira, que dispensa maiores comentários. Vale conferir.

segunda-feira, 8 de março de 2010

8 DE MARÇO - DIA INTERNACIONAL DA MULHER


O BLOG HOMENAGEIA AS MULHERES

O mundo moderno é impulsionado pela força inquestionável das mulheres.

VERSOS DE ORGULHO
Florbela Espanca


O mundo quer-me mal porque ninguém
Tem asas como eu tenho! Porque Deus
Me fez nascer Princesa entre plebeus
Numa torre de orgulho e de desdém.
Porque o meu Reino fica para além …
Porque trago no olhar os vastos céus
E os oiros e clarões são todos meus !
Porque eu sou Eu e porque Eu sou Alguém !
O mundo ? O que é o mundo, ó meu Amor ?
__O jardim dos meus versos todo em flor…
A seara dos teus beijos, pão bendito…
Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços…
__São os teus braços dentro dos meus braços,
Via Láctea fechando o Infinito.


O SONHO
Clarice Lispector


Sonhe com aquilo que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passaram por suas vidas.


"O AMOR...
Cecília Meireles


É difícil para os indecisos.
É assustador para os medrosos.
Avassalador para os apaixonados!
Mas, os vencedores no amor são os
fortes.
Os que sabem o que querem e querem o que têm!
Sonhar um sonho a dois,
e nunca desistir da busca de ser feliz,
é para poucos!!"

POR CAUSA DE VOCÊ
Dolores Duran


Ah, você está vendo só
Do jeito que eu fiquei e que tudo ficou
Uma tristeza tão grande
Nas coisas mais simples que você tocou
A nossa casa, querido
Já estava acostumada aguardando você
As flores na janela
Sorriam, cantavam por causa de você
Olhe, meu bem
Nunca mais nos deixe, por favor
Somos a vida, o sonho
Nós somos o amor
Entre, meu bem, por favor
Não deixe o mundo mau
Lhe levar outra vez
Me abrace simplesmente
Não fale, não lembre
Não chore, meu bem


sexta-feira, 5 de março de 2010

BRASIL PERDE O TALENTO DE JOHNNY ALF


A música popular brasileira perdeu um de seus maiores talentos, com a morte do cantor, compositor e músico, Johnny Alf. Com seu estilo clássico, Alf fêz da sonoridade brande de sua voz o melhor veículo para levar suas mensagens ao público. Não gritava, não arfava, não fazia estardalhaço, apenas cantava, de forma horizontar, com imensa capacidade de atingir os amantes da música de qualidade. Faleceu ontem em São Paulo e deixa órfãos milhares de brasileiros acostumado à maciez de sua voz.

quinta-feira, 4 de março de 2010

CANTORIA NO BARRETO JÚNIOR


Nesta sexta-feira, a partir das 20 horas, tem Cantoria das boas no Teatro Barreto Júnior, Cabo de Santo Agostinho. A produção é do véio Abidoral e estarão presentes: EDVALDO ZUZU, DANIEL OLÍMPIO E SANTINHA MAURÍCIO. Será uma homenagem às mulheres. Entrada grátis. Quem quer coisa boa, vai.

ACADEMIA CABENSE DE LETRAS



Arte: Jairo Lima

A ACADEMIA CABENSE DE LETRAS promove palestra, dia 09 de abril, em homenagem ao centenário de Joaquim Nabuco, um dos seus Patronos. O palestrante será o jornalista e escritor Mário Hélio, membro da Academia. A plestra aconte às 19 horas, na Câmara de Vereadores do Cabo. Na mesma noite haverá outras atividades, promovidas pela Academia.

OFICINA DE XAXADO



O Ponto de Cultura "Bacamartes Tiro da Paz" continua promovendo Oficinas de Xaxado, com apoio da Fundarpe. Desta vez a Oficina acontece domingo, dia 7 de março, no Sítio do Bidel, com saída de ônibus às 8 horas, do Mercadão do Cabo de Santo Agostinho. A Oficina é grátis.

quarta-feira, 3 de março de 2010

VLADIMIR CAPELLA EM RECIFE



Vladimir Capella foto: Romeu Bart.

A peça “Maria Borralheira”, sob direção de Manoel Constantino, vai ficar em cartaz aos sábados e domingos, às 16h30, no Teatro Barreto Júnior (Pina. Tel. 3232 3054), até 25 de abril de 2010, prometendo agradar a crianças, jovens e adultos. Ingresso: R$ 15 e R$ 8 (crianças, estudantes, professores com carteira e maiores de 60 anos). Realização: Galharufas Produções.

