Douglas Menezes*
Recentemente a Rede Globo incluiu na trilha sonora
da novela Gabriela a música do cantor Fernando Mendes “Você não me Ensinou a te
Esquecer”, canção que já fora trilha musical do filme Lisbela e o
Prisioneiro, baseado na obra do grande escritor Osman Lins. Música
classificada como brega romântico há trinta anos, desprezada pela
intelectualidade brasileira que curte MPB de qualidade, foi sucesso à época na
voz do seu autor Fernando Mendes. É interessante notar como o conceito do
brasileiro médio muda de acordo não só com o passar do tempo, mas pela presença
de quem “apadrinhou” o novo elemento cultural.
Pois bem, O “monstro Sagrado”, com inteira justiça,
da música brasileira Caetano Veloso resolveu dar uma roupagem nova à música.
Deu um tom mais dramático à canção, incluindo uma instrumentação de nível
inquestionável. O resultado foi novo sucesso da música, com algo que impressiona:
sua inclusão no repertório da MPB de bares e emissoras de rádio, junto a
Djavan, Chico, Gal, Betânia, o próprio Caetano,
entre outros, incluindo aí, o público jovem, com menos de trinta
anos. Quer dizer, o que não possuía valor antes, passou a ser “nata” da música
romântica brasileira de qualidade. Mostrando que os mitos realmente
são intocáveis, gerando verdades nunca questionáveis, pois já se disse demais
versos como estes: “ Não vejo mais você faz tanto tempo/ Que saudade que sinto
; De olhar nos seus olhos sentir seu abraço/ É verdade eu não minto...”. No
entanto, “Você não me Ensinou a te Esquecer”, retornou ao pódio do sucesso,
inclusive por parte do público mais exigente, a ponto de a TV colocá-la na
trilha de bom gosto da nova versão do romance de Jorge Amado, junto a obras
consagradas de Djavan, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Moraes Moreira e Dorival
Caymmi.
Aliás, Caetano Veloso é pródigo, ao longo de
carreira, em despreconceitizar aquilo que é visto quase como tabu em nossa
sociedade conservadora. Na música, fez isto, também, com Coração Materno, de
Vicente Celestino e Sonhos, de Peninha, mostrando que, às vezes, é
tênue a fronteira entre o culto, de sentido elitizante, e o popular, naquilo
que o povo assimila como sua cultura.
*Douglas Menezes é escritor, professor
de Língua Portuguesa, pós-graduado em Literatura Brasileira e em Leitura,
Compreensão e Produção Textual pela UFPE, membro da Academia Cabense de Letras.
Tens razão caro confrade Douglas em trazer a tona a tênue distância entre o clássico e o popular, o sagrado e o profano, o que é e o que não é, o que foi dito pelo marginal e o mesmo que foi dito pelo "central". Parece que o rei Salomão, século VI a.C., tinha razão quando disse: "Não há nada novo debaixo do céu".
ResponderExcluirAbraço acolhedor,
Erivaldo Alves