Por DOUGLAS MENEZES*
É bom lembrar: Páscoa é renascer. Buscar na vida uma manhã onde o sol
não se ponha nunca. No amanhecer os pássaros cantam todos os dias, mas o canto
parece inédito, não repetido, sempre novo.Nos versos do poeta nordestino, a
manutenção da chama que é a vida, essa celebração que faz o milagre acontecer
quando menos esperamos, aliviando o fardo da existência sofrida e
desesperançada. Nascer de novo é nascer duas vezes ou mais. Disse o poeta: ”O
entardecer é bonito; mas belo mesmo é o amanhecer, pois coisas novas podem
acontecer.”
Esse é o momento. Não o do paraíso consumista, da obrigação do peixe e
do ovo de páscoa. Nem das solenidades coletivas dos templos repletos, muitas
vezes mecânicas, superficiais até, rotineiras, para marcar uma data apenas. Mas
o momento individual, reflexivo, onde você estará somente com você. Ao mesmo
tempo sozinho e pensando nos outros. A busca da luz em meio às trevas. A cura
da embriaguez do vinho amargo do orgulho, da soberba, da opressão, do egoísmo
que embota os sentimentos bons. Renasçamos para, mesmo com os defeitos que
levaremos até à morte, sejamos um pouco melhores.
Na visão pós-moderna, a Páscoa tornou-se um grande feriado turístico,
onde a Paixão transformou-se em algo rentável, fonte de riqueza para
empresários e divertimento para pessoas em busca de lazer.
Então, o espírito do nascer de novo deveria ser retomado, no sentido de
entendermos bem o sacrifício DELE.
É preciso um renascimento da consciência, alcançando todos os ângulos da
vida, notadamente aquele que trata das injustiças, das condições existenciais
degradantes de grande parte da humanidade: os desprovidos de tudo. As eternas
vítimas de uma ordem desumana e hipócrita.
Comamos o peixe e o chocolate, bebamos do vinho, sem, no entanto,
esquecermos daqueles que nada disso possuem.
*DOUGLAS MENEZES é professor,
poeta e escritor – Cabo de Santo Agostinho – PE
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