Neste domingo, dia 07 de março, a partir das 19h, no próprio Teatro Barreto Júnior, com entrada franca, bate papo imperdível com o autor Vladimir Capella sobre o Teatro Para a Infância e Juventude.

E a partir de segunda-feira, até quinta, de 08 a 11 de março, ele estará ministrando uma Oficina de Interpretação, no Sesc de Santo Amaro, das 14 às 18h, ao preço de R$ 150 (cento e cinqüenta reais). São apenas vinte vagas. Informações com o produtor Taveira Júnior pelos telefones 9154 1112 / 9614 4828 / 8645 5729.

terça-feira, 2 de março de 2010

GERAÇÃO 65



Começamos hoje e assim faremos, todas as terças-feiras, uma justa homenagem à Geração 65, que tanto contribuiu para o desenvolvimento da literatura em Pernambuco. Hoje, a homenageada é a poetisa Tereza Tenório, mas, por aqui, desfilarão Alberto da Cunha Melo, Marcus Accyoli, Jaci Bezerra e Ângelo Monteiro, dentre outros nomes importantes da literatura em Pernambuco. Curtam, hoje, a poesia de TEREZA TENÓRIO.

TEREZA TENÓRIO



MUTÁVEL COMO O PÁSSARO NA RAMA


O amor passeia entre os rochedos. O amor
à beira-mar, no entre-rio. O amor
à flor do lago e do oceano. O amor
candelabro aceso dentro da sombra

Afugentou a sombra e o vazio o amor.
Buscou na tarde a calma, o sono, o amor.
É negro cílio e úmido lábio o amor.
Círculo aceso na alameda estranha.

Negro desespero e alva luz o amor.
Corrente de luz e água que o amor
refugiado na ilha de Ítaca, o amor
é teia de Penélope e de tarântula.

A barlavento a toda brida o amor.
Entre as possíveis dimensões o amor.
Tão irreversível como o tempo o amor.
Mutável como o pássaro na rama.

Qual movimento pendular o amor
nas pragas do Egito antigo o amor
ao povo Hebreu, e as pirâmides o amor
dos reis ao BA e Ka o corpo e a alma.

CORPO DA TERRA

Pela janela o verde
nos revela
o coração da mata acesa
o úmido
veio das aromáticas
resinas
dentre nossas raízes
enlaçadas
a destilar a essência
do teu hálito
em mim
corpo da terra
desvelado.


CANÇÃO DO DEGREDO


O sonho da princesa foi o medo
a face da duquesa resta pálida
ao povo da nobreza já não valho
assim vou ocultar-me no degredo.

O cavaleiro negro foi meu sonho
o cavaleiro branco foi meu peso
Eu princesa da corte
apaixonada
flagrei meu homem amado em pleno beijo
com o cavaleiro branco.
A quem me queixo?

sábado, 27 de fevereiro de 2010

DIGNIDADE, ACIMA DE TUDO


CARTA DE ANITA PRESTES AO JORNAL "O GLOBO"

A redação de "O Globo": Tendo em vista matéria publicada em “O Globo” de hoje (p.4), intitulada “Comissão aprovará novas indenizações” e na qualidade de filha de Luiz Carlos Prestes e Olga Benario Prestes, devo esclarecer o seguinte:

Luiz Carlos Prestes sempre se opôs à sua reintegração no Exército brasileiro, tendo duas vezes se demitido e uma vez sido expulso do mesmo. Também nunca aceitou receber qualquer indenização governamental; assim, recusou pensão que lhe fora concedida pelo então prefeito do Rio de Janeiro, Sr. Saturnino Braga.

A reintegração do meu pai ao Exército no posto de coronel e a concessão de pensão à família constitui, portanto, um desrespeito à sua vontade e à sua memória. Por essa razão, recusei a parte de sua pensão que me caberia.

Da mesma forma, não considerei justo receber a indenização de cem mil reais que me foi concedida pela Comissão de Anistia, quantia que doei publicamente ao Instituto Nacional do Câncer.

Considerando o direito, que a legislação brasileira me confere, de defesa da memória do meu pai, espero que esta carta seja publicada com o mesmo destaque da matéria referida.

