DOUGLAS MENEZES*
Começo, neste dia cinzento, pensando
nos quase duzentos e cinquenta jovens assassinados em Santa Maria. Sim,
foram mortos estupidamente pela negligência e irresponsabilidade de muitos culpados, a começar por quem deveria zelar pela segurança do povo. O
estado que só cuida quando as tragédias acontecem. O choro dos políticos não
vai trazer os jovens de volta, nem minimizar a dor maior. Mais uma lição
sofrida para que a responsabilidade seja retomada, se é que já existiu.
Nesta manhã cinzenta, penso, atrasado, naqueles que tinham uma vida pela
frente, enganados, partiram mais cedo,
e, em um país sem memória, logo irão fazer parte do esquecimento de uma
população acostumada a relegar a um plano secundário coisas sérias que deveriam
estar sempre em pauta na vida das pessoas. O brasileiro parece anestesiado,
conformado e vivendo num estado de letargia que passa a ideia de que vivemos
instintivamente, apenas para sobreviver. Perdemos a gentileza e a solidariedade
maior, apesar de ações pontuais, que deveriam ser coletivas e constantes.
Nesta manhã cinzenta, faço crônica pessimista. Impaciente, digo coisas
que não queria dizer. Olho ao redor, dorme minha gente, que sustenta e ampara a
angústia e essa visão negativa que eu não queria que existisse. Sou dependente
dela. O bálsamo, a ilusão de que haverá dias mais risonhos e só notícias boas a
comentar.
Assim, corro os olhos nos jornais. O real se sobrepõe, então. Esforço
enorme para encontrar notícias que causem alento, que me façam acreditar num
mundo mais feliz. Os jornais não têm cor. Iguais a esse mormaço, a esse calor sem vento, a esse suor vindo não
sei de onde. Iguais, os jornais, a
essa tediosa e quase inútil manhã
cinzenta.
*DOUGLAS MENEZES é da Academia Cabense de Letras
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