Não é
saudosismo, e talvez até seja. Não nego que uma das coisas que me deixa com
saudade no período da ditadura, claro, não o regime em si, era a transparência
de lado que existia na política. Mesmo abrigados na oposição consentida do MDB,
e da situação, expressa pela Aliança renovadora nacional (ARENA), os grupos de
direita, centro e esquerda delimitavam seu território. Sabíamos onde estávamos
pisando. Os políticos não escondiam suas posições, apesar dos riscos. Lembro,
ainda menino, criei verdadeiros ídolos, que nos faziam vibrar pelas atuações
combativas. Estavam lá povoando o sonho de mais liberdade na visão do ainda
adolescente, Marcos Freire, Jarbas Vasconcelos, Maurílio ferreira Lima,
Fernando Lyra, Cristina Tavares, Egídio Ferreira Lima, entre tantos outros.
A luta contra o regime de
exceção era uma verdadeira escola política, Como foi pedagógica para milhares
de jovens adquirirem consciência democrática. A juventude brasileira entendia
valer a pena correr riscos, e os anos de chumbo não eram brinquedo.
Crescemos nesse ambiente de
ebulição, aprendendo que liberdade se conquista na luta e, apesar dos exageros
próprios da idade, foi um período de aprendizagem que moldou o caráter, para o
bem, de muita gente. As pessoas aprendiam ter lado, a definir objetivos,
inclusive no aspecto cultural. Havia uma “guerra” na música. Definíamos nossa
preferência também pela posição dos artistas, pela postura contra ou a favor do
sistema. A MPB fervia, e grandes nomes confirmaram através dos anos o valor
artístico de suas obras. Estão aí, eternos, Vinicius, Chico, Tom, Geraldo
Azevedo, Alceu Valença, Vandré, Edu Lobo, e tantos que enriqueceram nossa
cultura, a partir da postura política, de buscar a democracia e a liberdade de
expressão pela arte.
Tempo diferente de hoje. Se as
conquistas democráticas se configuraram e vivemos num estado de direito quase
pleno, por outro lado, abdicamos, e isso é muito ruim, de uma nitidez política
necessária a qualquer democracia que se preze. Hoje, partidos que deveriam
apresentar uma linha mais definida, como o PT e PCDB, na busca das
transformações ainda muito necessárias ao país, Se apresentam como partidos que
trocaram um projeto Brasil, por uma continuidade de poder: temos ainda, uma
péssima distribuição de renda, uma Educação ruim, uma saúde capenga, que não
corresponde às reais necessidades do povo e uma segurança que deixa a desejar.
Sem falar da tentativa de controlar e cercear a livre expressão da imprensa.
Que aqueles anos não voltem
mais. Todavia, dá saudade sim, de ver o povo nas ruas pedindo Diretas Já,
mobilizado, “sem ódio e sem medo”, numa consciência política pouco vista hoje.
Agora, o noticiário é de escândalos, de desvio de dinheiro público de violência
e de outras mazelas que nos fazem menor. Além de uma juventude sem rumo. Essa
mesma que um dia assumirá o comando do país.
Que voltemos a ter um confronto
nítido de ideias, projetos claros para o país. Que retornemos ao Nacionalismo
que tanto acalentou gerações, para que não tenhamos saudade do que passou.
*Douglas Menezes é da Academia Cabense de Letras
Boa tarde meu Amigo
ResponderExcluirQue bom essa liberdade que temos atualmente, não é verdade? E pra completar, com farta ferramentas para nos comunicarmos em tempo real. Imagine se naqueles tempos tivéssemos todas essas ferramentas. Certamente haveria muita gente presa, torturada e em muitos casos assassinadas.
Eu não tenho saudades de nada daqueles tempos, mesmo porque, fui militar em plena ditadura e, confesso, sinto nojo daquele regime arcaico e desmedido, era como se usássemos um canhão pra matar uma formiga, apenas uma, no meio do formigueiro sem se importar com as demais - inocentes. Combater o comunismo era o nosso dever, mas confundir pessoas honestas que apenas buscavam o direito de expressão, a liberdade plena de direito, como sendo comunistas, foi o grande erro das Forças Armadas.
Se colocarmos na balança todas as ações, vejo como positiva, pois se não agíssemos naquela ocasião, hoje seríamos uma CUBA 2, ou pior que isso. Mas pra quem conhece a história nunca vai sentir saudades.
Havia unidade entre os partidos por que havia apenas um inimigo. Hoje não. Hoje são inimigos entre si, e quando demonstram amizade é por interesses, que não sendo atendido logo cai a mascara e se voltam um contra o outro. Não há unidade nas ações que tanto o nosso país precisa, mas uma luta constante pra saber quem vai ficar no poder e por a mão na grana. Esse é o perfil dos nossos políticos, é o que penso de cada um deles, embora nem todos de livre e Espontânea vontade, mas obrigados por seguir o regime imposto pelo partido, que nada mais é senão o mesmo regime ditatorial daquela época.