Atenciosamente,

Anita Leocádia Prestes

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Amor de acidentado



Rachel de Queiroz

ACONTECEU ultimamente um caso que tem chamado atenção. Estava um moço noivo, de casamento marcado para daí a poucos dias, quando de repente, ao atravessar aquela avenida de mau agouro a que por isso mesmo teimam em chamar Getúlio Vargas, caiu-lhe em cima um automóvel desabrido, desses que não procuram saber se o cristão à sua frente é noivo ou é nada - querem é passante jeitoso para derrubar, como de fato este o derrubou. O mundo não é assim mesmo, incerto e enganoso? De nada vale um homem alimentar no seu coração qualquer espécie de sonhos preciosos ou de esperanças; nem vale o alto juízo que ele faça de si ou sequer o juízo que dele façam os outros; o destino está aí na sua frente, de boca aberta e dentes afiados, na figura de um automóvel, de um micróbio, de uma onda de mar, e tanto vai para o buraco o sonhador rico de promessas como o pobre desesperado para o qual a morte já chegou tarde.

Felizmente o nosso moço não chegou a ir para o buraco. Andou perto nas primeiras horas, rebentou muito osso e deitou muito sangue - mas foi socorrido a tempo, e parece que com bastante gaze, gesso e paciência acaba ficando tão perfeito ou quase tão perfeito quanto antes do desastre.

E agora chegando à parte que chama atenção e que todo mundo acha bonito: segundo foi dito antes, estava a vítima de casamento justo, juiz apalavrado, padre tratado. A noiva de vestido feito, os doces no forno e o champanha na geladeira. Em vista disso, achou o noivo que, acidentado ou não acidentado, não seria um simples capricho do chofer que iria inutilizar tantos preparativos. E pois não desdisse nada, não adiou os convites: apenas transferiu a cerimônia para a enfermaria do hospital, e em torno do seu leito de dores se procedeu ao enlace, completo e sem atraso de um minuto.

Bem fazem os que se admiram e acham bonito, porque nestes tempos cínicos e desesperados um caso assim é um sinal tangível de que o amor ainda existe no mundo na sua forma mais pura; e passados nove séculos sobre os túmulos de Abelardo e Heloísa, ainda os encontramos reencarnados na mesma fortaleza de paixão e na mesma integridade de sentimento.

Porque diante daquele homem incógnito, enfaixado, todo revestido de gesso, a moça não hesitou em encontrar o seu amado, o seu escolhido, o único que lhe serve e lhe apela à alma no meio dos bilhões de seres do planeta. Afinal, com isso se prova que o que ela amava não era o simples corpo que o automóvel massacrou - não eram aquelas pernas agora entaladas, aquelas costelas em colete de gesso, o rosto, os lábios, os olhos que a gaze está encobrindo, e que ela não pode jurar que sairão os mesmos da aventura. De tudo que havia dentro ou fora daquele corpo e desse corpo fazendo parte, é evidente que ela amava especialmente o escondido coração dentro do peito, ou a flama imortal e imponderável que sob o nome de alma costumamos dizer que mora dentro do coração.

Ele, por seu lado, ninguém pode dizer que amasse menos. Porque um indivíduo que sofreu tal subversão corpórea, mesmo que retorne à vida sem aparente alteração no seu aspecto físico, não é possível que ressurja para a vida com as mesmas disposições de espírito que costumava usar antes. O lógico é que o rapaz atrevido que caiu debaixo das quatro rodas assassinas saia do hospital um senhor morigerado, que olha duas vezes para cada esquina antes de a atravessar. E no entanto esse homem novo está pronto a endossar os compromissos do homem antigo, e não hesita e corre para o que deseja, sem faixa ou tala que o prenda - por quê? Só porque ama, porque acima da dor, e do receio físico e da preocupação com o conserto que lhe estão fazendo os doutores no triste corpo, estão as necessidades, as exigências da alma.

Vivemos em terra de muitos acidentes, e pois o problema do amor com acidentado deve estar entre nós constantemente se propondo; por isso damos publicidade ao caso do casamento no hospital e o apresentamos à meditação dos interessados. Todos nós poderemos, mais cedo ou mais tarde, estar na situação do moço ou da moça da história: e se a meditação não nos ajudar a fugir da sanha matadora do automóvel desconhecido, pelo menos nos ensinará a não perder as esperanças, e até - quem sabe - no meio da desilusão e da tristeza, de repente ver brotar um milagre.

