sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

PARA UM FINAL DE VERÃO


             
                                              DOUGLAS MENEZES*

  Começo, neste dia cinzento, pensando  nos quase duzentos e cinquenta jovens assassinados em Santa Maria. Sim, foram mortos estupidamente pela negligência e irresponsabilidade de muitos  culpados, a começar por quem  deveria zelar pela segurança do povo. O estado que só cuida quando as tragédias acontecem. O choro dos políticos não vai trazer os jovens de volta, nem minimizar a dor maior. Mais uma lição sofrida para que a responsabilidade seja retomada, se é que já existiu.
   Nesta manhã cinzenta, penso, atrasado, naqueles que tinham uma vida pela frente,  enganados, partiram mais cedo, e, em um país sem memória, logo irão fazer parte do esquecimento de uma população acostumada a relegar a um plano secundário coisas sérias que deveriam estar sempre em pauta na vida das pessoas. O brasileiro parece anestesiado, conformado e vivendo num estado de letargia que passa a ideia de que vivemos instintivamente, apenas para sobreviver. Perdemos a gentileza e a solidariedade maior, apesar de ações pontuais, que deveriam ser coletivas e constantes.
    Nesta manhã cinzenta, faço crônica pessimista. Impaciente, digo coisas que não queria dizer. Olho ao redor, dorme minha gente, que sustenta e ampara a angústia e essa visão negativa que eu não queria que existisse. Sou dependente dela. O bálsamo, a ilusão de que haverá dias mais risonhos e só notícias boas a comentar.
    Assim, corro os olhos nos jornais. O real se sobrepõe, então. Esforço enorme para encontrar notícias que causem alento, que me façam acreditar num mundo mais feliz. Os jornais não têm cor. Iguais a esse mormaço, a  esse calor sem vento, a esse suor vindo não sei de onde. Iguais, os jornais,  a essa  tediosa e quase inútil manhã cinzenta.

*DOUGLAS MENEZES é da Academia Cabense de Letras

    


Nenhum comentário:

Postar um comentário