O gato sou eu [crônica]



Fernando Sabino

Excelente crônica escrita por Fernando Sabino, mas quem é o gato afinal? O psicanalista, tão atencioso em sua análise ou o cliente que lhe conta seu sonho? Entre um e outro, o gato firma-se como símbolo da liberdade incondicional de sonhar.

- Aí então, eu sonhei que tinha acordado. Mas continuei dormindo.
- Continuou dormindo.
- Continuei dormindo e sonhando. Sonhei que estava acordado na cama, e ao lado, sentado na cadeira, tinha um gato me olhando.
- Que espécie de gato?
- Não sei. Um gato. Não entendo de gatos. Acho que era um gato preto. Só sei que me olhava com aqueles olhos parados de gato.
- A que você associa essa imagem?
- Não era uma imagem: era um gato.
- Estou dizendo a imagem do seu sonho: essa criação onírica simboliza uma profunda vivência interior. É uma projeção do seu subconsciente. A que você associa ela?
- Associo a um gato.
- Eu sei: aparentemente se trata de um gato. Mas na realidade o gato, no caso, é a representação de alguém. Alguém que lhe inspira um temor reverencial. Alguém que a seu ver está buscando desvendar o seu mais íntimo segredo. Quem pode ser essa alguém, me diga? Você deitado aí nesse divã como na cama em seu sonho, eu aqui nesta poltrona, o gato na cadeira… Evidentemente esse gato sou eu.
- Essa não, doutor. A ser alguém, neste caso o gato sou eu.
- Você está enganado. E o mais curioso é que, ao mesmo tempo, está certo, certíssimo, no sentido em que tudo o que se sonha não passa de uma projeção do eu.
- Uma projeção do senhor?
- Não: uma projeção do eu. O eu, no caso, é você.
- Eu sou o senhor? Qual é, doutor? Está querendo me confundir a cabeça ainda mais? Eu sou eu, o senhor é o senhor, e estamos conversados.
- Eu sei: eu sou eu, você é você. Nem eu iria pôr em dúvida uma coisa dessas, mais do que evidente. Não é isso que eu estou dizendo. Quando falo no eu, não estou falando em mim, por favor, entenda.
- Em quem o senhor está falando?
- Estou falando na individualidade do ser, que se projeta em símbolos oníricos. Dos quais o gato do seu sonho é um perfeito exemplo. E o papel que você atribui ao gato, de fiscalizá-lo o tempo todo, sem tirar os olhos de você, é o mesmo que atribui a mim. Por isso é que eu digo que o gato sou eu.
- Absolutamente. O senhor vai me desculpar, doutor, mas o gato sou eu, e disto não abro mão.
- Vamos analisar essa sua resistência em admitir que eu seja o gato.
- Então vamos começar pela sua insistência em querer ser o gato. Afinal de contas, de quem é o sonho: meu ou seu?
- Seu. Quanto a isto, não há a menor dúvida.
- Pois então? Sendo assim, não há também a menor dúvida de que o gato sou eu, não é mesmo?
- Aí é que você se engana. O gato é você, na sua opinião. E sua opinião é suspeita, porque formulada pelo consciente. Ao passo que, no subconsciente, o gato é uma representação do que significo para você. Portanto, insisto em dizer: o gato sou eu.
- E eu insisto em dizer: não é.
- Sou.
- Não é. O senhor por favor saia do meu gato, que senão eu não volto mais aqui.
- Observe como inconscientemente você está rejeitando minha interferência na sua vida através de uma chantagem…
- Que é que há, doutor? Está me chamando de chantagista?
- É um modo de dizer. Não vai nisso nenhuma ofensa. Quero me referir à sua recusa de que eu participe de sua vida, mesmo num sonho, na forma de um gato.
- Pois se o gato sou eu! Daqui a pouco o senhor vai querer cobrar consulta até dentro do meu sonho.
- Olhe aí, não estou dizendo? Olhe a sua reação: isso é a sua maneira de me agredir. Não posso cobrar consulta dentro do seu sonho enquanto eu assumir nele a forma de um gato.
- Já disse que o gato sou eu!
- Sou eu!
- Ponha-se para fora do meu gato!
- Ponha-se para fora daqui!
- Sou eu!
- Eu!
- Eu! Eu!
- Eu! Eu! Eu!

Uma insatisfação geral com a educação atual


Nadja Nascimento

Se perguntarmos a qualquer professor, seja ele de qual for a modalidade, se ele está plenamente satisfeito com a educação atual, a resposta com toda certeza será negativa. Caso um profissional afirme o contrário, peço que, por favor, divulgue sua metodologia de trabalho. Do contrário, admitiremos sem falso moralismos nossas insatisfações, a grande maioria dos professores que tenho tido notícias, está fortemente desgastada, “matando um leão por dia”, lutando contra dificuldades para conseguir se manter bem em suas profissões. Nem precisa ser atuante na área, para que vejamos que a educação brasileira está declarando falência.

Com todos os avanços no âmbito da tecnologia, sabemos que os alunos não são os mesmos, portanto os professores não podem mais se manter indiferentes a esta realidade, não podem mais acreditar que são “detentores do saber” e que seus alunos vão assimilar os conteúdos facilmente, como estava planejado e provando através das mais tradicionais avaliações.

Infelizmente, educação passou a ser secundário nos sistemas políticos, mas ainda não é esse o agravante, chega a ser pior, por exemplo, o profissional de educação trabalhar único e exclusivamente pelo que ganha. O quero dizer com isso? Aquele profissional que se mantém alheio ao que está fazendo, ao seu papel primordial como formador de pessoas, se preocupando somente com questões meramente financeiras e burocráticas. O educar deixou de ser prioridade, desta forma deixamos de atingir metas fundamentais e o que diga os números do IDEB, que não me deixa mentir. Os maiores prejudicados nesse quadro são, sem dúvida nossas crianças, que não têm a opção de estudar, mas os professores sim, eles têm a opção de escolherem ou não essa profissão.

Esse quadro gera as mais diversas consequências, a curto e longo prazo. Questiono, se o futuro está na mão de nossas crianças e jovens, será que a escola está preparando esses alunos para receber o Brasil que vamos deixar? O ponto alto desta mudança deverá partir de quem está mais perto, não dá para sempre responsabilizar algo ou alguém, por uma coisa que podemos sim, fazer a diferença. É o professor se enxergar diferente, revendo sua própria identidade. Fazer a diferença é ser lembrado positivamente para sempre na memória e no coração dos seus alunos e isso o salário não compra.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A HISTÓRIA DE UM VELHO LAGO



"seu" Tune

Aquele lago
de águas esverdeadas
límpidas e paradas
também tem a sua história.

Aquele lago,
dantes vivia tão feliz,
como essa gente
que parece ter felicidade.

Um casal de cisnes enamorados
que nele navegava diariamente
não mais vive ali.

Corpos bem feitos e esculturais
que nele se banhavam constantemente,
abandonaram-no,
deixando-o solitário e triste.

A tua história, meu velho lago,
é idêntica à minha.
Ontem, eu via no lago dos meus olhos,
seu corpo moreno a banhar-se
nas águas dos meus olhos desejosos...

hoje, tudo distante de ti...
hoje, tudo distante de mim...

"seu" Tune (Antonino Oliveira) é um dos Patronos da Academia Cabense de Letras.

NOSSOS FILHOS


Antonino Oliveira Júnior

Filhos
que concebemos,
criamos,
defendemos,
educamos...

Filhos
por quem já choramos,
com quem já sorrimos (muito)
em momentos inesquecíveis.

Filhos
que trouxemo ao mundo,
que afagamos com carinho

A quem damos a luz,
direção,
vida...
nossas vidas (se preciso)...

Filhos que amamos...

...e eles nem são nossos...

Antonino Oliveira Júnior é membro da Academia Cabense de Letras

É PRECISO ACREDITAR NOS SONHOS


Douglas Menezes

(Ao Pastor Erivaldo, com carinho)

Por mais que pareça comum e repetitivo, a existência seria vã e sem sentido, caso abdicássemos dos sonhos que nos embalam ao longo da vida. Sabemos das frustrações, das coisas que projetamos e não conseguimos realizar. As esperanças da juventude dão lugar a um não sei o quê de impotência e fatalismo, quando o dia a dia se impõe cruel e você busca tão-somente a sobrevivência. Na verdade, como encontrar forças contra os agentes que impedem uma existência de realizações? O pragmatismo, a lei da esperteza sem limite, a ganância sem fim, a inversão de valores, fazem, hoje, boa parte das pessoas sepultarem, sem uma tentativa, as visões oníricas mais legítimas.

No entanto, pessimismo à parte, observamos existir espaço para que se sonhe o sonho bem sonhado. Isto nos diferencia do irracionalismo animal. Dá o sentido que se quer para viver. Mais interessante é sabermos vislumbrar a possibilidade das realizações, muitas delas, perfeitamente possíveis, embora sem acreditarmos na hipótese de que sejam concretizadas.

Esse o combustível alimentador do presente e que deságua no futuro, deixando-nos a certeza, inclusive, da contribuição para um mundo melhor.

Não esqueçamos, aí é importante citar, o fato de que, mesmo quando não concretizamos aquilo imaginado, a projeção, o sonho, não foi em vão. Ele, alimenta, inclusive,o equilíbrio emocional e psicológico do sonhador. Lembremos, então,a música de Belchior, ilustramos o que afirmamos: ”Era como aquela gente honesta boa e comovida, que caminha para a morte pensando em vencer na vida”.
Dom Hélder, o grande pastor, morreu sonhando em ver os pobres comendo três vezes ao dia, o que ele chamava de pobreza com dignidade. Outros exemplos de tentativa do bem não conseguiram ser realizadas, mas deixaram a semente.

Por fim, façamos a reflexão. O sonho não é algo fictício. Irreal, às vezes; factível em muitos casos. Aos milhares, homens sacrificaram a existência ao longo dos séculos, só porque ousaram sonhar, e pensaram no bem coletivo. Isto porque não somos pedras. Nosso material é feito, inclusive, de sensibilidade muita; de emoção bastante; e de perspectiva sobre algo que pode vir. Como diz o poeta Moraes Moreira, popular e filosoficamente: ”Chorar é preciso e não faz vergonha, eu só acredito num homem que chora e sonha”.

DOUGLAS MENEZES é membro da Academia Cabense de Letras.

MAIO DE 2008.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

EVOCAÇÃO DO RECIFE


Manuel Bandeira

Recife

Não a Veneza americana

Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais

Não o Recife dos Mascates

Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois

— Recife das revoluções libertárias

Mas o Recife sem história nem literatura

Recife sem mais nada

Recife da minha infância

A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado

e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas

Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê

na ponta do nariz

Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras

mexericos namoros risadas

A gente brincava no meio da rua

Os meninos gritavam:

Coelho sai!

Não sai!


A distância as vozes macias das meninas politonavam:

Roseira dá-me uma rosa

Craveiro dá-me um botão


(Dessas rosas muita rosa

Terá morrido em botão...)

De repente

nos longos da noite

um sino

Uma pessoa grande dizia:

Fogo em Santo Antônio!

Outra contrariava: São José!

Totônio Rodrigues achava sempre que era são José.

Os homens punham o chapéu saíam fumando

E eu tinha raiva de ser menino porque não podia ir ver o fogo.


Rua da União...

Como eram lindos os montes das ruas da minha infância

Rua do Sol

(Tenho medo que hoje se chame de dr. Fulano de Tal)

Atrás de casa ficava a Rua da Saudade...

...onde se ia fumar escondido

Do lado de lá era o cais da Rua da Aurora...

...onde se ia pescar escondido

Capiberibe

— Capiberibe

Lá longe o sertãozinho de Caxangá

Banheiros de palha

Um dia eu vi uma moça nuinha no banho

Fiquei parado o coração batendo

Ela se riu

Foi o meu primeiro alumbramento

Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu

E nos pegões da ponte do trem de ferro

os caboclos destemidos em jangadas de bananeiras


Novenas

Cavalhadas

E eu me deitei no colo da menina e ela começou

a passar a mão nos meus cabelos

Capiberibe

— Capiberibe

Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas

Com o xale vistoso de pano da Costa

E o vendedor de roletes de cana

O de amendoim

que se chamava midubim e não era torrado era cozido

Me lembro de todos os pregões:

Ovos frescos e baratos

Dez ovos por uma pataca

Foi há muito tempo...

A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros

Vinha da boca do povo na língua errada do povo

Língua certa do povo

Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil

Ao passo que nós

O que fazemos

É macaquear

A sintaxe lusíada

A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem

Terras que não sabia onde ficavam

Recife...

Rua da União...

A casa de meu avô...

Nunca pensei que ela acabasse!

Tudo lá parecia impregnado de eternidade

Recife...

Meu avô morto.

Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro

como a casa de meu avô